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Festival Latinidades celebra mulher negra latino-americana

Repro­dução: © Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Coordenadora do evento diz que todos são bem-vindos


Pub­li­ca­do em 02/07/2023 — 10:35 Por Suma­ia Vil­lela e Paula Labois­sière – Repórteres da Radioagên­cia e da Agên­cia Brasil — Brasília

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Con­sid­er­a­do o maior fes­ti­val de mul­heres negras da Améri­ca Lati­na, o Latinidades começa esta sem­ana em Brasília. Com o tema Bem Viv­er, o even­to, no Museu Nacional, cel­e­bra o Dia Inter­na­cional da Mul­her Negra Lati­no-Amer­i­cana e Cariben­ha, lem­bra­do em 25 de jul­ho. A pro­gra­mação, a par­tir da próx­i­ma quin­ta-feira (6), inclui ofic­i­nas, painéis, con­fer­ên­cias, shows, palestras e mesas de debate com espe­cial­is­tas nacionais e inter­na­cionais.  

O even­to per­manece na cap­i­tal fed­er­al até domin­go (9) e pas­sa ain­da pelo Rio de Janeiro, no dia 15; por São Paulo, de 21 a 23; e por Sal­vador, de 29 a 30 de jul­ho. Em entre­vista à Empre­sa Brasil de Comu­ni­cação (EBC), a ide­al­izado­ra e dire­to­ra do fes­ti­val, Jaque­line Fer­nan­des, expli­ca que se tra­ta de um espaço de artic­u­lação políti­ca e cul­tur­al. A edição deste ano propõe uma dis­cussão: no lugar do lucro e do desen­volvi­men­to desigual, o cuida­do com as pes­soas e o plan­e­ta. 

“A gente está dis­cutin­do isso no Latinidades sobre várias per­spec­ti­vas. O que é o bem viv­er do pon­to de vista de aces­so à políti­ca públi­ca, à reparação, ao cuida­do, ao auto cuida­do. É um olhar de for­ma trans­ver­sal para a pau­ta do bem viv­er como um con­jun­to de políti­cas e práti­cas inte­gra­ti­vas que garan­tam o aces­so de mul­heres negras a esse bem viv­er”, expli­cou.

Na con­ver­sa, Jaque­line desta­ca ain­da a importân­cia de expandir o debate para todo o con­ti­nente.  

Empre­sa Brasil de Comu­ni­cação (EBC) apoia a edição 2023 do Fes­ti­val Latinidades

Con­fi­ra os prin­ci­pais tre­chos da entre­vista: 

02/07/2023 - Brasília - A Coordenadora Geral do Festival Latinidades, Jaqueline Fernandes, durante entrevista na EBC. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Coor­de­nado­ra Ger­al do Fes­ti­val Latinidades, Jaque­line Fer­nan­des, durante entre­vista na EBC. — Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Radioagên­cia: A cri­ação do Fes­ti­val Latinidades foi moti­va­da pelo Dia Inter­na­cional da Mul­her Negra Lati­no-Amer­i­cana e Cariben­ha, em 25 de jul­ho. O que une essas mul­heres, inde­pen­den­te­mente de suas region­al­i­dades? 

Jaque­line Fer­nan­des: Primeiro, é impor­tante diz­er que a gente foi moti­va­da pelo 25 de jul­ho, Dia da Mul­her Afro­l­ati­no-amer­i­cana e Cariben­ha, mas, jun­to com isso, a gente foi moti­va­da pelo fato de viver­mos no Dis­tri­to Fed­er­al e de ser­mos mul­heres negras e per­iféri­c­as.  Brasília tem uma pop­u­lação majori­tari­a­mente negra (58%). A gente tem uma grande difi­cul­dade de recon­hec­i­men­to dessa negri­tude. As pes­soas não veem Brasília como uma cidade negra, não imag­i­nam esse per­centu­al. Então, a gente que­ria unir as duas coisas: mostrar para o Brasil que existe essa pop­u­lação potente de mul­heres negras do Dis­tri­to Fed­er­al e tam­bém cel­e­brar o 25 de jul­ho. 

Radioagên­cia: Existe uma deman­da que a gente pode eleger como prin­ci­pal, que une todas essas mul­heres? 

Jaque­line Fer­nan­des: Essa deman­da con­tin­ua sendo a super­ação do racis­mo e do machis­mo na Améri­ca Lati­na e no Caribe, que é essa her­ança real­mente escrav­ocra­ta. É poder pen­sar em políti­cas públi­cas para o aces­so de mul­heres negras à saúde, à edu­cação, à mora­dia. É recon­hecer os saberes, os faz­eres e as con­tribuições das mul­heres negras para a sociedade. É olhar para políti­cas de ações reparatórias pen­san­do nesse históri­co de exclusão e desigual­dade das mul­heres negras den­tro da sociedade. 

Radioagên­cia: O tema do fes­ti­val este ano é Bem Viv­er. Como foi o proces­so de escol­ha e a que o tema se propõe exata­mente? 

Jaque­line Fer­nan­des: O bem viv­er tem seu con­ceito mais con­heci­do nos povos orig­inários dos Andes e vem como uma con­tra­posição ao mod­e­lo – mes­mo antes desse mod­e­lo exi­s­tir – que a gente vive hoje, den­tro do sis­tema cap­i­tal­ista, que é o desen­volvi­men­tismo, a explo­ração desme­di­da da natureza e dos seres humanos. Essa visão orig­inária se encon­tra em toda a Améri­ca Lati­na com visões de povos das flo­restas, da diás­po­ra negra. E hoje ela gan­ha um cor­po, um olhar mile­nar, mas que ain­da está muito atu­al e vem sendo encor­pa­do pelo movi­men­to de mul­heres negras des­de 2015, quan­do foi tema da Mar­cha de Mul­heres Negras. 

Radioagên­cia: O even­to traz mul­heres com difer­entes áreas de con­hec­i­men­to, de várias regiões do país e tam­bém de out­ros país­es. É um espaço de artic­u­lação políti­ca? 

Jaque­line Fer­nan­des: Sim, é um espaço de artic­u­lação políti­ca sobre­tu­do que vem desse lega­do. Em 1992, quan­do as mul­heres se reuni­ram para o primeiro encon­tro de mul­heres negras afro-lati­nas e cariben­has da diás­po­ra, cada uma veio de um país, se comu­ni­cavam por car­ta, não tin­ham e‑mail ou out­ras maneiras de faz­er isso mais facil­mente, como a gente faz hoje. Então, elas fiz­er­am um grande esforço para se encon­trarem e para, a par­tir dali, com­preen­derem que a cri­ação de uma data era um mar­co políti­co. O que a gente faz é sim­ples­mente dar con­tinuidade a essa luta, ao que foi deter­mi­na­do por essas mul­heres. E, como esse encon­tro foi inter­na­cional e o Dia da Mul­her Negra é inter­na­cional, faz muito sen­ti­do tam­bém que o Latinidades seja inter­na­cional. 

A gente artic­u­la de 10 a 15 país­es, todos os anos, como con­vi­da­dos. Ao lon­go do ano, a gente tem tam­bém um proces­so de artic­u­lação, influên­cia políti­ca e tra­bal­ho de base. A gente tem par­tic­i­pa­do de even­tos em out­ros país­es e, em 2022, começamos a levar o fes­ti­val para out­ros país­es. Temos uma pub­li­cação trilíngue que já pas­sou por algu­mas uni­ver­si­dades negras nos Esta­dos Unidos e tam­bém na Colôm­bia. Então, esta­mos em um proces­so de inter­na­cional­iza­ção do fes­ti­val e todo esse movi­men­to que a gente faz, com certeza, a par­tir da cul­tura, é políti­co. 

Radioagên­cia: Após 16 anos, o fes­ti­val ago­ra sai de Brasília e vai para out­ras cidades. Qual é a importân­cia de expandir den­tro do país o fes­ti­val? 

Jaque­line Fer­nan­desEm 2019, a gente fez uma edição do fes­ti­val em São Paulo, mas esse é o primeiro ano que a gente vai faz­er mais de uma edição em out­ros lugares no mes­mo mês. A gente começa em Brasília e depois vai para o Rio de Janeiro, São Paulo e final­iza em Sal­vador. Há alguns anos, a gente recebe car­a­vanas de out­ros esta­dos den­tro do fes­ti­val. Car­a­vanas que são auto ges­tadas. Acho que a gente nun­ca orga­ni­zou nen­hu­ma car­a­vana. As pes­soas se orga­ni­zavam autono­ma­mente para vir e essas pes­soas sem­pre deman­davam que o Latinidades fos­se para tal cidade. E foi assim que surgiu a ideia de a gente poder ocu­par out­ros ter­ritórios. 

Acho que o Latinidade tem sido um pro­je­to pio­neiro, de refer­ên­cia ao dia 25 de jul­ho no Brasil. E, expandin­do o fes­ti­val para out­ras cidades, a gente se soma a out­ras ini­cia­ti­vas pelo Brasil que estão bus­can­do jus­ta­mente faz­er essa data gan­har cor­po. Uma data muito con­heci­da pelos movi­men­tos soci­ais, mas que pre­cisa crescer cada vez mais e ser con­heci­da pela grande mídia e pela sociedade em ger­al.  

Radioagên­cia: O foco prin­ci­pal do Latinidades são mul­heres negras, mas cer­ta­mente vai haver pes­soas não negras e home­ns que ficam se per­gun­tan­do se são bem-vin­dos e se podem par­tic­i­par. 

Jaque­line Fer­nan­des: Todas as pes­soas são bem-vin­das na luta antir­racista e anti machista. O que a gente está fazen­do é crian­do um fes­ti­val onde as mul­heres negras são pro­tag­o­nistas. Então, no pal­co, só ter­e­mos mul­heres negras. Nos espaços de fala, de decisão, de curado­ria, de pro­dução, somos todas mul­heres negras, mas pes­soas não negras são total­mente bem-vin­das como públi­co e para con­stru­ir, evoluir com a gente nes­sa luta. É um fes­ti­val de mul­heres negras para toda a sociedade. Para par­tic­i­par do even­to, baste aces­sar o site do even­to 

Edição: Aline Leal

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