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Exposição no Masp compartilha histórias da comunidade LGBTQIA+

Mostra vai até 13 abril e joga luz nos universos públicos e privados

Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 28/12/2024 — 16:12
São Paulo
São Paulo (SP), 15/10/2024 - Exposição Histórias LGBTQIA+, do Masp, tem 150 obras de artistas brasileiros e estrangeiros e documentos. Foto: Letycia Bond/Agência Brasil
Repro­dução: © Lety­cia Bond/Agência Brasil

Em uma das diver­sas pare­des com o rosa pre­dom­i­nante, a curado­ria da exposição Histórias LGBTQIA+, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), diz que, “emb­o­ra alguns artis­tas da exposição ten­ham mor­ri­do de com­pli­cações lig­adas à aids, há out­ros con­tem­porâ­neos que seguem viven­do com HIV e flo­rescen­do”. A afir­mação deixa implíci­ta a frase: tra­ta-se da comu­nidade LGBTQIA+, que sem­pre sofreu perseguições, que ain­da pre­cisa ir à luta para con­tes­tar a het­ero­nor­ma­tivi­dade, sobre­tu­do pelo estig­ma orig­i­na­do nos anos 1980, quan­do o vírus foi detec­ta­do. Des­de aque­la época, muitas pes­soas asso­ci­am-no a essa parcela pop­u­la­cional.

A exposição procu­ra traduzir tan­to o que se pas­sa em uni­ver­sos pri­v­a­tivos, como o que ocorre quan­do mem­bros da comu­nidade se auto-orga­ni­zam em defe­sa de si mes­mos e de out­ros cor­pos dis­si­dentes que os acom­pan­ham. Ao todo, são 150 obras de artis­tas de diver­sos país­es e itens de acer­vos espe­cial­iza­dos na temáti­ca, como fotografias e recortes de jor­nais.

A exposição fecha o ciclo deste ano, reser­va­do pelo Masp às Histórias da Diver­si­dade LGBTQIA+. Nos meses que ante­ced­er­am sua aber­tu­ra, os vis­i­tantes pud­er­am con­hecer mais sobre as pin­turas do irlandês Fran­cis Bacon, que inscrever­am os efeitos da crim­i­nal­iza­ção da homos­sex­u­al­i­dade na sociedade britâni­ca até 1967, e a as cri­ações do brasileiro Mário de Andrade, cuja ori­en­tação sex­u­al e negri­tude foram apa­gadas por muitos anos.

São Paulo (SP) - 26/12/2024 - v - Foto feita em 15/06/2024 Ato no MASP contra o Projeto de Lei (PL) 1.904/24, que equipara o aborto de gestação acima de 22 semanas ao homicídio. Foto Paulo Pinto/Agencia Brasil
Repro­dução: São Paulo — Ato no MASP con­tra pro­je­to que equipara o abor­to de ges­tação aci­ma de 22 sem­anas ao homicí­dio. Foto Paulo Pinto/Agência Brasil

Em Histórias LGBTQIA+, há tan­ta diver­si­dade de cada uma das letras que com­põem a sigla quan­to var­iedade de platafor­mas. A artista Mayara Fer­rão, por exem­p­lo, uti­liza inteligên­cia arti­fi­cial para con­ce­ber nar­ra­ti­vas lés­bi­cas negras, mas há quem ten­ha preferi­do faz­er um desen­ho dig­i­tal sobre papel ou manip­u­lar um toco de umbu­rana, madeira nobre, para faz­er um autor­re­tra­to nu, exposição cor­po­ral que, nesse con­tex­to, é resistên­cia e tam­bém causa con­vul­são nos con­ser­vadores que ata­cam a comu­nidade.

Há ain­da a neces­si­dade con­stante de que­brar as manil­has que bus­cam con­ter os que con­tes­tam e se refazem, em novas ten­ta­ti­vas de repressão. E eles respon­dem com cor­pos protestos, cor­pos marikas. A artista Elian Chali afir­ma: “Nadie sabe lo que puede un cuer­po que no puede”. O que lem­bra o filó­so­fo Baruch Spin­oza, que ques­tion­a­va “O que pode o cor­po?”.

Em todas as oito seções da exposição, há uma sen­sação de urgên­cia, de mod­os dis­tin­tos. Os núcleos são Amor e dese­jo; Ícones e musas; Espaços e ter­ritórios; Ecos­sex­u­al­i­dades e fan­tasias tran­scen­den­tais; Sagra­do e pro­fano; Abstrações; Arquiv­os; e Bib­liote­ca Cuir.

A curado­ria rev­ela tam­bém as divergên­cias den­tro da comu­nidade LGBTQIA+, como é o caso das fem­i­nistas rad­i­cais (rad­fem), que desprezam as mul­heres trans e as trav­es­tis. O ensaio fotográ­fi­co de Angela Jimenez vem acom­pan­hado de leg­en­da que expli­ca que as mul­heres retratadas for­maram equipes que mon­taram os pal­cos do Michi­gan Wom­yn’s Music Fes­ti­val e que muitas delas eram con­tra a par­tic­i­pação de mul­heres rep­re­sen­tadas pela letra T da sigla da comu­nidade. O fes­ti­val, tradi­cional entre as lés­bi­cas fem­i­nistas dos Esta­dos Unidos, teve sua primeira edição em 1976, mas encer­rou as ativi­dades em 2015, por con­ta dos boicotes que sur­gi­ram como reação à exclusão das trans e trav­es­tis.

Ao mes­mo tem­po que fala de práti­cas como o “ban­heirão”, que é quan­do gays se encon­tram em ban­heiros públi­cos para ter relações sex­u­ais, a exposição tam­bém rev­ela out­ras fac­etas dos LGBTQIA+, fazen­do hom­e­na­gens a mil­i­tantes assas­si­na­dos, como a artista lés­bi­ca Móni­ca Briones Puc­cio, exe­cu­ta­da por mil­itares em 1984. Existe ain­da boa seleção de obras que fun­cionam bem para aten­uar ideias estereoti­padas sobre essas pes­soas.

Entre antropól­o­gos, dis­cute-se o que se resume como fab­ri­cação de cor­pos. No caso dos LGBTQIA+, isso, muitas vezes, cus­ta a sanidade, a família, a paz inte­ri­or de quem pas­sa por desco­bri­men­tos e assunções, sejam essas para si somente, sejam públi­cas.

São Paulo (SP), 15/10/2024 - Exposição Histórias LGBTQIA+, do Masp, tem 150 obras de artistas brasileiros e estrangeiros e documentos. Foto: Letycia Bond/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo — Exposição Histórias LGBTQIA+, no Masp, com 150 obras de artis­tas brasileiros e estrangeiros. Foto Lety­cia Bond/Agência Brasil

Um dos pon­tos que não pas­sam des­perce­bidos é o pro­tag­o­nis­mo do Brasil, mar­ca­do em obje­tos mais sutis e out­ros mais patentes. As letras ade­si­vas que iden­ti­fi­cam as seções são todas holo­grá­fi­cas, o que remete ao arco-íris da comu­nidade, mas tam­bém à Para­da LGBTQIA+ de São Paulo, a maior do mun­do, real­iza­da, inclu­sive, na mes­ma aveni­da onde a exposição está, o que evi­den­cia o for­t­alec­i­men­to da relação entre as mobi­liza­ções soci­ais, na rua, e os espaços muse­ológi­cos. Afi­nal, é na cap­i­tal paulista onde há o Museu da Diver­si­dade Sex­u­al, local­iza­do na Repúbli­ca, e é no Brasil que foi fun­da­do e é man­ti­do um dos úni­cos museus de arte trans do mun­do, o Museu Trans­gênero de História e Arte (Mutha). Isso com o fato de que o Brasil con­tin­ua sendo o país que mais mata trans e trav­es­tis.

A visi­ta à exposição vale muito para con­hecer ini­cia­ti­vas de arquiv­os no exte­ri­or. Uma delas é a Tak­weer, que con­gre­ga histórias queer árabes.

Ao andar pela fileira de doc­u­men­tos e mate­ri­ais dig­i­tal­iza­dos, o vis­i­tante se depara com fig­uras como Rosi­ta Bara­hona, de Hon­duras, mul­her descri­ta como uma dama perigosa. Aparece de cabeça ergui­da no retra­to, posição que se conec­ta com a de out­ras pes­soas iden­ti­fi­cadas na exposição e em palavras de ordem como “Dos bares para as ruas”, “Dos armários para as ruas” e “Gay por natureza, orgul­hoso por opção”.

Serviço

Exposição Histórias LGBTQIA+

De 13 de dezem­bro de 2024 a 13 de abril de 2025

Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp)
Aveni­da Paulista, 1578 – Bela Vista | São Paulo
1º andar, mezani­no e 2º sub­so­lo

Horários: terças grátis e primeira quin­ta-feira do mês grátis; terças, das 10h às 20h (entra­da até as 19h); quar­ta a domin­go, das 10h às 18h (entra­da até as 17h); fecha­do às segun­das.
Agen­da­men­to online obri­gatório no site masp.org.br/ingressos

Ingres­sos: R$ 70 (entra­da); R$ 35 (meia-entra­da)

Todas as exposições tem­porárias do Masp têm recur­sos de aces­si­bil­i­dade, com entra­da gra­tui­ta para pes­soas com defi­ciên­cia e seu acom­pan­hante. São ofer­e­ci­das vis­i­tas em libras ou des­criti­vas, além de tex­tos e leg­en­das em fonte ampli­a­da e pro­duções audio­vi­suais em lin­guagem fácil – com nar­ração, leg­endagem e inter­pre­tação em libras que descrevem e comen­tam os espaços e as obras.

Tele­fone: (11) 3149–5959

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