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Escolas que disputam Olimpíada de Matemática se saem melhor no Enem

Repro­dução: © Shub­ham Sharan/Unsplash

É o que mostra pesquisa do Iede, organização de estudos em educação


Publicado em 27/05/2024 — 06:48 Por Léo Rodrigues ‑Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

Os alunos de esco­las com altas taxas de par­tic­i­pação na Olimpía­da Brasileira de Matemáti­ca das Esco­las Públi­cas (Obmep) têm obti­do mel­hores resul­ta­dos no Exame Nacional de Ensi­no Médio (Enem). É o que mostra pesquisa con­duzi­da pelo Inter­dis­ci­pli­nar­i­dade e Evidên­cias no Debate Edu­ca­cional (Iede), orga­ni­za­ção que se ded­i­ca a estu­dos em edu­cação. Divul­ga­do nes­ta segun­da-feira (27), o estu­do rev­ela ain­da que essas insti­tu­ições tam­bém reg­is­tram maiores taxas de aprovações de seus alunos e menores dis­torções na equiv­alên­cia entre idade e série.

No critério de alta par­tic­i­pação, foram enquadradas as esco­las em que pelo menos 65% dos estu­dantes clas­si­fi­ca­dos par­tic­i­param da segun­da fase. Nes­sas insti­tu­ições, con­sta­tou-se que o apren­diza­do em matemáti­ca não ben­e­fi­cia ape­nas dos estu­dantes que se desta­cam na dis­ci­plina, mas toda a tur­ma. “A Olimpía­da de Matemáti­ca vai ter impacto maior em todos os estu­dantes se ela ger­ar mais mobi­liza­ção”, obser­va o pesquisador e dire­tor exec­u­ti­vo do Iede, Ernesto Faria.

Em um recorte no grupo de esco­las que tiver­am alunos con­qui­s­tan­do prêmios na Obmep, mas que não reg­is­traram alta par­tic­i­pação, chamou atenção a desigual­dade inter­na. Ness­es casos, ape­sar de se ver­i­ficar aumen­to das médias no Enem, obser­va-se tam­bém maior dis­crepân­cia entre as notas dos alunos. “Se a Olimpía­da de Matemáti­ca não gera efeito mobi­lizador na esco­la, ela pode acabar aju­dan­do ape­nas um deter­mi­na­do per­fil de alunos. E aí perde-se o poten­cial de con­tribuir com a mel­ho­ria de alunos que estari­am reg­is­tran­do mais baixo desem­pen­ho”, aler­ta Ernesto.

A média da nota na pro­va da matemáti­ca do Enem, con­sideran­do todas as insti­tu­ições onde hou­ve alunos que con­quis­taram medal­has na Obmep, foi de 516,1. Entre aque­las que não par­tic­i­param ou que não foram pre­mi­a­dos, a média cai para 488,5.

Além dis­so, tam­bém foi avali­a­do o desem­pen­ho no Sis­tema de Avali­ação da Edu­cação Bási­ca (Saeb), apli­ca­do a cada dois anos pelo Min­istério da Edu­cação des­de 1990. Por meio dele, são pro­duzi­dos indi­cadores edu­ca­cionais ref­er­entes às regiões, unidades da Fed­er­ação, municí­pios e insti­tu­ições de ensi­no. Com base nos dados lev­an­ta­dos, são real­izadas anális­es envol­ven­do a qual­i­dade, a equidade e a efi­ciên­cia da edu­cação prat­i­ca­da nos diver­sos níveis gov­er­na­men­tais.

As esco­las com alunos que con­quis­tam medal­has na Obmep reg­is­traram no Saeb média de 270,3 pon­tos para o ensi­no fun­da­men­tal e de 288,8 para o ensi­no médio. Aque­las que não par­tic­i­param ou não tiver­am pre­mi­a­dos apre­sen­taram médias de 240,2 e 269,8, respec­ti­va­mente.

“A Olimpía­da é um pro­gra­ma muito impor­tante que ger­ou ações de mobi­liza­ção e de recon­hec­i­men­to da matemáti­ca nas esco­las. Mas é pre­ciso ter esse olhar de como não pro­mover desigual­dade. E aí pas­sa por avaliar o que mais a gente pode faz­er. O poten­cial da Olimpía­da é enorme. Ela tem essa capaci­dade de chega­da nas esco­las e já tem ger­a­do resul­ta­dos. Mas poder ser ain­da mais trans­for­mador”, avalia Ernesto Faria.

De acor­do com ele, o envolvi­men­to na Obmep tam­bém favorece o aces­so ao ensi­no supe­ri­or. As esco­las com altas taxas de par­tic­i­pação e alunos pre­mi­a­dos tem maiores per­centu­ais de estu­dantes que alcançam média no Enem com­patív­el com as exigên­cias para admis­são em fac­ul­dades públi­cas e pri­vadas.

Cri­a­da em 2005, a Obmep é con­sid­er­a­da atual­mente impor­tante políti­ca públi­ca para pro­mover o ensi­no da matemáti­ca no país. A com­petição é orga­ni­za­da pelo Insti­tu­to de Matemáti­ca Pura e Apli­ca­da (Impa), unidade de ensi­no e pesquisa vin­cu­la­da ao Min­istério da Ciên­cia, Tec­nolo­gia e Ino­vação (MCTI) e ao Min­istério da Edu­cação (MEC). A 19ª edição, dis­puta­da neste ano, reg­istrou dois recordes. Em 99,9% dos municí­pios do país, ao menos uma esco­la se inscreveu. Foi a mais abrangente cober­tu­ra ter­ri­to­r­i­al já alcança­da. Além dis­so, com 56.513 esco­las envolvi­das, obteve-se a maior par­tic­i­pação des­de que a com­petição teve iní­cio.

O próprio Impa atu­ou como par­ceiro téc­ni­co da pesquisa, assim como o Lab­o­ratório de Estu­dos e Pesquisas em Edu­cação Supe­ri­or da Uni­ver­si­dade de São Paulo (Lepes/USP). O estu­do tam­bém con­tou com o apoio da B3 Social, uma insti­tu­ição sem fins lucra­tivos.

Segun­do Ernesto Farias, a pesquisa é impor­tante porque traz dados que aju­dam a pen­sar cam­in­hos para alter­ar o atu­al cenário brasileiro. A últi­ma edição do Saeb, em 2021, reg­istrou o menor per­centu­al de estu­dantes com apren­diza­do ade­qua­do em matemáti­ca na com­para­ção com a lín­gua por­tugue­sa.

No 5º ano da rede públi­ca, por exem­p­lo, a difer­ença foi de 14 pon­tos per­centu­ais: 51% dos alunos tin­ham apren­diza­do ade­qua­do em lín­gua por­tugue­sa e ape­nas 37% em matemáti­ca. Esca­lan­do as eta­pas da edu­cação bási­ca, a dis­crepân­cia se acen­tua. No 3º ano do ensi­no médio, ape­nas 5% dos estu­dantes da rede públi­ca reg­is­tram apren­diza­do ade­qua­do em matemáti­ca.

Quan­do con­sid­er­a­dos ape­nas os alunos de baixo nív­el socioe­conômi­co, nas difer­entes eta­pas da edu­cação bási­ca, esse per­centu­al chega a 4,4%. Os pesquisadores lem­bram tam­bém que, con­forme os dados do Pro­gra­ma Inter­na­cional de Avali­ação de Alunos (Pisa), os jovens brasileiros de 15 e 16 anos estão cer­ca de três anos atrás na apren­diza­gem em matemáti­ca na com­para­ção com aque­les da mes­ma idade que vivem em país­es desen­volvi­dos.

“O Brasil tem desafios na edu­cação de uma for­ma ger­al, mas o desafio em matemáti­ca é ain­da maior. E é algo gen­er­al­iza­do. Obvi­a­mente, as esco­las que aten­dem jovens mais vul­neráveis sofrem mais, mas na ver­dade temos pou­cas esco­las que de fato reg­is­tram resul­ta­do alto em matemáti­ca. Alfa­bet­i­za­ção não pode ser só saber ler e escr­ev­er. Alfa­bet­i­za­ção tem que ser tam­bém uti­lizar bem os números, saber as qua­tro oper­ações. Mes­mo insti­tu­ições pri­vadas de elite têm desafios”, comen­ta Ernesto Faria.

Escolas Públicas

O estu­do tam­bém bus­cou iden­ti­ficar quan­tas são e onde estão as esco­las públi­cas que mais se desta­cam em matemáti­ca. Para mapear ações comuns que pare­cem con­tribuir para o bom desem­pen­ho dos alunos, os pesquisadores inclu­sive vis­i­taram oito dessas unidades nas regiões Sud­este, Nordeste e Sul.

Ao todo, 71 das 47.418 esco­las de ensi­no fun­da­men­tal e 80 das 20.606 de ensi­no médio con­seguem bons resul­ta­dos em matemáti­ca, mes­mo aten­den­do alunos de baixo e médio nív­el socioe­conômi­co. Os pesquisadores man­i­fes­tam pre­ocu­pação com ess­es dados, inclu­sive porque con­sid­er­am que não uti­lizaram critérios demasi­ada­mente rig­orosos. Ain­da assim, entre mil­hares de esco­las, pou­cas dezenas obtiver­am destaque em per­spec­ti­va nacional.

Nas vis­i­tas de cam­po, qua­tro fatores chama­ram a atenção: a existên­cia de uma boa relação entre pro­fes­sor e aluno, que envolve con­fi­ança e apoio emo­cional; a pre­ocu­pação dos pro­fes­sores com a apren­diza­gem de todos, com estraté­gias voltadas para aque­les que apre­sen­tam mais difi­cul­dade; a bus­ca por méto­dos e fer­ra­men­tas que tor­nam o ensi­no mais atra­ti­vo; e a ofer­ta de aulas de com con­teú­dos mais apro­fun­da­dos.

“Vimos algu­mas práti­cas inter­es­santes, alguns pro­fes­sores muito fora da cur­va, real­mente de mui­ta qual­i­dade. Mas não tem uma estru­tu­ra nas esco­las, de fato, para garan­tir a apren­diza­gem da maio­r­ia. Você tem ali uma tur­ma com bons resul­ta­dos e, do lado, na sala viz­in­ha, tem alunos ali apren­den­do matemáti­ca com um nív­el de exigên­cia mais baixo”, afir­ma Ernesto Faria. Segun­do ele, o bom desem­pen­ho de uma esco­la muitas vezes está mais rela­ciona­do com ess­es pro­fes­sores fora da cur­va do que com questões estru­tu­rais.

Para os pesquisadores, além de for­t­ale­cer a Obmep, é pre­ciso pen­sar em políti­cas públi­cas que envolvam questões como mel­ho­rias estru­tu­rais e garan­tia de for­mação con­tin­u­a­da dos pro­fes­sores. Exper­iên­cias de suces­so no Brasil e no exte­ri­or podem ser mapeadas para servir de exem­p­lo e serem repli­cadas.

“Às vezes até há garan­tias da rede de ensi­no que são impor­tantes. Dão apoio para orga­ni­zar tur­mas preparatórias para a Obmep. Por vezes, garan­tem recur­sos finan­ceiros extras para esse pro­fes­sor dar aula no fim de sem­ana. Então, não é que o pro­fes­sor soz­in­ho irá ger­ar a apren­diza­gem do estu­dante. Mas hoje não há uma políti­ca de for­mação que per­mi­ta que a esco­la ten­ha ali cin­co ou dez bons pro­fes­sores de matemáti­ca. O que temos são casos de pro­fes­sores tal­en­tosos e aí algu­mas ações da rede de ensi­no per­mitem que eles tragam resul­ta­dos”, acres­cen­ta.

A pesquisa tam­bém mostra o alto per­centu­al de pro­fes­sores sem for­mação ade­qua­da e a pre­cariza­ção das con­tratações. Muitos deles têm con­tratos tem­porários e tra­bal­ham em difer­entes esco­las, em turnos alter­na­dos. “Um desafio que existe é de for­mação de pro­fes­sores na área. Inclu­sive, na ped­a­gogia. A gente pre­cisa ter bons pro­fes­sores de matemáti­ca nos anos ini­ci­ais do ensi­no fun­da­men­tal. Não são espe­cial­is­tas, mas dão aulas de matemáti­ca e de lín­gua por­tugue­sa e tem que con­seguir tra­bal­har de for­ma pos­i­ti­va os con­teú­dos”, obser­va Ernesto Faria.

Edição: Graça Adju­to

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