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Fernanda Montenegro, 95 anos: a atriz que inventou o próprio nome

Estrela da arte dramática brasileira fala sobre sua trajetória

Luiz Clau­dio Fer­reira e Mara Régia di Per­na — Repórteres da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 16/10/2024 — 08:02
Brasília
Actress Fernanda Montenegro of Brazil poses for photographers backstage with her Best Actress award during the 41st International Emmy Awards in New York, November 25, 2013. REUTERS/Carlo Allegri (UNITED STATES - Tags: ENTERTAINMENT)
© Reuters/Carlo Allegri/Proibida repro­dução

Antes do pal­co, do cenário da TV, das câmeras de cin­e­ma, a estrela maior da arte dramáti­ca brasileira, a atriz Fer­nan­da Mon­tene­gro, era con­heci­da ape­nas pela voz. Ela era a locu­to­ra e radioa­triz Arlete Pin­heiro, da Rádio MEC. Fer­nan­da, que começou na emis­so­ra com 15 anos de idade, recon­heceu que foi em um estú­dio sem câmeras que nasceu a atriz que iria faz­er um país inteiro rev­er­en­ciar, se orgul­har e se emo­cionar. Nes­ta quar­ta (16), essa car­i­o­ca, que criou o próprio nome artís­ti­co e levaria a sen­si­bil­i­dade brasileira para o mun­do, com­ple­ta 95 anos de idade.

“Eu era a locu­to­ra Arlete Pin­heiro e a radioa­triz Arlete Pin­heiro. Quan­do fui escr­ev­er, achei que era muito ‘Arlete Pin­heiro’. Aí inven­tei esse nome (Fer­nan­da Mon­tene­gro) para redi­gir”, disse a atriz, em entre­vista à Rádio MEC há três décadas. “A primeira coisa que fiz no teatro foi a par­tir de um con­vite de uma cole­ga que fazia parte do radioteatro [da Rádio MEC]”.

Con­fi­ra entre­vis­tas de Fer­nan­da Mon­tene­gro no acer­vo da Empre­sa Brasil de Comu­ni­cação (EBC).

Fer­nan­da foi indi­ca­da ao dra­matur­go Adac­to Fil­ho, que era o dire­tor, e, para ela, um “ensa­iador à moda anti­ga”. “Foi nesse teste que pisei no pal­co de for­ma mais con­sciente pela Rádio Min­istério”, lem­brou, em entre­vista à Sociedade de Ami­gos Ouvintes da Rádio MEC.

“Comecei minha vida”

A atriz saiu do radioteatro, foi para os pal­cos e, depois, dire­to para a tele­visão — tam­bém em entre­vista, em um episó­dio do pro­gra­ma Kinoscope, da Rádio MEC, apre­sen­ta­do pelo pro­du­tor Fabi­ano Canosa, Ela cele­brou a vol­ta ao local espe­cial. “Estou aqui no estú­dio da Rádio MEC, onde come­cei a min­ha vida”.

Não só a dela. Fer­nan­da lem­brou ain­da do mari­do e cole­ga de tra­bal­ho Fer­nan­do Tor­res (1927 — 2008). O casal for­ma­va uma dupla de locu­tores que se diri­gia ao públi­co como “caros ouvintes”. “Esse pro­gra­ma ‘Falan­do de Cin­e­ma’ foi uma ideia do Fer­nan­do. Tin­ha cenas e basti­dores”.

Tam­bém em entre­vista históri­ca à Rádio MEC, a atriz recor­dou que a equipe na rádio teve uma pro­fes­so­ra de inter­pre­tação chama­da Esther Leão. “Eu me lem­bro que o primeiro pro­gra­ma foi uma adap­tação da peça “Sin­há Moça Chorou”, de Ernani Fornari. E aí come­cei a tra­bal­har em rádio e teatro. Essas aulas eram dadas algu­mas na própria emis­so­ra e out­ras no Min­istério da Edu­cação”.

Sentimento e técnica

Ela citou as aulas de inter­pre­tação na sua for­mação. “Como por um sen­ti­men­to numa pro­pos­ta de tra­bal­ho em ambi­ente de um veícu­lo artís­ti­co. Nesse primeiro tra­bal­ho, fomos muito felizes. E começamos a faz­er um radioteatro por sem­ana”, disse em entre­vista no final da déca­da de 1990.

Des­de então, no cur­rícu­lo, estão pelo menos 65 espetácu­los, 18 filmes, 14 nov­e­las e dezenas de prêmios como mel­hor atriz. A estreia no teatro ocor­reu em 1950, na peça “Ale­gres Canções nas Mon­tan­has”, ao lado de Fer­nan­do Tor­res.

“Figura exponencial”

Fer­nan­da Mon­tene­gro é imor­tal da Acad­e­mia Brasileira de Letras (ABL) des­de 2022 e ocu­pa a cadeira 17. Tam­bém imor­tal, a escrito­ra Rosiska Dar­cy de Oliveira, con­sid­era Fer­nan­da a maior atriz brasileira de todos os tem­pos.

“Fer­nan­da é figu­ra fem­i­ni­na expo­nen­cial da cul­tura brasileira. Ten­ho por ela a mais abso­lu­ta reverên­cia. Forte amizade e foi real­mente um orgul­ho muito grande quan­do, há 15 anos, ence­n­amos pela primeira vez o ‘Viv­er sem tem­pos mor­tos’, com direção do Fil­ipe Dias”,  afir­mou a escrito­ra.

No cin­e­ma, entre tan­tos prêmios, ficou na memória recente dos brasileiros o Urso de Pra­ta, em Berlim, pela atu­ação no papel de Dora, em Cen­tral do Brasil (1998), de Wal­ter Salles. O tra­bal­ho ren­deu a indi­cação ao Oscar de mel­hor atriz.

Esse recon­hec­i­men­to não veio, mas a Asso­ci­ação Norte-amer­i­cana de Críti­cos de Cin­e­ma ren­deu a ela o prêmio de atriz do ano, entre out­ros troféus. Em 2013, con­quis­tou o Emmy Inter­na­cional como mel­hor atriz pelo papel de Dona Picucha no espe­cial “Doce de Mãe”. A atriz faz ain­da par­tic­i­pação espe­cial no filme “Ain­da estou aqui”, de Wal­ter Salles. O lon­ga rep­re­sen­ta o Brasil para ten­tar uma indi­cação ao Oscar de mel­hor filme estrangeiro.

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