...
terça-feira ,11 fevereiro 2025
Home / Noticias / Ex-moradores de bairros desativados revelam sentimentos em mensagens

Ex-moradores de bairros desativados revelam sentimentos em mensagens

Repro­dução: © Joéd­son Alves/Agência

Mais de 60 mil pessoas perderam casa em Maceió com afundamento do solo


Pub­li­ca­do em 17/12/2023 — 15:48 Por Anna Luisa das Cha­gas Pras­er — Envi­a­da espe­cial da EBC — Maceió

ouvir:

Cir­cu­lar pelos bair­ros que foram desati­va­dos em Maceió é um mis­to de tris­teza e angús­tia. As casas que antes abri­gavam famílias inteiras, têm somente a veg­e­tação como res­i­dente ago­ra — trepadeiras de fol­has muito verdes que nascem das rachaduras e cobrem muros, pare­des, pla­cas e reves­ti­men­tos.

Os sinais da tragé­dia anun­ci­a­da começaram em 2018, após fortes de chu­vas de verão em fevereiro daque­le ano e quan­do um tremor de ter­ra foi sen­ti­do em alguns bair­ros de Maceió. As primeiras fis­sur­as foram iden­ti­fi­cadas em residên­cias e vias públi­cas do Pin­heiro, mas como já se sabe, não seria um caso iso­la­do.

Um estu­do real­iza­do pelo Serviço Geológi­co do Brasil, lig­a­do ao gov­er­no fed­er­al, inves­tigou as causas da movi­men­tação do solo em parte de Maceió, onde havia a explo­ração, há mais de 40 anos, de sal-gema no sub­so­lo.

Em 2019, os que vivi­am nos bair­ros em torno da Lagu­na Mundaú, começaram a ser removi­dos da região por con­ta do risco de desaba­men­to — lit­eral­mente sob os pés da pop­u­lação. Des­de então, o risco de afun­da­men­to do solo incluiu Mutange, Pin­heiro, Bom Par­to, Bebedouro e Farol. Este últi­mo, par­cial­mente afe­ta­do, mas o sufi­ciente para obri­gar que o úni­co hos­pi­tal psiquiátri­co públi­co de Alagoas a mudar de local.

Maceió (AL) 16/12/2023 – Os esquecidos pela Braskem – Joicye Evaristo mostra uma parede em sua residência rachada devido ao rompimento da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú, no bairro Flexal de Baixo.Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Joicye Evaris­to mostra uma parede em sua residên­cia racha­da dev­i­do ao rompi­men­to da mina n°18 da min­er­ado­ra Baskem — Foto: Joéd­son Alves/Agência Brasil

Nas zonas afe­tadas, impressão é de que os anti­gos moradores levaram o que deu. É comum ver que janelas e esquadrias foram arran­cadas, tal como o son­ho e os inves­ti­men­tos de uma vida de quase 60 mil moradores e com­er­ciantes que tiver­am de aban­donar suas residên­cias e comér­cios em cin­co bair­ros con­de­na­dos à extinção pela ativi­dade de min­er­ação.

A atmos­fera das ruas bair­ros é pesa­da, como se hou­vesse um vácuo entre a vida que se cos­tu­ma­va ter ali, com sons e vozes, car­ros pas­san­do, cri­anças brin­can­do, pes­soas cir­cu­lan­do, e o que se tem ago­ra, um cenário per­feito e real de aban­dono que parece ter saí­do de filmes de ter­ror.

Casas e pré­dios inteiros cer­ca­dos por tapumes de zin­co, por­tas e janelas seladas por tijo­los e cimen­to, pare­des mar­cadas em ver­mel­hos, com pla­cas da Defe­sa Civ­il afix­adas, indi­can­do que o imóv­el está con­de­na­do, deix­am claro que aque­las residên­cias, que por muitos anos sig­nificaram con­for­to e segu­rança para as famílias, ago­ra só ofer­e­cem peri­go e risco. O cenário se soma às sinal­iza­ções de rota de fuga, espal­hadas pela região e que dão a sen­sação a quem pas­sa por ali de ser um clan­des­ti­no.

Mas, emb­o­ra ess­es cin­co bair­ros ten­ham sido sen­ten­ci­a­dos a se tornarem obso­le­tos e deser­tos, por con­ta da explo­ração de minério real­iza­do pela Braskem em 35 minas, ain­da é pos­sív­el ver e ouvir a voz dess­es mil­hares de desabri­ga­dos como num bra­do de resistên­cia, nos muros, nas calçadas, no asfal­to. Men­sagens deix­adas pelos moradores com­par­til­ham um mis­to de dor, revol­ta, tris­teza e saudade do lugar que um dia chama­ram de lar.

Maceió (AL) 16/12/2023 – Os esquecidos pela Braskem – Vista de casas no bairro Flexal de Baixo, nas proximidades da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú.Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Vista de casas no Bair­ro Flex­al de Baixo, nas prox­im­i­dades da mina n°18 da min­er­ado­ra Baskem — Foto: Joéd­son Alves/Agência Brasil

Monitoramento

Após a con­clusão dos estu­dos por parte do Serviço Geológi­co do Brasil, em 2019, as ativi­dades de explo­ração do sal-gema foram par­al­isadas. No mes­mo ano, foram imple­men­tadas as ações emer­gen­ci­ais no Pin­heiro e a insta­lação de um serviço de mon­i­tora­men­to, sob a coor­de­nação da Defe­sa Civ­il de Maceió.

Des­de então, o mon­i­tora­men­to da região que apre­sen­ta afun­da­men­to de solo e tam­bém das minas é feito diari­a­mente e de for­ma inin­ter­rup­ta.

Recen­te­mente, com o colap­so de parte da mina 18, na Lagu­na Mundaú, um dos equipa­men­tos foi per­di­do. No entan­to, segun­do a Defe­sa Civ­il, o acom­pan­hamen­to das áreas foi adap­ta­do para con­tin­uar sendo feito.

Em nota, a insti­tu­ição afir­mou que um novo equipa­men­to já foi prov­i­den­ci­a­do e insta­l­a­do e que em cer­ca de 10 dias estará apto para medir a movi­men­tação do solo de for­ma pre­cisa. Enquan­to isso, o local está sendo mon­i­tora­do pelos demais instru­men­tos de medição.

Maceió (AL) 17/12/2023 – Moradores deixam frases em suas casas após serem desalojados, nas proximidades da mina n°18 da mineradora Braskem na lagoa de Mundaú.Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Moradores deix­am fras­es em suas casas após serem desa­lo­ja­dos, nas prox­im­i­dades da mina n°18 da min­er­ado­ra Braskem na lagoa de Mundaú — Foto: Joéd­son Alves/Agência Brasil

Acordos

Des­de 2019, foram fecha­dos cin­co acor­dos de reparação e ind­eniza­ção entre a min­er­ado­ra Braskem e a Prefeitu­ra de Maceió. Ess­es acor­dos, no entan­to, estão sendo ques­tion­a­dos na Justiça.

A Procu­rado­ria-Ger­al do Esta­do de Alagoas entrou com uma ação no Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al para ques­tionar algu­mas cláusu­las dos pactos fecha­dos entre 2019 e 2022. A arguição de Des­cumpri­men­to de Pre­ceitos Fun­da­men­tais, a ADPF, quer garan­tir que a min­er­ado­ra seja puni­da pelos crimes ambi­en­tais.

Mas, de acor­do com a procu­rado­ria, a for­ma como o pacto foi fir­ma­do, ben­e­fi­cia e traz gan­hos finan­ceiros à Braskem, já que futu­ra­mente ela terá dire­ito à tit­u­lar­i­dade à explo­ração econômi­ca de toda a área que foi desapro­pri­a­da por causa dos impactos da extração do minério sal-gema.

Maceió (AL) 16/12/2023 – Os esquecidos pela Braskem –Um pescador faz reparos em sua rede de pescar nas proximidades da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú.Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Pescador faz reparos em sua rede de pescar nas prox­im­i­dades da mina n°18 da min­er­ado­ra Baskem na lagoa de Mundaú — Foto: Joéd­son Alves/Agência Brasil

A procu­rado­ria pede ain­da que sejam declar­adas incon­sti­tu­cionais as cláusu­las que der­am a quitação irrestri­ta à Braskem e que autor­izam a trans­fer­ên­cia da tit­u­lar­i­dade de imóveis públi­cos e par­tic­u­lares à min­er­ado­ra como medi­da com­pen­satória de even­tu­al ind­eniza­ção paga às víti­mas.

Em nota, a Braskem disse que fir­mou cin­co acor­dos com autori­dades fed­erais, estad­u­ais e munic­i­pal que estão sendo cumpri­dos inte­gral­mente. A min­er­ado­ra disse ain­da que todos eles foram fru­to de ampla dis­cussão, basea­d­os em dados téc­ni­cos, têm respal­do legal e foram homolo­ga­dos na Justiça. E que vai se man­i­fes­tar somente nos autos do proces­so quan­do for noti­fi­ca­da.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Calor leva Justiça a adiar início das aulas no Rio Grande do Sul

Governo do estado recorre da decisão Pedro Peduzzi — Repórter da Agên­cia Brasil Pub­li­ca­do em …