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Exposição traz o Pará a partir do olhar do fotógrafo Luiz Braga

Mostra em SP exibe 190 imagens inéditas do artista paraense

Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 27/04/2025 — 16:01
São Paulo
São Paulo (SP), 16/04/2025 - Instituto Moreira Salles apresenta exposição do fotógrafo paraense Luiz Braga (Belém, PA, 1956), percorrendo 50 anos de carreira. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

Em um perío­do quan­do a fotografia era analóg­i­ca e os proces­sos de cap­tura e rev­e­lação eram lon­gos e caros, quan­tas fotos uma pes­soa era capaz de acu­mu­lar, ao lon­go de cin­co décadas? No caso do fotó­grafo paraense Luiz Bra­ga, o baú tem uma abundân­cia de cores e intim­i­dade entre ele e as pes­soas retratadas.

Essa é uma das sen­sações provo­cadas pela exposição Arquipéla­go Imag­inário, no Insti­tu­to Mor­eira Salles (IMS), em São Paulo, que exibe 258 fotografias, sendo 190 delas inédi­tas do fotó­grafo.

“O que está lá é, antes de tudo, uma grande man­i­fes­tação de afe­to por essas pes­soas e ess­es lugares”, sin­te­ti­za Bra­ga, desta­can­do que teve con­ta­to com muitos dos fotografa­dos não ape­nas um par de vezes, mas dezenas, o que o per­mi­tiu clicá-los em difer­entes cir­cun­stân­cias.

A ver­dade é que Bra­ga descom­plex­i­fi­ca uma série de den­sos mel­ho­ra­men­tos, tan­to na via téc­ni­ca como na rela­cional. Ele gan­ha­va din­heiro com o tra­bal­ho e, depois que con­sum­ia uma parte para garan­tir o sus­ten­to, usa­va o restante para con­tin­uar tiran­do fotos.

Essas não com­er­ci­ais e que fazia por con­tenta­men­to e como exer­cí­cio de sen­si­bil­i­dade. Isto é, fazia as fotos sem nen­hum incen­ti­vo ou apoio finan­ceiros.

“Não foi encomen­da, não tin­ha uma pau­ta. Foi somente para me expres­sar, me enx­er­gar no mun­do e me rela­cionar com o out­ro”, esclarece.

Luiz Bra­ga ini­ciou a car­reira em 1975, com fotos em pre­to e bran­co, fazen­do uma tran­sição para as col­ori­das em 1980. O con­jun­to no espaço do IMS é, segun­do ele, mais do que um pun­hado de reg­istros, pois o públi­co se depara com algo que “extrap­o­la o reg­istro”.

Bra­ga comen­ta, ain­da, que, mes­mo já gozan­do de cer­to prestí­gio no mer­ca­do de fotografia, decid­iu parar de aumen­tar o port­fólio, o que recon­hece ter sido “uma apos­ta arrisca­da”. A mudança de ven­tos que veio em segui­da acabou favore­cen­do a fotografia, amplian­do ain­da mais sua pop­u­lar­i­dade.

São Paulo (SP), 16/04/2025 - Instituto Moreira Salles apresenta exposição do fotógrafo paraense Luiz Braga (Belém, PA, 1956), percorrendo 50 anos de carreira. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo (SP), 16/04/2025 — Insti­tu­to Mor­eira Salles apre­sen­ta exposição do fotó­grafo paraense Luiz Bra­ga, per­cor­ren­do 50 anos de car­reira. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Com isso, o paraense pas­sou a out­ro está­gio, começou a viv­er da fotografia autoral, com estatu­to pleno de arte.

Atual­mente, o que lhe inter­es­sa é o domínio da téc­ni­ca na manip­u­lação do que é ou não real, provo­can­do um estran­hamen­to no espec­ta­dor.

“As ima­gens que estão na sessão Nightvi­sion — Mapa do Éden mostram que você pode, sim, fab­u­lar des­de que você use a téc­ni­ca para, mes­mo plas­ma­da na real­i­dade, cri­ar um out­ro lugar”, pon­tua.

Nes­sa sessão, a ambi­en­tação fica “entre o verde mil­i­tar e as nuances de som­bras, na qual a ficção das cores abre espaço para a inven­tivi­dade nar­ra­ti­va: o sur­re­al­is­mo como recusa aos estereóti­pos sobre o ter­ritório”.

Além do Nightvi­sion, há os núcleos O out­ro, o alheio, Ter­ritórios e per­tenci­men­tos — o Norte, Arquite­tu­ra da intim­i­dadeAfaz­eres e tra­bal­hosSin­tax­es pop­u­laresO retra­toO antir­re­tra­to O Mara­jó.

Para com­por a exposição, um que­bra-cabeças do Pará sob a óti­ca de Bra­ga, foi fei­ta uma curado­ria, que durou um ano.

Bitu Cas­sundé, que for­ma a equipe com Maria Luiza Menezes, disse à Agên­cia Brasil que a orga­ni­za­ção do arqui­vo de Bra­ga facil­i­tou muito sua tare­fa.

“Não me inter­es­sa­va pen­sar em uma cronolo­gia de Luiz Bra­ga. Sem­pre pen­sei na exposição den­tro de uma natureza mais orgâni­ca, em que os tem­pos pudessem se entre­cruzar. Então, em deter­mi­na­da sala, você encon­tra fotos de difer­entes perío­dos, tan­to em pre­to e bran­co quan­to col­ori­das”, ressalta Cas­sundé.

Para o curador, a ênfase que Bra­ga dá ao seu ter­ritório — onde, diz ele, nasceu, vive e irá per­manecer até sua morte — era um ele­men­to que jamais pode­ria ser igno­ra­do.S

São Paulo (SP), 16/04/2025 - Instituto Moreira Salles apresenta exposição do fotógrafo paraense Luiz Braga (Belém, PA, 1956), percorrendo 50 anos de carreira. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: São Paulo (SP), 16/04/2025 — Exposição Arquipéla­go Imag­inário. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Out­ro pon­to recor­rente foram os fotografa­dos de costas, que podem ser vis­tos na for­ma do que Cas­sundé nomeou como antir­re­tratos.

Luiz Bra­ga diz que se orgul­ha pro­fun­da­mente das cri­ações que pro­duz­iu ao lon­go da car­reira e, ao mes­mo tem­po, lamen­ta a fal­ta de recon­hec­i­men­to e conexão da maio­r­ia das pes­soas com a Amazô­nia. Ele rela­ta que já viu diver­sas vezes feições de excla­mações quan­do acham que suas fotos não são de um artista paraense, mas de alguém do Rio de Janeiro, de São Paulo ou do exte­ri­or.

Lado a lado com essa subes­ti­ma pelo que vem do Norte do país, Bra­ga desta­ca a indifer­ença e a impunidade, que per­mitem práti­cas, como as vio­lações dos dire­itos dos povos orig­inários e comu­nidades quilom­bo­las e o chama­do cor­ren­tão, usa­do em ações de des­mata­men­to, o que, para o fotó­grafo, seri­am con­tes­tadas em out­ras regiões do país.

“Tem cer­tas coisas, para cá, para cima [do Brasil, na Região Norte], que, se fos­sem em São Paulo, não acon­te­ceri­am.”

Serviço

Exposição de fotografia “Luiz Bra­ga — Arquipéla­go imag­inário”
Data: 12 de abril a 31 de agos­to de 2025
Local: Insti­tu­to Mor­eira Salles (IMS) Paulista | Aveni­da Paulista, 2424 — São Paulo (SP) | per­to da estação Con­so­lação de metrô
Horário: Terça a domin­go e feri­ados das 10h às 20h (fecha­do às segun­das). Últi­ma admis­são: 30 min­u­tos antes do encer­ra­men­to.
Entra­da gra­tui­ta
Clas­si­fi­cação indica­ti­va: livre

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