...
quarta-feira ,9 outubro 2024
Home / Noticias / Escolas de samba foram espaço de resistência à repressão da ditadura

Escolas de samba foram espaço de resistência à repressão da ditadura

Repro­dução: © Acervo/Imperio Ser­ra­no

Censura se impôs às atividades dos sambistas


Publicado em 03/04/2024 — 08:32 Por Cristina Indio do Brasil — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

ouvir:

Arte 60 anos do golpe - banner

Con­sid­er­adas ter­ritório de ale­gria, diver­são e preser­vação cul­tur­al, as quadras das esco­las de sam­ba já foram locais de dor e sofri­men­to. Durante os anos do regime mil­i­tar, algu­mas agremi­ações acabaram se trans­for­man­do em espaços de resistên­cia da cul­tura e das liber­dades soci­ais para se con­tra­por às ações de agentes do gov­er­no fed­er­al.

A repressão e a cen­sura se impuser­am às ativi­dades dos sam­bis­tas. Até aque­le momen­to as bati­das poli­ci­ais que sofri­am eram por dis­crim­i­nação porque os sam­bis­tas eram con­sid­er­a­dos uma cat­e­go­ria mar­gin­al­iza­da da sociedade. Com a ditadu­ra, a situ­ação se agravou. Esco­las como Vai-Vai, Camisa Verde e Bran­co e Unidos do Peruche, em São Paulo, e Império Ser­ra­no, no Rio de Janeiro, além de verem suas quadras inva­di­das, tiver­am que bus­car meios para man­ter seus enre­dos e as ativi­dades em comu­nidade.

Aos 77 anos, o jor­nal­ista Fer­nan­do Pen­tea­do, atu­al dire­tor cul­tur­al da Vai-Vai, con­sid­er­a­do um griô ou gri­ot do sam­ba, que na cul­tura africana é a pes­soa que man­tém viva a memória do grupo, con­tan­do as histórias e mitos daque­le povo, lem­brou que na déca­da de 1960 o sam­ba era meio mar­gin­al­iza­do e não tin­ha a aceitação públi­ca que tem atual­mente. Mas, durante o regime mil­i­tar a perseguição ficou maior, espe­cial­mente, con­tra com­pos­i­tores que eram mais de esquer­da políti­ca. Segun­do Pen­tea­do, o Bix­i­ga, onde a esco­la foi fun­da­da, era um bair­ro con­tes­ta­dor, o que a tornou mais visa­da pela repressão.

São Paulo (SP), 22/03/2024 - O sambista emérito Fernando Penteado da velha guarda da Escola de Samba Vai Vai. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: Dire­tor cul­tur­al da Vai-Vai, Fer­nan­do Pen­tea­do lem­bra a perseguição a sam­bis­tas no regime mil­i­tar — Rove­na Rosa/Agência Brasil

“O sam­ba na época era mar­gin­al­iza­do, então, o ensaio, inde­pen­den­te­mente se era na época da ditadu­ra ou não, quan­do a gente via uma viatu­ra de polí­cia chegar no domin­go à tarde ou em uma quin­ta-feira, sabíamos que eles iam reprim­ir”, con­tou à Agên­cia Brasil, rela­tan­do ain­da que, no fim da déca­da de 1960, quan­do com­po­nentes da esco­la fazi­am um ensaio, em um domin­go, em uma praça da região da Bela Vista, a polí­cia chegou com vio­lên­cia.

“Entraram para den­tro, furaram os instru­men­tos. Isso era em um domin­go. Na quin­ta-feira, nós está­va­mos lá de novo ensa­ian­do com os instru­men­tos que eles furaram, e a gente encourou [botar peça de couro no instru­men­to] out­ra vez. Assim foi. Alguns com­pos­i­tores, que eram pre­sos por causa de sam­ba-enre­do, eram pre­sos de noite e soltos de dia e iam faz­er sam­ba out­ra vez. A con­tes­tação sem­pre hou­ve”, disse.

De acor­do com Pen­tea­do, out­ra for­ma de resistên­cia foram os encon­tros de sam­ba que algu­mas esco­las começaram a realizar. O primeiro foi da Camisa Verde e Bran­co, que rece­bia estu­dantes de uma uni­ver­si­dade próx­i­ma. “Eles não iam mais para os bares porque eram fecha­dos e começaram a vir para o sam­bão. Aí foi cri­a­do o sam­ba uni­ver­sitário.”

“A nos­sa resistên­cia [na esco­la Vai-Vai] era faz­er o que não podia. Diziam ‘não pode ensa­iar na Rua 13 de Maio’, era lá que a gente ia ensa­iar. Sabe aque­le moleque mal­cri­a­do, que na min­ha época, já estou com 77 anos, era buliçoso. Sem­pre tin­ha alguém para nos defend­er, prin­ci­pal­mente jor­nal­is­tas. A gente escrevia letras de enre­dos com out­ras palavras e aí pas­sa­va [na cen­sura]”, disse o dire­tor cul­tur­al.

Ain­da con­forme Pen­tea­do, quan­do a Vai-Vai se trans­for­mou de cordão car­navale­sco para esco­la de sam­ba, teve a inte­gração do com­pos­i­tor Ger­al­do Filme, que era do Peruche. Ele, o jor­nal­ista Dal­mo Pes­soa e a escrito­ra e artista plás­ti­ca Raquel Trindade for­maram o depar­ta­men­to cul­tur­al. “Pes­soas da ultra­es­quer­da for­maram, aqui na Bela Vista, no Vai-Vai, o primeiro depar­ta­men­to cul­tur­al de uma esco­la de sam­ba. Isso foi em 72, 73, den­tro do regime mil­i­tar. Eles começaram a faz­er enre­do no Vai-Vai com essa per­spicá­cia de maquiar o enre­do”, descreveu.

O com­pos­i­tor Cláu­dio André de Souza, do Peruche, con­tou que teve de pas­sar por momen­tos de apreen­são na infân­cia. “Evi­tavam levar cri­anças nos ensaios jus­ta­mente com receio dess­es enfrenta­men­tos entre com­po­nentes e polí­cia. A gente ia a ensaios à tarde, mas tin­ha um dis­tan­ci­a­men­to com as cri­anças. Quan­do a gente dizia que que­ria ir à esco­la diziam ‘soz­in­ho você não vai’. “Mas porquê?’ ‘Porque tem mui­ta briga e polí­cia’. Foi dessa for­ma que a gente acom­pan­hou quan­do cri­ança”, recor­dou.

São Paulo (SP), 21/03/2024 - O compositor Cláudio André de Souza, diretor do Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Unidos do Peruche, na quadra da escola de samba. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: Cláu­dio André, dire­tor do Peruche, diz que com­pos­i­tores foram reprim­i­dos pelo regime mil­i­tar — Rove­na Rosa/Agência Brasil

Em 1972, a esco­la escol­heu o enre­do Chama­da aos Heróis da Inde­pendên­cia, de auto­ria de Ger­al­do Filme, e teve que pas­sar pelo cri­vo da cen­sura. “O seu Car­lão era pres­i­dente na época, fize­mos o enre­do que foi um suces­so na aveni­da no car­naval, e os dois foram con­vi­da­dos entre aspas a com­pare­cerem ao Dops [Depar­ta­men­to de Ordem Políti­ca e Social] para expli­carem o enre­do que eles achavam sub­ver­si­vo e que o Peruche esta­va inci­tan­do o povo a se rebe­lar con­tra o regime. Ficaram uns dias lá respon­den­do per­gun­tas. Não falaram que estavam pre­sos, mas para averiguações”, rela­tou o com­pos­i­tor.

“Os com­pos­i­tores foram reprim­i­dos e tiver­am que ficar um tem­po afas­ta­dos do Unidos do Peruche porque não podi­am mais faz­er sam­ba, não podi­am escr­ev­er”, apon­tou.

Simone Tobias, neta de Inocên­cio Tobias, um dos fun­dadores da Camisa Verde e Bran­co, e fil­ha de Car­los Alber­to Tobias, que foi pres­i­dente da esco­la, lem­brou o que pas­sou. “Eu era cri­ança, mas lem­bro de pararem ensaio, furarem instru­men­tos e nem tin­ha um vol­ume grande de gente como hoje tem. Para eles, inde­pen­dia se tin­ha cri­ança, mul­her, idoso, eles chegavam com tru­culên­cia e desci­am pauladas. Era uma época muito ten­sa. Ten­ho na memória as cenas”, rela­tou à reportagem.

“A gente tin­ha que faz­er o desen­volvi­men­to do tema, do enre­do, das ale­go­rias, e aí era sub­meti­do a um audi­tor fis­cal. Se eles achas­sem que tin­ham algu­ma coisa que não esta­va a con­tento, que não fos­se a favor do gov­er­no e fos­se algum protesto, não podia e tin­ha que mudar”, acres­cen­tou.

Simone con­tou que,  emb­o­ra em 1982 a perseguição aos temas da esco­la ten­ha começa­do a ficar menos inten­sa, os com­pos­i­tores ain­da pre­cis­aram faz­er mudanças na letra do enre­do daque­le ano, Negros Mar­avil­hosos, Mutuo Mun­do Kitoko. As alter­ações, no entan­to, não foram seguidas na aveni­da, e os com­po­nentes can­taram o sam­ba orig­i­nal.

“Óbvio que nós não gan­hamos o car­naval. Meu pai acabou toman­do uns pet­ele­cos. Acho que foi a primeira grande guina­da para que a gente pudesse expres­sar real­mente. Não era só o Camisa, eram todas as esco­las. A gente não podia falar de temas que eles achas­sem polêmi­cos”, rela­tou Simone.

“Foi um perío­do bem difí­cil. Para quem viveu aqui­lo à flor da pele e quan­do se fala ‘temos que voltar com a ditadu­ra’, chega a arrepi­ar a alma. As pes­soas real­mente não têm noção do que uma ditadu­ra é capaz de faz­er”, apon­tou Simone, lem­bran­do que a Nenê da Vila Matilde tam­bém foi uma esco­la de sam­ba de resistên­cia durante o regime mil­i­tar.

Carnaval carioca

No Rio de Janeiro, em ple­na vigên­cia do Ato Insti­tu­cional nº 5 (AI‑5), o Império Ser­ra­no escol­heu um tema que se con­tra­pun­ha à ditadu­ra. Em 1969, des­filou com o enre­do Heróis da Liber­dade, com­pos­to por Silas de Oliveira, Mano Décio e Manoel Fer­reira, que defendia a liber­dade por meio de man­i­fes­tações pop­u­lares. Por isso, teve que se explicar aos agentes da cen­sura, e os com­pos­i­tores tiver­am que alter­ar a letra do sam­ba.

Escolas de samba foram espaço de resistência à repressão da ditadura. - Escola de Samba Império Serrano - Heróis da Liberdade . Foto: Imperio Serrano/Youtube
Repro­dução: Esco­la de Sam­ba Império Ser­ra­no des­filou com o enre­do Heróis da Liber­dade em 1969, em meio à vigên­cia do AI‑5 — Império Serrano/YouTube

“Hou­ve, sim, repressão aos com­pos­i­tores do Império Ser­ra­no. Eles sofr­eram perseguição e proibições do regime muito mais por uma ati­tude foca­da nes­ta resistên­cia indi­vid­u­al­iza­da do que um proces­so mais orga­ni­za­do de repressão à esco­la como um todo”, con­tou à Agên­cia Brasil o jor­nal­ista e pro­fes­sor da Pon­tif­í­cia Uni­ver­si­dade Católi­ca do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Chico Otávio.

O pro­fes­sor de história Lean­dro Sil­veira, mestre pela Uni­ver­si­dade Fed­er­al Flu­mi­nense (UFF) e doutoran­do pela Uni­ver­si­dade do Esta­do do Rio de Janeiro (Uerj), lem­brou que, antes de ser enre­do do campe­ona­to da Mangueira em 1998, o can­tor e com­pos­i­tor Chico Buar­que tin­ha sido escol­hi­do para tema da esco­la Canarin­hos da Engen­ho­ca, de Niterói, na região met­ro­pol­i­tana do Rio. A pre­sença do hom­e­nagea­do cau­sou con­fusão com a pre­sença da polí­cia. Hoje a esco­la não existe mais.

“Ele [Chico Buar­que] veio, e a polí­cia foi atrás. Foi uma coisa bem ten­sa”, rev­el­ou Sil­veira, um dos autores do livro Antiga­mente É que Era Bom: a Folia Niteroiense entre 1900–1986.

O pro­fes­sor desta­cou que, durante o regime mil­i­tar, as esco­las de Niterói pre­cisavam nego­ciar com os agentes até os locais de ensaio. “Esco­la de sam­ba ensa­iar nos grandes clubes aqui em Niterói, só se tivesse alguém que fizesse uma ponte com o cen­sor. Elas con­seguiam driblar um pouco a cen­sura nos bair­ros, porque a cen­sura não cos­tu­ma­va entrar na favela para reprim­ir”, rela­tou.

Out­ra repressão lem­bra­da por Lean­dro Sil­veira nas esco­las das duas cidades tin­ha como alvo o mate­r­i­al de des­files. “Muitos cro­quis e desen­hos de fan­tasias eram lit­eral­mente proibidos, cen­sura­dos e tin­ham que faz­er de novo. O que eu vejo tan­to para Niterói, quan­to para o Rio, é que as esco­las quan­do foram reprim­i­das tiver­am que des­fo­car as temáti­cas. Tem um perío­do em que a repressão foi maior de 69 a 76 e os enre­dos não ver­sam muito sobre nada pro­gres­sista”, apon­tou o his­to­ri­ador, acres­cen­tan­do que “o Império Ser­ra­no nun­ca perdeu a mar­ca da resistên­cia”.

Escolas de samba foram espaço de resistência à repressão da ditadura. - Escola de Samba Em Cima da Hora - Os Sertões. Foto: Cola na História
Repro­dução: Esco­la Em Cima da Hora lev­ou para a aveni­da no car­naval de 1976 o sam­ba-enre­do Os Sertões — Cola na História

Além do Império Ser­ra­no, Sil­veira lem­brou que a esco­la de sam­ba Em Cima da Hora mon­tou em 1976 o enre­do Os Sertões, com­pos­to por Ede­or de Paula. Inspi­ra­do no clás­si­co do escritor Euclides da Cun­ha, o sam­ba desta­cou as difi­cul­dades enfrentadas pelo povo no Nordeste: “O Homem revolta­do com a sorte/ do mun­do em que vivia/ Ocul­tou-se no sertão espal­han­do a rebeldia/ Se revoltan­do con­tra a lei/ Que a sociedade ofer­e­cia.”

“São dois momen­tos em que a temáti­ca é mais pro­gres­sista, as escol­has con­seguem furar um pouco essa bol­ha, porque no Rio e em Niterói tem muito enre­do falan­do de ufanis­mo, de Brasil, do futuro ou de fol­clore”, disse Sil­veira, desta­can­do que as agremi­ações só retomaram os enre­dos mais pro­gres­sis­tas depois da aber­tu­ra do regime no gov­er­no do gen­er­al João Figueire­do.

“Grada­ti­va­mente vai apare­cer a críti­ca social e aí vai ter a Capri­chosos de Pilares e Cabuçu, no Rio, e, em Niterói, a Souza Soares, do bair­ro de San­ta Rosa. A esco­la União da Ilha da Con­ceição, já extin­ta hoje, na vira­da da aber­tu­ra gan­hou um car­naval com um enre­do sobre favela e crit­i­ca tudo, inclu­sive a cen­sura. Aí já em 85”, comen­tou o his­to­ri­ador.

“As esco­las eram vigiadas. Quem tin­ha mais gar­rafas para vender [em Niterói] eram Cuban­go e Viradouro porque de cer­ta for­ma tin­ham um trân­si­to maior com essa estru­tu­ra de poder”, disse ele.

Ufanismo

Ao mes­mo tem­po em que algu­mas esco­las enfrentavam a repressão e a cen­sura, out­ras no Rio fazi­am enre­dos ufanistas e de apoio ao gov­er­no mil­i­tar. Uma delas foi a Bei­ja-Flor de Nilópo­lis que lev­ou para a aveni­da enre­dos como O Grande Decênio, de 1975, no qual rev­er­en­ci­a­va pro­gra­mas soci­ais do gov­er­no mil­i­tar como o Pro­gra­ma de Inte­gração Social (PIS), o Pro­gra­ma de For­mação do Patrimônio do Servi­dor Públi­co (Pasep), o Fun­do de Assistên­cia ao Tra­bal­hador Rur­al (Fun­rur­al) e o Movi­men­to Brasileiro de Alfa­bet­i­za­ção (Mobral).

“Ela comem­o­rou o Grande Decênio na aveni­da, os dez anos do golpe”, pon­tu­ou Sil­veira, indi­can­do que a Azul e Bran­co de Nilópo­lis ain­da fez os enre­dos ufanistas Edu­cação para o Desen­volvi­men­to e Brasil Ano 2000, como a nação do futuro. “O sam­ba dizia o ‘Fun­rur­al que ampara o homem do cam­po com segu­rança total’, quer diz­er a ideia de que o homem do cam­po está bem com o gov­er­no. O inter­es­sante é que, no ano seguinte, a Em Cima da Hora con­segue burlar e faz uma denún­cia, via Os Sertões”, obser­vou Sil­veira.

Trocas de interesses

A aprox­i­mação das esco­las com o regime mil­i­tar, segun­do o pro­fes­sor Chico Otávio, era de inter­esse das duas partes. O gov­er­no bus­ca­va mais apoio pop­u­lar, e as agremi­ações que tin­ham como patronos con­tra­ven­tores do jogo do bicho que­ri­am evi­tar a iden­ti­fi­cação com o crime e pos­síveis prisões.

“O regime, no momen­to em que já começa­va a entrar em declínio, pre­cisa­va da pop­u­lar­i­dade das esco­las de sam­ba para se reafir­mar jun­to à pop­u­lação. Então, foi uma espé­cie de tro­ca de inter­ess­es. Eu não te inco­mo­do e você me deixa pegar carona no prestí­gio e pop­u­lar­i­dade das esco­las de sam­ba na aveni­da”, disse Chico Otávio, autor do livro Os Porões da Con­tra­venção Jogo do Bicho e Ditadu­ra Mil­i­tar: a História da Aliança que Profis­sion­al­i­zou o Crime Orga­ni­za­do.

A ram­i­fi­cação do jogo do bicho na cidade favore­cia o “tra­bal­ho” exten­so que colab­o­ra­va com a repressão. “Eles aju­davam, con­tribuíam com infor­mações para que a ditadu­ra pudesse pren­der sub­ver­sivos. Os bicheiros de cer­ta for­ma con­tribuíram para isso. Tin­ham mui­ta pre­sença nas ruas e for­maram uma rede de espiões para abaste­cer a ditadu­ra de infor­mações a respeito dos inimi­gos do sis­tema”, com­ple­tou Chico Otávio.

Para o pro­fes­sor, mais uma lig­ação de mil­itares e con­tra­venção ocor­reu quan­do o gov­er­no Ernesto Geisel começou a aber­tu­ra políti­ca para encer­rar o regime mil­i­tar. Naque­le momen­to, agentes da repressão que não con­cor­daram com esse proces­so se aliaram aos bicheiros do jogo do bicho. “À con­tra­venção inter­es­sa­va ter gente que tin­ha essa exper­tise de tor­tu­rar, matar, espi­onar, então foi um bom negó­cio para ambas as partes. Os agentes mil­itares que encon­traram essa acol­hi­da e con­tin­uaram a ter poder, via bicheiros, eram segu­ranças de bicheiros ou muito mais que isso, viraram capos tam­bém”, afir­mou o pro­fes­sor da PUC-Rio.

Em 1971, bem difer­ente da lin­ha de enre­dos que vin­ha apre­sen­tan­do, a Mangueira lev­ou para a aveni­da Mod­er­nos Ban­deirantes, uma hom­e­nagem à Aeronáu­ti­ca Brasileira.

“As esco­las fiz­er­am isso espon­tanea­mente. Eles foram colab­o­radores do regime sem pre­cis­ar sofr­er qual­quer pressão para isso. Fiz­er­am de bom gra­do. Tin­ham inter­ess­es estratégi­cos de agradar o regime. Os bicheiros estavam no proces­so de legit­i­mação da sua ativi­dade crim­i­nosa jun­to à pop­u­lação através do car­naval”, con­cluiu Chico Otávio.

Edição: Juliana Andrade

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Justiça de SP extingue penas de policiais pelo massacre do Carandiru

Repressão policial a uma rebelião resultou na morte de 111 detentos André Richter — Repórter …