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Exposição mostra olhar de Sebastião Salgado sobre Revolução dos Cravos

Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agência Brasil

Mostra será aberta nesta sexta em São Paulo, junto com outras sete


Publicado em 10/05/2024 — 08:02 Por Elaine Patrícia Cruz — Repórter da Agência Brasil — São Paulo

Naque­le dia 25 de abril de 1974, há 50 anos, Por­tu­gal des­per­tou ao som dos ver­sos Den­tro de ti, ó cidade. O povo é quem mais orde­na. Ter­ra da frater­nidade. Grân­dola, Vila More­na. A canção de José Afon­so, que havia sido proibi­da pela ditadu­ra de António Oliveira Salazar, mar­ca­va o iní­cio da Rev­olução dos Cravos, que resta­b­ele­ceu a democ­ra­cia no país. A canção pode ser ouvi­da em uma das salas do Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo, fazen­do fun­do a uma exposição do fotó­grafo brasileiro Sebastião Sal­ga­do chama­da 50 anos da Rev­olução dos Cravos em Por­tu­gal.

Essa é ape­nas uma das sete exposições fotográ­fi­cas que o museu inau­gu­ra nes­ta sex­ta-feira (10), na cap­i­tal paulista, e que com­põe o even­to já tradi­cional Maio Fotografia no MIS. “A fotografia tem importân­cia enorme na con­strução da comu­ni­cação. E é óbvio que o MIS pre­cisa­va ter este momen­to ded­i­ca­do à fotografia que rep­re­sen­ta, exata­mente dessa janela, a fração de segun­do em que vemos o momen­to acon­te­cer. Esta­mos muito felizes pelo Maio Fotografia no MIS estar voltan­do ao museu”, disse Mar­il­ia Mar­ton, secretária de Cul­tura, Econo­mia e Indús­tria Cria­ti­vas do esta­do de São Paulo.

São Paulo (SP), 09/05/2024 - Mostra 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal, as primeiras fotografias de Sebastião Salgado, com curadoria de Lélia Wanick Salgado, no Museu da Imagem e do Som - MIS. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — Mostra 50 anos da Rev­olução dos Cravos em Por­tu­gal, as primeiras fotografias de Sebastião Sal­ga­do — Foto Rove­na Rosa/Agência Brasil

A curado­ria do even­to é de André Sturm, dire­tor-ger­al do museu. “São sete exposições e o destaque é uma inédi­ta do Sebastião Sal­ga­do. É o primeiro tra­bal­ho que ele fez e que nun­ca tin­ha sido apre­sen­ta­do como exposição. A Rev­olução dos Cravos ocor­reu quan­do a ditadu­ra de Por­tu­gal desmoro­nou. E foi chama­da de Rev­olução dos Cravos porque ocor­reu sem tiros e porque a pop­u­lação deposi­ta­va cravos nos tan­ques. Foi um momen­to de mudança para um proces­so democráti­co. E o Sebastião esta­va lá e cobriu esse proces­so”, disse Sturm.

A mostra traz dezenas de fotos inédi­tas, em pre­to e bran­co, que foram tiradas pelo fotó­grafo brasileiro no iní­cio da car­reira. Naque­le momen­to, ele e sua esposa, Lélia Wan­ick Sal­ga­do, vivi­am exi­la­dos na Europa por causa da ditadu­ra mil­i­tar no Brasil. “Éramos alta­mente lig­a­dos aos gru­pos que lutavam con­tra a ditadu­ra. Tive­mos que sair rápi­do do país, senão seríamos pre­sos e tor­tu­ra­dos”, disse Sal­ga­do em entre­vista nes­sa quin­ta-feira (9).

São Paulo (SP), 09/05/2024 - O fotógrafo Sebastião Salgado fala durante abertura da mostra 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal, com curadoria de Lélia Wanick Salgado, no Museu da Imagem e do Som - MIS. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — O fotó­grafo Sebastião Sal­ga­do fala na aber­tu­ra da mostra 50 anos da Rev­olução dos Cravos em Por­tu­gal — Foto Rove­na Rosa/Agência Brasil

“Nós [ele e Lélia] está­va­mos começan­do a fotografia. Ain­da não tin­ha um ano que eu fazia fotografia e não tin­ha encomen­da de jor­nal nen­hum. Fomos [de Paris, onde vivi­am na época, a Por­tu­gal] por nós mes­mos. Eu não tin­ha din­heiro para com­prar os filmes. Na época, a Lélia tam­bém fazia fotografia”, con­tou. Foi em Por­tu­gal, cobrindo a Rev­olução dos Cravos, que sua car­reira começou. “Por­tu­gal, para nós, foi uma aven­tu­ra colos­sal. Primeiro, uma aven­tu­ra políti­ca, porque par­tic­i­pamos do sis­tema, toda a esquer­da do mun­do inteiro veio para Por­tu­gal que, sendo uma ditadu­ra, tin­ha a pos­si­bil­i­dade de cri­ar um país lib­ertário. Para mim, foi o iní­cio da car­reira de fotó­grafo. Foi em Por­tu­gal que apren­di a con­stru­ir uma história em fotografia”, afir­mou.

Naque­la época, Lélia tam­bém fotografa­va e tin­ha acaba­do de ter o fil­ho Juliano. “Eu fazia fotografia, tam­bém esta­va real­mente enga­ja­da na história de Por­tu­gal. Foi uma coisa mar­avil­hosa a gente ver e viv­er uma tran­sição democráti­ca que ocor­reu na nos­sa lín­gua, enquan­to aqui no Brasil ain­da havia uma ditadu­ra tão ter­rív­el. Eu era a úni­ca fotó­grafa que con­seguia entrar no pátio do Palá­cio com o car­ro porque tin­ha uma cri­anc­in­ha jun­to”, con­tou ela.

Pas­sa­dos 50 anos, Lélia e Sebastião, que sem­pre tra­bal­haram jun­tos, revis­i­taram o mate­r­i­al pro­duzi­do na época para a mostra do MIS. Lélia, por exem­p­lo, é respon­sáv­el pela curado­ria e cenografia da exposição. “A história da nos­sa vida teve sem­pre tudo muito lig­a­do. Nada que acon­te­ceu a gente fez soz­in­ho. Em todos os pro­je­tos, tra­bal­hamos jun­tos, pen­samos jun­tos, fize­mos as pesquisas. O Sebastião ia fotogra­far e eu fica­va lá venden­do as fotos, eu fazia todo o tra­bal­ho que real­mente um fotó­grafo não con­segue faz­er”.

Entre as fotos que são apre­sen­tadas na exposição está a de uma meni­na marchan­do descalça no asfal­to, segui­da de per­to por mais três cri­anças, à frente de um batal­hão de sol­da­dos. Há tam­bém ima­gens de tra­bal­hadores ocu­pan­do fazen­das e retratos de tropas do Exérci­to por­tuguês. Para Sal­ga­do, a mostra reflete sua visão sobre o que se pas­sou em Por­tu­gal naque­le momen­to. “A fotografia é uma coisa muito inter­es­sante. Primeiro porque ela não é obje­ti­va; é pro­fun­da­mente sub­je­ti­va. Não con­ta nen­hu­ma ver­dade, mas a inter­pre­tação de um fato, de uma real­i­dade. Se está acon­te­cen­do algu­ma coisa, min­ha fotografia vai exprim­ir o que está ocor­ren­do, mas segun­do o meu con­tex­to”.

Outras exposições

Além da sala com fotos de Sebastião Sal­ga­do, o MIS está inau­gu­ran­do mais seis exposições, com obras de artis­tas nacionais e inter­na­cionais já con­sagra­dos ou novos tal­en­tos. Entre elas estão Infraver­mel­houma Real­i­dade Ocul­ta – Nova Fotografia, a primeira mostra indi­vid­ual de Bruno Math­ias, 40 anos. “Essa é a min­ha primeira exposição indi­vid­ual. É é uma exper­iên­cia incrív­el, uma real­iza­ção”, disse ele à Agên­cia Brasil.

São Paulo (SP), 09/05/2024 - Mostra Infravermelho, uma realidade oculta do artista Bruno Mathias, com curadoria de André Sturm, no Museu da Imagem e do Som - MIS. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — Mostra Infraver­mel­ho, uma real­i­dade ocul­ta do artista Bruno Math­ias, no Museu da Imagem e do Som — Foto Rove­na Rosa/Agência Brasil

O tra­bal­ho de Math­ias apre­sen­ta fotografias mais exper­i­men­tais. “Sem­pre gostei muito desse tipo de tra­bal­ho, uma maneira nova de faz­er fotografia. Eu sem­pre aproveita­va algu­mas lentes. E acabei con­seguin­do uma câmera, por meio de um ami­go que faz manutenção de equipa­men­tos fotográ­fi­cos, e pedi que ele a con­vertesse para cap­turar o infraver­mel­ho. O que esta­mos ven­do na exposição é algo que não enx­erg­amos [em real­i­dade]”, afir­mou.

Out­ra mostra em car­taz no MIS é Encon­tros, de Thereza Eugê­nia, uma fotó­grafa baiana que reg­istrou, de for­ma ínti­ma, o con­vívio de diver­sos artis­tas brasileiros como Cae­tano Veloso, Gal Cos­ta, Alcione e Rober­to Car­los. “Ela foi morar no Rio de Janeiro, com­prou uma câmera, começou a fotogra­far shows e acabou fican­do bem próx­i­ma dos prin­ci­pais nomes da época. Ela fez até capas de dis­cos. Temos aqui esse basti­dor, de fes­tas, encon­tros e casas das pes­soas”, expli­cou Sturm.

São Paulo (SP), 09/05/2024 - Mostra Encontros da fotógrafa Thereza Eugênia, com curadoria de André Sturm, no Museu da Imagem e do Som - MIS. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — Mostra Encon­tros da fotó­grafa Thereza Eugê­nia, no Museu da Imagem e do Som — Foto Rove­na Rosa/Agência Brasil

Há tam­bém a mostra 10 anos de Guer­ras sem Fim, de Gabriel Chaim, expe­ri­ente foto­jor­nal­ista paraense que cobriu diver­sas guer­ras e apre­sen­ta o reg­istro dos seus últi­mos dez anos na lin­ha de frente. “Essa exposição mostra para a sociedade o quan­to existe um uni­ver­so para­le­lo acon­te­cen­do. É uma humanidade gri­tan­do por socor­ro ou que foge de guer­ras, se tor­nan­do refu­gia­dos. Há cidades sendo bom­bardeadas e destruí­das”, con­tou Chaim, em entre­vista à Agên­cia Brasil e à TV Brasil. “Isso mostra como é dev­as­ta­do­ra uma guer­ra”.

As out­ras exposições são Mul­heres na Frente e por Trás das Câmeras, do Acer­vo MIS, que reúne tra­bal­hos de qua­tro fotó­grafas enga­jadas e com difer­entes per­spec­ti­vas por trás das lentes; Como a História foi Con­ta­da, da Coleção Allan Porter, que traz ima­gens icôni­cas do sécu­lo 20, como as fotos da Guer­ra do Viet­nã; e Uma Rua Chama­da Cin­e­ma, de Ser­gio Poroger, que apre­sen­ta ima­gens de cin­e­mas de rua que fecharam ou que resistem no Brasil e no mun­do. “São exposições bem vari­adas, mas que tem um caráter doc­u­men­tal”, disse Sturm.

São Paulo (SP), 09/05/2024 - Coleção Allan Porter no Maio Fotografia no MIS, com curadoria de André Sturm, no Museu da Imagem e do Som - MIS. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — Coleção Allan Porter no Maio Fotografia, no Museu da Imagem e do Som — Foto Rove­na Rosa/Agência Brasil

A pro­gra­mação inclui ain­da lança­men­tos de livros, mostras para­le­las, con­ver­sas com artis­tas, cur­sos e diver­sas ativi­dades rela­cionadas ao mun­do da fotografia.

Mais infor­mações sobre o Maio Fotografia no MIS podem ser encon­tradas no site do museu. A entra­da é gra­tui­ta às terças-feiras e tam­bém na ter­ceira quar­ta-feira do mês.

Edição: Graça Adju­to

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