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Exposição em Brasília reúne 150 fotografias de Sebastião Salgado

Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Mostra Trabalhadores será aberta ao público neste sábado (25)


Pub­li­ca­do em 26/08/2023 — 07:45 Por Daniel­la Almei­da — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Mul­heres e home­ns que cri­am, con­stroem e trans­for­mam real­i­dades e mate­ri­ais com as próprias mãos. Eles são tra­bal­hadores e estão no eixo cen­tral da exposição do fotó­grafo brasileiro Sebastião Sal­ga­do que será aber­ta ao públi­co neste sába­do (26), em Brasília. A mostra Tra­bal­hadores inau­gu­ra o espaço de exposições tem­porárias do Museu Sesi Lab, coor­de­na­do pelo Serviço Social da Indús­tria (Sesi), da Con­fed­er­ação Nacional da Indús­tria (CNI).

As vivên­cias lab­o­rais em diver­sos seg­men­tos e, tam­bém, os árdu­os proces­sos man­u­ais de pro­dução e os dra­mas soci­ais estão retrata­dos em pre­to e bran­co, em 150 ima­gens cap­turadas por Sal­ga­do, em via­gens real­izadas em seis anos, de 1986 a 1992, em pro­je­to de reg­istros de mão de obra ao redor do plan­e­ta.

Brasília (DF), 24/08/2023 - O museu interativo SESI Lab promove a exposição Trabalhadores, de Sebastião Salgado. Construída a partir de viagens realizadas entre 1986 e 1992, Trabalhadores oferece uma espécie de arqueologia visual da Revolução Industrial, período em que o trabalho manual foi o eixo central da vivência de mulheres e homens pelo mundo. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: Museu inter­a­ti­vo Sesi Lab abre ao públi­co a exposição Tra­bal­hadores, de Sebastião Sal­ga­do — Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Com 79 anos, Sebastião Sal­ga­do é nasci­do em Minas Gerais e rad­i­ca­do em Paris des­de 1973. Ele expli­ca que essas fotografias são uma espé­cie de inves­ti­gação visu­al da sociedade que foi fru­to da Rev­olução Indus­tri­al, perío­do em que o tra­bal­ho man­u­al foi cen­tro da vida de diver­sas pes­soas pelo mun­do, segun­do ele.

No entan­to, o fotó­grafo entende que hou­ve uma mudança na orga­ni­za­ção social do tra­bal­ho, impul­sion­a­da pela inter­venção da tec­nolo­gia e da infor­máti­ca, com a autom­a­ti­za­ção de maquinários e de proces­sos e, con­se­quente­mente, a redução de mão de obra.

“Nesse pro­je­to, quis doc­u­men­tar o fim da primeira grande rev­olução indus­tri­al, na qual o tra­bal­ho era extrema­mente impor­tante. Durante seis anos, via­jei pelo mun­do em bus­ca da pre­sença da mão humana e na pro­dução. Máquinas inteligentes estavam chegan­do às lin­has de pro­dução. Os com­puta­dores e a robo­t­i­za­ção estavam começan­do a sub­sti­tuir a força do tra­bal­ho” obser­vou Sal­ga­do.

Exposição fotográfica

A exposição Tra­bal­hadores con­tou com a curado­ria e design da pro­du­to­ra grá­fi­ca Lélia Wan­ick Sal­ga­do, esposa do fotó­grafo e par­ceira dele nos pro­je­tos. A mostra fotográ­fi­ca de Brasília está igual­mente estru­tu­ra­da como no livro Tra­bal­hadores, uma Arque­olo­gia na Era Indus­tri­al. Lélia tam­bém a divid­iu em seis capí­tu­los.

Nos corre­dores da exposição, a plu­ral­i­dade de ima­gens ilus­tra roti­nas duras de tra­bal­ho na agri­cul­tura, nas minas e nas indús­trias. Cada foto, com ilu­mi­nação, ângu­lo e vari­ações de cin­za, pre­to e bran­co, rev­ela o mun­do do tra­bal­ho, sob a óti­ca de Sebastião Sal­ga­do.

No Brasil, par­tic­u­lar­mente, Sebastião Sal­ga­do con­gelou no tem­po uma mul­ti­dão de garimpeiros de Ser­ra Pela­da, na Ser­ra dos Cara­jás, no Pará, que se amon­toavam em escadas de madeira, com car­rega­men­tos de até 65 qui­los, nas costas. O maior garim­po do país foi ofi­cial­mente fecha­do em 1992 e deixou uma crat­era com 80 met­ros de pro­fun­di­dade e um lago poluí­do com mer­cúrio.

Brasília (DF), 24/08/2023 - O museu interativo SESI Lab promove a exposição Trabalhadores, de Sebastião Salgado. Construída a partir de viagens realizadas entre 1986 e 1992, Trabalhadores oferece uma espécie de arqueologia visual da Revolução Industrial, período em que o trabalho manual foi o eixo central da vivência de mulheres e homens pelo mundo. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: Exposição Tra­bal­hadores reúne ima­gens cap­tadas por Sebastião Sal­ga­do em via­gens ao lon­go de seis anos — Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Out­ra ativi­dade do país ampla­mente doc­u­men­ta­da por Sebastião Sal­ga­do foi a de tra­bal­hadores rurais de plan­tações de cana-de-açú­car, em tem­pos do ProÁl­cool, pro­gra­ma do gov­er­no brasileiro de incen­ti­vo à pro­dução de álcool com­bustív­el, o etanol, para abastec­i­men­to de veícu­los nacionais.

Além das fron­teiras brasileiras, estão retrata­dos, entre out­ros ofí­cios, o plan­tio de taba­co, em Cuba; a col­hei­ta de fol­has para chá, em Ruan­da; a con­strução de navios, no estaleiro de Gdan­sk, Polô­nia; a reci­clagem de metais de navios des­man­te­la­dos, em Bangladesh; a fab­ri­cação de car­ros, na Ucrâ­nia, e de bici­cle­tas, na Chi­na; a extração de enx­ofre por operários intox­i­ca­dos em um vul­cão na ilha de Java, na Indonésia; a explo­ração de minas de carvão na Índia, por ordem da Inglater­ra; o com­bate a incên­dios em poços de petróleo no Kuwait; a pesca de atum na Sicília, na Itália; e a siderur­gia na cidade por­tuária de Dunkerque, na França; e muitas out­ras ativi­dades, em diver­sos des­ti­nos per­cor­ri­dos pelo Sebastião Sal­ga­do.

Para o profis­sion­al das câmeras, mais do que uma exposição fotográ­fi­ca, a mostra é uma hom­e­nagem a todos os tra­bal­hadores.

“Eu tin­ha que prestar hom­e­nagem a esse tra­bal­ho que esta­va em meu coração, que era a razão de meu ativis­mo políti­co e do que acred­i­ta­va ser o mun­do da pro­dução. Real­izei esse pro­je­to com imen­so praz­er e orgul­ho por faz­er parte dessa espé­cie de con­stru­tores, ape­sar, claro das condições muitas vezes difí­ceis e desumanas em que o tra­bal­ho era real­iza­do. É uma ale­gria poder voltar a apre­sen­tar este tra­bal­ho fotográ­fi­co no Brasil, e uma hon­ra ser primeiro artista expor na gale­ria exposições do Museu Sesi Lab, em Brasília” ressaltou Sebastião Sal­ga­do.

Contemporaneidade

A exposição que chega a Brasília neste fim de sem­ana já pas­sou por 78 endereços pelo mun­do. No Brasil, as primeiras mon­ta­gens foram simultâneas, em 1994, no Museu de Arte de São Paulo (MASP) e no Museu de Arte Mod­er­na (MAM), no Rio de Janeiro. A Tra­bal­hadores ain­da pas­sou por Curiti­ba (PR) e a últi­ma vez que os tra­bal­hos foram apre­sen­ta­dos no país foi na sede da Itaipu Bina­cional, em Foz do Iguaçu (PR), em 2014.

Brasília (DF), 24/08/2023 - O arquiteto e coordenador-geral das exposições de Sebastião Salgado no Brasil, Álvaro Razuk, fala sobre a exposição Trabalhadores, que está em cartaz no museu interativo SESI Lab. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: O arquite­to e coor­de­nador-ger­al das exposições de Sebastião Sal­ga­do no Brasil, Álvaro Razuk, fala sobre a exposição Tra­bal­hadores, em car­taz no museu inter­a­ti­vo Sesi Lab — Marce­lo Camargo/Agência Brasil

O arquite­to e coor­de­nador-ger­al da exposição Tra­bal­hadores, Álvaro Razuk, inter­pre­ta que a exposição con­tin­ua atu­al, mes­mo após cer­ca de 30 anos dos reg­istros fotográ­fi­cos de Sal­ga­do e quase uma déca­da depois de ter sido vista pelo públi­co brasileiro.

“Essas fotos con­tin­u­am atu­ais, jus­ta­mente, porque esse prob­le­ma não se extin­guiu. Existe muito tra­bal­ho pre­cariza­do, ain­da, no mun­do. A toda hora, con­tin­u­amos ven­do notí­cias de tra­bal­ho anál­o­go à escravidão, aqui no Brasil, tam­bém”, declara o arquite­to.

Para Razuk, os tra­bal­hos das lentes do fotó­grafo servem como doc­u­men­tos impor­tantes de pesquisa. “Por um lado, eu espero que essa exposição se desat­u­al­ize, mas, ao mes­mo tem­po, a [mostra] Tra­bal­hadores vai ser impor­tante como um rela­to históri­co. Acho que o tra­bal­ho do Sebastião tem um pouco da for­mação dele, no jor­nal­is­mo, como ele pen­sa, como ele fala em suas reporta­gens. Então, eu acho que esse acer­vo todo vai ter importân­cia de memória e de doc­u­men­tação.”

Educação

O fotó­grafo Sebastião Sal­ga­do foi con­vi­da­do a mon­tar Tra­bal­hadores no espaço de exposições tem­porárias do Museu Sesi Lab, pelo Sesi e pelo Serviço Nacional de Apren­diza­gem Indus­tri­al (Senai), ambos da CNI, por ofer­e­cer exper­iên­cias que naveg­am nos cam­pos da arte, ciên­cia e tec­nolo­gia, de acor­do com a ger­ente exec­u­ti­va de Cul­tura do Sesi, Cláu­dia Ramal­ho.

Clau­dia com­ple­men­tou dizen­do que a natureza da exposição está em conexão com O Futuro das Profis­sões, tema anu­al do Sesi Lab, em 2023. O espaço está em fun­ciona­men­to des­de novem­bro de 2022 e foi inspi­ra­do no Explorato­ri­um, um museu de ciên­cia, tec­nolo­gia e artes em San Fran­cis­co, Cal­ifór­nia, nos Esta­dos Unidos.

Para Claú­dia Ramal­ho, o Sesi Lab é um espaço que tem a mis­são de edu­car e atiçar o vis­i­tante a refle­tir acer­ca de questões soci­ais e a nova exposição con­tribui para isso. “Nos­so obje­ti­vo é traz­er essa dis­cussão sobre o mun­do do tra­bal­ho e, prin­ci­pal­mente, rela­ciona­do às profis­sões, à indús­tria 4.0. Vamos traz­er con­teú­dos para que a pop­u­lação perce­ba e com­preen­da a importân­cia do desen­volvi­men­to de com­petên­cias pes­soais, soci­ais, pro­du­ti­vas, e, sobre­tu­do, para que ess­es jovens este­jam aptos a essas profis­sões que a gente ain­da não sabe que vão exi­s­tir daqui a dez anos, por exem­p­lo. E qual é a com­petên­cia mais impor­tante? É a edu­cação e é por isso que a gente abor­da a temáti­ca de uma for­ma lúdi­ca.”

O público

A exposição Tra­bal­hadores é des­ti­na­da ao grande públi­co e foi mon­ta­da, na cap­i­tal fed­er­al, para ser vista por tra­bal­hadores, estu­dantes, acadêmi­cos, e não somente por fotó­grafos profis­sion­ais e os inter­es­sa­dos em fotografia.

Brasília (DF), 24/08/2023 - O museu interativo SESI Lab promove a exposição Trabalhadores, de Sebastião Salgado. Construída a partir de viagens realizadas entre 1986 e 1992, Trabalhadores oferece uma espécie de arqueologia visual da Revolução Industrial, período em que o trabalho manual foi o eixo central da vivência de mulheres e homens pelo mundo. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: Exposição Tra­bal­hadores fica aber­ta ao públi­co em Brasília até 28 de janeiro de 2024 — Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Com a exper­iên­cia, os vis­i­tantes poderão com­preen­der a importân­cia do tra­bal­hador e val­orizar a neces­si­dade de dig­nidade e mel­hores remu­ner­ações. As vis­i­tas poderão ser guiadas por profis­sion­ais que estu­daram o enre­do de cada imagem expos­ta.

Na aber­tu­ra ofi­cial da exposição fotográ­fi­ca, neste sába­do (26), às 15h, será exibido o doc­u­men­tário O Sal da Ter­ra, dirigi­do pelo alemão Wim Wen­ders e o brasileiro Juliano Sal­ga­do, fil­ho de Sebastião Sal­ga­do. O filme é sobre a tra­jetória deste artista, seus tra­bal­hos pre­mi­a­dos e o Insti­tu­to Ter­ra, fun­da­do pelo casal Lélia Wan­ick e Sebastião Sal­ga­do, em 1998. O lon­ga de uma hora e 50 min­u­tos de duração con­cor­reu, em 2015, à estat­ue­ta do Oscar, na cat­e­go­ria de mel­hor doc­u­men­tário. Após a exibição da obra, o dire­tor Juliano Sal­ga­do con­ver­sará com o públi­co do Museu Sesi Lab.

Novo projeto

Antes da aber­tu­ra ofi­cial da mostra Tra­bal­hadores, o arquite­to das exposições de Sebastião Sal­ga­do, Álvaro Razuk, adiantou que está sendo nego­ci­a­do o retorno ao Brasil da nova exposição fotográ­fi­ca de Sebastião Sal­ga­do no pro­je­to Amazô­nia, ide­al­iza­da pela curado­ra das ima­gens, Lélia Wan­ick Sal­ga­do.

Segun­do Álvaro Razuk, novas edições da exposição Amazô­nia poderão ser agen­dadas para 2024 e, pos­sivel­mente, para novem­bro de 2025, durante a real­iza­ção da 30ª Con­fer­ên­cia da Orga­ni­za­ção das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáti­cas (COP30), em Belém.

A exposição exibirá o resul­ta­do de sete anos de expe­dições fotográ­fi­cas na Amazô­nia brasileira. As fotografias foram feitas por ter­ra, água e ar e retratam a trans­for­mação da Amazô­nia, com degradação da flo­res­ta e fal­ta de pro­teção de ter­ritórios e povos indí­ge­nas.

Em 2022, a exposição já teve edições no Sesc Pom­peia, na cap­i­tal paulista, e no Museu do Aman­hã, no Rio de Janeiro.

Exposição Trabalhadores — Serviço

Perío­do: 26 de agos­to a 28 de janeiro de 2024.

Endereço: Museu Sesi Lab, Setor Cul­tur­al Sul, anti­go Tour­ing Club, ao lado da Rodoviária do Plano Pilo­to;

Horários: de terça a sex­ta-feira, das 9h às 18h; sába­dos, domin­gos e feri­ados, das 10h às 19h;

Ingres­sos: bil­hete­ria do Sesi Lab e pela inter­net;

Val­ores das entradas: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

Edição: Juliana Andrade

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