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Encomendas tomam lugar de envelopes na rotina dos carteiros

Repro­dução: © Joéd­son Alves/Agência Brasil

Profissão é celebrada neste 25 de janeiro


Pub­li­ca­do em 24/01/2024 — 23:09 Por Daniel­la Almei­da — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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A profis­são de carteiro, cel­e­bra­da no Brasil neste 25 de janeiro, já foi tema do sam­ba-canção Men­sagem, com os ver­sos “Quan­do o carteiro chegou e o meu nome gri­tou, com uma car­ta na mão”, inter­pre­ta­do pelas can­toras Isaur­in­ha Gar­cia e, mais recen­te­mente, por Maria Bethâ­nia. A músi­ca Please, Mis­ter Post­man, eterniza­da nas vozes dos Car­pen­ters, tam­bém traz esse profis­sion­al ao pro­tag­o­nis­mo.

Porém, aque­le con­tex­to de espera por uma cor­re­spondên­cia, de mea­d­os do sécu­lo pas­sa­do, mudou bas­tante nas últi­mas décadas. No lugar de car­tas man­u­scritas, como as retratadas no filme Cen­tral do Brasil, os cen­tros de dis­tribuição e agên­cias dos Cor­reios estão abar­ro­ta­dos de encomen­das, com com­pras feitas pela inter­net e vin­das, sobre­tu­do, da Ásia.

Se há cor­re­spondên­cias, ain­da hoje? Sim, há. Mas os telegra­mas, cartões-postais e envelopes com selo cola­do que trazi­am declar­ações de amor, fotografias de par­entes e até din­heiro embrul­ha­do, atual­mente foram sub­sti­tuí­dos pelo grande vol­ume de cobranças, cartões de ban­cos, mul­tas de trân­si­to, doc­u­men­tos e out­ras car­tas reg­istradas.

Carteiros

Brasília (DF) 24/01/2022 – O carteiro Antônio Edson Lucas Vieira, conversa com a Agência Brasil, no centro de distribuiçaõ dos Correios. Fala sobre o dia nacional da Carteira e do Carteiro.Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: O carteiro Antônio Edson Lucas Vieira ain­da vê a expec­ta­ti­va das pes­soas ao entre­gar car­tas e encomen­das.  Foto — Joéd­son Alves/Agência Brasil

O carteiro Antônio Edson Lucas Vieira, de Brasília, con­hece bem essa real­i­dade. Em 28 anos de tra­bal­ho nos Cor­reios, Edin­ho é teste­munha da mudança do con­teú­do den­tro bol­sa que car­rega em um ombro só, com até oito qui­los.

Diari­a­mente, ele cal­cu­la que per­corre a pé quase 10 quilômet­ros das ruas da área mais cen­tral de Brasília para entre­gar car­tas com­er­ci­ais. E o con­ta­to é, basi­ca­mente, feito com porteiros de edifí­cios.

Edin­ho admite que quan­do entrou na empre­sa públi­ca não con­hecia nen­hum endereço dos itin­erários vari­a­dos que fazia, longe de casa. Mas hoje sabe apon­tar a rua somente ao ler o Códi­go de Endereça­men­to Postal (CEP), o nome do des­ti­natário ou a descrição de um pon­to de refer­ên­cia no enve­lope, como um portão azul.

Ape­sar do cansaço e de ter adquiri­do uma esco­l­iose que lhe afe­ta a cer­vi­cal, o carteiro diz que é feliz na profis­são, porque se sente recon­heci­do pela pop­u­lação.

“Vale a pena ser carteiro. A gente é val­oriza­do, prin­ci­pal­mente quan­do chega uma cor­re­spondên­cia. A pes­soa fica na expec­ta­ti­va, na espera”.

Brasília (DF) 24/01/2022 – A carteira Marcia Costa, conversa com a Agência Brasil, no centro de distribuiçaõ dos Correios. Fala sobre o dia nacional da Carteira e do Carteiro. Foto: Rubens dos Santos Rocha/Correios
Repro­dução: A carteira Már­cia Cos­ta é queri­da na viz­in­hança onde tra­bal­ha. Durante seu tra­je­to, é con­vi­da­da para tomar um café ou um refres­co entre uma entre­ga e out­ra. Foto: Rubens dos San­tos Rocha/Correios

Em out­ro pon­to do Dis­tri­to Fed­er­al, a carteira Már­cia da Sil­va Bez­er­ra Cos­ta per­corre de bici­cle­ta dezenas de ruas de Samam­ba­ia Sul. Nos 10 anos de car­reira, ela rela­ta e acha graça da roti­na rec­hea­da de desafios: sol, chu­vas e fugas de cachor­ros. “Parece que os cachor­ros sen­tem o cheiro dos carteiros.” Mas Már­cia garante que nada dis­so atrasa o crono­gra­ma de entre­gas.

Na região onde tra­bal­ha, os moradores nem pre­cisam ler o nome dela no crachá. Már­cia é pop­u­lar. Fre­quente­mente é con­vi­da­da para lan­char, tomar um café ou um refres­co. “Os moradores são muito calorosos na recepção. Tem casas que até uso o ban­heiro, se necessário. A família até tira um ded­in­ho de prosa, prin­ci­pal­mente as pes­soas idosas, mais car­entes de atenção. E sei que vou faz­er o bem se tirar um minutin­ho para ouvir. Só um minutin­ho mes­mo, porque a vida do carteiro é uma cor­re­ria”.

Em tem­pos con­tem­porâ­neos, Már­cia con­ta que é abor­da­da na rua por des­ti­natários que recebem o avi­so eletrôni­co de ras­trea­men­to: “Sua Encomen­da Saiu para Entre­ga”.

“Eu acho que o carteiro hoje é mais esper­a­do pelo morador, porque ele com­pra muito e quer rece­ber. Tem morador que abor­da a gente antes mes­mo de chegar­mos na casa dele, porque já ras­tre­ou o pacote e sabe que os Cor­reios saíram para entre­ga. Então, vai até o encon­tro do carteiro no per­cur­so dele para ver se con­segue inter­cep­tar e ten­tar rece­ber a encomen­da antes,” rela­ta a carteira.

Se as car­tas escritas são bem menos postadas do que décadas atrás, a situ­ação muda nos meses de novem­bro e dezem­bro. É quan­do mil­hares de cor­re­spondên­cias são des­ti­nadas a uma úni­ca pes­soa: o ilus­tre morador do Polo Norte, o Papai Noel. Muitas das men­sagens são de cri­anças em situ­ação de vul­ner­a­bil­i­dade social e que dese­jam rece­ber a doação de um pre­sente de natal.

Há qua­tro anos, o carteiro Antônio Lopes Kastel­lo Bran­co dirige a van dos Cor­reios que faz a entre­ga dos brin­que­dos doa­d­os na Cam­pan­ha Papai Noel dos Cor­reios. Ele é uma espé­cie de pilo­to do trenó natal­i­no. “A gente se sente muito grat­i­fi­ca­do entre­gan­do notí­cias boas; e na entre­ga dos pre­sentes para as cri­anc­in­has, nos colé­gios, no fim do ano. Elas ficam mar­avil­hadas.”

Reajuste salarial

Atual­mente, cer­ca de 46 mil carteiros estão pre­sentes nos 5.570 municí­pios brasileiros e são respon­sáveis pelo trân­si­to e entre­ga de bil­hões de encomen­das e cor­re­spondên­cias. Porém, a profis­são vai além. Os Cor­reios são respon­sáveis pela logís­ti­ca de dis­tribuição das provas do Exame Nacional do Ensi­no Médio (Enem) todos os anos, rece­bi­men­to de trib­u­tos e con­vênios de órgãos públi­cos e rece­bi­men­to de doações filantrópi­cas, por exem­p­lo, em situ­ações de calami­dade públi­ca.

No dia deles, nes­ta quin­ta-feira (25), os carteiros rece­berão o salário com rea­juste de até 11,47%, fru­to da nego­ci­ação da estatal com os tra­bal­hadores no últi­mo acor­do cole­ti­vo. O paga­men­to do salário seria feito, nor­mal­mente, no últi­mo dia útil do mês, pela estatal.

O pres­i­dente dos Cor­reios, Fabi­ano Sil­va dos San­tos, afir­ma que a atu­al gestão val­oriza o quadro de profis­sion­ais da estatal e reto­mou o diál­o­go com os tra­bal­hadores. “Nos­sa gestão entende que a comem­o­ração dessa data pas­sa por recon­hec­i­men­to e esta­mos fazen­do isso em for­ma de bene­fí­cios e inves­ti­men­tos em nos­sas carteiras e nos­sos carteiros e em seus ambi­entes de tra­bal­ho”.

A empre­sa estatal foi a reti­ra­da da lista de pri­va­ti­za­ções pelo pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va, no primeiro dia do gov­er­no dele, em janeiro de 2023.

De acor­do com os Cor­reios, a empre­sa foi incluí­da no Novo Pro­gra­ma de Acel­er­ação do Cresci­men­to (PAC) do gov­er­no fed­er­al, que vai des­ti­nar R$ 856 mil­hões para con­strução de com­plex­os opera­cionais e mod­ern­iza­ção de sis­temas autom­a­ti­za­dos de triagem em diver­sos pon­tos do Brasil até 2026.

Edição: Marce­lo Brandão

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