...
sábado ,15 novembro 2025
Home / Noticias / Famílias de mortos em operação no Rio reclamam de falta de informação

Famílias de mortos em operação no Rio reclamam de falta de informação

IML está dedicado exclusivamente ao trabalho de identificação

Tâmara Freire — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 30/10/2025 — 18:45
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ), 30/10/2025 – Atendimento aos familiares durante o reconhecimento dos corpos dos mortos na Operação Contenção no Instituto Médico Legal. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Famil­iares de mor­tos na Oper­ação Con­tenção que aguar­davam a lib­er­ação dos cor­pos nes­ta quin­ta-feira (30), recla­ma­ram da demo­ra no proces­so de perí­cia e da fal­ta de infor­mações. Por con­ta da quan­ti­dade de cor­pos — no total foram 121 mor­tos, incluin­do 4 poli­ci­ais — o Insti­tu­to Médi­co Legal (IML) da cap­i­tal está ded­i­ca­do exclu­si­va­mente ao tra­bal­ho. Os famil­iares estão sendo aten­di­dos em um pos­to do Detran, que fica ao lado do IML. 

Samuel Peçan­ha, tra­bal­hador de serviços gerais, bus­ca­va infor­mações sobre o fil­ho Michel Mendes Peçan­ha, de 14 anos. A família mora em Queima­dos, na Baix­a­da Flu­mi­nense, mas o fil­ho fre­quen­ta­va o Com­plexo da Pen­ha e esta­va no local no dia da Oper­ação, depois de par­tic­i­par de um baile funk.

“Faz dois dias que eu estou procu­ran­do algu­ma infor­mação. Falaram que eles vão lig­ar, mas ninguém liga, ninguém fala nada. No dia da ocor­rên­cia, eu falei com ele às 8h40 da man­hã, ele me disse que mais tarde iria pra casa. Depois dis­so o tele­fone dele se calou. O comen­tário do pes­soal lá da comu­nidade é que eles empurraram todo mun­do para a mata. É nos­so fil­ho. A gente quer pelo menos ter o dire­ito de enter­rar”, afir­mou.

Na mes­ma situ­ação, Lívia de Oliveira ten­ta­va saber quan­do o cor­po do mari­do Dou­glas de Oliveira seria lib­er­a­do.

“Todo mun­do está vin­do aqui des­de terça-feira ten­tan­do achar uma respos­ta. Infe­liz­mente é sem­pre isso, dizem que ele ain­da não foi iden­ti­fi­ca­do, que tem que esper­ar porque são muitos cor­pos. Como a gente dei­ta a cabeça no trav­es­seiro e dorme? Não tem como, é ago­ni­ante”, disse.

Os pais de Yago Rav­el reivin­di­cavam o dire­ito de recon­hecer o cor­po do fil­ho de 19 anos, que foi encon­tra­do decap­i­ta­do, o que só con­seguiram faz­er depois da inter­venção de dep­uta­dos que fiz­er­am uma diligên­cia no local na tarde des­ta quar­ta. O pai de Yago, Alex Rosário da Cos­ta, protestou por ter tido que assi­nar o ates­ta­do de óbito sem poder ver o cor­po.

“O meu fil­ho foi espan­ca­do, depois ele foi exe­cu­ta­do e arran­car­am a cabeça dele. Em nen­hum momen­to eu pude ver o cor­po dele. Ele foi encon­tra­do com o cor­po no chão de braços aber­tos e a cabeça dele em cima de uma árvore. Isso é uma carnific­i­na”, criti­cou.

De acor­do com o secretário de Segu­rança Públi­ca do Rio de Janeiro, Vic­tor San­tos, pes­soas que foram mor­tas durante a Oper­ação Con­tenção dev­erão ser iden­ti­fi­cadas até este final de sem­anaAo menos 100 cor­pos já foram iden­ti­fi­ca­dos, mas os nomes não foram divul­ga­dos.

Rio de Janeiro (RJ), 29/10/2025 - Familiares chegam ao Detran para se cadastrar para reconhecimento dos corpos Após resgate de dezenas de corpos são trazidos por moradores para a Praça São Lucas, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Operação Contençao. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Repro­dução: Famil­iares chegam para se cadas­trar para recon­hec­i­men­to dos cor­pos — Tânia Rêgo/Agência Brasil

Enterro

Além da demo­ra para obter infor­mações, as famílias dos mor­tos na oper­ação enfrentam out­ro dile­ma: os cus­tos funerários. Os famil­iares pre­cisavam optar entre pagar um sepul­ta­men­to par­tic­u­lar, com um cus­to de pelo menos R$ 4 mil, ou aceitar o enter­ro gra­tu­ito forneci­do pela prefeitu­ra, que ocorre sem dire­ito a velório e em caixão fecha­do. A Defen­so­ria Públi­ca  mon­tou um pos­to de atendi­men­to no IML para agilizar os trâmites daque­les que optavam pelo serviço gra­tu­ito.

De acor­do com o defen­sor públi­co André Cas­tro, caso a família não se adeque aos critérios para solic­i­tar o enter­ro gra­tu­ito, pode ter dire­ito ao serviço, medi­ante paga­men­to de uma tar­i­fa social.

“Não pre­cisa de ação judi­cial, nem nada do tipo. A gente está fazen­do a ori­en­tação para as famílias e o con­ta­to é dire­to com as funerárias que fazem o serviço. Mas nós faze­mos uma críti­ca há bas­tante tem­po pelo fato de ser ape­nas em caixão fecha­do e sem velório. Não são condições que nós con­sid­er­amos dig­nas para essa des­pe­di­da dos seus entes queri­dos. Mas muitas família real­mente não têm condições de pagar, esse tem sido um pedi­do cen­tral na nos­sa atu­ação aqui nos últi­mos dias”, acres­cen­tou.

Operação Contenção

A Oper­ação Con­tenção, real­iza­da pelas polí­cias Civ­il e Mil­i­tar do Rio de Janeiro, deixou cer­ca de 120 pes­soas mor­tas, sendo qua­tro poli­ci­ais, de acor­do com o últi­mo bal­anço. No total, foram feitas 113 prisões, sendo 33 de pre­sos de out­ros esta­dos. Foram recol­hi­das 118 armas e 1 tonela­da de dro­ga. O obje­ti­vo era con­ter o avanço da facção Coman­do Ver­mel­ho e cumprir 180 man­da­dos de bus­ca e apreen­são e 100 de prisão, sendo 30 expe­di­dos pela Justiça do Pará.

A oper­ação con­tou com um efe­ti­vo de 2,5 mil poli­ci­ais e é a maior e mais letal real­iza­da no esta­do nos últi­mos 15 anos. Os con­fron­tos e as ações de retal­i­ação de crim­i­nosos ger­aram pâni­co em toda a cidade, com inten­so tiroteio, fechan­do as prin­ci­pais vias, esco­las, comér­cios e pos­tos de saúde.

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Defesa Civil alerta população para tempestade no Sul e Centro-Oeste

Estão previstas chuvas acima de 100 mm em 24 horas e queda de granizo Luiz …