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Estudantes contam como usaram o Enem para estudar fora do Brasil

Repro­dução: © Mar­cel­lo Casal Jr / Agên­cia Brasil

Giulia Borim, que está em Portugal, diz que experiência vale a pena


Pub­li­ca­do em 27/10/2023 — 07:32 Por Mar­i­ana Tokar­nia – Repórter da Agên­cia Brasil   — Rio de Janeiro

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“Eu pas­sei duas sem­anas de muito ner­vo­sis­mo na espera do resul­ta­do e, por fim, esta­va lá meu nome, uma mis­tu­ra de feli­ci­dade e ansiedade que nada pode descr­ev­er”. Foi um lon­go proces­so, que envolveu des­de o preparo, a inscrição e o lev­an­ta­men­to de doc­u­men­tos para a obtenção de vis­to para que a estu­dante Giu­lia Borim pudesse final­mente ingres­sar na Uni­ver­si­dade de Coim­bra, em Por­tu­gal, usan­do a nota do Exame Nacional do Ensi­no Médio (Enem). Mas, segun­do ela, todo o plane­ja­men­to valeu a pena.

“Pode ter certeza que vale muito a pena. Viv­er essa exper­iên­cia, inde­pen­den­te­mente da ansiedade, foi uma das mel­hores escol­has que fiz. Depois de muitos e muitos doc­u­men­tos, chega o grande dia de via­jar e começar a aven­tu­ra mais lou­ca e incrív­el de todas”, con­ta a estu­dante, que está no ter­ceiro ano do cur­so de engen­haria civ­il na uni­ver­si­dade por­tugue­sa.

Local­iza­da na cidade de Coim­bra, em Por­tu­gal, a uni­ver­si­dade é a insti­tu­ição de ensi­no supe­ri­or mais anti­ga do país e uma das mais pres­ti­giadas da Europa. Em 2013, foi incluí­da na lista do Patrimônio Mundi­al da Orga­ni­za­ção das Nações Unidas para a Edu­cação, a Ciên­cia e a Cul­tura (Unesco). Foi tam­bém a primeira uni­ver­si­dade estrangeira a fir­mar con­vênio com o Insti­tu­to Nacional de Estu­dos e Pesquisas Edu­ca­cionais Aní­sio Teix­eira (Inep), para o uso das notas do Enem no proces­so sele­ti­vo. Atual­mente essa lista con­ta com 51 uni­ver­si­dades por­tugue­sas. A relação com­ple­ta está disponív­el na pági­na do Inep.

Cada uma delas tem uma exigên­cia especí­fi­ca em relação à nota que deve ser obti­da nas provas e em relação aos req­ui­si­tos necessários para os novos alunos. O estu­dante deve se infor­mar o que é necessário para ingres­sar na uni­ver­si­dade que dese­ja. O ensi­no não é gra­tu­ito, mas é pos­sív­el bus­car bol­sas de estu­do para aju­dar nos cus­tos.

Quem pas­sou e está pas­san­do pela exper­iên­cia de estu­dar fora recomen­da: é impor­tante plane­jar e se preparar para as provas, para obter bom desem­pen­ho.

Giu­lia é de Camp­inas (SP) e cur­sou o ter­ceiro ano do ensi­no médio em meio à pan­demia. “Isso difi­cul­tou muitas coisas, porém con­segui con­cil­iar tudo e estu­dar em casa soz­in­ha mes­mo. Dev­i­do à min­ha condição finan­ceira na época, não pude pagar cursin­ho, então achei no Youtube um cursin­ho gra­tu­ito, de pro­fes­sores da cidade de São Car­los (SP), que que­ri­am aju­dar os alunos na pan­demia e me inscrevi. Fui acei­ta e estudei por um ano inteiro todos os dias — dias de sem­ana e fins de sem­ana -, fazen­do resumos e assistin­do às aulas do cursin­ho. Min­ha média diária de estu­do era de 11 horas nos dias de sem­ana”, con­ta a estu­dante.

Uma estraté­gia usa­da por ela foi colar post-its nos locais onde mais ia na casa, com as fór­mu­las, datas e infor­mações impor­tantes. “Ou seja, sem­pre que ia à coz­in­ha faz­er um café,eu lia as datas das guer­ras, por exem­p­lo”.

Ela tam­bém recomen­da cuida­do com o cor­po.  “Além de estu­dar, tam­bém con­sidero muito impor­tante cuidar da mente e do cor­po, eu treina­va todos os dias uma hora, den­tro de casa mes­mo, com vídeos do Youtube tam­bém, alter­nan­do entre dança, mus­cu­lação, entre out­ros. Ter esse escape me aju­dou muito, se você tem algum hob­by, não o aban­done pelo Enem, ele vai te aju­dar, acred­ite”.

Um sonho realizado

Para o estu­dante Mateus Nishiya­ma, estu­dar fora do país era um son­ho. “Sem­pre tive muto inter­esse de abrir ess­es hor­i­zontes, de desco­brir um lugar novo, cul­tura nova, ter essa exper­iên­cia de morar e estu­dar fora do país”. Nishiya­ma nasceu no Japão e viveu no país até os 4 anos de idade. Como a família é metade brasileira, ele mudou-se para Aquidaua­na (MS), onde estu­dou até ser aprova­do na Uni­ver­si­dade de Coim­bra, no cur­so de relações inter­na­cionais.

Assim como Giu­lia Borim, Nishiya­ma fez o Enem em meio à pan­demia, em 2021. Ele tam­bém bus­cou, na inter­net, a com­ple­men­tação para os estu­dos. Cur­sou o ensi­no médio no Insti­tu­to Fed­er­al de Mato Grosso do Sul e, para se preparar para o Enem, bus­cou um cur­so de redação, pro­va que con­sid­era o difer­en­cial no Enem. Ape­sar de toda a ansiedade no preparo, ele con­ta que a von­tade de estu­dar fora foi o que o motivou. “De cer­to modo, é um com­bustív­el para aju­dar nesse cam­in­ho, que nem sem­pre é fácil, sem­pre tem esse momen­to de ansiedade, de dúvi­da”, diz.

Ele tam­bém recomen­da muito plane­ja­men­to. “Seja o plane­ja­men­to com o estu­do, seja do que quer faz­er, seja o plane­ja­men­to finan­ceiro para quan­do for mudar. Tudo parte de um plane­ja­men­to e isso é muito impor­tante para que con­si­ga se colo­car na real­i­dade a respeito das opor­tu­nidades e pos­si­bil­i­dades. O que quer faz­er, o que pode faz­er e quais são as suas opções. Acho que isso é muito impor­tante, prin­ci­pal­mente quan­do vai mudar para out­ro país.  Saber, de for­ma mais práti­ca, qual cus­to de vida para se mudar, quais as opções de cur­so, quais os doc­u­men­tos que pre­ciso”.

Os estu­dantes con­tam que tiver­am muito apoio da uni­ver­si­dade em todas as dúvi­das no proces­so sele­ti­vo e tam­bém no proces­so de adap­tação, quan­do chegaram em Coim­bra.

Planejamento

Estu­dar fora do país, de acor­do com a espe­cial­ista em estu­dos inter­na­cionais da Fun­dação Estu­dar, Beat­riz Alvaren­ga, exige um plane­ja­men­to de lon­go pra­zo. “Meu son­ho é que um aluno do 9ª ano soubesse que pode pen­sar em faz­er grad­u­ação fora. Não pre­cisa decidir para qual uni­ver­si­dade quer ir, mas pre­cisa saber que há essa pos­si­bil­i­dade”.

Beat­riz expli­ca que muitas das insti­tu­ições de ensi­no, sobre­tu­do as de lín­gua ingle­sa, anal­isam uma série de aspec­tos do aluno na hora da admis­são na grad­u­ação. Con­tam, por exem­p­lo, as ativi­dades extra classe que ele real­i­zou ao lon­go do perío­do esco­lar, se gan­hou ou não algum prêmio. As notas no Enem, naque­las que aceitam o exame, e o desem­pen­ho em todo o ensi­no médio são ape­nas alguns dos aspec­tos anal­isa­dos. Assim, quan­to antes o estu­dante começar a se preparar, mais chances tem de ser aceito.

Além dis­so, como as uni­ver­si­dades são pagas, é pre­ciso um plane­ja­men­to finan­ceiro, além de dom­i­nar o idioma. “Primeiro, saber que essa pos­si­b­l­i­dade existe, enten­der as pos­si­bil­i­dades conc­re­ta­mente, quan­to cus­ta para onde quero ir, qual idioma, se não tiv­er indo para Por­tu­gal. O din­heiro necessário, quan­to cus­ta? Se não ten­ho, exis­tem bol­sas?”, diz Alvaren­ga. É pre­ciso tam­bém levar em con­sid­er­ação aspec­tos emo­cionais: “Tem o desafio do auto­con­hec­i­men­to, que a gente não tra­bal­ha como dev­e­ria. Enten­der para onde quer ir e enten­der que é onde vai morar pelo próx­i­mos três, qua­tro anos. Isso é fun­da­men­tal para a saúde men­tal enquan­to tiv­er fazen­do grad­u­ação”.

Ela expli­ca que o con­vênio das uni­ver­si­dades por­tugue­sas com o Inep aju­da na hora da seleção. Além de a lín­gua não ser uma bar­reira, o proces­so sele­ti­vo tende a ser mais sim­ples, con­sideran­do basi­ca­mente o desem­pen­ho no Enem. A questão do cus­to, no entan­to, ain­da é uma bar­reira, já que Por­tu­gal não tem a ofer­ta de bol­sas como uma políti­ca, assim como o gov­er­no brasileiro. O estu­dante pre­cisa então ver­i­ficar se a uni­ver­si­dade na qual dese­ja estu­dar ofer­ece bol­sas ou bus­car bol­sas por con­ta própria.

A Fun­dação Estu­dar está com dois proces­sos sele­tivos aber­tos, o pro­gra­ma Líderes Estu­dar e o Tech Fel­low, volta­do para a área de tec­nolo­gia. As inscrições podem ser feitas até abril de 2024, e o estu­dante pre­cisa ser aprova­do até maio na insti­tu­ição que dese­ja cur­sar. As bol­sas chegam a até 95% dos cus­tos. “Ain­da assim, não é de graça. Depende de o jovem encon­trar bol­sas exter­nas, não é sim­ples encon­trar para faz­er grad­u­ação”, diz.

Além das uni­ver­si­dades que têm con­vênio com o Inep, out­ras insti­tu­ições no mun­do aceitam o Enem como parte do proces­so sele­ti­vo. São elas:

Na Irlan­da, a Uni­ver­si­ty Col­lege Dublin e o Nation­al Col­lege of Ire­land.

No Reino Unido, a Uni­ver­si­dade de Kingston, a Uni­ver­si­dade de Glas­gow e a de Birk­beck.

Nos Esta­dos Unidos, a New York Uni­ver­si­ty e a North­east­ern Uni­ver­si­ty.

No Canadá, a Uni­ver­si­dade de Toron­to.

Edição: Graça Adju­to

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