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Em SP, Cordão da Mentira desfila pedindo punição para crimes policiais

Repro­dução: © Sato do Brasil/Cordão da Mentira/Divulgação

Passeata é realizada todo dia 1° de abril, lembrando o golpe militar


Pub­li­ca­do em 01/04/2023 — 15:00 Por Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Artis­tas e rep­re­sen­tantes de movi­men­tos soci­ais como o Mães de Maio (rede de mães, famil­iares e ami­gos de víti­mas da vio­lên­cia em São Paulo), o Movi­men­to dos Famil­iares das Víti­mas do Mas­sacre de Paraisópo­lis, o Movi­men­to dos Tra­bal­hadores Rurais Sem Ter­ra (MST), o Movi­men­to dos Tra­bal­hadores Sem-Teto (MTST) e um grupo de torce­dores antifascis­tas do Corinthi­ans realizaram neste sába­do (1°), em São Paulo, o 11° Des­file Escra­cho do Cordão da Men­ti­ra.

Com o mote “Geno­ci­das fascis­tas far­da­dos serão mes­mo anis­ti­a­dos?”, o des­file teve como pau­tas o com­bate à vio­lên­cia poli­cial e ao encar­ce­ra­men­to em mas­sa, além da defe­sa da democ­ra­cia.

No iní­cio do ato, gru­pos de teatro fiz­er­am per­for­mances e movi­men­tos de mães de jovens assas­si­na­dos por poli­ci­ais, em São Paulo e no Rio de Janeiro, tomaram a palavra, para puxar palavras de ordem, prestar hom­e­na­gens e faz­er relatos sobre as ocor­rên­cias. Alguns man­i­fes­tantes tam­bém se deitaram no esta­ciona­men­to da del­e­ga­cia, com os cor­pos embrul­ha­dos em sacos plás­ti­cos pre­tos, sobre uma tin­ta ver­mel­ha, para sim­bolizar as mortes provo­cadas por agentes do Exérci­to e das polí­cias.

Sāo Paulo (SP) - Cordão da Mentira desfila pedindo punição para crimes policiais nas ruas de Sāo Paulo.Foto: Sato do Brasil/Cordão da Mentira/Divulgação
Repro­dução: Sāo Paulo (SP) — Cordão da Men­ti­ra des­fi­la pedin­do punição para crimes poli­ci­ais nas ruas de Sāo Paulo. Foto: Sato do Brasil/Cordão da Mentira/Divulgação — Sato do Brasil/Cordão da Mentira/Divulgação

Os man­i­fes­tantes ini­cia­ram o ato em con­cen­tração fei­ta em frente ao anti­go DOI-Codi, na Vila Mar­i­ana, lugar onde mil­itares tor­tu­ravam e matavam pre­sos políti­cos, e seguiu até o Mon­u­men­to às Ban­deiras.

A con­cen­tração começou por vol­ta das 10h e o corte­jo às 12h. À frente dele, estiver­am rep­re­sen­tantes do Movi­men­to Mães de Maio, empun­han­do fol­has de Espa­da de São Jorge e faixas com fotos e nomes das víti­mas assas­si­nadas pela força poli­cial. Logo atrás, vin­ha um grupo com per­nas-de pau, um car­ro de som e os demais man­i­fes­tantes, gri­tan­do palavras de ordem, com pin­turas cor­po­rais, ban­deiras, como a indí­ge­na de Wipha­la (ban­deira que rep­re­sen­ta a diver­si­dade a diver­si­dade das pop­u­lações que vivem nos Andes), e out­ras faixas.

No per­cur­so, a mar­cha pas­sou pelo Coman­do Mil­i­tar no Sud­este, onde gru­pos que apoiavam o ex-pres­i­dente da Repúbli­ca Jair Bol­sonaro e um golpe de Esta­do estiver­am acam­pa­dos.

Prédio do DOI-Codi ainda é utilizado

No endereço do DOI-Codi ain­da hoje fun­ciona o 36° Dis­tri­to Poli­cial da Polí­cia Civ­il. Para os movi­men­tos, isso é um indica­ti­vo de que ain­da se nat­u­ral­iza a vio­lên­cia poli­cial e o apaga­men­to, da história, de casos a ela rela­ciona­dos.

Atrás da unidade, fica a casa onde viveu, durante a ditadu­ra, Car­los Alber­to Bril­hante Ustra, coro­nel do Exérci­to con­de­na­do em 2008 pela Justiça como tor­tu­rador, figu­ra exal­ta­da pelo ex-pres­i­dente Jair Bol­sonaro.

Em entre­vista à Agên­cia Brasil, Mau­rí­cio Mon­teiro, que se declara como um sobre­vivente do mas­sacre da Casa de Detenção de São Paulo, afir­mou que, até hoje, o perío­do em que per­maneceu na prisão o persegue. Ele, que ficou pri­va­do de liber­dade por 16 anos, sabe o número de reg­istro que lhe foi atribuí­do como deten­to e diz que, mes­mo após deixar a unidade pri­sion­al, nun­ca mais se livrou das mar­cas que o sis­tema deixou nele, aos olhos da polí­cia.

“Várias pes­soas, aqui, foram mor­tas, tor­tu­radas, e o fato de exi­s­tir isso aqui [a del­e­ga­cia que ocu­pa o lugar do DOI-Codi] é um fato de o Esta­do mostrar sua pre­sença. Quan­do a gente pen­sa ‘o Esta­do é omis­so’, não, o Esta­do não é omis­so, não, nem mes­mo nas mortes, ele não traz sua omis­são, ele traz sua pre­sença, traz o que ele quer. E esta­mos aqui para mostrar que nós não con­cor­damos com isso. No mín­i­mo, tin­ha que desati­var ou traz­er um museu”, provo­ca Mon­teiro.

Diver­sas viti­mas relataram o que sofr­eram nos porões da ditadu­ra. Ivan Seixas fez uma fala aos man­i­fes­tantes, como uma das que foram perseguidas e agre­di­das em São Paulo. Ele foi tor­tu­ra­do jun­to com sua família no DOI-Codi e ressaltou que, até hoje, per­manece, inscrito no chão da entra­da da unidade poli­cial, um diz­er feito por man­i­fes­tantes que se opuser­am ao autori­taris­mo e às arbi­trariedade da época, muitas das quais têm ain­da autores na impunidade. “Uma sem­ana depois que eu fui cap­tura­do, um meni­no de 15 anos foi mor­to. Não sabe­mos nem o nome dele”, disse.

Fáti­ma Pin­ho, inte­grante do Movi­men­to Mães de Man­guin­hos, perdeu um fil­ho jovem em um episó­dio no qual ele ques­tio­nou poli­ci­ais que abor­daram, de for­ma tru­cu­len­ta, seu irmão. “Para eles [forças de segu­rança], não somos nada, quan­do temos nos­sos fil­hos arran­ca­dos. Para nós, é mui­ta coisa. Faz­er o que fazem e deixar cair no esquec­i­men­to é mole, para muitos. Para nós, não, é uma dor eter­na, uma saudade eter­na”, desabafou ela.

Sobre o Cordão da Mentira

O Cordão da Men­ti­ra ocorre sem­pre na mes­ma data, que foi quan­do, em 1964, o então pres­i­dente da Repúbli­ca, João Goulart, foi depos­to, após artic­u­lação dos mil­itares para tomar o poder, por meio de um golpe de Esta­do. Na sequên­cia à der­ruba­da de Jan­go, o Con­gres­so Nacional declar­ou vacân­cia da presidên­cia da Repúbli­ca e empos­sou o então pres­i­dente da Câmara dos Dep­uta­dos, Ranieri Mazz­il­li. O 1° de abril, como é de con­hec­i­men­to públi­co, remete ao Dia da Men­ti­ra.

Edição: Clau­dia Fel­czak

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