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Exposição em São Paulo mostra a arte da joalheria africana

Balangandãs são as pistas perseguidas por Nádia Taquary

Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 05/11/2025 — 08:02
São Paulo
São Paulo (SP), 04/11/2025 - Exposição Ona Irin. Foto: Sesc-SP/Divulgação
Repro­dução: © Sesc-SP/­Di­vul­gação
Os balan­gandãs, peças usadas por negras, e com­postas por pin­gentes com rep­re­sen­tações de ele­men­tos do cris­tian­is­mo e religiões de matriz africana, foram as pis­tas perseguidas pela artista baiana Nádia Taquary para con­ce­ber a exposição Ònà Irin: cam­in­ho de fer­ro, mon­ta­da no Sesc Belen­z­in­ho, em São Paulo. Ao todo, são 22 obras de difer­entes fas­es de sua vida e lin­gua­gens, que hom­e­nageiam o orixá Ogum, o fem­i­ni­no e o sagra­do per­pet­u­a­do por mul­heres. Taquary expli­ca que os balan­gandãs estão rela­ciona­dos ao que se chamou de pecúlio, que nada mais é do que uma ten­ta­ti­va das víti­mas da escravidão de se lib­er­tar e escapar dessa condição. Para jun­tar val­ores sufi­cientes para a alfor­ria, isto é, para deixar de ser cati­vo ou cati­va, eram autor­iza­dos pelos seus sen­hores a somar ao mon­tante doações, lega­dos e her­anças. Tam­bém podi­am aju­dar out­ros escrav­iza­dos a se sal­varem min­i­ma­mente da cru­el engrenagem.

“Não vejo nada lig­a­do a acessório, vejo tudo aqui lig­a­do à história. Até uma pen­ca de balan­gandãs, que você pode pen­sar que é um acessório, nun­ca foi. Foi uma for­ma de pecúlio no próprio cor­po, um cor­po que pre­cisa­va, mes­mo ten­do dono, ser o guardador de sua própria econo­mia, porque não havia uma out­ra pos­si­bil­i­dade, uma con­ta em ban­co”, pon­tu­ou a artista, em entre­vista à Agên­cia Brasil, durante a mon­tagem da exposição.

Sequiosa por repar­tir com o públi­co as elab­o­rações que sur­gi­ram de sua pesquisa sobre joal­he­ria afro-brasileira, ini­ci­a­da em 2010, mate­ri­al­iza o fem­i­ni­no e o divi­no em insta­lações, escul­turas, videoin­sta­lação e obje­tos-escul­turas. Tal qual uma pes­soa que chega ao fim do arco-íris e regres­sa com um pacote valioso, Taquary dis­tribui pelo salão escuro da unidade do Sesc um e out­ro ele­men­tos lam­pe­jantes, suas mul­heres-pás­saros e, o mais impor­tante, a força de quem sobre­vivia ao impos­sív­el.

Os balan­gandãs, tam­bém chama­dos de bal­ançançan, barangandãs, belenguendén e berenguendén, palavras de país­es africanos, que refletem ono­matopeias, eram de ouro e de pra­ta. E eram peças obvi­a­mente lig­adas ao con­tex­to da escravidão no ter­ritório ultra­mari­no de Por­tu­gal que era o Brasil Colô­nia.

São Paulo (SP), 04/11/2025 - Exposição Ona Irin. Foto: Sesc-SP/Divulgação
Repro­dução: Exposição Ona Irin. Foto: Sesc-SP/­Di­vul­gação

Taquary con­ta que quan­do cri­ança seu pai lhe deu de pre­sente um balan­gandã que per­tenceu à sua bisavó, à avó e à mãe. Mas com mais maturi­dade e uma pas­sagem pelo Museu Car­los e Mar­gari­da Cos­ta Pin­to, na Bahia, a artista, fil­ha de uma mãe bran­ca e um pai pre­to, ati­nou para a men­sagem que o balan­gandã gan­ho car­rega­va em matéria de tradição iorubá.

“Eu pude aden­trar essa história, e a par­tir dela, foi um con­tín­uo sobre a pre­sença fem­i­ni­na, o pro­tag­o­nis­mo que reúne para lib­er­tar. Diante de uma sociedade escrav­ocra­ta, sex­ista, essas mul­heres ascen­dem den­tro de um sis­tema com­ple­ta­mente des­fa­voráv­el”, disse.

A artista tam­bém tem sua obra Ìrókó: Árvore Cós­mi­ca na 36ª Bien­al de São Paulo, no Pavil­hão da Bien­al, no Par­que Ibi­ra­puera.

Ape­sar de ter mati­za­do ele­men­tos como tela, aquarela e bar­ro, Taquary seguiu aderindo à sua pre­mis­sa. “O pro­tag­o­nis­mo pre­to na joal­he­ria afro-brasileira está pleno na exposição”, ressalta.

“No caso de toda a joal­he­ria da min­ha obra, ela vem muito com uma refer­ên­cia de opulên­cia, dessa estéti­ca osten­tatória da joal­he­ria africana, do povo akan [habi­tante da Cos­ta do Marfim, Togo e Gana]. No Brasil Colô­nia, era proibido você chamar a atenção do colo para baixo, usa­va-se ape­nas um camafeu, um anel, brin­cos e pente, e você vê nes­sa joal­he­ria uma iden­ti­dade, uma out­ra neces­si­dade de se posi­cionar den­tro dessa estéti­ca”, expli­ca.

Serviço

  • Ònà Irin: cam­in­ho de fer­ro, de Nádia Taquary
  • Local: Sesc Belen­z­in­ho —  Rua Padre Adeli­no, 1000. Belen­z­in­ho — São Paulo
  • Até 22 de fevereiro de 2026
  • De terça a sába­do, das 10h às 21h. Domin­gos e feri­ados, das 10h às 18h
  • Aces­si­bil­i­dade: Ram­pas, ele­vadores, pisos tátil, ban­heiros adap­ta­dos e out­ros equipa­men­tos acessíveis.
  • Clas­si­fi­cação indica­ti­va: livre
  • Entra­da gra­tui­ta
  • Tele­fone: (11) 2076–9700
  • sescsp.org.br/Belenzinho
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