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Filme revisita história do Brasil a partir da trajetória de PC Farias

Repro­dução: adorocinema.com/

Longa-metragem Morcego Negro entra em cartaz nesta quinta-feira


Publicado em 21/03/2024 — 07:48 Por Daniel Mello — Repórter da Agência Brasil — São Paulo

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Um per­son­agem que chegou às alturas do poder encober­to pelas som­bras é o tema do doc­u­men­tário Morcego Negro. O filme, que entra em car­taz nes­ta quin­ta-feira (21), recon­ta a história de Paulo César Farias, empresário e tesoureiro da cam­pan­ha que lev­ou Fer­nan­do Col­lor de Mel­lo à Presidên­cia da Repúbli­ca em 1989.

“Ele não é uma figu­ra públi­ca. O PC se tor­na públi­co por meio da CPI [Comis­são Par­la­men­tar de Inquéri­to]. Ninguém da pop­u­lação em ger­al sabia quem era PC Farias, o que fazia, o que fala­va, o que comia, o que pen­sa­va”, comen­ta Cleis­son Vidal, que dirige o lon­ga-metragem ao lado de Chaim Litews­ki.

Impeachment

Col­lor foi o primeiro pres­i­dente eleito por votação dire­ta des­de o golpe que instau­rou a ditadu­ra mil­i­tar em 1964. O empresário alagoano deixaria o Palá­cio do Planal­to após sofr­er proces­so de impeach­ment no Con­gres­so Nacional, no segun­do ano de gov­er­no, em 1992. A per­da do manda­to ocor­reu  dev­i­do a escân­da­los de cor­rupção, em que PC, apon­ta­do como figu­ra cen­tral, foi inves­ti­ga­do em CPI ao lon­go daque­le mes­mo ano.

“É um perío­do muito tur­bu­len­to”, diz o dire­tor, lem­bran­do que enquan­to o Brasil vivia a rede­moc­ra­ti­za­ção, o mun­do encar­a­va o fim da União Soviéti­ca e a polar­iza­ção da Guer­ra Fria. “É um perío­do de tran­sição no mun­do”, enfa­ti­za.

“É uma coisa de olhar a história de novo, enten­der quem são essas fig­uras, ess­es per­son­agens, qual o papel que foi dado a eles e o que de fato rep­re­sen­taram”, expli­ca Vidal sobre as moti­vações do filme, que tem depoi­men­tos de fig­uras-chave à época, como o próprio Col­lor e o então líder do gov­er­no no Con­gres­so, Renan Cal­heiros. “A gente tin­ha o com­pro­mis­so de ten­tar falar com essas pes­soas numa per­spec­ti­va históri­ca, já com cer­to dis­tan­ci­a­men­to, com a vida delas em out­ro momen­to”, acres­cen­ta o dire­tor.

Vilão

A ascen­são de Col­lor ao poder fez com que PC tam­bém chegasse às alturas em influên­cia na políti­ca nacional. Um ele­men­to que ilus­tra mate­r­i­al e sim­boli­ca­mente esse momen­to é o jato par­tic­u­lar adquiri­do pelo empresário. A aeron­ave, bati­za­da por ele de Morcego Negro, foi alvo de inves­ti­gações e espec­u­lações até depois de sua morte.

A con­strução de PC como vilão é um dos pon­tos explo­rados pelo filme. Os depoi­men­tos mostram que a per­son­ifi­cação dos escân­da­los no tesoureiro mis­tu­ra­va con­veniên­cia e pre­con­ceito. Até a aparên­cia físi­ca do empresário teria sido apro­pri­a­da para essa con­strução.

Care­ca, com bigode definido como “grande demais” por um dos entre­vis­ta­dos, com gos­to por roupas extrav­a­gantes, além da origem nordes­ti­na, são ele­men­tos cita­dos como propí­cios para com­por essa imagem. “Ali você tin­ha o inter­esse de cri­ar uma imagem neg­a­ti­va daque­la pes­soa. E, por sua vez, atin­gir o pres­i­dente da Repúbli­ca. Então, onde você pega? Você pega nos estereóti­pos”, diz Vidal.

Em con­trapon­to, o filme traz ele­men­tos menos lem­bra­dos a respeito do tesoureiro, apre­sen­ta­do por diver­sas vezes como pes­soa sim­páti­ca, cul­ta e que val­oriza­va os momen­tos em família. Fal­tam, no entan­to, gravações em que PC teve a opor­tu­nidade de falar sobre si mes­mo, por isso o reg­istro da CPI gan­ha importân­cia.

“Ele pede a palavra ao Con­gres­so e fala: ‘deixa eu con­tar a min­ha história’. Porque, até então, a história dele esta­va sendo con­ta­da pelos jor­nais e revis­tas. Ali, de fato, ele se tor­na uma figu­ra públi­ca. Você não tem reg­istro do PC antes, de áudio ou fil­magem. Por isso que a gente entende que aqui­lo ali seja a mel­hor peça sobre o PC”, expli­ca o dire­tor sobre a importân­cia do reg­istro.

Religiosidade

Um aspec­to ínti­mo que emerge e se mis­tu­ra à vida públi­ca do tesoureiro é a reli­giosi­dade. Mãe Miri­an, uma das matri­ar­cas das religiões de matriz africana de Alagoas, é uma das entre­vis­tadas para o filme. Para Vidal, a ialorixá ante­cipou o des­ti­no trági­co que esper­a­va PC. “Ela acer­ta tudo que fala. Os búzios dela acer­tam tudo. Ela con­tou ao PC algu­mas coisas, ou intu­iu ou dire­cio­nou”, comen­ta o dire­tor. “A esposa do PC é uma mul­her muito espir­i­tu­al­iza­da. São ess­es ele­men­tos ricos que tor­nam as fig­uras dos per­son­agens brasileiros tão com­plexas”, com­ple­men­ta.

A própria natureza da ativi­dade políti­ca, na visão de Vidal, aca­ba atrain­do a neces­si­dade de fer­ra­men­tas que vão além do racional. “Políti­ca é uma coisa muito aber­ta, de mui­ta ener­gia, não dá para con­fi­ar só nas pesquisas de mer­ca­do. Tam­bém pre­cisa da pro­teção do não visív­el, da ener­gia cós­mi­ca humana que se traduz por meio da religião”, afir­ma.

Fuga e morte

Após a saí­da de Col­lor da Presidên­cia, PC foge do país. O doc­u­men­tário mostra que durante o perío­do em que esteve na clan­des­tinidade no exte­ri­or, o empresário teve a aju­da de autori­dades estrangeiras em alguns país­es. Ao retornar, pas­sa algum tem­po na prisão.

Já em liber­dade, em jun­ho de 1996, PC Farias é assas­si­na­do jun­to com a namora­da Suzana Mar­col­i­no. A primeira ver­são é de que ela teria mata­do o empresário e se sui­ci­da­do depois. Exam­es peri­ci­ais pos­te­ri­ores descar­tam a hipótese de suicí­dio. Qua­tro poli­ci­ais mil­itares que fazi­am a segu­rança da casa em que o casal foi mor­to chegaram a ser jul­ga­dos pelo crime em 2013, sendo absolvi­dos ao final.

Edição: Graça Adju­to

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