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Entenda técnica que faz mosquito levar larvicida a seus criadouros

Estratégia é adotada para combater transmissores de arboviroses

Fran­ciel­ly Bar­bosa* — Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­da em 29/09/2024 — 10:17
Rio de Janeiro
Mosquito da Dengue, Aedes Aegypti, picada. Foto: nuzeee/Pixabay
Repro­dução: © nuzeee/Pixabay

Pesquisadores brasileiros desen­volvem estraté­gia para com­bat­er inse­tos trans­mis­sores de arbovi­ros­es. O tra­bal­ho com­pro­vou que o uso dos mos­qui­tos para “autodis­sem­i­nar” lar­vi­ci­das em seus próprios cri­adouros pode aju­dar no con­t­role das doenças trans­mi­ti­das, sobre­tu­do aque­las lev­adas pelo Aedes aegyp­ti, como a dengue.

Chama­da de Estação Dis­sem­i­nado­ra de Lar­vi­ci­da (EDL), a téc­ni­ca atrai os inse­tos para um pote plás­ti­co com água, recober­to com teci­do pre­to umede­ci­do e impreg­na­do com um lar­vi­ci­da em pó muito fino. Ao pousar, o lar­vi­ci­da adere ao mos­qui­to que o leva para o cri­adouro, per­mitin­do que a sub­stân­cia alcance suas lar­vas e impeça a pro­lif­er­ação.

Elab­o­ra­do por pesquisadores do Insti­tu­to Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazô­nia) e do Insti­tu­to René Rachou (Fiocruz Minas), em parce­ria com a Sec­re­taria Munic­i­pal de Saúde de Belo Hor­i­zonte, o pro­je­to dis­tribuiu cer­ca de 2.500 “Estações Dis­sem­i­nado­ras de Lar­vi­ci­da” (EDLs) em nove bair­ros de Belo Hor­i­zonte ao lon­go de dois anos. De acor­do com a inves­ti­gação, hou­ve redução da incidên­cia de dengue em 29% ness­es bair­ros e em 21% nos bair­ros viz­in­hos.

Pub­li­ca­do na revista The Lancet Infec­tious Dis­eases, a pesquisa começou em um bair­ro de Man­aus, cap­i­tal do Ama­zonas. Dev­i­do aos bons resul­ta­dos, o estu­do foi lev­a­do para novos locais, com pop­u­lações maiores.

“Começamos há alguns anos tes­tando a hipótese que exis­tia na lit­er­atu­ra cien­tí­fi­ca de que os mos­qui­tos pode­ri­am car­regar lar­vi­ci­das de um lado para o out­ro”, intro­duz o pesquisador da Fiocruz Amazô­nia e um dos autores do estu­do, Sér­gio Luz, “como as fêmeas colo­cam ovos em vários lugares, elas pousam na super­fí­cie, ficam impreg­na­dos com o lar­vi­ci­da e depois o ‘dis­tribuem’ em out­ros locais”. No inse­to, o lar­vi­ci­da atua como um hor­mônio do cresci­men­to na eta­pa entre a fase lar­val e de pupa, fazen­do com que a lar­va con­tin­ue crescen­do, mas sem avançar para o próx­i­mo está­gio, ou impedin­do que o mos­qui­to alcance a fase adul­ta.

Com apoio de pesquisadores da Uni­ver­si­dade de Brasília (UnB), o estu­do foi real­iza­do em Brasília e tam­bém obteve bons resul­ta­dos na diminuição de doenças. “Isso acon­te­ceu no con­tex­to da epi­demia de zika em 2016. Na época, o gov­er­no fed­er­al esta­va atrás de novas estraté­gias para faz­er o com­bate veto­r­i­al do mos­qui­to, ten­do em vista que as ações eram as mes­mas há mais de um sécu­lo”, comen­ta Luz em entre­vista à Agên­cia Brasil. A par­tir dis­so, com o Cen­tro de Oper­ações de Emergên­cia (COE) para Dengue e out­ras Arbovi­ros­es, foram sele­cionadas difer­entes cidades para enten­der como a estraté­gia de autodis­sem­i­nação fun­cionar­ia em áreas difer­entes da Amazô­nia.

“Tive­mos um resul­ta­do bem sig­ni­fica­ti­vo, de redução de cer­ca de 30% de casos de dengue na área cen­tral, onde estão as estações dis­sem­i­nado­ras, e 20% nas áreas adja­centes, com­pro­van­do o que já tín­hamos mostra­do: o mos­qui­to voa e, se ele voa, con­segue dis­per­sar lar­vi­ci­da para out­ras áreas”, infor­mou o pesquisador.

A estraté­gia desen­volvi­da e coor­de­na­da pelos téc­ni­cos da Fiocruz Amazô­nia foi ado­ta­da pelo Min­istério da Saúde (MS) em seu novo plano de ação para reduzir os impactos da dengue e de out­ras arbovi­ros­es no Brasil, divul­ga­do na quar­ta-feira (18). Na pub­li­cação, o min­istério infor­ma que vai expandir o uso das EDLs para o con­t­role do Aedes aegyp­ti nas per­ife­rias brasileiras. “Ago­ra, as Estações Dis­sem­i­nado­ras de Lar­vi­ci­da fazem parte do grupo de estraté­gias usadas como políti­ca públi­ca no con­t­role do mos­qui­to trans­mis­sor da dengue”, cel­e­bra Luz.

“É impor­tante diz­er que essas medi­das são com­ple­mentares. A solução ain­da depende muito, porque cer­ca de 70% dos cri­adouros dos mos­qui­tos estão nas casas das pes­soas, então é pre­ciso que a comu­nidade e a pop­u­lação con­tribuam de for­ma deci­si­va, não deixan­do água acu­mu­la­da, fazen­do limpeza do ter­reno e descar­tan­do o lixo ade­quada­mente”, aler­ta o pesquisador.

Segun­do o Painel de Mon­i­tora­men­to das Arbovi­ros­es do MS, até setem­bro de 2024 foram reg­istradas 5.428 mortes por dengue e 6.529.520 casos prováveis da doença. Os casos cos­tu­mam ser mais comuns, sobre­tu­do, em épocas de altas tem­per­at­uras e chu­vas fre­quentes.

*Estag­iária sob super­visão de Viní­cius Lis­boa

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