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Exposição traz fotos de Evandro Teixeira nos 50 anos de golpe no Chile

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Mostra é promovida pela Embaixada do Brasil naquele país


Pub­li­ca­do em 10/09/2023 — 09:15 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Em alusão aos 50 anos de golpe de Esta­do no Chile, o Museu da Memória e dos Dire­itos Humanos de San­ti­a­go abre exposição, neste domin­go (10), do fotó­grafo brasileiro Evan­dro Teix­eira sobre a ditadu­ra chile­na e a morte de Pablo Neru­da.

A mostra é uma real­iza­ção da Embaix­a­da do Brasil no Chile e apre­sen­ta cer­ca de 40 fotos que inte­gram a exposição de Evan­dro Teix­eira, con­sid­er­a­do um dos maiores nomes do foto­jor­nal­is­mo brasileiro, aber­ta no últi­mo dia 30 de agos­to, no Cen­tro Cul­tur­al Ban­co do Brasil no Rio de Janeiro (CCBB RJ). Teix­eira foi o primeiro fotó­grafo do mun­do a cap­tar o falec­i­men­to de Pablo Neru­da, cujo velório e enter­ro foram o mar­co ini­cial de resistên­cia ao regime dita­to­r­i­al instau­ra­do naque­le país pelo gen­er­al Augus­to Pinochet.

A exposição traz reg­istros inédi­tos no país das prisões políti­cas no Está­dio Nacional e da destru­ição do Pala­cio de La Mon­e­da. Evan­dro Teix­eira, 87 anos, já se encon­tra no Chile, para onde via­jou na sex­ta-feira (8). Par­tic­i­pam da aber­tu­ra da mostra autori­dades do Brasil e do Chile e de out­ros país­es sul-amer­i­canos, além de inte­grantes da car­a­vana Viva Chile, de ex-exi­la­dos brasileiros no ter­ritório chileno.

Rio de Janeiro (RJ), 30/08/2023 -O fotojornalista Evandro Teixeira na exposição “Evandro Teixeira. Chile, 1973” , no Centro Cultural Banco do Brasil(CCBB). Além dos registros feitos no Chile, a exposição traz imagens produzidas por Evandro durante a ditadura civil-militar brasileira, em um diálogo entre os contextos históricos dos dois países. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: O foto­jor­nal­ista Evan­dro Teix­eira na exposição “Evan­dro Teix­eira. Chile, 1973”, no Brasil — Tânia Rêgo/Agência Brasil

Para Evan­dro, a exposição Fotope­ri­odis­mo y dic­tadu­ra: Brasil 1964 / Chile 1973 é uma defe­sa apaixon­a­da da democ­ra­cia. “As min­has fotografias apre­sen­tadas na exposição eternizam um capí­tu­lo tene­broso da história do Brasil e do Chile. Mas, ao con­tar essa história, con­seguimos ren­o­var a necessária memória sobre o que é, de fato, uma ditadu­ra e seus hor­rores. Min­ha for­ma de enfrenta­men­to à ditadu­ra sem­pre foi através das min­has fotografias. E para eu con­seguir os cliques, a min­ha ati­tude pre­cisa­va ser disc­re­ta e esper­ta. Eu evi­ta­va o con­fron­to dire­to, fin­gia seguir as regras, tudo para con­seguir as ima­gens que que­ria. Min­ha arma con­tra a ditadu­ra foi a min­ha Leica M3”, afir­mou o profis­sion­al das lentes.

Sobre a cober­tu­ra no Chile, Evan­do expli­cou que não chegou ao país no dia 11 de setem­bro, porque ficou deti­do na fron­teira com a Argenti­na durante três dias, jun­to com jor­nal­is­tas inter­na­cionais. “Ninguém podia entrar no Chile. Eu car­rega­va um lab­o­ratório portátil comi­go e, assim, pude enviar a foto da fron­teira fecha­da para o Jor­nal do Brasil. Depois de três dias, peguei carona em um avião da Cruz Ver­mel­ha Brasileira que saía de Buenos Aires até San­ti­a­go do Chile. Chegan­do na cap­i­tal chile­na, fiquei hospeda­do no Hotel Car­rera, em frente ao Pala­cio La Mon­e­da”.

Neruda

No ter­raço do hotel, Evan­dro soube que Pablo Neru­da esta­va sendo trans­feri­do da Isla Negra para a Clin­i­ca San­ta Maria. “Fui para o hos­pi­tal, con­segui a con­fir­mação do dire­tor sobre a inter­nação do poeta, mas ele não me autor­i­zou ir até o quar­to. Às 22h, liguei para o hos­pi­tal e soube pelo dire­tor que Neru­da havia fale­ci­do min­u­tos antes. Na man­hã seguinte, assim que acabou o toque de recol­her, par­ti para a clíni­ca, deci­di­do a con­seguir faz­er uma foto do Neru­da. Claro que ninguém podia entrar, a clíni­ca esta­va cer­ca­da de sol­da­dos. E eu com a min­ha Leica, de novo escon­di­da debaixo da camisa, e com filmes no bol­so, jus­ta­mente para não car­regar aque­la bol­sa que iden­ti­fi­ca­va mais facil­mente os foto­jor­nal­is­tas. Só pen­sa­va em como faz­er para entrar, enquan­to cir­cula­va em torno do pré­dio da clíni­ca. Eis que, de repente, uma por­ta estre­i­ta em uma lat­er­al se abriu e eu não pen­sei duas vezes, sim­ples­mente entrei e já fiz a primeira foto ao me deparar com o cor­po de Neru­da numa maca ao lado da viú­va Matilde.”

Após faz­er o primeiro fotogra­ma, Evan­dro se dirigiu a Matilde, iden­ti­f­i­can­do-se como fotó­grafo brasileiro ami­go do escritor Jorge Ama­do, com quem Neru­da tin­ha laços estre­itos. “Ela, assus­ta­da, me respon­deu de pron­to: “Meu fil­ho, sua pre­sença aqui é muito impor­tante, fique conosco”.

Claro que a importân­cia não era do Evan­dro, e sim, de um foto­jor­nal­ista estrangeiro reg­is­tran­do tudo o que esta­va acon­te­cen­do ali den­tro. E assim seguimos sendo eu o úni­co foto­jor­nal­ista fazen­do todo o reg­istro da preparação do cor­po den­tro da clíni­ca e, depois, do seu trasla­do para La Chas­cona, no car­ro jun­to com Dona Matilde. O nos­so car­ro seguia o da funerária que trans­porta­va o cor­po de Neru­da.

A todo tem­po eu me per­gun­ta­va: estou soz­in­ho aqui, a história acon­te­cen­do na min­ha frente e eu sendo o úni­co foto­jor­nal­ista a reg­is­trar isso? Chegan­do na casa, fomos sur­preen­di­dos com um cenário des­o­lador. Aque­le ria­cho que havia antes tornara-se um rio, porque os sol­da­dos que­braram a repre­sa do alto do ter­reno, e pre­cisamos impro­vis­ar uma ponte de madeira para pas­sagem do cor­po e das pes­soas até a casa. Den­tro do imóv­el, tudo destruí­do, e foi nesse ambi­ente que acon­te­ceu o velório com poucos ami­gos e ain­da sem ninguém da impren­sa, ape­nas eu”.

Evan­dro lem­bra que, no dia seguinte, pela man­hã, a comi­ti­va se dirigiu ao cemitério, onde começou a jun­tar uma mul­ti­dão e toda a impren­sa, à medi­da em que a notí­cia do enter­ro foi sendo divul­ga­da. “O Exérci­to acom­pan­hou todo o tra­je­to e cer­cou o cemitério, o temor de um mas­sacre ali era enorme, mas acred­i­to que não ten­ha acon­te­ci­do pela pre­sença maciça da impren­sa inter­na­cional. O momen­to do enter­ro foi de forte emoção tam­bém e eu não con­segui mais segu­rar as lágri­mas. Mas elas não me impedi­ram de seguir fotografan­do, porque sabia da importân­cia históri­ca daque­le momen­to”.

Rio de Janeiro (RJ), 30/08/2023 - Exposição “Evandro Teixeira. Chile, 1973” , no Centro Cultural Banco do Brasil(CCBB). Além dos registros feitos no Chile, a exposição traz imagens produzidas por Evandro durante a ditadura civil-militar brasileira, em um diálogo entre os contextos históricos dos dois países. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Exposição “Evan­dro Teix­eira. Chile, 1973” foi apre­sen­ta­da tam­bém no Cen­tro Cul­tur­al Ban­co do Brasil. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Nos porões da ditadura

O depoi­men­to de Evan­dro Teix­eira foi dis­tribuí­do por sua fil­ha Cari­na Almei­da. Sobre o reg­istro exclu­si­vo dos pre­sos no porão do Está­dio Nacional, Evan­dro rela­ta que a impren­sa inter­na­cional ques­tio­nou os mil­itares chilenos sobre tor­tu­ra e maus tratos dos pre­sos políti­cos.

“Os mil­itares, então, con­vi­daram a impren­sa a ir ao Está­dio Nacional para refu­tar o ques­tion­a­men­to. No dia seguinte, nos enviaram em um ônibus fre­ta­do até o Está­dio Nacional. Chegan­do lá, os mil­itares dis­cur­saram e nos apre­sen­taram a um grupo de pre­sos nas arquiban­cadas, que estavam suposta­mente sendo bem trata­dos. Porém, eu con­hecia o Está­dio Nacional na pal­ma da mão, porque havia cober­to lá a Copa do Mun­do de Fute­bol, real­iza­da anos antes no Chile”

Evan­dro então se sep­a­rou do grupo e andou pelo Está­dio por alguns min­u­tos com a Leica escon­di­da no colete. “Mirei a esca­da que dava nos vestiários no sub­so­lo e desci. Lá me deparei com os ver­dadeiros pre­sos políti­cos no porão. Alguns atrás de grades, out­ros sendo revis­ta­dos com ros­to para parede, out­ros sendo empurra­dos com vio­lên­cia para uma out­ra sala. Só tive tem­po de reg­is­trar alguns cliques e subir a esca­da. Foi chocante ver essa real­i­dade. Cheguei ao hotel, não con­seguia lig­ação para o Brasil, e ape­nas uma úni­ca foto eu con­segui trans­mi­tir pela tele-foto. E essa foto mostran­do os pre­sos atrás das grades foi pub­li­ca­da no Jor­nal do Brasil na primeira pági­na, jogan­do por ter­ra a farsa mon­ta­da pelo gov­er­no Pinochet no Está­dio Nacional”.

Parceria

A ida da mostra de fotos de Teix­eira a San­ti­a­go resul­ta de parce­ria entre o Min­istério das Relações Exte­ri­ores, o Min­istério da Cul­tura e o Insti­tu­to Mor­eira Salles. Para o embaix­ador do Brasil no Chile, Paulo Rober­to Soares Pacheco, a exposição reg­is­tra ˜de maneira orig­i­nal e, ao mes­mo tem­po, pun­gente, os vín­cu­los entre as rup­turas democráti­cas no Brasil e no Chile, bem como a importân­cia dos laços inter­pes­soais nes­sa situ­ação lim­ite, como pro­va da resistên­cia das respec­ti­vas sociedades”.

Essa é con­sid­er­a­da a maior ativi­dade pro­movi­da pelo gov­er­no brasileiro nas comem­o­rações dos 50 anos do golpe de esta­do de 1973, no Chile. Evan­dro via­jou ao país em setem­bro de 1973, no dia seguinte ao golpe mil­i­tar do dia 11, que lev­ou à morte do pres­i­dente eleito Sal­vador Allende. O fotó­grafo foi como cor­re­spon­dente do Jor­nal do Brasil, acom­pan­hado pelo repórter Paulo Cesar de Araújo.

A exposição ficará aber­ta de 10 de setem­bro a 15 de out­ubro, com vis­i­tação fran­quea­da ao públi­co de terça-feira a domin­go, das 10h às 18h. (Alana Gan­dra)

Edição: Maria Clau­dia

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