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Enem 2024: tema da redação é atual e apropriado, avaliam professores

Candidatos tiveram de escrever sobre valorização da herança africana

Gilber­to Cos­ta e Flávia Albu­querque — Repórteres da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 03/11/2024 — 19:27
Brasília e São Paulo
Brasília (DF), 03/11/2024 - Candidatos chegam ao local de provas para o primeiro dia do ENEM 2024. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

O tema da redação do Exame Nacional do Ensi­no Médio (Enem) deste ano, “Desafios para a val­oriza­ção da her­ança africana no Brasil”, pro­pos­to pelo Insti­tu­to Nacional de Estu­dos e Pesquisas Edu­ca­cionais Aní­sio Teix­eira (Inep), é “per­ti­nente”, “atu­al”, “apro­pri­a­do”, “inter­es­sante”, “necessário”, “urgente” e “pedagógi­co”.

As palavras são de pro­fes­sores ouvi­dos pela Agên­cia Brasil em Brasília e em São Paulo, que avaliam que o assun­to pro­pos­to na redação do Enem per­mite aos alunos demon­strarem suas com­petên­cias tex­tu­ais e refle­tirem sobre a real­i­dade brasileira.

Brasília 03/11/2024 Professora de língua portuguesa do colégio SEB, Analu Vargas. Foto Arquivo pessoal
Repro­dução: Pro­fes­so­ra Analu Var­ga diz que tema da redação propõe reflexão sobre fun­ciona­men­to da sociedade — Foto arqui­vo pes­soal

Pro­fes­so­ra de redação do SEB, em Brasília, Analu Var­gas avalia que o tema escol­hi­do “propõe reflexão acer­ca do fun­ciona­men­to da sociedade”. “Esta­mos falan­do de uma neces­si­dade de val­orizar a her­ança da cul­tura africana. Isso abre bagagem para se abor­dar tam­bém pre­con­ceito, o racis­mo, que é um crime, e tratar de proces­sos que chamamos de resquí­cios pós-escravidão.”

A coor­de­nado­ra e pro­fes­so­ra de redação do PB Colé­gio e Cur­so em São Paulo, Juliana Ret­tich, acred­i­ta que o Enem, com suas temáti­cas de redação, tem caráter pedagógi­co para toda a sociedade brasileira; e que este ano o Inep acer­tou nova­mente ao pro­por um tema que pode se trans­for­mar em pau­ta para reporta­gens de difer­entes veícu­los de comu­ni­cação.

“Sabe­mos que temos três matrizes cul­tur­ais no Brasil, mas ain­da vive­mos sob o que podemos chamar de colo­nial­i­dade, um regime de poder que con­tin­ua a sub­al­t­ernizar os povos racial­iza­dos, como os povos africanos. Nas nos­sas aulas de redação, tra­bal­hamos a par­tir da per­spec­ti­va da des­col­o­niza­ção e da decolo­nial­i­dade, dis­cutin­do a prob­lemáti­ca dos cur­rícu­los euro­cen­tra­dos nas esco­las e nas uni­ver­si­dades. Diante dis­so, o nos­so primeiro desafio é com­bat­er o epis­temicí­dio, o assas­si­na­to do con­hec­i­men­to, história e cul­tura pro­duzi­dos pelos povos africanos e afro­di­aspóri­cos”, apon­ta a docente.

Racismo estrutural

Coor­de­nado­ra de redação e pro­fes­so­ra do Colé­gio Eta­pa, em São Paulo, Nayara de Bar­ros, desta­ca que há vários tópi­cos a serem explo­rados no tema do Enem. “Os estu­dantes pode­ri­am tratar do debate racial que tem havi­do no cam­po da edu­cação. O próprio con­ceito de racis­mo estru­tur­al pode­ria ser men­ciona­do, em relação ao racis­mo como parte da estru­tu­ra social, um sis­tema que se man­i­fes­ta nas relações políti­cas, econômi­cas e jurídi­cas, que vai se apre­sen­tar tam­bém como um desafio à val­oriza­ção dessa her­ança nas mais diver­sas instân­cias.”

Cole­ga de tra­bal­ho de Nayara no Eta­pa, Luiz Car­los Dias acres­cen­tou que o assun­to da redação tam­bém diz respeito aos Obje­tivos de Desen­volvi­men­to Sus­ten­táv­el (ODS) das Nações Unidas. Segun­do ele, o ODS 18 “pri­ma pela igual­dade étni­co-racial”.

“Então, para que haja a val­oriza­ção da cul­tura africana, temos que enten­der que os povos africanos são mar­gin­al­iza­dos his­tori­ca­mente no Brasil, des­de o mer­ca­do de escrav­iza­dos”, afir­ma o pro­fes­sor.

Brasília (DF), 30/10/2024 - Professora do colégio Galois, Hagda Vasconcelos, fala com alunos sobre dicas de redação para o Enem 2024. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Repro­dução: Hag­da Vas­con­ce­los, pro­fes­so­ra em Brasília, avalia que tema da redação não sur­preen­deu — Bruno Peres/Agência Brasil

Para Hag­da Vas­con­ce­los, pro­fes­so­ra do Colé­gio Galois, em Brasília, o tema “não sur­preen­deu” porque é uma “prob­lemáti­ca per­sis­tente” no Brasil. “O Enem é uma pro­va muito democráti­ca. É uma pro­va que colo­ca em questão aqui­lo que é necessário ser dis­cu­ti­do.”

Na avali­ação dela, os estu­dantes brasileiros estão prepara­dos. “Nós temos de tra­bal­har a edu­cação antir­racista. Val­orizar o per­son­agem negro. Val­orizar o cien­tista negro. Eu acred­i­to que os meni­nos estão bem prepara­dos, bem embasa­dos para pro­duzir esse tex­to”, diz Hag­da, con­sideran­do o con­teú­do ensi­na­do de acor­do com a Base Nacional Comum Cur­ric­u­lar (BNCC), que define as dire­trizes e os assun­tos que devem ser abor­da­dos em todas as esco­las brasileiras – seja públi­ca ou pri­va­da.​

“Eu gostei muito do tema. É muito apro­pri­a­do. É um tema que ampara as nos­sas dis­cussões”, avalia Gilmar Félix, pro­fes­sor de lín­gua por­tugue­sa da Sec­re­taria de Edu­cação do Dis­tri­to Fed­er­al e tam­bém do Colé­gio Marista de Brasília. O docente lem­bra que há uma lei des­de 2003 que esta­b­elece a obri­ga­to­riedade do ensi­no de cul­tura africana, além da cul­tura indí­ge­na, nas esco­las brasileiras.

“Nós, que somos do movi­men­to negro e que somos pro­fes­sores, quer­e­mos uma legit­i­mação desse ensi­no. O tema não vai ficar só na questão de falar de ensi­no da cul­tura africana, mas vai entrar na questão da edu­cação antir­racista”, ressalta.

Visão hierárquica

O docente, no entan­to, apon­ta que “a sociedade tem uma difi­cul­dade em lidar com o tema.” E que a abor­dagem de assun­tos em sala de aula pode vari­ar de esco­la em esco­la e até con­forme a dis­posição dos docentes. “Alguns pro­fes­sores não querem debater o tema. Na nos­sa sociedade ain­da tem indi­ví­du­os que man­têm uma visão hierárquica, de achar, por exem­p­lo, que o papel e o lugar do negro são sem­pre aque­les que teve ao lon­go da escravidão”, lamen­ta.

Brasília 03/11/2024 Professor de língua portuguesa Gilmar Félix. Foto Arquivo pessoal
Repro­dução: Pro­fes­sor Gilmar Félix diz que tema da redação do Enem aju­da a descon­stru­ir tendên­cia hierárquica — Foto arqui­vo pes­soal

Para Gilmar Félix, a redação do Enem, ao faz­er os estu­dantes olharem para as her­anças cul­tur­ais africanas e a neces­si­dade da val­oriza­ção, “aju­da a descon­stru­ir essa tendên­cia hierárquica.”

O docente aler­ta que, caso algum aluno não ten­ha desen­volvi­do a pro­pos­ta, ain­da que escreven­do sem erros de por­tuguês e com argu­men­tação, corre o risco de ser elim­i­na­do ou ter nota baixa por ape­nas ter “tan­gen­ci­a­do o assun­to.”

“A com­petên­cia 2 e a com­petên­cia 3 [exigi­das pelo Inep] vão cobrar jus­ta­mente que ele tra­bal­he com repertórios legit­i­ma­dos. Não dá para o aluno vir com achis­mo. O bom repertório é aque­le repertório que é legit­i­ma­do.”

A com­petên­cia 2 exige que o can­dida­to inter­prete cor­re­ta­mente o tema e tra­ga uma abor­dagem inte­gral em relação a todas as palavras-chave con­ti­das no tema e faça uma escol­ha ade­qua­da de repertórios capazes de con­tex­tu­alizar essa inter­pre­tação con­ti­da no tema. A com­petên­cia 3 é uma ade­qua­da for­matação de um pro­je­to de tex­to que pre­vê a con­strução de uma intro­dução que apre­sente o tema, a tese e os argu­men­tos, que abor­de a prob­lema­ti­za­ção no desen­volvi­men­to e depois cam­in­ho para o des­fe­cho de inter­venção.

Arte Enem competências da redação
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