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Festa para Iemanjá celebra e fortalece religiosidade afrobrasileira

No Rio, milhares de pessoas acompanharam os rituais pela cidade

Vitor Abdala – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 02/02/2025 — 14:00
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ), 02/02/2025 – Filhos de Gandhi celebra Dia de Iemanjá na zona portuária do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Yeman­já sobá. Sobá mir­erê. Vou chamar min­ha mãe, na beira do mar. Vou chamar min­ha mãe, ela é Ieman­já, a rain­ha do mar. Mãe d’água, rain­ha das ondas, sereia do mar. Mãe d’água, seu can­to é boni­to quan­do tem luar. Como é lin­do o can­to de Ieman­já, faz até o pescador chorar.

Ieman­já, Yemayá, Yemo­ja, Dona Janaí­na. São algu­mas das vari­ações do nome desse orixá, ado­ra­do na África e em regiões que rece­ber­am a diás­po­ra africana, como o Caribe, os Esta­dos Unidos e o Brasil. Orixá do povo egbá, da nação iorubá, a rain­ha do mar é fes­te­ja­da neste domin­go (2) por fiéis em todo país.

No Rio de Janeiro, umas das cel­e­brações mais tradi­cionais é real­iza­da há 49 anos pela Asso­ci­ação Afoxé Fil­hos de Gand­hi, cuja pro­cis­são cul­mi­nou em um bal­aio de flo­res ofer­e­ci­do à divin­dade, na Baía de Gua­n­abara. Na Pra­ia do Arpoador, mil­hares de pes­soas par­tic­i­param de uma cel­e­bração em hom­e­nagem a Ieman­já, com a entre­ga de ofer­en­das dire­ta­mente no oceano.

A mitolo­gia de Ieman­já, assim como de muitos pop­u­lares orixás africanos, não é úni­ca, mas apre­sen­ta várias ver­sões. O que elas têm em comum é a asso­ci­ação da divin­dade com a água.

Para o povo egbá, Yeye Omo Ejá, ou “a mãe de peix­es”, era a deusa do rio Yemo­ja. Ao serem obri­ga­dos a se mudar, dev­i­do a guer­ras em seu ter­ritório, os egbás migram, se insta­lam às mar­gens do Rio Ogun, onde hoje fica a Nigéria, e ali pas­sa a ser a nova mora­da de Ieman­já.

É atribuí­da a Ieman­já, tam­bém, a cri­ação dos rios e lagoas do plan­e­ta. E é dela o títu­lo de mãe de todos os orixás. Com a escrav­iza­ção de povos africanos, inclu­sive aque­les da etnia iorubá, o cul­to chegou ao Brasil.

E, ao se esta­b­ele­cer aqui, o orixá é ressig­nifi­ca­do. Forte­mente atre­la­da ao mar, ela gan­ha múlti­plas per­son­al­i­dades (Yeman­já Ogun­té, Yeman­já Ass­abá e Yeman­já Asses­su são algu­mas delas), através das religiões de matriz africana, como a umban­da e o can­domblé.

Pas­sa tam­bém a ser asso­ci­a­da a out­ras fig­uras reli­giosas ou mitológ­i­cas, como Nos­sa Sen­ho­ra (dos católi­cos), Iara (dos mitos indí­ge­nas brasileiros) e ao mito das sereias. Sendo con­sid­er­a­da a mãe dos orixás, é asso­ci­a­da tam­bém a uma figu­ra mater­na.

Rio de Janeiro (RJ), 02/02/2025 – Mãe Marlene de Oxum, durante celebração do Dia de Iemanjá, na Associação Filhos de Gandhi na zona portuária do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Ieman­já rep­re­sen­ta tudo, nos­sa força, nos­sos ances­trais, nos­so equi­líbrio; é a dona das águas,  diz  Mãe Mar­lene de Oxum — Tomaz Silva/Agência Brasil

“Ieman­já rep­re­sen­ta tudo, nos­sa força, nos­sos ances­trais, nos­so equi­líbrio. É a dona das águas. É ela que lava nos­sas cabeças e per­doa tudo o que a gente ven­ha come­ter, porque ela lava alma e coração”, diz a líder reli­giosa Mãe Mar­lene de Oxum.

Mãe Mar­lene acres­cen­ta que a divin­dade é pop­u­lar inclu­sive entre aque­les que não são fiéis de religiões de matriz africana, como as pes­soas que entregam ofer­en­das a Ieman­já ou pulam sete ondas na vira­da de ano. “É um orixá uni­ver­sal, então todos lev­am pre­sentes para ela. É uma for­ma de agrade­cer pelo ano.”

O cul­to a Ieman­já é tradição na família de Már­cia Glória Lima. Sua mãe, seguido­ra da umban­da, já tin­ha ado­ração pela rain­ha do mar. Már­cia, fiel do can­domblé, man­teve uma relação espe­cial com o orixá. “Min­ha história com Ieman­já é uma história boni­ta. Cheguei a pen­sar que fos­se ‘fil­ha’ de Ieman­já durante muito tem­po, mas sou ‘fil­ha’ de Oxum. De qual­quer for­ma, Ieman­já é tudo em nos­sas vidas, é a mãe de nos­sas cabeças. Antes de ‘nascer­mos’ para qual­quer orixá, somos ‘fil­hos’ de Ieman­já.”

Ao que tudo indi­ca, a tradição seguirá com a fil­ha Déb­o­ra e a neta Diana, que acom­pan­havam Már­cia na cel­e­bração do Dia de Ieman­já, na zona por­tuária do Rio de Janeiro.

Filhos de Gandhi

Rio de Janeiro (RJ), 02/02/2025 – Filhos de Gandhi celebra Dia de Iemanjá na zona portuária do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Fil­hos de Gand­hi cel­e­bram Dia de Ieman­já — Tomaz Silva/Agência Brasil

A cel­e­bração da Asso­ci­ação Afoxé Fil­hos de Gand­hi começou logo cedo, antes das 8h, com uma cer­imô­nia de xirê, quan­do os líderes reli­giosos mon­taram o bal­aio de flo­res a ser pre­sen­tea­do a Ieman­já.

Por vol­ta das 9h, uma pro­cis­são seguiu por cer­ca de 1,5 quilômetro pela zona por­tuária, des­de a sede da asso­ci­ação até um pequeno atra­cadouro na Praça Mauá, onde os fiéis seguiram, em um bar­co, para deposi­tar sua ofer­en­da nas águas da baía.

Ain­da no meio da pro­cis­são, os fiéis fiz­er­am uma para­da espe­cial no mon­u­men­to do Cais do Val­on­go, patrimônio mundi­al, local onde, durante o perío­do colo­nial, fun­cio­nou um dos maiores por­tos de desem­bar­que de escrav­iza­dos africanos de todo o con­ti­nente amer­i­cano.

“Dia 2 de fevereiro é o iní­cio das ativi­dades dos Fil­hos de Gand­hi durante o ano. E a gente ini­cia com lou­vor a Ieman­já, que é a mãe de todas as cabeças e é a sen­ho­ra que con­duz a nos­sa insti­tu­ição”, afir­ma o pres­i­dente da asso­ci­ação, Célio Oliveira.

O cineas­ta Rodri­go Moraes pro­duz­iu um doc­u­men­tário sobre a história dos Fil­hos de Gand­hi no Rio de Janeiro, asso­ci­ação fun­da­da em 1951, com apoio de moradores da zona por­tuária, de tra­bal­hadores do Cais do Por­to e de adep­tos de religiões de matriz africana, que se tornou uma refer­ên­cia de preser­vação da cul­tura negra na cidade.

“Ieman­já tem uma importân­cia muito grande para os Fil­hos de Gand­hi. E essa fes­ta é a mais tradi­cional de Ieman­já do Rio de Janeiro”, diz Moraes, cujo doc­u­men­tário Exu Men­sageiro, que con­ta a história dos Fil­hos de Gand­hi (tam­bém respon­sáveis por um tradi­cional blo­co car­navale­sco car­i­o­ca), estreia neste domin­go.

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