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Família é a essência da Orquestra Ouro Preto, que completa 25 anos

Ambiente musical em casa foi decisivo na formação da companhia

Cristi­na Indio do Brasil – Repórter da Agên­cia Brasil*
Pub­li­ca­do em 23/03/2025 — 14:41
Rio de Janeiro
São Paulo- 23/03/2025 - Maestro Rodrigo Toffolo e Apresentação da Orquestra Ouro Preto no Teatro Municipal Ouro Preto-Casa da Ópera . Créditos: Cristina Indio do Brasil
Repro­dução: © Cristi­na Indio do Brasil

A alma da Orques­tra Ouro Pre­to é a família que existe por trás dela. Logo cedo, o pai, Ronal­do Tof­fo­lo, viu a vocação das cri­anças, que estavam mer­gul­hadas no ambi­ente de músi­ca que havia na casa. Com o tem­po, os fil­hos evoluíram com os estu­dos de vio­li­no, e o pai decid­iu cri­ar um grupo musi­cal. Com o ami­go, com­pos­i­tor e ban­do­neon­ista argenti­no Rufo Her­rera, hoje com 91 anos, Tof­fo­lo  teve ideia de desen­volver o pro­je­to de uma orques­tra de câmara.

“Aqui em casa, sem­pre acred­i­ta­mos que somos mais com­ple­tos se estiver­mos abraça­dos com a cul­tura. A cul­tura é a dig­i­tal da existên­cia de todos nós. Esse ambi­ente pro­por­cio­nou uns aper­i­tivos de uma sedução que trans­for­maria isso aqui em uma pro­pos­ta e a escol­ha pela profis­sion­al­iza­ção foi deles”, disse Tof­fo­lo à Agên­cia Brasil.

O pai tem certeza de que “a sorte de o fil­ho mais vel­ho”, Rodri­go, hoje mae­stro da orques­tra, ter dado suporte, foi fun­da­men­tal “para levar a tur­ma toda a acred­i­tar que o pro­je­to ia dar cer­to”. Segun­do Tof­fo­lo, esse ambi­ente é que “trouxe a magia do abraço da cul­tura como mar­ca inequívo­ca de que nós somos mais quan­do temos nos­sa com­pan­hia”.

A casa onde tudo começou, no cen­tro de Ouro Pre­to, Minas Gerais, guar­da a memória da família. O quar­to onde ensa­iavam tem as pare­des cober­tas por estantes reple­tas de dis­cos de vinil e CDs. Tudo divide o espaço com o piano em que, um dia, ao tocar uma músi­ca dos Bea­t­les, chamou atenção de Rodri­go, um meni­no de 11, 12 anos na época, que acor­dou de madru­ga­da encan­ta­do com aque­le som.

São Paulo- 23/03/2025 - Maestro Rodrigo Toffolo e Apresentação da Orquestra Ouro Preto no Teatro Municipal Ouro Preto-Casa da Ópera . Créditos: Cristina Indio do Brasil
Repro­dução: Casa no cen­tro de Ouro Pre­to abri­ga instru­men­tos e obje­tos que lem­bram a for­mação da orques­tra — Cristi­na Indio do Brasil — Agên­cia Brasil

A con­ver­sa da reportagem com Ronal­do Tof­fo­lo neste quar­to trouxe ain­da out­ras histórias da família, e ele externou o sen­ti­men­to que tem ao faz­er uma ret­ro­spec­ti­va do iní­cio do grupo até o recon­hec­i­men­to, inclu­sive inter­na­cional, que a orques­tra con­quis­tou em seus 25 anos.

“É uma história fan­tás­ti­ca, e é até difí­cil ser sucin­to, mas o fato é que a gente fica agrade­ci­do por essa bênção espe­cial de adesão deles [os fil­hos] ao que se propõe à vida deles na área da músi­ca, que é o coroa­men­to de algo de que nun­ca desa­cred­i­ta­mos, porque entendíamos que isso tin­ha que ser com­pan­hia nos­sa. A cul­tura faz parte, mas não pre­tendíamos que isso se tor­nasse o ele­men­to de vida, de tra­bal­ho, de profis­são, e nós esta­mos aqui preparan­do a nova ger­ação, através dos net­inhos, que, quem sabe, vêm por aí começan­do”, disse, apon­tan­do para o futuro da orques­tra.

“Não se tra­ta de mila­gre. Não acred­i­to em mila­gres neste sen­ti­do. É muito tra­bal­ho, mui­ta certeza de que a gente pre­cisa acred­i­tar. Essa crença leva a tur­ma toda, hoje, a pas­sar isso nas nos­sas apre­sen­tações em qual­quer lugar, a con­ta­giar já os fil­hos, os netos que estão sem­pre pre­sentes”, comen­tou Tof­fo­lo.

A mãe, Marília Reis Tof­fo­lo, hoje com 72 anos, era quem cui­da­va para que as cri­anças não seguis­sem out­ro rumo. Toda quar­ta-feira pega­va as cri­anças e ia para Belo Hor­i­zonte para elas faz­erem aulas de vio­li­no.

“A origem foi toda nes­ta casa. Ronal­do criou uma orques­tra para os fil­hos tocarem. É a mes­ma coisa, por exem­p­lo de pôr cin­co fil­hos para estu­dar met­alur­gia e mon­tar uma met­alúr­gi­ca para os seus fil­hos. A min­ha par­tic­i­pação foi vigiar. Eu ia para Belo Hor­i­zonte, porque em Out­ro Pre­to não tin­ha [cur­so de vio­li­no]. Foram dez anos levan­do toda quar­ta-feira eles para Belo Hor­i­zonte para estu­dar vio­li­no. Lá, depois da aula, o pro­fes­sor me chama­va e fala­va: ‘dona Marília, a Mara [uma das fil­has gêmeas, que são as mais novas] a sen­ho­ra vai olhar o cotovelo, Mari­na está pon­do o dedo para cima que não pode, Ronald­in­ho está baixan­do muito o braço’. Aí, quan­do eu pun­ha para estu­dar, eu fica­va: ‘Mari­na, olha o dedo’. Eu fui jun­to com eles com aque­le foco”, lem­brou, desta­can­do que cor­ri­gia, em casa,as posições no vio­li­no con­forme indi­ca­va o pro­fes­sor.

As cri­anças aderi­ram à ideia da orques­tra, mas hou­ve perío­dos em que veio a von­tade de desi­s­tir. A mãe, no entan­to, per­sis­tiu. “Eu brin­co que tin­ha tudo para dar erra­do e deu cer­to, porque imag­i­na pegar cin­co cri­anças, foram cri­anças nor­mais iguais às out­ras. Teve a fase de ado­les­centes, aque­la em que não que­ri­am mais, a fase em que choravam, em que que­ri­am bater e não que­ri­am ir tocar. Eu nun­ca deix­ei. Primeiro, era vio­li­no, o resto era resto mes­mo. Só iam para fes­ta para casa de ami­gos se estu­dassem vio­li­no”, con­tou Marília, con­fes­san­do que ela mes­ma nun­ca fez aulas de músi­ca.

“Não, meni­na, fiz a maior bur­ra­da da min­ha vida, porque eles começaram do zero, e eu podia ter começa­do jun­to, eu fica­va mais de cin­co horas esperan­do cada um entran­do e sain­do do quar­to do pro­fes­sor, lá Belo Hor­i­zonte.”

A casa da família é dec­o­ra­da com obje­tos que fazem parte da memória de todos. “Fui jun­tan­do, jun­tan­do e ten­ho esse monte de coisa anti­ga pela casa afo­ra. Fica uma memória afe­ti­va”, ressaltou Marília, dizen­do que ela e mari­do nun­ca deixaram de morar em Ouro Pre­to. “Ronal­do é de Ouro Pre­to, eu sou de Ouro Pre­to e nun­ca mor­ei em out­ro lugar na min­ha vida.”

Para o mae­stro Rodri­go Tof­fo­lo, hoje com 47 anos, chegar aos 25 anos preser­van­do uma orques­tra de câmara com recon­hec­i­men­to inter­na­cional, não é uma tare­fa fácil.

“É um desafio. Sem­pre falo que o tra­bal­ho que a gente faz em equipe com um con­jun­to muito grande, faz a gente ficar muito feliz e orgul­hoso de ter opta­do anos atrás pelo cam­in­ho da músi­ca, e tudo que foi plan­ta­do e rega­do com car­in­ho enorme pos­sa ser vis­to hoje flo­rescen­do e dan­do ess­es resul­ta­dos todos”, disse à Agên­cia Brasil.

 

São Paulo- 23/03/2025 - Maestro Rodrigo Toffolo e Apresentação da Orquestra Ouro Preto no Teatro Municipal Ouro Preto-Casa da Ópera . Créditos: Cristina Indio do Brasil
Repro­dução: Mae­stro Rodri­go Tof­fo­lo apos­ta na ren­o­vação para garan­tir evolução da com­pan­hia — Cristi­na Indio do Brasil — Agên­cia Brasil

O regente define a evolução do grupo como grad­ual e fei­ta com mui­ta respon­s­abil­i­dade, pen­san­do na qual­i­dade do pro­je­to, por ser um grupo que sem­pre criou um repertório próprio e investiu na cri­ação de músi­ca nova. “A definição da iden­ti­dade da orques­tra muito cedo nos aju­dou a cam­in­har de maneira mais firme, sem muitas mudanças no cam­in­ho. Sem­pre tive­mos na cabeça quais eram os pilares de atu­ação. Ess­es pilares são man­ti­dos até hoje e ficamos muito felizes com isso”, com­ple­tou.

Rodri­go Tof­fo­lo vê a ren­o­vação de ger­ações de músi­cos como uma garan­tia de evolução da orques­tra. “Hoje muitos alunos da nos­sa acad­e­mia jovem estão na orques­tra prin­ci­pal. Jovens que entraram na acad­e­mia, for­maram-se na acad­e­mia, e hoje seguem a car­reira de músi­cos profis­sion­ais. Isso é muito impor­tante. Nos 25 anos, cer­ta­mente, várias pes­soas pas­saram por aqui, vários músi­cos, e a gente con­seguiu não só absorvê-los, mas poder viv­er e tra­bal­har com músi­ca”, desta­cou.

Com o pas­sar do tem­po, foi fácil notar que a for­mação de públi­co, que sem­pre foi muito impor­tante para o grupo, é uma for­ma de col­her os fru­tos das apre­sen­tações nos mais diver­sos lugares do Brasil e fora do país, disse o mae­stro.

“Os teatros hoje ficaram pequenos para o que a orques­tra faz. Os ingres­sos sem­pre esgo­tam com sem­anas de ante­cedên­cia, e a gente começou a migrar para praças públi­cas, para o lado de fora, para poder rece­ber o públi­co que a orques­tra tem, que é sem­pre muito gen­eroso, muito rep­re­sen­ta­ti­vo e mais pop­u­lar. E ver tam­bém que a orques­tra tem várias fac­etas”, acres­cen­tou.

“Inter­es­sa exata­mente que eles [públi­co] saibam a beleza que a orques­tra tem, a capaci­dade infini­ta da orques­tra de faz­er músi­ca, de tocar qual­quer esti­lo de músi­ca”, con­cluiu.

*A repórter via­jou a con­vite da Orques­tra Ouro Pre­to

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