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Especialista do Inca alerta para risco da fumaça das queimadas à saúde

Repro­dução: © Fabio Rodrigues-Pozze­bom/ Agên­cia Brasil

Tipo de câncer mais ligado à exposição à fumaça é o de pulmão


Publicado em 17/09/2024 — 15:18 Por Bruno de Freitas Moura — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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O Brasil pre­cisa reduzir a exposição da pop­u­lação à fumaça ger­a­da pelas queimadas para evi­tar um aumen­to do número de casos de câncer nas próx­i­mas décadas. O aler­ta é da epi­demi­ol­o­gista Ubi­rani Otero, chefe da Área Téc­ni­ca Ambi­ente, Tra­bal­ho e Câncer do Insti­tu­to Nacional de Câncer (Inca), que define o cenário atu­al como “muito pre­ocu­pante”.

A pesquisado­ra con­ver­sou com a Agên­cia Brasil nes­ta terça-feira (17) sobre os efeitos da fumaça na saúde humana.

“Se a gente não pre­venir essas questões hoje, a gente corre risco de ter um aumen­to dos tipos câncer rela­ciona­dos ao sis­tema res­pi­ratório em um futuro próx­i­mo”, diz Ubi­rani Otero.

O aler­ta da espe­cial­ista apon­ta o cam­in­ho para evi­tar o surg­i­men­to de casos. “A mel­hor pre­venção con­tra o câncer é a elim­i­nação da exposição. Se ces­sar o quan­to antes, a gente pode pre­venir muitos casos no futuro.”

A epi­demi­ol­o­gista expli­ca que a fumaça prove­niente dos incên­dios flo­restais é for­ma­da por inúmeros com­pos­tos quími­cos, o que a tor­nam can­cerí­ge­na.

“As queimadas ger­am muito mate­r­i­al par­tic­u­la­do. Esta­mos falan­do de lib­er­ação de monóx­i­do de car­bono, sol­ventes, metais pesa­dos, hidro­car­bone­tos aromáti­cos, fuligem, uma gama de mate­r­i­al que fica sus­pen­so no ar”.

Incêndios

O Brasil viven­cia um panora­ma grave de queimadas e incên­dios flo­restais em 2024. De janeiro a agos­to, os incên­dios atin­gi­ram 11,39 mil­hões de hectares, segun­do dados do Mon­i­tor do Fogo Map­bio­mas, divul­ga­dos no últi­mo dia 12. De acor­do com o lev­an­ta­men­to, 5,65 mil­hões de hectares – área equiv­a­lente ao esta­do da Paraí­ba – foram con­sum­i­dos pelo fogo ape­nas no mês de agos­to, o que equiv­ale a 49% do total do ano.

Na tarde des­ta terça-feira, está mar­ca­da uma reunião dos chefes dos Três Poderes da Repúbli­ca para tratar da questão. O encon­tro foi pro­pos­to pelo pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va, que pas­sou o iní­cio da sem­ana em reunião com min­istros do gov­er­no. Em jun­ho, o gov­er­no criou uma sala de situ­ação pre­ven­ti­va para tratar sobre a seca e o com­bate a incên­dios, espe­cial­mente no Pan­tanal e na Amazô­nia.

Brasília (DF), 16/09/2024 - Grandes focos de incêndio atingem áreas do Parque Nacional de Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: Grandes focos de incên­dio atin­gi­ram áreas do Par­que Nacional de Brasília nes­ta segun­da-feira — Marce­lo Camargo/Agência Brasil

 

Nuvens de fumaça se espal­ham pelo país, alteran­do pais­agens.

A Polí­cia Fed­er­al abriu inves­ti­gação para apu­rar se as queimadas têm origem crim­i­nosa. Há indí­cios de ações coor­de­nadas.

Incên­dios tam­bém sur­gi­ram em out­ras regiões, como o Sud­este. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, tam­bém foram cri­a­dos gabi­netes de crise pelos gov­er­nos locais. Na região ser­rana do Rio de Janeiro, o chefe do Par­que Nacional da Ser­ra dos Órgãos afir­ma que o fogo con­some áreas rara­mente atingi­das por incên­dios.

Riscos

O tipo de câncer mais dire­ta­mente lig­a­do à exposição pro­lon­ga­da à fumaça e poluição do ar é o de pul­mão e out­ras partes do sis­tema res­pi­ratório. Ubi­rani Otero apon­ta que, difer­ente­mente de out­ras doenças agu­das cau­sadas pela exposição pro­lon­ga­da, como sín­dromes res­pi­ratórias, os cânceres podem levar de 20 a 30 anos para serem iden­ti­fi­ca­dos.

“O perío­do de latên­cia é grande, então os efeitos dessa poluição de hoje para câncer a gente só vai ver depois de 20, 30 anos”, aler­ta a epi­demi­ol­o­gista

A espe­cial­ista do Inca dire­ciona a pre­ocu­pação de saúde, incluin­do doenças res­pi­ratórias, prin­ci­pal­mente para cri­anças, idosos e tra­bal­hadores que atu­am em áreas aber­tas, com destaque para os bombeiros que com­bat­em dire­ta­mente as chamas.

Brasília (DF), 17/09/2024 - Perigo da fumaça das queimadas. Ubirani Otero, chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do Inc. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação
Repro­dução: Ubi­rani Otero, espe­cial­ista do Inca, aler­ta para peri­go da fumaça das queimadas — Arqui­vo pessoal/Divulgação

“Eles pre­cisam estar total­mente equipa­dos, bem pro­te­gi­dos, com as más­caras e dev­i­dos equipa­men­tos de pro­teção indi­vid­ual, para que eles não sofram efeitos dessa fumaça”, ori­en­ta ela, acres­cen­tan­do que é pre­ciso cuida­do tam­bém com a lavagem das roupas usadas por eles em serviço. “Está cheia de fuligem. Todo cuida­do tem que ser toma­do.”

Ela defende medi­das como a sus­pen­são de aulas em locais e perío­do críti­cos, para diminuir a exposição pro­lon­ga­da de cri­anças à fumaça.

“As cri­anças têm uma ativi­dade físi­ca maior, elas acabam aspi­ran­do mais essa fumaça que os adul­tos. Os efeitos para elas são maiores, prin­ci­pal­mente res­pi­ratórios”, expli­ca.

A epi­demi­ol­o­gista apon­ta que a fumaça das queimadas é tão malé­fi­ca quan­to a do taba­co. Ao evi­den­ciar que o câncer é uma doença mul­tifa­to­r­i­al, ela chama atenção para o peri­go de se acu­mu­lar fatores de risco, por exem­p­lo, o fato de ser fumante.

“De um risco que seria dez vezes maior em relação à pop­u­lação ger­al, pas­sa a 20 vezes maior ou até mais [entre fumantes]”, afir­ma.

Recomendações

A chefe da Área Téc­ni­ca Ambi­ente, Tra­bal­ho e Câncer do Inca ori­en­ta que pes­soas em áreas afe­tadas pela fumaça das queimadas tomem pre­cauções, como evi­tar sair de casa, para diminuir a exposição, usar más­cara de pro­teção, beber bas­tante água e faz­er lavagem das nar­i­nas.

» Con­heça as recomen­dações do Min­istério da Saúde

Edição: Juliana Andrade

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