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Excesso de telas entre jovens pode causar dores e puberdade precoce

Repro­dução: © Divul­gação prefeitu­ra de Sobral CE

Alerta é de estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de SP


Pub­li­ca­do em 23/03/2023 — 08:55 Por Lud­mil­la Souza — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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O uso pro­lon­ga­do de telas é um dos fatores de risco para a saúde da col­u­na, mostra estu­do finan­cia­do pela Fun­dação de Amparo à Pesquisa do Esta­do de São Paulo (Fape­sp)  e pub­li­ca­do na revista cien­tí­fi­ca Health­care

Entre os fatores de risco está o uso de telas por mais de três horas por dia, a pou­ca dis­tân­cia entre o equipa­men­to eletrôni­co e os olhos, a uti­liza­ção na posição deita­da de prono (de bar­ri­ga para baixo) e na posição sen­ta­da. O foco do estu­do foi a chama­da dor no meio das costas (tho­racic back pain, ou TSP).

Foram avali­a­dos 1.628 estu­dantes de ambos os sex­os entre 14 e 18 anos de idade, matric­u­la­dos no primeiro e segun­do ano do ensi­no médio no perío­do diurno, na área urbana do municí­pio de Bau­ru (SP), que respon­der­am a ques­tionário entre março e jun­ho de 2017.

Dess­es, 1.393 foram reavali­a­dos em 2018. A pesquisa con­sta­tou que de todos os par­tic­i­pantes, a prevalên­cia de um ano foi de 38,4%, o que sig­nifi­ca que os ado­les­centes relataram TSP tan­to em 2017 quan­to em 2018. A incidên­cia em um ano foi de 10,1%; ou seja, não noti­ficaram TSP em 2017, mas foram encam­in­hados como casos novos em 2018. As dores na col­u­na ocor­rem mais nas meni­nas do que nos meni­nos.

“A difer­ença entre os sex­os pode ser expli­ca­da pelo fato de as mul­heres relatarem e procu­rarem mais apoio para dores mús­cu­lo-esqueléti­cas, estarem mais expostas a fatores físi­cos, psi­cos­so­ci­ais e de stress, terem menos força do que os home­ns, apre­sentarem alter­ações hor­mon­ais resul­tantes da puber­dade e baixos níveis de ativi­dade físi­ca”, diz um dos autores do arti­go, Alber­to de Vit­ta, doutor em edu­cação pela Uni­ver­si­dade Estad­ual de Camp­inas (Uni­camp) com pós-doutora­do em saúde públi­ca pela Uni­ver­si­dade Estad­ual Paulista (Une­sp) de Botu­catu.

Pandemia

TSP é comum em difer­entes gru­pos etários na pop­u­lação mundi­al. Esti­ma-se que afete de 15% a 35% dos adul­tos e de 13% a 35% de cri­anças e ado­les­centes. Com a pan­demia do covid-19, cri­anças e ado­les­centes têm usa­do celu­lares, tablets e com­puta­dores por um tem­po maior, seja para ativi­dades esco­lares ou para o laz­er. Com isso, é comum adotarem pos­turas inad­e­quadas por tem­po pro­lon­ga­do, cau­san­do dores na col­u­na ver­te­bral.

O tem­po gas­to com dis­pos­i­tivos eletrôni­cos (por exem­p­lo ver tele­visão, jog­ar videogames, uti­lizar o com­puta­dor e smart­phones, incluin­do comu­ni­cações elec­trôni­cas, e‑games, e inter­net) pode ser clas­si­fi­ca­do da seguinte for­ma: baixo (menos de 3 horas/dia), médio (aci­ma de 3 horas/dia até 7 horas/dia) e alto (aci­ma de 7 horas/dia), con­sid­era o pesquisador.

Segun­do De Vit­ta, é pos­sív­el que a incidên­cia da TSP ten­ha aumen­ta­do com a pan­demia, mas ain­da não há estu­dos. “Podemos supor que aumen­tou, dev­i­do à ativi­dade esco­lar em casa, no entan­to não há dados sobre isso. Esta­mos orga­ni­zan­do um estu­do mul­ti­cên­tri­co que será real­iza­do em cidades de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e do Rio Grande do Sul”, infor­mou o pesquisador, que atual­mente leciona e pesquisa no Depar­ta­men­to de Fisioter­apia da Fac­ul­dade Edu­vale de Avaré (SP) e no pro­gra­ma de pós-grad­u­ação em Edu­cação, Con­hec­i­men­to e Sociedade da Uni­ver­si­dade do Vale do Sapu­caí (Pouso Ale­gre, MG).

Fatores

A TSP tem trata­men­to, diz o pro­fes­sor. “Há vários tipos de trata­men­tos como, por exem­p­lo, a reed­u­cação pos­tur­al glob­al, o pilates e a fisioter­apia basea­da em recur­sos eletroter­mo­fo­toter­apêu­ti­cos: ultra­som, laser, entre out­ros”.

Fatores de risco físi­cos, fisi­ológi­cos, psi­cológi­cos e com­por­ta­men­tais ou uma com­bi­nação deles podem estar asso­ci­a­dos à TSP. “As dores mus­cu­loesqueléti­cas, como na col­u­na torá­ci­ca, lom­bar e cer­vi­cal, são mul­ti­di­men­sion­ais”, expli­ca o pesquisador.

“Os fatores físi­cos (carteiras inad­e­quadas, mochi­las com peso aci­ma do recomen­da­do e out­ros), com­por­ta­men­tais (uti­lizar os equipa­men­tos eletrôni­cos aci­ma de três horas por dia, pos­turas inad­e­quadas) e os fatores de saúde men­tal (sin­tomas emo­cionais, stress etc) estão asso­ci­a­dos a essas dores”.

A con­ju­gação de físi­cos e com­por­ta­men­tais gera um aumen­to da força de com­pressão dos dis­cos inter­ver­te­brais, levan­do à desnu­trição dos dis­cos, com­pro­m­e­tendo a inte­gri­dade do sis­tema mús­cu­lo-esqueléti­co, pre­dispon­do o indi­ví­duo à fadi­ga e a níveis de dor mais ele­va­dos.

“Parece haver uma relação entre sin­tomas emo­cionais e man­i­fes­tações físi­cas, como o aumen­to da secreção do cor­ti­sol hor­mon­al e alter­ações na reg­u­lação hor­mon­al do glân­du­las supra-renais, que ger­am efeitos inibidores sobre o sis­tema imu­nitário, a digestão e sin­tomas de des­gaste cor­po­ral exces­si­vo, cansaço, fadi­ga, dores mus­cu­lares e artic­u­lares. Todos ess­es fatores estiver­am rela­ciona­dos aos dados das nos­sas pesquisas rela­cionadas às dores lom­bares, cer­vi­cais e torá­ci­cas em estu­dantes do ensi­no médio”.

Puberdade precoce

A puber­dade é um esta­do nat­ur­al do cor­po humano que, por con­se­quên­cia de alter­ações hor­mon­ais, tende a se apre­sen­tar a par­tir dos 8 anos de idade em meni­nas e 9 anos em meni­nos

Entre­tan­to, as cri­anças estão entran­do nes­sa fase cada vez mais cedo. Gan­ho de peso, con­sumo exces­si­vo de ali­men­tos ultra­proces­sa­dos e seden­taris­mo estão entre as prin­ci­pais causas. Mas, out­ro fator tem chama­do a atenção dos pesquisadores.

De acor­do com o resul­ta­do de uma pesquisa apre­sen­ta­da durante a 60ª Reunião Anu­al da Sociedade Europeia de Endocrinolo­gia Pediátri­ca, a puber­dade pre­coce pode estar sendo estim­u­la­da pela alta exposição às telas, como tablets e celu­lares.

“Estu­dos mostram que a luz azul das telas diminui a pro­dução de mela­ton­i­na, hor­mônio rela­ciona­do ao ciclo do sono. A menor pro­dução de mela­ton­i­na pode ser um sinal para o cor­po de que já está na hora de entrar na puber­dade. Além dis­so, o gan­ho de peso e a ansiedade que podem estar asso­ci­a­dos ao exces­so no uso de telas tam­bém alter­am a pro­dução de deter­mi­na­dos hor­mônios como a lep­ti­na e a sero­ton­i­na, que podem oca­sion­ar a puber­dade de for­ma pre­coce”, expli­ca a endocrino­pe­di­atra do Sabará Hos­pi­tal Infan­til, Paula Bac­cari­ni.

A espe­cial­ista afir­ma que, dev­i­do ao iso­la­men­to durante o perío­do pandêmi­co, as cri­anças pas­saram a se ali­men­tar de for­ma menos saudáv­el, geran­do out­ros efeitos colat­erais que tam­bém alter­am os hor­mônios: “O estresse e a ansiedade tam­bém são fatores que podem adi­antar o iní­cio da puber­dade, soma­dos ao seden­taris­mo, à pio­ra do padrão ali­men­tar e ao gan­ho de peso”, acres­cen­ta.

Rotina

O ide­al é que a cri­ança man­ten­ha uma roti­na com hábitos saudáveis de vida, com ativi­dade físi­ca, sono ade­qua­do e ali­men­tação nat­ur­al, com con­sumo reduzi­do de pro­du­tos indus­tri­al­iza­dos, o que nat­u­ral­mente já reduz o tem­po livre para uso de telas, acon­sel­ha a médi­ca. “É impor­tante lem­brar que a cri­ança aprende com o exem­p­lo dos pais. Então, é fun­da­men­tal que o con­t­role do tem­po de tela seja de toda a família e não ape­nas da cri­ança,” com­ple­ta.

Out­ras ativi­dades podem aju­dar a dimunuir esse tem­po. “Cri­ar roti­nas como hábito de leitu­ra, brin­cadeiras recre­ati­vas, jogos de tab­uleiro, desen­ho, que­bra-cabeças. Além dis­so, usar o fim de sem­ana para reunir a família fora de casa, se pos­sív­el em con­ta­to com o sol e a natureza podem aju­dar”, sug­ere a endocrino­pe­di­atra.

Caso os pais iden­ti­fiquem sinais de puber­dade pre­coce — como aparec­i­men­to do bro­to mamário, desen­volvi­men­to de pelos pubianos, cresci­men­to acel­er­a­do, acne, eles devem procu­rar um endocri­nol­o­gista pediátri­co para faz­er o diag­nós­ti­co, iden­ti­ficar a causa e avaliar a neces­si­dade de trata­men­to.

“O trata­men­to é indi­ca­do nos casos em que a puber­dade ocorre pre­co­ce­mente ou evolui em rit­mo muito acel­er­a­do, com risco de a primeira men­stru­ação acon­te­cer cedo ou de ocor­rer para­da do cresci­men­to antes da idade pre­vista, com per­spec­ti­va da cri­ança crescer menos do que a pre­visão genéti­ca. Con­siste em um trata­men­to hor­mon­al que blo­queia a pro­dução dess­es hor­mônios asso­ci­a­dos ao desen­volvi­men­to da puber­dade”, expli­ca a espe­cial­ista.

Uma vez ini­ci­a­da a puber­dade, não há como revert­er o quadro, ape­nas tratar com o blo­queio puber­al quan­do indi­ca­do, apon­ta a médi­ca. “Por isso, a importân­cia do esta­b­elec­i­men­to de hábitos saudáveis de vida durante a infân­cia, como for­ma de ten­tar reduzir o risco de a puber­dade ocor­rer pre­co­ce­mente. Impor­tante diz­er que essas mudanças do hábito de vida tam­bém estão rela­cionadas à diminuição de out­ras condições, como a obesi­dade”.

É con­sid­er­a­da pre­coce a puber­dade que surge antes dos 8 anos em meni­nas e dos 9 anos em meni­nos; e atrasa­da, a puber­dade que tem iní­cio após os 13 anos em meni­nas e após os 14 anos, em meni­nos.

A médi­ca con­sid­era o risco de adi­anta­men­to da men­stru­ação e da para­da pre­coce do cresci­men­to, com pre­juí­zo da altura final da cri­ança, além dos riscos psi­cos­so­ci­ais asso­ci­a­dos à puber­dade pre­coce. Se necessário, indi­cará trata­men­to para blo­quear, por um tem­po, o desen­volvi­men­to puber­al.

Edição: Graça Adju­to

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