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Exposição ao som excessivo pode causar perda auditiva

Alerta é de especialistas para lidar com ruídos neste fim de ano

Fran­ciel­ly Bar­bosa*
Pub­li­ca­do em 28/12/2024 — 11:48
Rio de Janeiro
Reveillon 2024 Copacabana - Foto Fernando Maia/Riotur
Repro­dução: © Fer­nan­do Maia/Riotur

O barul­ho exces­si­vo provo­ca­do pelas comem­o­rações e fes­tas de fim de ano pre­ocu­pa espe­cial­is­tas que inves­tigam os impactos dos ruí­dos na saúde. Segun­do eles, mes­mo a exposição even­tu­al pode causar danos, espe­cial­mente ao sis­tema audi­ti­vo, cau­san­do zumbidos ou per­da audi­ti­va.

À Agên­cia Brasil, a pro­fes­so­ra do cur­so de fonoau­di­olo­gia da Uni­ver­si­dade Fed­er­al Flu­mi­nense (UFF), Kar­la Vas­con­ce­los, expli­ca que a poluição sono­ra é resul­ta­do dos níveis ele­va­dos de inten­si­dade sono­ra em difer­entes ambi­entes, como acad­e­mias de ginás­ti­ca, trân­si­to, fábri­c­as, bares, indús­trias e shows. Con­forme a pesquisado­ra, mes­mo a exposição even­tu­al pode causar danos.

“As pes­soas, prin­ci­pal­mente nes­ta época do ano, asso­ci­am diver­são à músi­ca alta, e não se dão con­ta de que, além de per­tur­bar o sossego alheio, podem prej­u­dicar sua própria saúde, prin­ci­pal­mente a audi­ti­va. É comum que o zumbido, mais fre­quente­mente perce­bido após um perío­do de exposição, per­maneça. O con­vívio com a per­cepção de um barul­ho con­stante não é agradáv­el e pode inter­ferir na roti­na profis­sion­al e social, cau­san­do out­ras deman­das como as rela­cionadas à saúde men­tal”.

Vas­con­ce­los argu­men­ta que a poluição sono­ra pre­cisa ser com­preen­di­da como questão de saúde públi­ca por causar pre­juí­zos que vão além das per­das audi­ti­vas, como irri­tabil­i­dade, dis­túr­bios do sono, doenças metabóli­cas, car­dio­vas­cu­lares e diges­ti­vas. “O estresse cau­sa­do pela exposição à inten­si­dade de som ele­va­do per­tur­ba o sossego e é um impor­tante sin­toma dessa exposição. É comum ouvir­mos notí­cias trág­i­cas cau­sadas pelo transtorno provo­ca­do pelo exces­so de inten­si­dade sono­ra”, acres­cen­ta.

Para o coor­de­nador do Comitê de Acús­ti­ca Ambi­en­tal da Asso­ci­ação Brasileira para a Qual­i­dade Acús­ti­ca (ProAcús­ti­ca), Rafael Andrade, a poluição sono­ra pode ser com­preen­di­da como “emis­sões sono­ras que causam dese­qui­líbrio ambi­en­tal e ofer­e­cem riscos à saúde e ao bem-estar”. “Quan­do trata­mos da poluição sono­ra, temos um polu­ente que não deixa mar­cas visíveis no ambi­ente, o que faz com que o tema seja colo­ca­do em lugar secundário, vis­to como menos urgente e grave”, ressalta. “Essa neg­ligên­cia em relação à poluição sono­ra reflete a fal­ta de con­sciên­cia sobre o assun­to, por não con­sid­er­ar diver­sas con­se­quên­cias da exposição pro­lon­ga­da ao ruí­do”.

Impactos

“Usual­mente, rela­cionamos os danos à saúde ger­a­dos pelo ruí­do com per­das audi­ti­vas, mas é impor­tante destacar que muito antes de essas per­das acon­te­cerem, já obser­va­mos diver­sas con­se­quên­cias neg­a­ti­vas da exposição pro­lon­ga­da ao ruí­do, que tem impactos tan­to fisi­ológi­cos quan­to psi­cológi­cos”, desta­ca Andrade. A difi­cul­dade de ouvir em razão do exces­so de barul­ho é con­heci­da como Per­da Audi­ti­va Induzi­da por Níveis de Pressão Sono­ra Ele­va­dos (PAINPSE).

“A exposição ao ruí­do gera a ele­vação dos níveis de estresse, resul­tan­do na lib­er­ação de hor­mônios como cor­ti­sol. A par­tir daí, pode ser obser­va­da uma reação em cadeia, uma vez que os níveis ele­va­dos de cor­ti­sol no organ­is­mo podem acar­retar aumen­to da pressão arte­r­i­al e do risco de desen­volvi­men­to de out­ros prob­le­mas car­dio­vas­cu­lares, como arrit­mias e infar­tos”, diz o coor­de­nador.

Do pon­to de vista psi­cológi­co, Andrade lem­bra que essa situ­ação leva ao aumen­to da irri­tabil­i­dade e a dis­túr­bios de ansiedade, além de pre­juí­zos à memória e à con­cen­tração. A exposição ao ruí­do inten­so é danosa prin­ci­pal­mente para cri­anças em fase esco­lar, por com­pro­m­e­ter o apren­diza­do e o desen­volvi­men­to cog­ni­ti­vo. Há ain­da impactos à saúde do sono, com frag­men­tação do perío­do de des­can­so e sen­sação de fadi­ga.

Níveis de ruído

A Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS) aler­ta que níveis de ruí­do aci­ma de 75 decibéis (dB) são prej­u­di­ci­ais à audição humana. Já a leg­is­lação brasileira deter­mi­na que o nív­el máx­i­mo de barul­ho a que um tra­bal­hador pode ficar expos­to ao lon­go de uma jor­na­da de 8 horas é de 80 decibéis. O nív­el de exposição ao ruí­do máx­i­mo varia de acor­do com o tem­po de exposição, sendo que quan­to maior a inten­si­dade sono­ra, menor deve ser a exposição.

Tabela divul­ga­da pela Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP) recomen­da que para um nív­el de ruí­do de 85 decibéis, a exposição máx­i­ma per­mi­ti­da é de 8 horas diárias. Para uma exposição de 90 decibéis, 4 horas; para 95 decibéis, 2 horas; para 100 decibéis, 1 hora; para 105 decibéis, 30 min­u­tos e para 110 decibéis, 15 min­u­tos. “Os fogos de artifí­cios e as fes­tas ou shows cos­tu­mam ultra­pas­sar os 120 dB”, aler­ta a pro­fes­so­ra da UFF.

“Espe­cial­mente, durante o final do ano, as comem­o­rações e fogos de artifí­cio são as prin­ci­pais fontes de exposição ao ruí­do ambi­en­tal. Qual­quer som de inten­si­dade ele­va­da pode causar danos às estru­turas respon­sáveis pela decod­i­fi­cação da ener­gia mecâni­ca em estí­mu­lo elétri­co que fazem parte do sis­tema audi­ti­vo, as célu­las cil­i­adas. Uma vez dan­i­fi­cadas não se regen­er­am e assim o dano, mes­mo que mín­i­mo, será per­ma­nente”, diz Vas­con­ce­los.

No Brasil, 17,3 mil­hões de pes­soas com 2 anos ou mais (8,4% dessa pop­u­lação) têm algu­ma das defi­ciên­cias avali­adas pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Elab­o­ra­da pelo Insti­tu­to Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­ca (IBGE), o estu­do iden­ti­fi­cou que 6,9 mil­hões (3,4%) têm defi­ciên­cia visu­al, 2,5 mil­hões (1,2%) defi­ciên­cia men­tal e 2,3 mil­hões (1,1%) defi­ciên­cia audi­ti­va.

Segun­do o estu­do, a defi­ciên­cia audi­ti­va ocorre quan­do uma pes­soa apre­sen­ta grande difi­cul­dade ou não con­segue de modo algum ouvir. Essa condição pode ser provo­ca­da por diver­sos fatores, sendo um deles a exposição repeti­das vezes e por lon­gos perío­dos a sons a par­tir de 85 decibéis.

Recomendações

Para preser­var a saúde audi­ti­va, o coor­de­nador do Comitê de Acús­ti­ca Ambi­en­tal da ProAcús­ti­ca sug­ere reduzir o vol­ume dos fones de ouvi­do e uti­lizar pro­te­tores auric­u­lares ao fre­quen­tar lugares rui­dosos, como fes­tas com músi­ca alta. Os pro­te­tores, ou tam­pões, reduzem os níveis sonoros que chegam ao sis­tema audi­ti­vo.

“Exis­tem disponíveis no mer­ca­do pro­te­tores para ambi­entes de músi­ca, que man­têm a qual­i­dade sono­ra, uma opção inter­es­sante para quem gos­ta de ir a shows. Se você está dan­do uma fes­ta em casa, evite o som alto, a músi­ca alta resul­ta em maior esforço para con­ver­sar, o que pode causar danos à voz, além de aumen­to no ruí­do ger­a­do, levan­do a indis­posições com a viz­in­hança. Evite dormir com tele­visão ou músi­ca, ess­es ruí­dos con­stantes prej­u­dicam tam­bém a qual­i­dade do sono, o que pode aumen­tar a sen­sação de cansaço e a irri­tabil­i­dade”.

Andrade tam­bém chama a atenção para a própria poluição sono­ra urbana e para os ruí­dos ger­a­dos por veícu­los. O coor­de­nador recomen­da a insta­lação de janelas antir­ruí­dos em casas e aparta­men­tos. “No entan­to, essas soluções não são acessíveis à maior parte da pop­u­lação. Deve­mos sem­pre cobrar o poder públi­co para realizar a gestão do tráfego nas cidades visan­do à mel­ho­ria do espaço acús­ti­co urbano”, defende.

O que diz a lei

No âmbito fed­er­al, o arti­go 42 da Lei de Con­tra­venções Penais, de 1941, diz que per­tur­bar alguém enquan­to exerce o seu tra­bal­ho ou o “sossego alheio” com “gri­taria ou algazarra; exercendo profis­são incô­mo­da ou rui­dosa, em desacor­do com as pre­scrições legais; abu­san­do de instru­men­tos sonoros ou sinais acús­ti­cos; provo­can­do ou não procu­ran­do impedir barul­ho pro­duzi­do por ani­mal de que tem a guar­da” pode pas­sar de 15 dias a três meses pre­so.

Tam­bém na esfera fed­er­al, a Lei de Crimes Ambi­en­tais garante punição de um a qua­tro anos a quem “causar poluição de qual­quer natureza” em níveis que pos­sam prej­u­dicar a saúde humana. “Para reduzir os impactos da exposição sono­ra, o prin­ci­pal é que a pop­u­lação seja edu­ca­da e con­sci­en­ti­za­da sobre o assun­to. Assim, será pos­sív­el que as reg­u­la­men­tações sejam respeitadas”, afir­ma Vas­con­ce­los.

Ministério da Saúde

Em nota, o Min­istério da Saúde aler­ta que ouvir sons altos por lon­gos perío­dos de tem­po pode resul­tar em per­da audi­ti­va tem­porária, per­ma­nente ou sen­sação de zumbido no ouvi­do. Segun­do a pas­ta, dados divul­ga­dos pela OMS indicam que mais de 1 bil­hão de pes­soas, com idades entre 12 e 35 anos, cor­rem o risco de perder a audição dev­i­do à exposição pro­lon­ga­da e exces­si­va à  músi­ca alta e a out­ros sons recre­ativos.

De acor­do com o min­istério, o padrão glob­al para audição segu­ra em locais e even­tos desta­ca seis recomen­dações: nív­el sonoro máx­i­mo de 100 decibéis; mon­i­tora­men­to e reg­istro de níveis de som usan­do equipa­men­to cal­i­bra­do por pes­soal des­ig­na­do; otimizar acús­ti­ca do local e os sis­temas de som para garan­tir uma qual­i­dade agradáv­el e uma audição segu­ra; disponi­bi­lizar pro­teção audi­ti­va indi­vid­ual para o públi­co, incluin­do instruções de uso; aces­so a zonas de silên­cio para as pes­soas des­cansarem os ouvi­dos e dimin­uírem o risco de danos audi­tivos e for­mação e infor­mação para os tra­bal­hadores.

O min­istério tam­bém infor­ma que o Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) ofer­ece o cuida­do em saúde audi­ti­va de for­ma inte­gral e gra­tui­ta, com ações que vão des­de pro­moção à saúde e pre­venção de per­das de audição, pas­san­do por iden­ti­fi­cação pre­coce por meio do teste da orel­hin­ha, até o diag­nós­ti­co em serviços espe­cial­iza­dos e reabil­i­tação audi­ti­va (próte­ses audi­ti­vas e ter­apias espe­cial­izadas).

*Estag­iária sob super­visão de Mar­i­ana Tokar­nia

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