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Família de Maguila doa cérebro de ex-pugilista para estudo

Neurologista afirma que iniciativa pode ajudar a prevenir doenças

Lin­coln Chaves — Repórter da EBC
Pub­li­ca­do em 25/10/2024 — 17:54
São Paulo
São Paulo (SP), 25/10/2024 - Velório do ex-pugilista Adilson Maguila, na Assembléia Legislativa de SP . Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

A Fac­ul­dade de Med­i­c­i­na da Uni­ver­si­dade de São Paulo (FMUSP) con­fir­mou, nes­ta sex­ta-feira (25), que rece­beu o cére­bro do ex-pugilista José Adil­son Rodrigues dos San­tos, o Maguila, para estu­dos sobre a Ence­falopa­tia Traumáti­ca Crôni­ca (ETC). A doença com a qual o ex-atle­ta con­viveu por 18 anos é degen­er­a­ti­va e afe­ta as célu­las cere­brais por meio de impactos repeti­dos na cabeça. Campeão mundi­al dos pesos pesa­dos, ele fale­ceu na últi­ma quin­ta-feira (24) aos 66 anos.

“Resolve­mos, em vida, pela doação do cére­bro dele. Foi feito isso ontem [quin­ta-feira]”, disse a viú­va de Maguila, Irani Pin­heiro, em entre­vista cole­ti­va nes­ta sex­ta-feira na Assem­bleia Leg­isla­ti­va de São Paulo, local no qual o cor­po do mari­do foi vela­do durante a man­hã.

O cére­bro de Maguila é o ter­ceiro per­ten­cente a um atle­ta que o Bioban­co para Estu­dos em Envel­hec­i­men­to da FMUSP tem aces­so. A enti­dade já pôde anal­is­ar as doações de mais dois campeões mundi­ais: o tam­bém ex-pugilista Éder Jofre e o ex-jogador de fute­bol Belli­ni, capitão da seleção brasileira que con­quis­tou a Copa do Mun­do de 1958. Ambos tiver­am o diag­nós­ti­co da Ence­falopa­tia Traumáti­ca Crôni­ca con­fir­ma­do.

“A sus­pei­ta clíni­ca existe, mas o diag­nós­ti­co, por enquan­to, é anato­mopa­tológi­co [análise de frag­men­tos de um teci­do reti­ra­do do indi­ví­duo]. A importân­cia da disponi­bil­i­dade do teci­do cere­bral dess­es atle­tas é enorme para a pesquisa e a ciên­cia, pois, no fim, [o resul­ta­do] reverte para todo mun­do”, avaliou a coor­de­nado­ra do Depar­ta­men­to Cien­tí­fi­co de Trau­ma­tismo Cran­ioence­fáli­co da Acad­e­mia Brasileira de Neu­rolo­gia (ABN), Maria Elis­a­beth Fer­raz, à Agên­cia Brasil.

“Claro que nos­sa maior meta é a pre­venção, mas, muitas vezes, faz­er­mos diag­nós­ti­cos mais pre­co­ces. Com isso, evi­tan­do que o indi­ví­duo con­tin­ue ten­do choques cra­ni­anos. Se tiver­mos bio­mar­cadores [indi­cadores que fornecem dados sobre a saúde da pes­soa], exam­es lab­o­ra­to­ri­ais ou de imagem que pos­sam faz­er esse diag­nós­ti­co — ou sus­pei­ta de diag­nós­ti­co — mais pre­coce, podemos desen­volver ain­da mais a pre­venção”, com­ple­tou a médi­ca neu­rol­o­gista.

A doença que acome­teu Maguila, Eder Jofre e Belli­ni foi descober­ta em 2002 pelo neu­ropa­tol­o­gista Ben­net Oma­lu. Ele diag­nos­ti­cou a ence­falopa­tia no cadáver de um ex-jogador de fute­bol amer­i­cano chama­do Mike Web­ster, que havia fale­ci­do aos 50 anos, víti­ma de um ataque cardía­co.

A reper­cussão do estu­do, pub­li­ca­do três anos depois, inco­mod­ou os diri­gentes da liga respon­sáv­el pela modal­i­dade (NFL, na sigla em inglês) e lev­ou a ameaças ao médi­co nige­ri­ano-amer­i­cano. Mais de uma déca­da depois, após novas pesquisas e com atle­tas acio­nan­do a Justiça, a NFL, enfim, esta­b­ele­ceu um pro­to­co­lo de con­cussão e investiu em tec­nolo­gia para aumen­tar a segu­rança do jogo. A história, inclu­sive, trans­for­mou-se no filme “Um Homem Entre Gigantes”, de 2015, pro­tag­on­i­za­do pelo ator Will Smith.

“[A Ence­falopa­tia Traumáti­ca Crôni­ca] cul­mi­na com um quadro de alter­ações de com­por­ta­men­to, psiquiátri­c­as, cog­ni­ti­vas, de memória e de equi­líbrio que muitas vezes se desen­volvem após o atle­ta estar aposen­ta­do, pois ela é resul­ta­do de inúmeros impactos no cére­bro ao lon­go de anos. Claro, fatores ambi­en­tais e genéti­cos tam­bém con­tam, mas é uma doença que se insta­la com o pas­sar do tem­po, cul­mi­nan­do em quadros gravís­si­mos”, expli­cou Maria Elis­a­beth.

Segun­do a coor­de­nado­ra da ABN, não há neces­si­dade de que o indi­ví­duo per­ca a con­sciên­cia para ter sofri­do uma lesão cere­bral. Segun­do ela, os choques repeti­dos na cabeça, mes­mo sem um des­maio, já podem levar ao movi­men­to do cére­bro na caixa cra­ni­ana.

Por fim, a neu­rol­o­gista desta­cou uma real­i­dade além do esporte, mas que dialo­ga com a per­icu­losi­dade da ence­falopa­tia. Segun­do o bole­tim “Elas Vivem: Liber­dade de Ser e Viv­er”, divul­ga­do em março deste ano, ao menos oito mul­heres foram víti­mas de vio­lên­cia domés­ti­ca a cada 24 horas em 2023, em oito dos nove esta­dos mon­i­tora­dos pela Rede de Obser­vatórios da Segu­rança: Bahia, Ceará, Maran­hão, Pará, Per­nam­bu­co, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.

“Qual­quer tipo de impacto que se repi­ta no cére­bro pode levar a alter­ações cog­ni­ti­vas, degen­er­a­ti­vas e com­por­ta­men­tais. Aque­la mul­her que sofre vio­lên­cia domés­ti­ca croni­ca­mente em casa, por seu com­pan­heiro ou alguém mais, tam­bém pode desen­volver esse quadro degen­er­a­ti­vo neu­rológi­co. E pode acon­te­cer com cri­anças”, aler­tou.

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