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Falta de diagnósticos para Alzheimer preocupa especialistas

Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Número de casos deve superar 2,4 milhões


Pub­li­ca­do em 23/09/2023 — 10:17 Por Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Dados do 1º Relatório Nacional de Demên­cias — a serem pub­li­ca­dos até o fim de 2023 — devem mostrar uma situ­ação pre­ocu­pante para a saúde públi­ca no Brasil. A quan­ti­dade de pes­soas não diag­nos­ti­cadas com a Doença de Alzheimer deve estar na faixa de 75% a 95%, depen­den­do da região brasileira, segun­do adiantou à Agên­cia Brasil a médi­ca e pesquisado­ra Clau­dia Sue­mo­to, da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP). 

O relatório encomen­da­do pelo Min­istério da Saúde — e coor­de­na­do pela pro­fes­so­ra Cleusa Fer­rim da Uni­ver­si­dade Fed­er­al de São Paulo — deve apon­tar, por exem­p­lo, que  o número de pes­soas com a doença pode estar na faixa dos 2,4 mil­hões. A doença é con­heci­da pela per­da pro­gres­si­va de memória, entre out­ras con­se­quên­cias. A incidên­cia é majori­tari­a­mente entre pes­soas idosas.

“As taxas de não diag­nós­ti­co no Brasil são alar­mantes. Quan­do vimos ini­cial­mente os dados, pen­samos que estavam erra­dos. Recal­cu­lam­os e era isso mes­mo. A gente pre­cisa ter mais con­sci­en­ti­za­ção sobre o Alzheimer. Há ain­da estig­mas”, afir­ma a pesquisado­ra. A cam­pan­ha de 2023 para o Mês de Con­sci­en­ti­za­ção para o Alzheimer (Setem­bro Roxo) traz o tema “Nun­ca é cedo demais, nun­ca é tarde demais”, com foco maior na pre­venção.

“Quan­to mais a gente falar, muito menos não diag­nós­ti­cos a gente vai ter. Haverá menos estig­ma e mais pre­venção”, afir­mou a pro­fes­so­ra.

O pro­fes­sor de med­i­c­i­na Ein­stein de Camar­gos, da Uni­ver­si­dade de Brasília, expli­ca que a real­iza­ção do diag­nós­ti­co pre­coce pos­si­bili­ta mais pos­si­bil­i­dades de inter­venções. “Não só com medica­men­tos, mas sobre­tu­do com ter­apias cog­ni­ti­vas, estim­u­lação, ter­apia ocu­pa­cional, exer­cí­cio físi­co, fazen­do com que esse proces­so seja mais lento”. Ele entende que, mes­mo haven­do sub­no­ti­fi­cação da doença, há maior vis­i­bil­i­dade dos casos de Alzheimer.

Maior fator de risco

Espe­cial­is­tas apon­tam que há um con­sen­so de que, den­tre os fatores de risco para a doença, há um deles que não é pro­pri­a­mente da área de saúde: a baixa edu­cação.

“Esse é um fator mod­i­ficáv­el para os quadros demen­ci­ais (como é a doença de Alzheimer). Se a gente mel­ho­rar a qual­i­dade da edu­cação, por exem­p­lo, do povo brasileiro, a gente vai diminuir os risco para demên­cia. Inclu­sive esse é o fator de risco mais impor­tante no Brasil”, afir­ma a pro­fes­so­ra Clau­dia Sue­mo­to.

O pro­fes­sor Ein­stein de Camar­gos, da UnB, entende que esse dado é extrema­mente impor­tante porque mostra que a maior pre­venção não está den­tro da área da saúde em si. A esco­lar­i­dade pode ser trans­for­mado­ra para a saúde em difer­entes sen­ti­dos. E nesse caso é orgâni­co.

Os médi­cos expli­cam que a resistên­cia aos efeitos do adoec­i­men­to devem estar rela­ciona­dos à reser­va cog­ni­ti­va que uma pes­soa tem. “Se a pes­soa teve uma maior estim­u­lação cog­ni­ti­va durante a vida, vai ter uma ‘poupança’ maior, com grande número de neurônios”, afir­ma a pro­fes­so­ra

Resistência

O que se obser­va no cére­bro de pes­soas que desen­volver­am a doença de Alzheimer é o acú­mu­lo de pro­teí­na beta-amilóides. Quan­to maior a “força” cere­bral mais resistên­cia haverá con­tra a pre­sença da pro­teí­na. Camar­gos elen­ca que essa resistên­cia está, além do aumen­to da esco­lar­i­dade, na redução do tabag­is­mo, no con­t­role do dia­betes e da pressão arte­r­i­al.

É, então, boa notí­cia que são fatores de risco mod­i­ficáveis na vida do indi­ví­duo e da sociedade. Clau­dia Sue­mo­to apon­ta que se esti­ma que 48% dos casos são rela­ciona­dos a fatores de iní­cio de vida (baixa esco­lar­i­dade), da meia idade (hiperten­são arte­r­i­al, per­da audi­ti­va, trau­ma­tismo cra­ni­ano, obesi­dade e con­sumo exces­si­vo de álcool) e da ter­ceira idade (dia­betes, tabag­is­mo, depressão, iso­la­men­to social, poluição ambi­en­tal e fal­ta da ativi­dade físi­ca).

“São todos fatores sim­ples, mas bas­tante preva­lentes. Se a gente mod­i­fi­cas­se a fre­quên­cia deles na pop­u­lação, a gente estaria pre­venin­do demên­cia, com certeza”, diz a pro­fes­so­ra. Uma boa notí­cia é que as mel­hores condições de vida dimin­uem os casos novos.

Evoluções

Se, por um lado, há sub­no­ti­fi­cação, segun­do a pro­fes­so­ra Clau­dia, o que tem acon­te­ci­do nos últi­mos 10 anos prin­ci­pal­mente para a doença de Alzheimer é que tem mel­ho­ra­do muito o diag­nós­ti­co. Na déca­da pas­sa­da, quan­do havia uma queixa de memória, a pes­soa fazia alguns testes no con­sultório.

“Só que atual­mente a gente con­segue medir pro­teí­nas deposi­tadas no cére­bro e que são asso­ci­adas a doença de Alzheimer”. Foi o médi­co Alois Alzheimer quem descreveu a doença no iní­cio do sécu­lo 20, iden­ti­f­i­can­do lesões cere­brais.

Antes, porém, não era pos­sív­el medir essas pro­teí­nas com pes­soas vivas. Atual­mente já é pos­sív­el medir essas pro­teí­nas no liquor (o líqui­do que envolve o cére­bro). Mas, para faz­er o exame era pre­ciso um pro­ced­i­men­to muito inva­si­vo. Hoje, o exame se tornou mais acessív­el com auxílio da med­i­c­i­na nuclear.

Remédios

A médi­ca Clau­dia Sue­mo­to entende que há tam­bém algu­ma evolução nos medica­men­tos. “Hoje em dia, a gente já tem três dro­gas que limpam essa pro­teí­na beta-amilóide com resul­ta­dos promis­sores. Limpam essas pro­teí­nas em pes­soas com a doença mais leve. Então, a gente está ten­tan­do enten­der quais são os efeitos a lon­go pra­zo”, avalia Clau­dia.

Ela con­tex­tu­al­iza que existe efeito colat­er­al nes­sas dro­gas que pre­cisam ser avali­a­dos. “É tudo muito novo, mas final­mente a gente tem uma med­icação que parece mex­er no mecan­is­mo da doença”, opina.

Ein­stein de Camar­gos avalia que os medica­men­tos ain­da saem muito caros e estão longe ain­da da aplic­a­bil­i­dade.

Procura por ajuda

Os médi­cos expli­cam que queixas de memória são sin­tomas mais con­heci­dos rela­ciona­dos à doença. Lem­branças do pre­sente, fatos impor­tantes do pas­sa­do, nomes de pes­soas tor­nam-se descon­heci­dos para quem tem a doença. Mas é pos­sív­el iden­ti­ficar como pos­síveis sin­tomas tam­bém pela per­da de plane­ja­men­to e con­fusão men­tal.

“A pes­soa tin­ha afaz­eres domés­ti­cos e está ten­do uma cer­ta difi­cul­dade. Não con­segue mais diri­gir, lem­brar a roti­na… Ess­es fatores são os que mais chamam atenção no dia a dia. Fora isso, deve-se ter atenção do pon­to de vista do com­por­ta­men­to fora do habit­u­al. A pes­soa deve procu­rar um médi­co para afas­tar a doença de Alzheimer como primeira causa”, exem­pli­fi­ca Camar­gos.

Sono e atividade física

Espe­cial­is­tas con­cor­dam ain­da que exis­tem medi­das de pre­venção fun­da­men­tais para evi­tar a doença, e pas­sam tam­bém por neces­si­dade de repousar. “Quem dorme menos de seis horas por noite aumen­ta o risco em 35% de ter demên­cia. Pesquisas dos últi­mos 10 anos mostraram que dormir bem faz o cére­bro limpar as tox­i­nas do dia”, rev­ela.

E quan­do se está acor­da­do, é impor­tante ativi­dade físi­ca. Pesquisadores da Uni­ver­si­dade de Brasília estão desen­vol­ven­do um estu­do detal­ha­do para apon­tar a influên­cia do exer­cí­cio físi­co nesse sis­tema de limpeza cere­bral. “Eu vou usar um ter­mo sim­ples. Pre­cisamos encon­trar os garis do cére­bro que pre­cisam tra­bal­har mel­hor e com mais condições. Assim, a gente vai ter uma redução dessa doença”, final­iza.

Edição: Kle­ber Sam­paio

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