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Estudo mostra como sistemas alimentares agravam e enraízam iniquidades

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Sociedade trata desigualdades de forma generalizada, diz pesquisadora


Pub­li­ca­do em 20/09/2023 — 07:28 Por Paula Labois­sière – Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Desigual­dades de raça, gênero e classe social con­tribuem para diver­sas vio­lações do dire­ito à ali­men­tação e à nutrição ade­quadas, afe­tan­do de for­ma mais inten­sa negros, mul­heres e cri­anças, além de pes­soas com mais baixa ren­da. A con­clusão é do estu­do Pra­to do Dia: Desigual­dades. Raça, Gênero e Classe nos Sis­temas Ali­menta­res, divul­ga­do pela Orga­ni­za­ção pelo Dire­ito Humano à Ali­men­tação e à Nutrição Ade­quadas (Fian). 

O tra­bal­ho foi con­duzi­do entre 2022 e 2023 por cin­co pesquisadores e anal­isa dados pré-pan­demia (perío­do entre 2017 e 2018) cole­ta­dos pela Pesquisa de Orça­men­tos Famil­iares (POF), do Insti­tu­to Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­ca (IBGE), além de tex­tos públi­cos de orga­ni­za­ções de difer­entes setores da sociedade – com­er­cial, movi­men­tos soci­ais, enti­dades profis­sion­ais e acad­e­mia.

Em entre­vista à Agên­cia Brasil, a coor­de­nado­ra do estu­do, Verus­ka Pra­do, desta­cou que as desigual­dades no aces­so, no con­sumo e na pro­dução de ali­men­tos atual­mente são tratadas de for­ma gen­er­al­iza­da e, em alguns momen­tos, até mes­mo nat­u­ral­izadas. “O tema das desigual­dades de raça, gênero e classe está pre­sente no dis­cur­so de difer­entes seg­men­tos da sociedade brasileira. A grande questão é que isso é algo que está tão pre­sente na for­mação do Brasil e no cotid­i­ano dos brasileiros e brasileiras.”

“Todos nós, quan­do saí­mos de casa, acabamos ven­do pes­soas em situ­ação de rua, sabe­mos de pes­soas que estão pas­san­do fome e out­ras vio­lações aos dire­itos humanos a que a gente cotid­i­ana­mente assiste. Isso está um pouco nat­u­ral­iza­do, como se fos­se uma situ­ação impos­sív­el de ser mod­i­fi­ca­da. Então, o tema é trata­do”, disse Verus­ka.

A pesquisado­ra aler­ta para a neces­si­dade de uma abor­dagem mais especí­fi­ca nas falas sobre desigual­dades rela­cionadas ao aces­so à ali­men­tação. “Todas as orga­ni­za­ções da sociedade civ­il, sejam aque­las vin­cu­ladas ao setor pri­va­do, ao setor públi­co, aos movi­men­tos soci­ais e à acad­e­mia trazem esse tema. No entan­to, essa for­ma de traz­er está gen­er­al­iza­da e não é especí­fi­ca. A questão da ali­men­tação, por inter­fer­ên­cia de raça, gênero e classe social, mes­mo den­tro desse grupo, pre­cisa ter olhares difer­en­ci­a­dos.”

“Há, den­tro desse grupo de pes­soas em situ­ação de maior vul­ner­a­bil­i­dade para segu­rança ali­men­tar, pes­soas ou gru­pos de indi­ví­du­os que têm riscos maiores de isso acon­te­cer em suas vidas. Por que isso acon­tece? A expli­cação que a gente está trazen­do é que são questões estru­tu­rais no Brasil rela­cionadas à raça, gênero, desigual­dades exis­tentes no aces­so ao mer­ca­do de tra­bal­ho e na garan­tia de meios para a sobre­vivên­cia e vida digna.”

Verus­ka lem­brou que o perío­do anal­isa­do no estu­do inclui a fase ante­ri­or à pan­demia de covid-19 e disse que, mes­mo naque­la época, já havia indica­tivos de que lares chefi­a­dos por mul­heres, por exem­p­lo, viven­ci­avam fome e out­ras for­mas de inse­gu­rança ali­men­tar, como o medo de não ter aces­so ao ali­men­to até o final. Out­ra real­i­dade iden­ti­fi­ca­da pelos pesquisadores nesse perío­do inclui adap­tações ali­menta­res nas famílias, como quan­do a mul­her pas­sar a com­er menos pra que as cri­anças pos­sam man­ter sua ali­men­tação.

“No mun­do de hoje e no Brasil que a gente tem, pós-pan­demia, com o tan­to de gente que ain­da está em situ­ação de fome, não dá mais para a gente tratar as desigual­dades do pon­to de vista de algo gen­er­al­iza­do na pop­u­lação. Den­tro das pes­soas que estão pas­san­do fome e em situ­ação de inse­gu­rança ali­men­tar, com vio­lação do seu dire­ito humano à ali­men­tação e nutrição ade­quadas, é fun­da­men­tal que a gente seja mais asserti­vo e especí­fi­co nas nos­sas ações”, con­cluiu.

Edição: Nádia Fran­co

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