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Evangélicos e pesquisadores buscam reduzir desinformação em periferias

Repro­dução: © Cole­ti­vo Sar­gen­to Per­i­fa

Trabalho é realizado por coletivos


Pub­li­ca­do em 28/10/2023 — 16:00 Por Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Duzen­tos met­ros sep­a­ram uma igre­ja evangéli­ca (Assem­bleia de Deus) e um espaço que se tornou tam­bém refer­ên­cia na comu­nidade do Cór­rego do Sar­gen­to, na zona norte no Recife. São evangéli­cos os cri­adores e a maio­r­ia dos par­tic­i­pantes do Cole­ti­vo Sar­gen­to Per­i­fa, enti­dade que tra­bal­ha a comu­ni­cação con­tra a desin­for­mação no lugar, com site de notí­cias, redes soci­ais e out­ras ações conc­re­tas. Sen­si­bi­liza­dos pelas vul­ner­a­bil­i­dades, como fal­ta de esco­la ou pos­to de saúde, e tam­bém pelas men­ti­ras que subi­am o mor­ro, os inte­grantes do cole­ti­vo desco­bri­ram que era necessária união da comu­nidade, que tem cer­ca de 250 famílias.

Um dos cri­adores do cole­ti­vo, o jovem jor­nal­ista Gilber­to da Sil­va, de 24 anos de idade, nasceu e foi cri­a­do na comu­nidade. Cresceu tam­bém fre­quen­tan­do a igre­ja jun­to com a família, tan­to que colab­o­ra­va na comu­ni­cação dos reli­giosos. Foi faz­er jor­nal­is­mo para con­tar a história do lugar sim­ples “que ama”.

Durante a fac­ul­dade, fica­va inco­moda­do com o teor de pro­gra­mas sen­sa­cional­is­tas que divul­gavam o Cór­rego do Sar­gen­to ape­nas como um lugar de vio­lên­cia ou crimes. “Há sim prob­le­mas soci­ais, mas tam­bém tem out­ras histórias difer­entes na comu­nidade”.

O cole­ti­vo con­ta atual­mente com 70 inte­grantes. Já foram mais de 50 matérias, além das mais de 1.000 posta­gens em redes soci­ais.

27/10/2023, Religiosos e pesquisadores buscam reduzir desinformação em periferias. Sargento Perifa. Foto: Coletivo Sargento Perifa
Repro­dução: Reli­giosos e pesquisadores bus­cam reduzir desin­for­mação em per­ife­rias — Foto: Cole­ti­vo Sar­gen­to Per­i­fa

Ele clas­si­fi­ca como desin­for­mação o proces­so de crim­i­nal­iza­ção da per­ife­ria. Havia, pois, muito a comu­nicar. O auge desse incô­mo­do foi durante a pan­demia da covid-19, quan­do men­sagens nega­cionistas rodavam a comu­nidade, como ataques à vaci­nação.

“Quan­do chegá­va­mos em nos­sa comu­nidade, todo mun­do esta­va sem más­cara como se não tivesse pan­demia. A comu­ni­cação foi e tem sido uma artic­u­lado­ra para que out­ros pro­je­tos de comu­nidade pos­sam sur­gir”, disse. Como é o caso do tra­bal­ho em saúde.

De casa em casa

27/10/2023, Religiosos e pesquisadores buscam reduzir desinformação em periferias. Sargento Perifa. Foto: Coletivo Sargento Perifa
Repro­dução: Reli­giosos e pesquisadores bus­cam reduzir desin­for­mação em per­ife­rias — Foto: Cole­ti­vo Sar­gen­to Per­i­fa

Uma das morado­ras vol­un­tárias do cole­ti­vo é a enfer­meira Josel­ma Car­val­ho, de 52 anos de idade. Ela pres­ta atendi­men­to den­tro da comu­nidade e aux­il­ia os moradores para tirar dúvi­das. “Des­de que era téc­ni­ca de enfer­magem, procuro pas­sar infor­mações cor­re­tas e ori­en­tar os moradores para atendi­men­to”, disse a profis­sion­al de saúde.

Gilber­to Sil­va lem­bra que a desin­for­mação, que esta­va “cor­ren­do sol­ta” durante a pan­demia, foi a moti­vação para cri­ar um con­sel­ho de comu­ni­cação comu­nitária para se defend­erem. “Os próprios moradores se chamam de sar­genti­nos, tal é a iden­ti­fi­cação que a comu­nidade tem com o lugar em que moram”, disse. Para o cole­ti­vo orga­ni­zar as ações, real­iza, inde­pen­den­te­mente do IBGE, um cen­so para bus­car infor­mações sobre a comu­nidade.

Tam­bém é cri­ado­ra do cole­ti­vo a jor­nal­ista Marthiene Oliveira, de 33 anos de idade, que nasceu no bair­ro da Lin­ha do Tiro, onde está a comu­nidade do Cór­rego do Sar­gen­to. Ela acres­cen­ta que o lev­an­ta­men­to bus­ca ouvir os moradores sobre as prin­ci­pais dúvi­das do dia a dia, incluin­do as vul­ner­a­bil­i­dades. Ela avalia que a igre­ja tam­bém tem um papel muito impor­tante para a comu­nidade. “A igre­ja é um pon­to de encon­tro, de fé e de reunião da nos­sa comu­nidade”.

Pelo cole­ti­vo e na igre­ja, con­ver­sam sobre os prin­ci­pais desafios da comu­nidade, como infraestru­tu­ra urbana e edu­cação. “Como a gente está falan­do de favela, a gente pre­cisa de letra­men­to racial. Havia pes­soas que não se enx­er­gavam como pre­tas, ven­do como se fos­se algo neg­a­ti­vo. A comu­nidade é pre­ta, 90% pelo menos”. A jor­nal­ista comu­nitária entende que a desin­for­mação é um desafio per­ma­nente que pre­cisa ser enfrenta­do.

27/10/2023, Religiosos e pesquisadores buscam reduzir desinformação em periferias. Sargento Perifa. Foto: Coletivo Sargento Perifa
Repro­dução: Pelo cole­ti­vo e igre­ja comu­nidade con­ver­sa sobre os prin­ci­pais desafios da comu­nidade, como infraestru­tu­ra urbana Foto: Cole­ti­vo Sar­gen­to Per­i­fa

Vítimas

Out­ro enfrenta­men­to à desin­for­mação é real­iza­do pelo Cole­ti­vo Bereia, no Rio de Janeiro. O pro­je­to nasceu das pesquisas real­izadas na Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ), a par­tir de 2016, quan­do se obser­va­va a cir­cu­lação de desin­for­mação em ambi­entes reli­giosos, especi­fi­ca­mente cristãos e evangéli­cos, na área da saúde. O cole­ti­vo con­ta com 17 vol­un­tários e pro­duz cer­ca de 12 reporta­gens por mês.

“Com a pesquisa, nós ficamos muito sur­preen­di­dos com os resul­ta­dos com um alto número de cir­cu­lação de con­teú­do fal­so, enganoso, em gru­pos reli­giosos. E ficamos alar­ma­dos”, disse a edi­to­ra ger­al Mag­a­li Cun­ha. Ela é douto­ra em Ciên­cias da Comu­ni­cação e pesquisado­ra do Insti­tu­to de Estu­dos da Religião (Iser).

A par­tir dis­so, pesquisadores em jor­nal­is­mo resolver­am cri­ar o pro­je­to, que inspi­ra­do em agên­cias de checagem no Brasil, bus­caram se dedicar especi­fi­ca­mente à cir­cu­lação em gru­pos de igre­jas. O Bereia foi cri­a­do em 2019 com tra­bal­ho vol­un­tário.

“O tra­bal­ho é feito com um respeito muito grande, jus­ta­mente iden­ti­f­i­can­do que os gru­pos reli­giosos são os maiores alvos da desin­for­mação que cir­cu­la com mais inten­si­dade. Bus­camos faz­er prestação de serviço a ess­es gru­pos, para que eles pos­sam perce­ber como se tor­nam alvos da indús­tria da desin­for­mação”, expli­ca a edi­to­ra e pesquisado­ra.

Templo sem desinformação

De out­ra for­ma, a pesquisado­ra em teolo­gia e pas­to­ra Wall Moraes, de 65 anos de idade, de Brasília, tem atu­a­do tam­bém para reduzir os proces­sos de desin­for­mação. Ela fez parte da cri­ação do pro­gra­ma Superan­do a História Úni­ca que tem por obje­ti­vo dar vis­i­bil­i­dade social a pas­toras e pas­tores com olhar afir­ma­ti­vo e inclu­si­vo. “Esse pro­gra­ma foi fun­da­men­tal porque nós recebe­mos vários retornos de protes­tantes pro­gres­sis­tas que estavam em regiões onde estavam sendo ata­ca­dos por suas visões”.

27/10/2023, Religiosos e pesquisadores buscam reduzir desinformação em periferias. Sargento Perifa. Foto: Coletivo Sargento Perifa
Repro­dução: Reli­giosos e pesquisadores bus­cam reduzir desin­for­mação em per­ife­rias- Foto: Cole­ti­vo Sar­gen­to Per­i­fa

Para ela, o prin­ci­pal desafio pós-pan­demia é ori­en­tar para o fato que os púl­pi­tos de orga­ni­za­ções reli­giosas não sejam uti­liza­dos com viés políti­co-par­tidário e tam­bém que espal­hem desin­for­mações, levan­do em con­ta que pesquisas mostram que pes­soas pre­tas de per­ife­ria são mais afe­ta­dos e por isso pre­cisam não serem víti­mas de men­ti­ras que cir­cu­lam.

A pesquisado­ra adi­anta que um grupo inter-reli­gioso, do qual ela faz parte, está elab­o­ran­do uma car­til­ha de ori­en­tação a mem­bros de qual­quer igre­ja. Esse mate­r­i­al abor­dará temas como a tol­erân­cia reli­giosa e a con­du­ta para bus­car infor­mações de qual­i­dade. A pre­visão é que o lança­men­to seja no dia 30 de novem­bro.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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