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Escolas de samba se despedem da carnavalesca Rosa Magalhães

Repro­dução: © Cristi­na Indio do Brasil/Agência Brasil

Artista morre, no Rio, aos 77 anos, de infarto


Publicado em 26/07/2024 — 09:24 Por Bruno de Freitas Moura e Cristina Índio do Brasil — Repórteres da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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Esco­las de sam­ba e per­son­al­i­dades prestam hom­e­na­gens para a car­navalesca Rosa Mag­a­l­hães, dona de sete títu­los do car­naval car­i­o­ca. Ela mor­reu, no Rio de Janeiro, na noite dessa quin­ta-feira (25), aos 77 anos. A con­fir­mação da morte foi fei­ta pela esco­la de sam­ba Império Ser­ra­no, pela qual Rosa foi campeã em 1982. Rosa sofreu um infar­to em sua casa.

“Com tris­teza, a Império Ser­ra­no rece­beu a notí­cia do falec­i­men­to da car­navalesca Rosa Mag­a­l­hães, aos 77 anos, nes­ta noite”, infor­mou a esco­la.

“Fica aqui a nos­sa gratidão por tudo que você, Rosa, fez pelo car­naval, pela con­tribuição à nos­sa história e à arte”, com­ple­ta a agremi­ação.

O velório será aber­to ao públi­co no Palá­cio da Cidade, sede da prefeitu­ra do Rio, em Botafo­go, 12h às 16h. O sepul­ta­men­to será restri­to a famil­iares e ami­gos, no cemitério São João Batista, tam­bém em Botafo­go, às 16h30.

Rosa tin­ha mais de 50 anos ded­i­ca­do à arte. A Liga Inde­pen­dente das Esco­las de Sam­ba do Rio de Janeiro (Liesa), ao lamen­tar a morte, afir­mou que Rosa Mag­a­l­hães “fez história” no car­naval.

O títu­lo de 1982 com o Império Ser­ra­no fez o enre­do “Bum Bum Paticum­bum Prugu­run­dum” fig­u­rar entre um dos mais famosos do car­naval car­i­o­ca.

Na Imper­a­triz Leopoldinense, a amante do car­naval con­seguiu faz­er a esco­la atin­gir a suprema­cia por anos segui­dos. Con­quis­tou o bicam­pe­ona­to de 1994 e 1995 e o tri­cam­pe­ona­to de 1999, 2000 e 2001.

“Falar de Rosa Mag­a­l­hães é falar da história da Imper­a­triz, ten­do em vista que, de sete títu­los con­quis­ta­dos pela pro­fes­so­ra, cin­co foram em nos­sa agremi­ação”, pub­li­cou no X (anti­go Twit­ter), a Imper­a­triz Leopoldinense.

“Neste momen­to, fal­tam palavras para definir a grandeza de Rosa e de toda a sua tra­jetória não só no car­naval, mas em toda a sua car­reira, ao lon­go dos mais de 50 anos de tra­bal­hos ded­i­ca­dos à arte. Rosa pro­moveu des­files inesquecíveis aos olhos do públi­co e de toda a críti­ca, e sem­pre estará mar­ca­da por sua elegân­cia, pela entre­ga magis­tral em seus tra­bal­hos, e, prin­ci­pal­mente, por sua brasil­i­dade nas histórias que con­tou ao lon­go de todo esse tem­po”, com­ple­tou a Imper­a­triz Leopoldinense.

O últi­mo campe­ona­to da car­navalesca foi em 2013, coman­dan­do o car­naval da Unidos de Vila Isabel. “Viva Rosa Mag­a­l­hães”, pos­tou nas redes soci­ais a Vila Isabel após a notí­cia da morte.

“Se o car­naval car­i­o­ca alcançou a pri­mazia como grande espetácu­lo visu­al muito se deve a Rosa. Nos­sa esco­la tem por ela uma gratidão imen­su­ráv­el por ser um gênio artís­ti­co à frente do nos­so últi­mo campe­ona­to em 2013”, pub­li­cou a esco­la da zona norte do Rio de Janeiro, acres­cen­tan­do que ela “pro­je­tou o seu tal­en­to e profis­sion­al­is­mo para além da Aveni­da”.

Era Sambódromo

Rosa é a maior car­navalesca da Era Sam­bó­dro­mo, que começou com a inau­gu­ração da Pas­sarela do Sam­ba, em 1984. A últi­ma par­tic­i­pação dela foi em 2023, na esco­la Paraí­so do Tuiu­ti.

Uma das curiosi­dades é que ela gosta­va de faz­er e par­tic­i­par dos des­files para, em algu­mas vezes, se mis­tu­rar com os com­po­nentes, sem nec­es­sari­a­mente se faz­er perce­ber. Era uma for­ma de sen­tir a evolução da esco­la e a reação do públi­co.

Além de levar a magia de fan­tasias e adereços para a Mar­quês de Sapu­caí, Rosa Mag­a­l­hães ditou o espetácu­lo de cores e movi­men­tos na cer­imô­nia de aber­tu­ra dos Jogos Pan-Amer­i­canos de 2007 e na fes­ta de encer­ra­men­to das Olimpíadas de 2016, ambas no Rio de Janeiro. A cel­e­bração de 2007 ren­deu para a car­navalesca o prêmio Emmy de mel­hor fig­uri­no.

Legado

Car­navale­scos viam em Rosa mais que uma com­peti­do­ra. Ela era tam­bém uma “pro­fes­so­ra”, disse Alexan­dre Louza­da, dono de seis títu­los na elite do car­naval car­i­o­ca e dois no car­naval paulista.

“Eu real­mente tin­ha intenção de faz­er um enre­do sobre ela. Quan­do nos encon­tramos, ela sem­pre brin­ca­va que não que­ria enquan­to ela estivesse com­petindo. Eu dizia que ela esta­va com medo de perder para ela mes­mo”, con­tou em men­sagem envi­a­da à Agên­cia Brasil.

Dono de três títu­los no Grupo Espe­cial do car­naval do Rio, incluin­do um com a Imper­a­triz Leopoldinense em 2023, Lean­dro Vieira disse que, no futuro, não haverá “des­file que não ten­ha uma espé­cie de assi­natu­ra da pro­fes­so­ra”.

“A Rosa vive e viverá em cada car­navale­sco que insi­s­tir em faz­er car­naval. Seu nome vai viv­er em cada história bem con­ta­da, em cada fan­ta­sia vesti­da, em cada ale­go­ria que flerte com a inteligên­cia e a beleza. Seu nome é uma espé­cie de ver­bete daqui­lo que deter­mi­na o que é, o que faz e para que serve um car­navale­sco”, com­ple­men­tou.

André Rodrigues, car­navale­sco da Portela, obser­vou que Rosa era uma “real­i­dade fun­dado­ra” do car­naval.

“Ela fun­dou um out­ro tipo de ver e faz­er car­naval. Car­naval é mutáv­el e uma dessas trans­for­mações acon­te­ce­r­am graças [ao tal­en­to] de Rosa. Ela apro­fun­da a esco­la de sam­ba de uma maneira muito boni­ta e poéti­ca”, afir­mou. “Nós somos hoje o lega­do dela”, com­ple­tou.

Gabriel Had­dad, car­navale­sco campeão com a Bei­ja-Flor em 2022, con­sid­era que a obra de Rosa, que era for­ma­da pela Esco­la de Belas Artes da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ), é “eter­na”.

“Rosa foi uma refer­ên­cia, vai ser uma refer­ên­cia ain­da para muitas e muitas ger­ações de pes­soas que tra­bal­ham com a arte brasileira. O car­naval é uma arte que só a gente sabe faz­er e Rosa foi uma das maiores de todas”, declar­ou.

A tra­jetória dessa car­i­o­ca no car­naval começou pela esco­la de sam­ba Acadêmi­cos do Salgueiro. A agremi­ação hom­e­na­geou a car­navalesca nas redes soci­ais e lem­brou o iní­cio da car­reira dela.

“Em 1971, o bar­racão do Salgueiro fica­va em um quin­tal em Botafo­go. Entre os nomes pre­sentes estavam Joãos­in­ho Trin­ta, Lícia Lac­er­da, Maria Augus­ta e Rosa Mag­a­l­hães, que começou sua car­reira ali, jun­to a um pequeno time de artis­tas e dois assis­tentes. Com a aju­da do men­tor Fer­nan­do Pam­plona, Rosa ingres­sou no mun­do do car­naval durante aulas na Esco­la de Belas Artes”, pub­li­cou.

“Rosa Mag­a­l­hães teve uma tra­jetória mar­cante no Salgueiro, não ape­nas ini­cian­do sua car­reira na esco­la, mas tam­bém atuan­do como car­navalesca em 1990 e 1991. Seu esti­lo bar­ro­co úni­co no car­naval, inspi­ra­do e trans­for­ma­do pelos mestres Arlin­do Rodrigues e Joãos­in­ho Trin­ta, redefiniu a lin­guagem car­navalesca, com­bi­nan­do história e luxo em des­files inesquecíveis”, final­i­zou.

Rio de Janeiro (RJ), 26.07.2024 - Rosa Magalhães participando de desfile em cima de um carro alegórico da Portela em enredo assinado pela artista. Foto: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil
Repro­dução: Rosa Mag­a­l­hães des­filou em car­ro alegóri­co da Portela, cujo enre­do ela assi­nou — foto — Cristi­na Indio do Brasil/Agência Brasil

Uma mente brilhante

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduar­do Paes, clas­si­fi­cou Rosa como “uma das mentes mais bril­hantes da nos­sa maior man­i­fes­tação cul­tur­al [o car­naval].” Ele acres­cen­tou que a história da car­navalesca se con­funde com a do próprio car­naval. “De um jeito úni­co, ela encan­tou a todos nós com sua capaci­dade de mate­ri­alizar son­hos na aveni­da, de con­tar histórias de um jeito úni­co e emo­cionar quem assis­tia”, escreveu o prefeito.

O jor­nal­ista e escritor Fábio Faba­to, espe­cial­ista em car­naval, chamou a artista de “maior faze­do­ra de fes­tas pop­u­lares” e a equiparou a artis­tas como Tar­si­la do Ama­r­al e Cân­di­do Porti­nari.

“Através da arte de Rosa Mag­a­l­hães, através de suas cri­ações, nós nos desco­b­ri­mos mais brasileiros, já que ela foi uma inves­ti­gado­ra pro­fun­da de cau­sos e curiosi­dades na nos­sa cul­tura que, muitas vezes, os livros didáti­cos não con­tam”, declar­ou.

Ele disse que ela se man­tinha ati­va int­elec­tual­mente, escrevia um livro sobre os últi­mos car­navais e esta­va envolvi­da com uma peça de teatro infan­til.

*Matéria ampli­a­da às 9h54 para acrésci­mo de infor­mações.

*Matéria ampli­a­da às 11h23 para acrésci­mo de infor­mações.

Edição: Kle­ber Sam­paio

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