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“Estou em estado de graça”, diz Guto Lacaz ao festejar 50 anos de arte

Repro­dução: © Bruno Poletti/Divulgação

Exposição em São Paulo fica em cartaz até 27 de outubro


Publicado em 02/08/2024 — 09:40 Por Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil — São Paulo

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Um artista inven­tor reple­to de bom humor, que trans­for­ma os obje­tos do cotid­i­ano em obras de arte que desafi­am a per­cepção de mun­do. Assim é Guto Lacaz, artista que é cel­e­bra­do pelo Itaú Cul­tur­al com a mostra Guto Lacaz: cheque mate, que entrou em car­taz nes­sa quin­ta-feira (1), em São Paulo.

Com curado­ria dos design­ers Kiko Farkas e Rico Lins, a mostra apre­sen­ta um panora­ma de mais de 50 anos de ativi­dade do artista, apel­i­da­do pelos curadores de Guto ‘Sagaz’, por sua grande per­spicá­cia e sub­ver­são.

Cada obje­to reti­ra­do do cotid­i­ano gan­ha novo sig­nifi­ca­do nas mãos do artista, geral­mente acresci­do de uma cer­ta ani­mação. Difí­cil pas­sar por suas obras — reple­tas de movi­men­tos e sutilezas — e não sor­rir.

“Estou em esta­do de graça”, disse o artista, em entre­vista à Agên­cia Brasil, na inau­gu­ração de sua mostra. “É uma delí­cia ver as coisas que estão embrul­hadas e encostadas em casa serem ago­ra expostas”, acres­cen­ta.

Sem­pre de bom humor, o artista com­pro­va que essa não é uma car­ac­terís­ti­ca exclu­si­va sua ou de suas obras. “Na ver­dade, [o humor] é car­ac­terís­ti­ca da min­ha família. A min­ha família é muito pal­haça, sabe? Des­de meu pai, meus tios, meus sobrin­hos, meus irmãos, todo mun­do é meti­do a engraça­do. E eu gosta­va muito de desen­har e fui optar pelos car­tunistas, que são os desen­his­tas de humor como o Ziral­do, o Jaguar, o Bor­ja­lo. Depois, na fac­ul­dade, eu con­heci o Saul Stein­berg [car­tunista nasci­do na Romê­nia]. Então, eu copi­a­va essa tur­ma que desen­ha­va, em que o desen­ho era engraça­do. E eu pen­sa­va: ‘e se eu con­seguir faz­er um desen­ho?’. Depois come­cei a faz­er obje­tos e os obje­tos saíam engraça­dos tam­bém”, con­ta.

“O Guto é um artista raro”, descreve o curador Rico Lins. “Além de sua for­mação ser uma coisa bem ecléti­ca e não lin­ear, ele é um cara que traz muito humor para seu tra­bal­ho. E esse humor é um difer­en­cial, um divi­sor de águas. Primeiro porque isso é uma coisa meio rara den­tro das artes visuais. Você acha que, quan­do a pes­soa tem humor, ela não é séria. E, no entan­to, o Guto con­segue uma for­ma de comu­ni­cação abso­lu­ta­mente dire­ta com todos os públi­cos. Ele é um artista muito gen­eroso, que se vale do humor como uma fer­ra­men­ta. E esse humor tem um com­po­nente lúdi­co tam­bém, que é um out­ro pon­to muito impor­tante no tra­bal­ho dele”.

Artista multimídia

Guto Lacaz é tam­bém um artista mul­ti­mí­dia. Além de suas insta­lações e per­for­mances, ele tem uma pro­dução vari­a­da como desen­hista, ilustrador, car­tunista, design­er, cenó­grafo e assi­nan­do pro­je­tos grá­fi­cos edi­to­ri­ais e logo­mar­cas para empre­sas. For­mou-se em arquite­tu­ra e eletrôni­ca indus­tri­al pela Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP), na déca­da de 1970, mas decid­iu virar artista.

Hoje com 76 anos e mais de 50 anos de car­reira, seu uni­ver­so artís­ti­co é uma imen­sid­ão de obje­tos sin­gu­lares, dis­pos­i­tivos engen­hosos e inco­muns, vídeos de per­for­mances inusi­tadas, peças com tro­cadil­hos e jogos de palavras.

“O Guto Lacaz é um artista paulista e muito paulis­tano que tra­bal­ha com platafor­mas vari­adas. Ele tra­bal­ha com cin­e­ma, com per­for­mance, com teatro, com ilus­tração, com escul­tura, desen­ho, poe­sia e é um artista que dev­e­ria ser mais recon­heci­do”, opina o curador Kiko Farkas.

“Uma das coisas que são legais em seu tra­bal­ho é que ele pega coisas do cotid­i­ano e vai trans­for­man­do-as, vai dan­do novos sig­nifi­ca­dos, novas funções. Ou às vezes vai destru­in­do sua função e não põe nen­hu­ma nova função no lugar. É sem­pre uma brin­cadeira, mas sem­pre tem um cun­ho críti­co. Ele faz uma críti­ca a essa sociedade de con­sumo e ao mito do pro­gres­so tec­nológi­co e da indus­tri­al­iza­ção”, diz Farkas.

A exposição em car­taz no Itaú Cul­tur­al faz uma ret­ro­spec­ti­va da obra de Lacaz, apre­sen­tan­do tra­bal­hos des­de o iní­cio de sua car­reira até mais recentes e inédi­tos. Entre eles, Eletrolin­has, uma insta­lação que brin­ca com os sen­ti­dos crian­do uma espé­cie de ilusão de ópti­ca, com­pos­ta por lin­has bran­cas se movi­men­tan­do suave­mente em caixas pre­tas. “Esse tra­bal­ho esta­va há 20 anos guarda­do em casa. Fiz em 2004 e só ago­ra que o estou expon­do”, con­ta Lacaz.

Out­ro tra­bal­ho recente é Nomes, em que mostra uma coleção de fol­hetos de ven­das de imóveis em que ele brin­ca com os nomes dos cor­re­tores e das edi­fi­cações. Essa é uma obra em que ele provo­ca reflexão sobre a espec­u­lação imo­bil­iária na cap­i­tal paulista.

“Todo dia eu rece­bo [ess­es fol­hetos]. Todo dia rece­bo um na min­ha caixa de car­tas. Não tem esforço nen­hum. Foi só reunir [tudo isso]. E é uma obra bem atu­al porque estão destru­in­do São Paulo inteira com pré­dios enormes que der­rubam quadras inteiras de cas­in­has lind­in­has”, descreve o artista.

“Os fold­ers de imo­bil­iárias são muito bem desen­hados. Eles con­tratam um design­er, então são muito ele­gantes. Mas os ade­sivos com os nomes dos cor­re­tores que vão vender os aparta­men­tos [apli­ca­dos sobre ess­es fold­ers] são muito trash. Eles põem o ade­si­vo em qual­quer lugar. O títu­lo da obra ficou Nomes, porque há esse con­traste entre a grá­fi­ca dos cor­re­tores, que é mais trash, e a grá­fi­ca da imo­bil­iária, que é meti­da a ele­gante, meti­da a chique”, expli­ca.

Humor e crítica social

A exposição inteira con­ta com cer­ca de 170 de suas obras que trazem muito humor, críti­ca social, exper­i­men­tação e orig­i­nal­i­dade. E tem iní­cio no primeiro andar, onde foram insta­l­a­dos tra­bal­hos de grande pro­porção. Entre eles, a obra Poro­ro­ca, que é toda cinéti­ca. “Esse é um tra­bal­ho que eu gos­to muito e que esta­va guarda­do em casa. Ago­ra o restau­ramos e ele está lin­do”, obser­va o artista.

São Paulo (SP) 02/08/2024 - Guto Lacaz sobre nova mostra que celebra seus mais de 50 anos de atividade. Foto: Bruno Poletti/Divulgação
Repro­dução: Guto Lacaz cel­e­bra mais de 50 anos de ativi­dade. Foto — Bruno Poletti/Divulgação

Nesse andar tam­bém está a inédi­ta Volare, fei­ta espe­cial­mente para essa mostra e que reúne grandes cilin­dros trans­par­entes, em pé, den­tro dos quais um ven­ti­lador faz girar pale­tas sem sair do lugar, crian­do uma ilusão óti­ca. “Nesse piso temos obras de grande porte”, expli­ca Farkas.

No primeiro sub­so­lo há car­tuns e tam­bém artes grá­fi­cas que ele fez para revis­tas e mar­cas vari­adas. Podem ser vis­tas, por exem­p­lo, as ilus­trações que Lacaz fez para a revista Caros Ami­gos e para a col­u­na de Joyce Pas­cow­itch, na Fol­ha de S. Paulo. Out­ra obra vista neste andar é A Ter­ceira Margem do Rio, em que um espel­ho posi­ciona­do próx­i­mo de canoas rev­ela uma nova canoa, que só existe no reflexo.

Já o segun­do sub­so­lo, diz Rico Lins, bus­ca explo­rar o proces­so cria­ti­vo de Lacaz. Ali se apre­sen­tam ele­men­tos de seu ateliê, onde ele guar­da cader­nos, blo­cos, fotos e memórias. “É como se a gente fos­se mer­gul­han­do na cabeça do Guto”, rev­ela o curador.

Além da exposição, o Itaú Cul­tur­al ain­da vai apre­sen­tar o doc­u­men­tário Guto Lacaz – um olhar ilu­mi­na­do, dirigi­do por Marce­lo Macha­do e con­duzi­do por Farkas e Lins. O filme será disponi­bi­liza­do no stream­ing Itaú Cul­tur­al Play, gra­tuita­mente.

Mais infor­mações sobre a exposição, que fica em car­taz até o dia 27 de out­ubro, podem ser obti­das no site.

 

Edição: Kle­ber Sam­paio

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