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Estudo da Fiocruz indica que BCG é ineficaz quando aplicada em adultos

Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Vacina deve ser aplicada apenas em crianças até 5 anos


Pub­li­ca­do em 03/03/2024 — 10:26 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Estu­do real­iza­do por pesquisadores da Fun­dação Oswal­do Cruz (Fiocruz) reforça que a vaci­na BCG deve ser apli­ca­da em cri­anças até 5 anos de idade, para pre­venir a for­ma grave da tuber­cu­lose, mas é inefi­caz quan­do apli­ca­da em adul­tos con­tra a infecção ini­cial pelo vírus Mycobac­teri­um tuber­cu­lo­sis, cau­sador da doença.

Pub­li­ca­do nes­ta sem­anana, na revista britâni­ca The Lancet — Infec­tious Dis­eases, o tra­bal­ho indi­ca, tam­bém, a neces­si­dade que sejam desen­volvi­das novas vaci­nas em todo o mun­do con­tra a doença.

O tra­bal­ho foi real­iza­do ape­nas no Brasil, nas cidades de Cam­po Grande (MS), Man­aus (AM) e Rio de Janeiro (RJ) pelos pesquisadores Julio Cro­da, Mar­gareth Dal­col­mo e Mar­cus Lac­er­da. O lev­an­ta­men­to inte­gra o ensaio clíni­co Brace, com BCG ran­dom­iza­do, em que os par­tic­i­pantes foram escol­hi­dos de for­ma aleatória, cujo obje­ti­vo prin­ci­pal era avaliar a eficá­cia da vaci­na em tra­bal­hadores de saúde con­tra a covid-19.

O estu­do Brace foi finan­cia­do pela Fun­dação Bill e Melin­da Gates e abrangeu cin­co país­es: Brasil, Holan­da, Espan­ha, Aus­trália e Reino Unido.

Proteção

À Agên­cia Brasil, o pesquisador Julio Cro­da expli­cou que a pre­ocu­pação foi avaliar a BCG se a revaci­nação com BCG iria pro­te­ger tra­bal­hadores de saúde de infecções por tuber­cu­lose.

“O arti­go prévio mostra­va que, even­tual­mente, a revaci­nação com BCG pode­ria pro­te­ger para infecção por tuber­cu­lose e fomos tes­tar essa hipótese”. A con­clusão foi que a revaci­nação em adul­tos não é recomen­da­da.

Rio de Janeiro (RJ) - BCG previne riscos imediatos e precisa ser dada ao nascerFoto: Prefeitura de Manaus/Divulgação
Repro­dução:  BCG previne riscos ime­di­atos e pre­cisa ser dada ao nascer. Foto: Prefeitu­ra de Manaus/Divulgação

“Mostramos que, no Brasil, revaci­nar com BCG não pro­tege con­tra o Mycobac­teri­um tuber­cu­lo­sis”, afir­mou. Foram escol­hi­dos dois gru­pos de profis­sion­ais de saúde, total­izan­do 2 mil pes­soas, das quais mil foram revaci­nadas com BCG e mil não rece­ber­am a vaci­na. Testes san­guí­neos foram feitos antes de a pes­soa ser vaci­na­da com BCG e depois de 12 meses, para ver quan­tos pacientes adquiri­ram essa infecção. Obser­vou-se, então, que a chance de se infectarem, da ordem de 3%, foi igual nos dois gru­pos.

“Os que rece­ber­am a vaci­na tiver­am a mes­ma chance de infecção dos que não foram vaci­na­dos”, infor­mou Julio Cro­da. De acor­do com Cro­da, no Brasil não existe recomen­dação de revaci­nação. O estu­do com­pro­va que a recomen­dação de não revaci­nar con­tin­ua ade­qua­da, porque ela não garante uma pro­teção para quem tomou a vaci­na.

Áfica do Sul

Estu­do semel­hante está sendo feito na África do Sul para ten­tar reval­i­dar tra­bal­ho ini­cial que indi­ca­va que, even­tual­mente, revaci­nar a pop­u­lação pode­ria garan­tir pro­teção.

“No Brasil não se chegou a essa con­clusão”, disse Cro­da. Segun­do ele, não existe recomen­dação para revaci­nação de adul­tos com BCG em nen­hum país. São necessários mais estu­dos para avaliar o acha­do ini­cial que, se com­pro­va­do, poderá levar à cri­ação de uma políti­ca públi­ca difer­en­ci­a­da, com pos­si­bil­i­dade de revaci­nação dos adul­tos.

O dado avali­a­do nas três cidades brasileiras mostra que não existe uma indi­cação especí­fi­ca para vaci­nar gru­pos de risco para aquisição de tuber­cu­lose, como são os tra­bal­hadores de saúde. Por exten­são, tam­bém não há ori­en­tação para revaci­nação da pop­u­lação adul­ta brasileira.

Vacinas

Para o pesquisador, o estu­do deixa claro que o Brasil pre­cisa de novas vaci­nas con­tra a tuber­cu­lose, porque a BCG, que é dada quan­do a cri­ança nasce, só pro­tege con­tra as for­mas graves até 5 anos.

Para as pop­u­lações que estão sob risco da doença, ele defend­eu mais inves­ti­men­tos para o desen­volvi­men­to de novas vaci­nas. Essa é a meta da Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS), que está finan­cian­do estu­do na África, onde há muitos casos de tuber­cu­lose.

“É impor­tante que a gente ten­ha out­ras vaci­nas em desen­volvi­men­to, inclu­sive no Brasil, que pos­sam ser apli­cadas para gru­pos de risco e pos­sam pre­venir a doença pro­pri­a­mente dita, a tuber­cu­lose”. Não há ain­da no mun­do, uma vaci­na con­tra essa doença.

Fiocruz

A Fiocruz está em fase ini­cial de pesquisa sobre uma nova vaci­na con­tra a tuber­cu­lose. Ain­da não foram feitos testes clíni­cos.

“Demon­stramos que a vaci­na BCG é boa para cri­anças, para pre­venir as for­mas graves. Mas ain­da é pre­ciso uma vaci­na mais efi­caz para a doença ati­va e, prin­ci­pal­mente para gru­pos de risco, como profis­sion­ais de saúde, pop­u­lações pri­vadas de liber­dade, indí­ge­nas, por­ta­dores de HIV/Aids. No Brasil, Cro­da disse que a tuber­cu­lose é a prin­ci­pal causa de óbito rela­ciona­da a doenças infec­ciosas, depois da covid-19.

A dire­to­ra da Sociedade Brasileira de Imu­niza­ções (SBIm), Isabela Bal­ladai, desta­cou que o estu­do da Fiocruz val­i­da tudo o que já se sabe.

“A BCG não pro­tege con­tra tuber­cu­lose pul­monar. Ela pro­tege de for­mas graves, como a menin­gite tuber­cu­losa e a tuber­cu­lose mil­iar. Duas for­mas graves que acon­te­ci­am na infân­cia, nos primeiros meses de vida do bebê. Por isso, a gente vaci­na pre­co­ce­mente a cri­ança ao nascer. Des­de que se pas­sou a ter altas cober­turas com a BCG, vê-se casos raros dessas duas for­mas graves em pes­soas imun­ode­prim­i­das”, disse a espe­cial­ista.

A médi­ca recor­dou que o Min­istério da Saúde chegou a recomen­dar reforço de imu­niza­ção com BCG aos 10 anos, mas isso foi descar­ta­do em 2019. “O reforço foi reti­ra­do porque, além de causar um even­to adver­so local mais inten­so, por ser uma segun­da dose, tam­bém não pro­te­gia.

O estu­do da Fiocruz val­i­da que BCG é uma vaci­na para cri­anças até 5 anos de idade e que deve ser apli­ca­da o mais pre­co­ce­mente pos­sív­el após o nasci­men­to. Ideal­mente ain­da”, disse Isabela Bal­ladai.

Edição: Maria Clau­dia

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