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Festival Sample comemora os 50 anos do hip hop e carreira do DJ KL Jay

Repro­dução: © Wikimedia/Fernando Eduar­do

Programação inclui oficinas, mostra de vinis e shows


Pub­li­ca­do em 12/08/2023 — 09:20 Por Lety­cia Bond — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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A cap­i­tal paulista é pal­co, a par­tir deste sába­do (12), de um dos even­tos que fes­te­jam os 50 anos do movi­men­to hip hop, com uma pro­gra­mação que inclui ofic­i­nas, mostra de vinis e shows. O Cen­tro Cul­tur­al São Paulo (CCSP) irá hospedar, até o dia 30, artis­tas do Fes­ti­val Sam­ple — do Clás­si­co ao Orig­i­nal, ide­al­iza­do pelo DJ KL Jay e que ago­ra retoma a modal­i­dade pres­en­cial, após realizar uma edição online durante o auge da pan­demia de covid-19.

O even­to tam­bém cel­e­bra os 35 anos de car­reira de KL Jay, inte­grante do grupo de rap Racionais MC’s. A mág­i­ca da cul­tura hip hop acres­cen­ta, em um mes­mo caldeirão, as rimas do rap, con­ce­bidas pelo MC (mestre de cer­imô­nias), o grafit­ti, a dança break e as cri­ações e inter­venções dos DJs. Por isso, nesse uni­ver­so, a figu­ra do pro­du­tor musi­cal e DJ é fun­da­men­tal, uma vez que é quem escol­he os chama­dos sam­ples, amostras de músi­cas já exis­tentes para tocar na for­ma de break­beats, tam­bém chama­dos de beats.

Para a cocu­rado­ra do fes­ti­val, a jor­nal­ista Lean­dra Sil­va, o even­to é uma “opor­tu­nidade de rev­er­en­ciar pes­soas que estão vivas”, em um mun­do que colo­ca alvos sobre os cor­pos negros. “Chegar ago­ra ao CCSP é um momen­to pro­fun­do de reafir­mação da vida, da vida de pes­soas, home­ns pre­tos. É extra­ordinário ver toda essa tra­jetória. Eles [os artis­tas que par­tic­i­pam do even­to] pode­ri­am facil­mente ter sido mor­tos, como Noto­rius [The Noto­rius B.I.G.] foi, como Sab­o­tage foi”, pon­tua.

Origem

O movi­men­to hip hop tem como mar­co zero uma fes­ta de aniver­sário orga­ni­za­da pelo DJ Kool Herc para sua irmã, no bair­ro do Bronx, na cidade de Nova York, nos Esta­dos Unidos. O Bronx dos anos 1970 e 1980 tin­ha uma pop­u­lação for­ma­da, majori­tari­a­mente, por negros e por­to-riquen­hos. A região vivia um con­tex­to de pobreza, mar­gin­al­iza­ção social, estig­ma e omis­são do poder públi­co.

Antes de sin­tonizar o hip hop e fun­dar o Racionais MC’s, ao lado de Edi Rock, Mano Brown e Ice Blue, o DJ KL Jay, que tem como nome de batismo Kle­ber Simões, teve con­ta­to com o funk dos Esta­dos Unidos, sobre­tu­do na déca­da de 1980. KL Jay ini­ciou sua car­reira em 1987.

O funk estadunidense, como o hip hop, tem assi­natu­ra negra. KL Jay desco­briu o funk, que tem expoentes como James Brown, e cor­reu atrás de out­ros can­tores e out­ras ban­das, de décadas ante­ri­ores, como a de 1960 e 1970, quan­do o gênero musi­cal influ­en­ciou ver­tentes como a músi­ca dis­co.

“Eu já esta­va ali. A cul­tura veio, já esta­va no bar­co e cruzei a fron­teira. Me iden­ti­fiquei com a dança, com o DJ, a cul­tura em si. Come­cei a vir a São Ben­to, onde o pes­soal que tam­bém se iden­ti­fi­ca­va se encon­tra­va todos os sába­dos “, diz DJ KL Jay, que, antes da for­mação dos Racionais MC’s, já toca­va com Edi Rock em bailes.

O artista com­para o surg­i­men­to do hip hop com uma luz de poste que deu um norte à pop­u­lação negra e comen­ta que, para ele, se tra­ta mais de uma cul­tura do que de um movi­men­to, ape­sar de recon­hecer seu poten­cial eman­ci­pador e mobi­lizador. “Pen­so que hip hop é uma cul­tura, cul­tura que lib­er­ta. Movi­men­to eu pen­so que é out­ra coisa. Pen­so que o hip hop, com a tril­ha sono­ra do rap, mudou a real­i­dade de mui­ta gente, influ­en­ciou mui­ta gente. As pes­soas se iden­ti­fi­cam mais com a músi­ca, é uma coisa nat­ur­al. A maio­r­ia se iden­ti­fi­ca mais com a músi­ca do que os out­ros ele­men­tos da cul­tura, mes­mo que eles não sejam menos impor­tantes. Mas a gente é mais pego pela músi­ca, nat­u­ral­mente. A músi­ca rap, que faz parte da cul­tura hip hop, aju­dou a influ­en­ciar mui­ta gente”, afir­ma.

O mundo outrora secreto dos beats

Uma exposição de dis­cos impor­tantes para a cul­tura hip hop faz parte da pro­gra­mação do fes­ti­val. O públi­co terá a chance de con­hecer tan­to LPs que têm relevân­cia por con­ta de faixas como pela arte grá­fi­ca das capas.

Décadas atrás, ain­da não exis­ti­am os smart­phones, nem os aplica­tivos capazes de recon­hecer uma músi­ca, aciona­dos com um úni­co coman­do dos dedos sobre o tecla­do do apar­el­ho, como o Shaz­am, o Sound­Hound, o Musix­match e o Genius. Quan­do se escu­ta­va algum sam­ple usa­do pelos rap­pers, depen­dia-se da boa von­tade de quem o toca­va rev­e­lar qual músi­ca era. Hoje, mes­mo em meio à muvu­ca da plateia de due­los e batal­has de MCs, a descober­ta se tornou muito mais fácil. Con­forme lem­bra a jor­nal­ista e cocu­rado­ra do fes­ti­val Lean­dra Sil­va, alguns DJs e MCs chegavam a riscar a capa dos dis­cos, para evi­tar que soubessem qual era a canção.

No domin­go, o públi­co poderá con­ferir a entre­vista com DJ KL Jay e DJ Hum, con­duzi­da pela jor­nal­ista Lean­dra Sil­va. Em 22 de agos­to, o fes­ti­val ofer­ece a ofic­i­na Sam­ple na Base — A arte de mixar e mas­teri­zar. A ativi­dade será min­istra­da por BaseMC Beat e DJ Comum. No dia 23, quem quis­er apro­fun­dar os con­hec­i­men­tos sobre sam­ple encon­tra mais uma alter­na­ti­va na mas­ter class Fazen­do Sam­ple, com DJ KL Jay, DJ Will e Kamau.

Durante o fes­ti­val, DJ KL Jay tam­bém fará o lança­men­to ofi­cial do com­pacto que con­tém Esta­mos Vivos, de ZL Kil­la, Fha­to, Emmy Jota e Jota Ghet­to, e Ter­ritório Inimi­go, de Anar­ka, Amiri e Jota Ghet­to. Pro­duzi­das por DJ KL Jay, as duas faixas foram espe­cial­mente edi­tadas em vinil de 7 pole­gadas para cel­e­brar os 50 anos do movi­men­to hip hop e reúnem artis­tas da gravado­ra KL Músi­ca, selo cri­a­do pelo DJ no começo dos anos 2000, para dar pro­jeção a jovens artis­tas do rap nacional.

SERVIÇO

 Fes­ti­val Sam­ple
De 12 a 30 de agos­to de 2023
Cen­tro Cul­tur­al São Paulo*
Rua Ver­gueiro, 1000 — Paraí­so, São Paulo
*Ingres­sos para as ativi­dades espe­ci­ais serão disponi­bi­liza­dos para reser­va na bil­hete­ria online e pres­en­cial, uma sem­ana antes da aber­tu­ra do fes­ti­val.

Con­fi­ra a pro­gra­mação e o horário dos even­tos:

Exposição:
De 12 a 30 de agos­to

De Terças a sex­tas, das 10h às 20h.
Sába­dos, domin­gos e feri­ados, das 10h às 18h
Fecha­da às segun­das-feiras

Praça das Bib­liote­cas

Aber­tu­ra:
Show e per­for­mance:
Dia 12 de agos­to, das 19h às 21h, na Sala Adoniran Bar­bosa

Mater­class­es:
Sam­ple na Base – A arte de mixar e mas­teri­zar, com BaseMC Beat e DJ Comum
Dia 22 de agos­to, das 19h às 21h, na Sala de Ensaio II

Fazen­do Sam­ple, com DJ KL Jay, DJ Will e Kamau
Dia 23 de agos­to, das 19h às 21h, na Sala de Ensaio II

Show de Encer­ra­men­to
Dia 30 de agos­to, das 19h às 21h, na Sala Adoniran Bar­bosa

*Colab­o­raram Guil­herme Jerony­mo, da TV Brasil, e Vic­tor Ribeiro, da Rádio Nacional.

Edição: Aline Leal

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