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Enredo da Tuiuti em 2025 destacará Xica Manicongo, 1ª travesti do país

Repro­dução: © Foto: Mar­co Ter­ra­no­va / Rio­tur

A previsão é de que a sinopse seja divulgada no dia 13 de maio


Publicado em 05/04/2024 — 20:53 Por Léo Rodrigues — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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O Grêmio Recre­ati­vo Esco­la de sam­ba Paraí­so do Tuiu­ti definiu seu enre­do para o próx­i­mo ano. A agremi­ação do Mor­ro do Tuiu­ti, no bair­ro de São Cristóvão, na zona norte do Rio, levará para o car­naval car­i­o­ca um des­file que destacará a história de Xica Man­i­con­go, con­sid­er­a­da a primeira trav­es­ti do Brasil. O tema será desen­volvi­do pelo car­navale­sco Jack Vas­con­ce­los.

“No dia do nos­so aniver­sário de 72 anos, quem gan­ha o pre­sente são vocês! Vamos faz­er história jun­tos! Quem tem medo de Xica Man­in­con­go? é o títu­lo do enre­do do Paraí­so do Tuiu­ti para o Car­naval 2025”, pub­li­cou a agremi­ação em suas redes soci­ais nes­ta sex­ta-feira (5). Na postagem, a esco­la de sam­ba tam­bém com­par­til­hou a logo do enre­do, assi­na­da pelo design­er e ilustrador Anto­nio Vieira.

Nasci­da no Con­go, Xica foi escrav­iza­da e lev­a­da para Sal­vador no sécu­lo 16, onde tra­bal­hou como sap­ateira. Por não se vestir com tra­jes volta­dos para o públi­co mas­culi­no, ela foi persegui­da e se tornou alvo da Inquisição, tri­bunal volta­do para con­denar e punir con­du­tas con­trárias aos princí­pios da fé católi­ca. Para fugir de pena de ser queima­da viva em praça públi­ca, ela abdi­cou de suas roupas e ado­tou o esti­lo de vida comum aos home­ns da época. Sua história gan­hou vis­i­bil­i­dade a par­tir dos anos 1990, dev­i­do às pesquisas do antropól­o­go Luiz Mott.

O lança­men­to ofi­cial do enre­do ocor­rerá nes­ta noite em uma fes­ta na Cidade do Sam­ba, que terá iní­cio às 22h. A pre­visão é de que a sinopse seja divul­ga­da no dia 13 de maio. Tam­bém por meio das redes soci­ais, a Asso­ci­ação Nacional de Trav­es­tis e Tran­sex­u­ais (Antra) cele­bou o anún­cio da esco­la.

“O primeiro caso de trans­fo­bia reg­istra­do nesse país. No fim dos anos de 1500, Xica foi persegui­da, humil­ha­da e proibi­da de expres­sar sua iden­ti­dade fem­i­ni­na, sendo obri­ga­da a se vestir de for­ma difer­ente da que dese­ja­va. Uma vio­lên­cia enorme! Inclu­sive sob o risco de perder sua vida e ser lev­a­da a fogueira caso ousasse seguir viven­do aber­ta e pub­li­ca­mente como uma pes­soa dis­si­dente de gênero. Essa vio­lên­cia de gênero resul­tou na sua morte em vida, pois ela teve que seguir viven­do sem ser quem era de fato”, reg­is­tra o tex­to.

Em entre­vista à Agên­cia Brasil, a pres­i­dente da Antra, Keila Simp­son, desta­cou que o enre­do da Paraí­so do Tuiti joga mais luz em uma per­son­al­i­dade que pas­sou a ter vis­i­bil­i­dade há bem pouco tem­po no Brasil. “Quan­do o pro­fes­sor Mott traz essa história, ele fala­va de um homem gay que se ves­tia de mul­her e a car­ac­terís­ti­ca que a dis­tin­guia era que ela trazia um pano na cabeça. E aí depois algu­mas trav­es­tis pesquisado­ras mer­gul­haram a fun­do nes­sa his­tor­iza­ção e troux­er­am novas per­spec­ti­vas envol­ven­do questões de iden­ti­dade de gênero. Até então, ela era Fran­cis­co Man­i­con­go. Essas pesquisado­ras trav­es­tis acharam inter­es­sante pas­sar a chamá-la de Xica Man­i­con­go”, expli­cou.

Keila espera que o des­file dia­logue com a real­i­dade atu­al, chaman­do atenção para as histórias de invis­i­bil­i­dade e de perseguição que ain­da são recor­rentes na sociedade brasileira. “Tomara que con­sigam dis­cu­tir como o lega­do de Xica Man­i­con­go rever­bera hoje. Tem tudo para ser um enre­do belís­si­mo a ser con­ta­do sobre uma pop­u­lação que era extrema­mente vio­len­ta­da naque­le perío­do e que ain­da hoje infe­liz­mente é vio­len­ta­da”.

A dep­uta­da fed­er­al Eri­ka Hilton (PSOL), primeira negra e trans elei­ta para ocu­par uma cadeira no Con­gres­so brasileiro, tam­bém comen­tou o anún­cio da esco­la de sam­ba. “Xica teve sua história apa­ga­da por sécu­los, e o res­gate de sua memória é tam­bém o for­t­alec­i­men­to das pes­soas LGBTQIA+ per­ante aque­les que até hoje querem nos ver na fogueira”, escreveu em suas redes.

Há out­ras esco­las do Rio que tam­bém já escol­her­am o enre­do para o car­naval 2025. A Portela hom­e­nageará o can­tor e com­pos­i­tor Mil­ton Nasci­men­to. A Unidos da Tiju­ca apre­sen­tará um enre­do sobre o orixá Logunedé. Atu­al vice-campeã, a Imper­a­triz Leopoldinense con­tará a história da ida de Oxalá ao reino de Oyó com a intenção de vis­i­tar Xangô. Já a Acadêmi­cos do Grande Rio falará sobre o esta­do do Pará. Out­ra agremi­ação que já decid­iu seu enre­do é a Bei­ja-Flor, que hom­e­nageará o car­navale­sco Laíla, que mor­reu em 2021 em decor­rên­cia da covid-19.

 

Edição: Aécio Ama­do

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