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Entenda por que Gaza motivou os bombardeios de Israel contra o Líbano

Em menos de uma semana, mais de 700 libaneses foram mortos

Lucas Pordeus León — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­da em 27/09/2024 — 17:23
Brasília
Nuvens de fumaça sobre o sul do Líbano após ataque israelense vistas de Tiro, Líbano25/09/2024 Reuters/Amr Abdallah Dalsh/Proibida reprodução
© Reuters/Amr Abdal­lah Dalsh/Proibida repro­dução

Os bom­bardeios aére­os mas­sivos de Israel con­tra cidades libane­ses são des­do­bra­men­to da cam­pan­ha mil­i­tar israe­lense na Faixa de Gaza, ter­ritório palesti­no ocu­pa­do por Tel-Aviv. Em menos de uma sem­ana, mais de 700 pes­soas foram mor­tas nestes ataques ao Líbano.

“Não impor­ta os sac­ri­fí­cios, con­se­quên­cias ou pos­si­bil­i­dades futuras, a resistên­cia no Líbano não deixará de apoiar Gaza”, repetiu a prin­ci­pal lid­er­ança do grupo libanês Hezbol­lah, Has­san Nas­ral­lah, em dis­cur­so tele­vi­sion­a­do após o agrava­men­to do con­fli­to na região.

Assim como as milí­cias do Iêmen e do Iraque têm lança­do ataques con­tra Israel ou ali­a­dos de Tel-Aviv em represália aos bom­bardeios em Gaza, a chama­da resistên­cia libane­sa – coal­izão de sete gru­pos políti­co-mil­itares lid­er­a­dos pelo Hezbol­lah – tem pro­movi­do ataques con­tra Israel des­de o dia 7 de out­ubro, tam­bém em sol­i­dariedade à Gaza.

Brasília (DF), 27/09/2024 - O jornalista, cientista político e professor de relações internacionais Bruno Lima Rocha Beaklini. Foto: Bruno Beaklini/Arquivo Pessoal
Repro­dução: Bruno Lima Rocha Beakli­ni expli­ca que a resistên­cia no Líbano não deixará de apoiar Gaza– Bruno Beaklini/Arquivo Pes­soal

“Cada vez que a pop­u­lação de Gaza sofre um ataque, como em 2012 e 2014, a resistên­cia libane­sa se mobi­liza e ten­ta faz­er uma lin­ha de reforço. Ess­es con­fli­tos para apoiar os palesti­nos sem­pre ocor­reram, des­de 1985”, expli­cou o jor­nal­ista, cien­tista políti­co e pro­fes­sor de relações inter­na­cionais Bruno Lima Rocha Beakli­ni.

As batal­has entre os mil­itares israe­lens­es e os gru­pos da resistên­cia libane­sa após o 7 de out­ubro de 2023 forçou o deslo­ca­men­to de cer­ca de 120 mil israe­lens­es do norte do país e pre­ocu­pa Tel-Aviv com a pos­si­b­l­i­dade do con­fli­to invi­a­bi­lizar o Por­to de Haifa, no Mar Mediter­râ­neo.

Bruno Beakli­ni lem­brou que o por­to israe­lense de Eilat já está sem oper­ar por causa do blo­queio naval que as milí­cias do Iêmen – solidárias à Gaza – impõem no Mar Ver­mel­ho. Além dis­so, avalia que Israel decid­iu bom­bardear o Líbano em larga escala por causa do impasse cri­a­do na Faixa de Gaza.

“Netanyahu ten­tou cri­ar um impasse colo­can­do a pop­u­lação do Líbano inteira no alvo de bom­bardeios e, com isso, ten­tar sal­var o Por­to de Haifa e ten­tar recolo­car a sua pop­u­lação no norte da Galileia ocu­pa­da”, expli­cou o espe­cial­ista, lem­bran­do que o atu­al norte de Israel, con­heci­da como Galileia Históri­ca, não esta­va na divisão da Palesti­na orig­i­nal­mente pro­pos­ta pelas Nações Unidas (ONU), em 1947.

Para Bruno, o gov­er­no do primeiro-min­istro Ben­jamin Netanyahu ten­ta ampli­ar a guer­ra porque não tem uma saí­da para Gaza, não con­segue lib­er­tar os reféns e espera gan­har tem­po para a eleição dos Esta­dos Unidos, o prin­ci­pal ali­a­do de Israel.

“Aqui­lo que seria um apoio hipócri­ta do gov­er­no dos democ­ratas [do pres­i­dente Joe Biden ou da can­di­da­ta Kamala Har­ris], pode se tornar um apoio assum­i­do com uma vitória de Don­ald Trump. Trump pode retomar a cam­pan­ha dos Acor­dos de Abraão, ten­tan­do ali­ciar nova­mente os esta­dos árabes, como a Arábia Sau­di­ta. Ai sim Netanyahu tem car­ta bran­ca para faz­er o que bem enten­der”, com­ple­tou.

Os chama­dos Acor­dos de Abrão são com­pro­mis­sos fir­ma­dos entre Israel e alguns esta­dos árabes e que são apon­ta­dos por alguns espe­cial­is­tas como um dos motivos para o Hamas atacar Israel no 7 de out­ubro de 2023.

História

Ape­sar dos atu­ais bom­bardeios israe­lens­es con­tra o Líbano serem uma con­se­quên­cia dos ataques à Gaza, o con­fli­to entre a resistên­cia libane­sa e o Esta­do de Israel não começou com o 7 de out­ubro, mas sim em 1978. Nesse ano, os mil­itares de Tel-Aviv invadi­ram o Líbano ao perseguir a resistên­cia palesti­na, que se refu­gia­va no país viz­in­ho.

Em 1982, Israel invade nova­mente o Líbano e ocu­pa parte de Beirute, a cap­i­tal do país, obri­g­an­do os mil­i­tantes da Orga­ni­za­ção pela Lib­er­tação da Palesti­na (OLP) a fugir da região. Israel então cria uma área tam­pão e per­manece ocu­pan­do o sul do Líbano até o ano 2000.

O grupo Hezbol­lah surge então como uma guer­ril­ha – apoia­da pelo Irã – que luta con­tra a ocu­pação mil­i­tar de Israel no Líbano. Em 25 de maio de 2000, a resistên­cia libane­sa con­segue expul­sar Israel do país árabe.

Hou­ve ain­da out­ras três cam­pan­has mil­itares de Israel con­tra o Líbano, em 2006, 2009 e 2011. A maior foi em 2006, durou cer­ca de 30 dias e matou mais de 10 mil civis.

“As três prin­ci­pais razões de exi­s­tir dessa força políti­ca [o Hezbol­lah] é pro­te­ger a pop­u­lação xiita mais pobre do Líbano, pro­te­ger o ter­ritório Libanês e lib­er­tar a Palesti­na”, acres­cen­tou o pro­fes­sor Bruno Lima Rocha Beakli­ni.

O Líbano ain­da dis­pu­ta com Israel algu­mas áreas próx­i­mas às Col­i­nas de Golã, ter­ritório sírio inva­di­do e ocu­pa­do por Israel des­de 1967. As chamadas Fazen­das She­baa e as Col­i­nas de Kfar Chou­ba são ter­ritórios toma­dos por Israel e que são reivin­di­ca­dos pelo Líbano.

A maior comu­nidade de brasileiros viven­do no Ori­ente Médio está no Líbano. São 21 mil brasileiros que vivem no país. A imi­gração libane­sa no Brasil tam­bém é forte. Esti­ma-se que 3,2 mil­hões de libane­ses ou descen­dentes de libane­ses vivam no Brasil.

Brasília (DF), 27/09/2024 - Arte para a matéria Guerra em Israel e Líbano. Arte/Agência Brasil
Repro­dução: Guer­ra em Israel e Líbano, por Arte/Agência Brasil

Terrorismo

O prin­ci­pal grupo da chama­da resistên­cia libane­sa – o Hezbol­lah – tem tan­to um braço mil­i­tar quan­to políti­co, sendo o grupo com mais votos e assen­tos no par­la­men­to libanês. O Hezbol­lah indi­ca min­istros para o gov­er­no do país árabe há três mandatos.

Ape­sar dis­so, para país­es como Esta­dos Unidos, Inglater­ra e Ale­man­ha, o Hezbol­lah é um grupo ter­ror­ista. Porém, as Nações Unidas não con­sid­er­am o grupo como ter­ror­ista e o Brasil só con­sid­era como ter­ror­is­tas as orga­ni­za­ções clas­si­fi­cadas dessa for­ma pela ONU.

O cien­tista políti­co Bruno Beakli­ni sus­ten­ta que não há provas de que o grupo libanês pro­mo­va ataques con­tra civis desar­ma­dos. Ele argu­men­ta que ataques con­tra insta­lações mil­iares e diplomáti­cas dos EUA na déca­da de 1980 – apon­ta­dos como atos ter­ror­is­tas — foram atos de guer­ra e que a acusação de que o grupo par­ticipou do aten­tan­do con­tra a Sociedade Judaica na Argenti­na, em 1994, não tem provas con­tun­dentes.

“Não tem nada aprova­do [em relação ao aten­ta­do na Argenti­na]. Só existe uma peça da Procu­rado­ria Argenti­na e o procu­rador que fez a apu­ração se sui­ci­dou em 2015, o Alber­to Nis­man. Ele apare­ceu mor­to no seu aparta­men­to, suposta­mente via suicí­dio, depois que desco­bri­ram fun­dos de con­tas sec­re­tas dele e de sua mãe nos EUA sem origem e com um val­or muito aci­ma de seus gan­hos”, comen­tou.

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