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Escritor e ativista indígena Ailton Krenak é novo imortal da ABL

Repro­dução: © Wikimedia/Coletivo Gara­pa

Com 23 votos, foi eleito para a cadeira 5 da academia


Pub­li­ca­do em 05/10/2023 — 18:42 Por Alana Gan­dra e Mar­i­ana Tokar­nia – Repórteres da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

Com 23 votos, o escritor indí­ge­na e ativista ambi­en­tal Ail­ton Kre­nak foi eleito nes­ta quin­ta-feira (5) para a Acad­e­mia Brasileira de Letras (ABL). Ele é o primeiro indí­ge­na a ocu­par uma cadeira na ABL, assu­min­do a de número 5, que per­tenceu a José Muri­lo de Car­val­ho, fale­ci­do em agos­to deste ano. Dis­putaram com Kre­nak a his­to­ri­ado­ra Mary del Pri­ore e o escritor tam­bém indí­ge­na Daniel Munduruku, que obtiver­am, respec­ti­va­mente, 12 e qua­tro votos.

Para o pres­i­dente da ABL, Mer­val Pereira, Kre­nak é um poeta com “visão de mun­do muito própria e apro­pri­a­da para este momen­to, em que o mun­do está pre­ocu­pa­do com o meio ambi­ente, em que os povos orig­inários lutam por seus dire­itos. Tudo isso está embu­ti­do na vitória de Kre­nak na Acad­e­mia. É um indí­ge­na que tra­bal­ha com a cul­tura indí­ge­na, com a val­oriza­ção da oral­i­dade”.

Mer­val Pereira citou o livro Futuro Ances­tral, de Kre­nak, que tra­ta da preser­vação dos rios como for­ma de con­ser­var o futuro. “Os rios já estavam aqui antes de a gente chegar. Esta visão da natureza, do homem jun­to com a natureza, é que a gente está reforçan­do com esse grande escritor e int­elec­tu­al indí­ge­na”.

A acadêmi­ca Rosiska Dar­cy clas­si­fi­cou a eleição de Kre­nak como históri­ca. “Não só para Acad­e­mia, como para o Brasil, não há mel­hor sub­sti­tu­to para um grande his­to­ri­ador do que a história encar­na­da, que é o Kre­nak. Kre­nak encar­na hoje uma parte impor­tante da história do Brasil. Estou muito feliz com a eleição dele”, man­i­festou a escrito­ra.

A data de posse ain­da não foi defini­da pelo novo imor­tal da ABL. A escol­ha é um acer­to dele com a ABL.

Ativismo

Ail­ton Kre­nak nasceu em 1953, na região do vale do rio Doce (MG), ter­ritório do povo Kre­nak, um local afe­ta­do pela ativi­dade de extração de minérios. Kre­nak é ativista do movi­men­to socioam­bi­en­tal e de defe­sa dos dire­itos indí­ge­nas. É comen­dador da Ordem de Méri­to Cul­tur­al da Presidên­cia da Repúbli­ca e doutor hon­oris causa pela Uni­ver­si­dade Fed­er­al de Minas Gerais e pela Uni­ver­si­dade Fed­er­al de Juiz de Fora.

Kre­nak orga­ni­zou a Aliança dos Povos da Flo­res­ta, que reúne comu­nidades ribeir­in­has e indí­ge­nas na Amazô­nia e con­tribuiu para a cri­ação da União das Nações Indí­ge­nas (UNI). É coau­tor da pro­pos­ta da Orga­ni­za­ção das Nações Unidas para a Edu­cação, a Ciên­cia e a Cul­tura (Unesco) que criou a Reser­va da Bios­fera da Ser­ra do Espin­haço, em 2005, e é mem­bro de seu comitê gestor.

Nas décadas de 1970 e 1980, foi deter­mi­nante para a con­quista do “Capí­tu­lo dos índios”, o capí­tu­lo 8º na Con­sti­tu­ição de 1988, que pas­sou a garan­tir, no papel, os dire­itos indí­ge­nas à cul­tura e à ter­ra. Entre os livros mais recentes, estão Ideias para adi­ar o fim do mun­do (2019), A vida não é útil (2020), Futuro ances­tral (2022) e Lugares de Origem (2021), escrito jun­to com Yussef Cam­pos.

Em A vida não é útil, ele abor­da a pan­demia da covid-19 e diz: “Se durante um tem­po éramos nós, os povos indí­ge­nas, que está­va­mos ameaça­dos da rup­tura ou da extinção do sen­ti­do da nos­sa vida, hoje esta­mos todos diante da iminên­cia de a Ter­ra não supor­tar a nos­sa deman­da”. Kre­nak val­oriza a cul­tura indí­ge­na e mostra que a for­ma de lidar com a natureza e o mun­do têm muito a ensi­nar a sociedades cap­i­tal­is­tas. “Já vi pes­soas ridic­u­lar­izan­do: ele con­ver­sa com árvore, abraça árvore, con­ver­sa com o rio, con­tem­pla a mon­tan­ha, como se isso fos­se uma espé­cie de alien­ação. Essa é a min­ha exper­iên­cia de vida. Se é alien­ação, sou alien­ado. Há muito tem­po não pro­gramo ativi­dades para depois. Temos de parar de ser con­ven­ci­dos. Não sabe­mos se estare­mos vivos aman­hã. Temos de parar de vender o aman­hã”, diz em out­ro tre­cho do mes­mo livro.

Edição: Car­oli­na Pimentel

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