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“Estamos a caminho de um suicídio planetário”, diz climatologista

Para Carlos Nobre, propostas apresentadas até agora são insuficientes

Fabío­la Sin­im­bú — Envi­a­da espe­cial*
Pub­li­ca­do em 12/11/2024 — 06:48
Baku (Azer­bai­jão)
Brasília - O presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Carlos Nobre, durante assinatura de protocolo de cooperação na área de desastres ambientais (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil
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Repro­dução:  Arte/Agência Brasil

O cli­ma­tol­o­gista Car­los Nobre, refer­ên­cia mundi­al sobre o tema, con­sid­era insu­fi­cientes as pro­postas apre­sen­tadas até ago­ra pelos país­es na 29ª Con­fer­ên­cia das Partes da Con­venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáti­cas (COP29), que está sendo real­iza­da em Baku, no Azer­bai­jão.

Segun­do Nobre, as partes do Acor­do de Paris ain­da não foram capazes de avançar na meta de reduzir as emis­sões do plan­e­ta de gas­es de efeito est­u­fa em 43% até a COP28 e, se fos­sem capazes, essa estraté­gia não seria mais efi­ciente para man­ter o aumen­to da tem­per­atu­ra plan­etária em 1,5 grau Cel­sius (ºC) aci­ma do perío­do pré-indus­tri­al. “Nós já esta­mos há 16 meses com a tem­per­atu­ra ele­va­da em 1,5 grau. Existe enorme risco de ela não baixar mais. A par­tir de ago­ra, se ficar três anos com 1,5 grau, a tem­per­atu­ra não baixa mais”, afir­ma.

Alcançar os 43% já é desafio para um mun­do que con­tin­ua a ver as emis­sões de gas­es de efeito est­u­fa crescerem e que ain­da depende de com­bustíveis fós­seis, prin­ci­pais vilões do prob­le­ma, expli­ca o cien­tista. “Se a gente seguir com essa práti­ca, reduzir em 43%.as emis­sões ago­ra até 2030 e zer­ar as emis­sões líquidas, só em 2050 poder­e­mos chegar até 2,5 graus”, diz.

A maior parte dos líderes sig­natários da Con­venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáti­cas, no entan­to, não acom­pan­ha a urgên­cia. Há poucos meses do fim do pra­zo de atu­al­iza­ção de metas, em fevereiro de 2025, poucos país­es ren­o­varam as ambições.

O Brasil, como próx­i­mo país-sede da con­fer­ên­cia em 2025, foi um dos poucos a atu­alizar a Con­tribuição Nacional­mente Deter­mi­na­da (NDC, na sigla em inglês), baixan­do a meta de emis­sões de gas­es do efeito est­u­fa nos próx­i­mos 11 anos. Os números foram apre­sen­ta­dos na últi­ma sex­ta-feira (8), últi­mo dia útil antes da aber­tu­ra das nego­ci­ações em Baku, onde o vice-pres­i­dente Ger­al­do Alck­min apre­sen­tará a pro­pos­ta brasileira.

“Essa COP29 tem que ser desafi­ado­ra. Ela não pode ser igual à COP28. Tem que começar real­mente a debater o risco de ter­mos um plan­e­ta chegan­do até a 2,5 graus em 2050. Esta­mos a cam­in­ho de um suicí­dio plan­etário se não super­acel­er­ar­mos a redução das emis­sões”, reforça Nobre.

Além de reduzir grad­ual­mente os prob­le­mas, o cli­ma­tol­o­gista lem­bra que os país­es pre­cisam tam­bém se preparar para o que não terá mais retorno. “Explodi­ram os even­tos extremos em quase todo o mun­do e, mes­mo em país­es desen­volvi­dos, ess­es even­tos extremos são graves. Veja os furacões cada vez mais fortes pegan­do os Esta­dos Unidos, o Méx­i­co. O furação Leme, antes do Mil­ton, matou mais de 200 nos Esta­dos Unidos. Esse, em Valên­cia, nas Espan­ha, não foi furacão. Isso é um even­to extremo de chu­va, quase 500 milímet­ros de chu­va em seis horas, mataram mais cen­te­nas”, diz.

Para Car­los Nobre a adap­tação de país­es mais pobres, por­tan­to mais vul­neráveis, é tema que não poderá ficar de fora das nego­ci­ações globais de líderes.

Emb­o­ra as políti­cas públi­cas e o alto finan­cia­men­to das ações sejam ini­cia­ti­vas ao alcance das decisões globais, o cli­ma­tol­o­gista lem­bra que todos podem con­tribuir, já que o avanço tec­nológi­co tem via­bi­liza­do cada vez mais o con­sumo con­sciente. “No Brasil, 75% das emis­sões foram o des­mata­men­to da Amazô­nia e do Cer­ra­do. Out­ros 25% foram emis­sões da agropecuária, prin­ci­pal­mente da pecuária. Já há mer­ca­dos frig­orí­fi­cos que ven­dem a carne da pecuária sus­ten­táv­el, da pecuária com muito mais baixa emis­são. Aí o preço dessa carne é igual, porque a pecuária regen­er­a­ti­va, ela é mais lucra­ti­va, mais pro­du­ti­va, então não tem vari­ação de preço”, expli­ca.

Além da carne, a ener­gia solar tem se mostra­do mais bara­ta que a ter­moelétri­ca, assim como os car­ros elétri­cos tam­bém se mostram menos caros, quan­do o com­bustív­el fós­sil entra na con­ta, expli­ca Nobre. “Nós temos real­mente que assumir a nos­sa lid­er­ança, porque em sociedades como a nos­sa, democráti­ca, com toda liber­dade, com­prar um car­ro elétri­co eco­nomi­ca­mente faz todo sen­ti­do. Com­prar a carne da pecuária sus­ten­táv­el, com baixas emis­sões, faz todo sen­ti­do, e o preço é o mes­mo”, con­clui.

*A repórter via­jou a con­vite do Insti­tu­to Inter­amer­i­cano de Coop­er­ação para a Agri­cul­tura (IICA).

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