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Exposição mostra perseguição à comunidade LGBTQIA+ durante ditadura

Mostra Vidas Dissidentes é lançada hoje no no Memorial da Resistência

Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 07/06/2025 — 16:07
São Paulo
bandeira lgbt
Repro­dução: © Arqui­vo Agên­cia Brasil

Insti­tu­to Vladimir Her­zog, o Acer­vo Bajubá e o Arqui­vo Lés­bi­co Brasileiro (ALB) lançam neste sába­do (7), no Memo­r­i­al da Resistên­cia de São Paulo, a exposição vir­tu­al “Vidas Dis­si­dentes em Ditadu­ra – Repressão, Imag­inário Social e Cotid­i­ano”. A mostra retra­ta tan­to a perseguição à comu­nidade LGBTQIA+ durante a ditadu­ra civ­il-mil­i­tar, ini­ci­a­da em 1964 e que durou 21 anos, quan­to as vio­lên­cias que sofre até hoje.

Para­le­la­mente à exposição, está sendo lança­do um pod­cast com o tema. Ambos lev­am o públi­co a con­hecer tam­bém os mecan­is­mos que a mil­itân­cia encon­trou para respon­der e resi­s­tir diante da pressão para obe­de­cer às regras da het­ero­nor­ma­tivi­dade (ideia de que a het­eros­sex­u­al­i­dade é a ori­en­tação sex­u­al nor­mal e cor­re­ta).

Ao todo, são disponi­bi­liza­dos qua­tro episó­dios do pod­cast. O pro­je­to do pro­gra­ma e da exposição con­ta com o apoio da Sec­re­taria Nacional dos Dire­itos das Pes­soas LGBTQIA+, do Min­istério dos Dire­itos Humanos e da Cidada­nia.

A exposição é um atal­ho no aces­so à doc­u­men­tação elab­o­ra­da pela Comis­são Nacional da Ver­dade (CNV). A par­tir dos relatos de sobre­viventes a essas ten­ta­ti­vas de domes­ti­cação, os vis­i­tantes podem saber mais sobre quem, em muitos casos, mor­reu em espaços pri­va­dos, com o cercea­men­to de dire­itos e sob práti­ca de vio­lên­cias.

Uma das for­mas de inten­si­ficar a mar­gin­al­iza­ção das pes­soas LGBTQIA+ foi a rotu­lação de iden­ti­dades de gênero e ori­en­tações sex­u­ais que não se encaix­am no uni­ver­so estre­ito e opres­sor da het­ero­nor­ma­tivi­dade. Ou seja, dis­torcer refer­ên­cias do meio médi­co para jus­ti­ficar as vio­lên­cias que as viti­maram e ain­da viti­mam.

A coor­de­nado­ra exec­u­ti­va da área de Memória, Ver­dade e Justiça do Insti­tu­to Vladimir Her­zog, Lor­rane Rodrigues, obser­va que os depoi­men­tos de víti­mas são fun­da­men­tais para maior com­preen­são de um todo. Até que cheguem ao con­hec­i­men­to públi­co, é necessário ter fina sen­si­bil­i­dade, a fim de evi­tar exposição das víti­mas e mes­mo sua revitimiza­ção, com even­tu­ais abor­da­gens que reforcem as vio­lên­cias sofridas e a estigma­ti­za­ção

“A gente vê que o silên­cio e o medo vão sendo enfrenta­dos, muitas pes­soas dis­si­dentes de sexo e gênero vão encon­tran­do segu­rança para nar­rar e isso tem um impacto imen­so, porque ess­es teste­munhos não são indi­vid­u­ais somente, mas aju­dam a recon­sti­tuir uma memória cole­ti­va que foi invis­i­bi­liza­da”, obser­va.

A rep­re­sen­tante do insti­tu­to afir­ma ain­da que a pre­ocu­pação dos LGBTQIA+ em deixar o máx­i­mo de infor­mações preser­vadas em acer­vos começou cedo, ten­do maior con­sol­i­dação nas décadas de 1970 e 1980. O nív­el de ante­ci­pação nesse sen­ti­do fez da comu­nidade pre­cur­so­ra, o que se pôde con­statar na exposição Histórias LGBTQIA+, do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), que ficou aber­ta ao públi­co até abril deste ano e demon­strou como gru­pos de diver­sos país­es se orga­ni­zaram e se orga­ni­zam para reg­is­trar e doc­u­men­tar exper­iên­cias de opressão.

“Mes­mo em um perío­do de mui­ta repressão, havia pre­ocu­pação inten­sa com o reg­istro. Pub­li­cações, jor­nais, boletins, arti­gos foram sendo pro­duzi­dos por mãos mil­i­tantes, por gru­pos que se for­mavam naque­le momen­to, para ter seus espaços de socia­bil­i­dade, e parte dessa her­ança é o que ali­men­ta acer­vos como o Bajubá e o ALB, que são fun­da­men­tais para que a gente pos­sa pen­sar em pro­je­tos como a exposição e o pod­cast”, afir­ma.

Para a coor­de­nado­ra, existe ain­da, além do silên­cio, mui­ta difi­cul­dade de trans­por “os vazios insti­tu­cionais” e obter ver­ba para sub­sidiar ini­cia­ti­vas como essa. “Há uma resistên­cia muito grande ain­da, quan­do se tra­ta de recon­hecer a vio­lên­cia de Esta­do con­tra as pes­soas LGBTQIA+”, declara.

“Out­ro obstácu­lo impor­tante é o aces­so aos arquiv­os. Arquiv­os são insti­tu­ições de poder. A gente sabe que ess­es espaços escol­hem aqui­lo que vão mostrar e tam­bém que vão omi­tir”, acres­cen­ta Lor­rane, ressaltan­do que a fal­ta de dig­i­tal­iza­ção de cer­tos itens, por exem­p­lo, exige mais empen­ho dos pesquisadores e pode ser inter­pre­ta­da como decisão políti­ca das orga­ni­za­ções.

Uma das for­mas de resti­tu­ição da esper­ança para a mil­itân­cia é saber que vem de lon­ga data a resistên­cia dos LGBTQIA+ através do amor em fas­es de inten­sa caça às bruxas. Lor­rane con­ta que uma das ima­gens mais fortes para ela é uma fotografia que mostra trav­es­tis e trans dançan­do e sor­rindo. “Em um tem­po de perseguição, é uma imagem que fala de vida pul­san­do nesse espaço sub­ter­râ­neo da história ofi­cial.”

Serviço

Lança­men­to da exposição vir­tu­al e do pod­cast Vidas Dis­si­dentes em Ditadu­ra – Repressão, Imag­inário Social e Cotid­i­ano
7 de jun­ho (sába­do), das 14h às 17h

Memo­r­i­al da Resistên­cia de São Paulo | Largo Gen­er­al Osório, 66 – San­ta Ifigê­nia, São Paulo – SP

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