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Filme Rejeito aborda violência que a mineração leva a cidades mineiras

Documentário mostra impactos humanos sob a perspectiva do “terrorismo”

Guil­herme Jerôny­mo – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 05/11/2025 — 08:26
São Paulo
Comunidade de Paracatu, distrito de Mariana, atingida pelo rejeito após o desastre do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana.
Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Estre­ou na últi­ma sem­ana nos cin­e­mas nacionais o doc­u­men­tário Rejeito, dirigi­do por Pedro de Fil­ip­pi. 

Fil­ma­do e pro­duzi­do durante qua­tro anos, o filme abor­da o cotid­i­ano das comu­nidades de peque­nas cidades de Minas Gerais que tem inten­sa ativi­dade min­er­ado­ra, como Socor­ro e Barão de Cocais, e tem tido boa acol­hi­da em fes­ti­vais nacionais e inter­na­cionais que val­orizam temas ambi­en­tais.

A obra, que cir­cu­la des­de 2023 em fes­ti­vais, acom­pan­ha o cotid­i­ano dos moradores e abre espaço para suas falas e para a dis­cussão de como o medo da repetição de desas­tres como o de Mar­i­ana é usa­do como instru­men­to para pres­sion­ar pela saí­da de comu­nidades inteiras, entre­gan­do os ter­ritórios para a expan­são das ativi­dades de min­er­ação.

Terrorismo de barragens

O assé­dio a essas comu­nidades é o tema que guia o dire­tor, além de suas estraté­gias para con­tin­uar lutan­do pelo dire­ito à existên­cia em regiões nas quais elas estão há dezenas de anos.

Essa inves­ti­gação foi fei­ta em parce­ria com uma das líderes comu­nitárias que se lev­an­ta con­tra a pressão das empre­sas, a ambi­en­tal­ista Maria Tereza Coru­jo, a Teca, que acom­pan­ha o tema des­de os anos 1990.

Segun­do ela, a atu­ação das min­er­ado­ras no esta­do coop­ta o poder públi­co, destrói recur­sos nat­u­rais e igno­ra os inter­ess­es dos moradores, dividin­do comu­nidades e famílias. 

“O que a gente viu, isso é categóri­co, em Socor­ro, a gente sem­pre vê esse movi­men­to de aquisição e através de uma divisão dessas comu­nidades, até geográ­fi­ca. Irmãos foram realo­ca­dos em casas em bair­ros dis­tantes. Hou­ve reuniões com advo­ga­dos sep­a­ra­dos. Intri­gas. Lit­eral­mente sep­a­rar para dividir. Hoje, em Socor­ro, 90% já é da Vale. A pre­visão para voltar [a comu­nidade foi esvazi­a­da às pres­sas após um aler­ta de risco de rompi­men­to de bar­ragem] de 2023 foi esten­di­da para 2029”, expli­ca Teca, con­tan­do um dos casos mais impor­tantes do filme e do esta­do, à Agên­cia Brasil.

Segun­do ela, essa comu­nidade sofre uma série de pressões para vender as ter­ras a preços baixos, com deslo­ca­men­to dos moradores da região, descar­ac­ter­i­zan­do sua ocu­pação e deixan­do a admin­is­tração do ter­ritório, na práti­ca, aos inter­ess­es dos empreendi­men­tos de min­er­ação, que expan­dem seus pro­je­tos com mais facil­i­dade após a ausên­cia de ocu­pação.

Esse proces­so de uso do risco imi­nente como instru­men­to para deslo­car pes­soas e descar­ac­teri­zar comu­nidades é o chama­do “ter­ror­is­mo de bar­ra­gens”, ter­mo que resume a estraté­gia denun­ci­a­da na obra.

“É uma estraté­gia anti­ga do cap­i­tal­is­mo, de apro­pri­ação por acu­mu­lação. O medo cau­sa­do pelo próprio setor da min­er­ação, soma­do aí os rompi­men­tos tam­bém, mas não só eles, como uma fer­ra­men­ta para legit­i­mar a expan­são da min­er­ação, prin­ci­pal­mente em ter­ritórios que ela não con­segue aces­sar sem evac­uar [os moradores]”, diz o dire­tor do filme, Pedro Fil­ip­pi.

Para ele, o tema é cen­tral e pre­ocu­pante, assim como a inserção dos inter­ess­es das empre­sas no poder públi­co, desnuda­do recen­te­mente na Oper­ação Rejeito, da Polí­cia Fed­er­al.

“Então, o ter­ror­is­mo de bar­ragem vem como uma estraté­gia para con­tornar algo que seria quase impos­sív­el de se con­seguir.”

Exibição

O primeiro públi­co de Rejeito foram as próprias comu­nidades. Fil­ip­pi voltou aos lugares onde fil­mou e, com as lid­er­anças entre­vis­tadas e os moradores, além de um pro­je­tor, fez as primeiras exibições, em lugares como Barão de Cocais e Itabi­ra.

Ele ain­da pre­tende pas­sar por sete municí­pios que são asse­di­a­dos pelo Pro­je­to Apo­lo – hoje o maior empreendi­men­to de min­er­ação na região cen­tral do esta­do, com poten­cial para se tornar o maior pro­je­to de min­er­ação de fer­ro do país. Áreas de Mar­i­ana e Bru­mad­in­ho tam­bém devem rece­ber sessões comu­nitárias.

“Eu não prome­to nada, prin­ci­pal­mente para as comu­nidades onde eu atuo. Eu não acho que o filme ten­ha esse poder de traz­er promes­sa, nem um poder de trans­for­mação iso­lada­mente. Ele é mais uma das expressões, entre as várias expressões de um movi­men­to de resistên­cia muito grande em Minas Gerais.”

Rejeito estre­ou na sem­ana pas­sa­da no cir­cuito com­er­cial paulis­tano, onde deve ficar na primeira quinzena de novem­bro, data escol­hi­da pela prox­im­i­dade dos dez anos do rompi­men­to da bar­ragem de Mar­i­ana.

Des­de sua final­iza­ção, há dois anos, cir­cu­lou por fes­ti­vais de temáti­ca ambi­en­tal, no Brasil e no exte­ri­or, além de pas­sar pelo fes­ti­val do Rio.

Posição da Vale

Prin­ci­pal min­er­ado­ra em Minas Gerais, a Vale foi procu­ra­da pela reportagem e se posi­cio­nou, em relação às acusações de desre­speito às comu­nidades.

A empre­sa afir­mou, por meio de sua asses­so­ria, que tem avança­do con­tin­u­a­mente para mit­i­gar os impactos de suas oper­ações nos ter­ritórios onde atua, pro­moven­do um rela­ciona­men­to con­stru­ti­vo e respeitoso.

Para isso, man­tém canais de diál­o­go aber­tos e pro­move o enga­ja­men­to ati­vo das pop­u­lações locais nos proces­sos de toma­da de decisão. A empre­sa artic­u­la difer­entes áreas inter­nas para geren­ciar riscos, apoiar o desen­volvi­men­to local e for­t­ale­cer relações baseadas na transparên­cia e na con­fi­ança.

Segun­do a nota, “a empre­sa atua tan­to no con­tex­to da reparação de Bru­mad­in­ho quan­to em suas oper­ações reg­u­lares, pri­or­izan­do a gestão de riscos e impactos e respei­tan­do os dire­itos e as especi­fi­ci­dades socio­cul­tur­ais dessas comu­nidades”.

Desta­cou tam­bém o inves­ti­men­to em cul­tura, com apoio a artis­tas locais, pro­je­tos de cul­tura pop­u­lar, res­gate e con­ser­vação de patrimônio históri­co e a cri­ação de um museu em Mar­i­ana.

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