...
sexta-feira ,29 março 2024
Home / Esportes / Fora da F1, Brasil tem desafios na base para alavancar automobilismo

Fora da F1, Brasil tem desafios na base para alavancar automobilismo

formula_vee_augusto_santin

© Fer­nan­do Santos/Divulgação FVee/Direitos Reser­va­dos (Repro­du­ção)

Expansão do kart e transição para outras categorias são alternativas


Publi­ca­do em 28/03/2021 — 08:00 Por Lin­coln Cha­ves — Repór­ter da TV Bra­sil e Rádio Naci­o­nal — São Pau­lo

A tem­po­ra­da 2021 da Fór­mu­la 1 come­ça nes­te domin­go (28) da mes­ma for­ma que as últi­mas três edi­ções: sem pilo­to bra­si­lei­ro no grid. É ver­da­de que, no ano pas­sa­do, Pie­tro Fit­ti­pal­di cor­reu duas eta­pas pela Haas, subs­ti­tuin­do o então aci­den­ta­do fran­cês Romain Gros­je­an, mas este ano o neto do cam­peão mun­di­al Emer­son Fit­ti­pal­di vol­tou ao pos­to de pilo­to de tes­tes da escu­de­ria nor­te-ame­ri­ca­na. A últi­ma vez que um bra­si­lei­ro ini­ci­ou uma edi­ção da mais impor­tan­te cate­go­ria do auto­mo­bi­lis­mo foi em 2017, com Feli­pe Mas­sa, na Wil­li­ams.

Para a ter­cei­ra nação com mais títu­los na his­tó­ria da F1 — oito ao todo —  e que rece­be uma eta­pa ofi­ci­al des­de 1973, é uma ausên­cia que cha­ma aten­ção. O pre­si­den­te da Con­fe­de­ra­ção Bra­si­lei­ra de Auto­mo­bi­lis­mo (CBA), Gio­van­ni Guer­ra, porém, enten­de que ana­li­sar o momen­to da moda­li­da­de no país vai além da pre­sen­ça ou não na cate­go­ria.

“Acho que a ausên­cia de pilo­to bra­si­lei­ro na Fór­mu­la 1 não é parâ­me­tro para deter­mi­nar suces­so ou insu­ces­so. O mode­lo de negó­cio tor­nou a cate­go­ria tão exclu­si­va que o aces­so ficou pra­ti­ca­men­te impos­sí­vel. A cami­nha­da ficou mui­to difí­cil, ao mes­mo tem­po em que novas cate­go­ri­as foram sur­gin­do. Assim, os jovens que ingres­sam no auto­mo­bi­lis­mo, atu­al­men­te, têm um leque mui­to mai­or de opções na hora de sonhar com uma car­rei­ra, que não pro­pri­a­men­te a Fór­mu­la 1”, ana­li­sa Guer­ra, em entre­vis­ta à Agên­cia Bra­sil.

Lucas di Grassi

O pilo­to ‚Lucas Di Gras­si, de 36 anos, dis­pu­ta a tem­po­ra­da des­te ano da Fór­mu­la E, de car­ros elé­tri­cos — Divulgação/Audi Com­mu­ni­ca­ti­ons Motors­port (Repro­du­ção)

“O que deve ser obser­va­do é quan­tos pilo­tos vivem pro­fis­si­o­nal­men­te no auto­mo­bi­lis­mo — inter­na­ci­o­nal ou inter­no — e quan­tos estão na tri­lha da Fór­mu­la 1. Ain­da, como pode­mos aju­dar esses e mais pilo­tos a ingres­sa­rem na car­rei­ra e che­ga­rem nos está­gi­os mais altos, se o que faze­mos é sufi­ci­en­te ou se há algo mais a fazer”, com­ple­ta o diri­gen­te, que assu­miu a enti­da­de há dois meses e meio.

Nos cam­pe­o­na­tos de mono­pos­tos orga­ni­za­dos pela Fede­ra­ção Inter­na­ci­o­nal de Auto­mo­bi­lis­mo (FIA), o Bra­sil está repre­sen­ta­do em três. O úni­co con­si­de­ra­do “Mun­di­al” pela enti­da­de é a Fór­mu­la E, de car­ros elé­tri­cos, cuja edi­ção ini­ci­a­da em feve­rei­ro tem o expe­ri­en­te Lucas Di Gras­si, de 36 anos e com pas­sa­gem pela Fór­mu­la 1, e Sér­gio Set­te Câma­ra, de 22 anos.

Nas demais com­pe­ti­ções, são três bra­si­lei­ros na Fór­mu­la 2 — Feli­pe Dru­go­vi­ch (20 anos), Gian­lu­ca Pete­cof (18) e Gui­lher­me Samaia (24) — e Caio Col­let (18) na Fór­mu­la 3. Todas são cate­go­ri­as de aces­so à F1. Em 2020, os des­ta­ques foram Dru­go­vi­ch, que ven­ceu três pro­vas na tem­po­ra­da da F2, e Pete­cof, que inte­gra a aca­de­mia de pilo­tos da Fer­ra­ri e foi cam­peão da Fór­mu­la 3 Regi­o­nal Euro­peia.

Kartismo

“O auto­mo­bi­lis­mo é mui­to com­ple­xo. É um espor­te caro, que, infe­liz­men­te, não é para a mas­sa. A gen­te tem que olhar isso de for­ma prag­má­ti­ca, raci­o­nal, de como fazer ele ser viá­vel, gerar retor­no, entre­te­ni­men­to e turis­mo. É resul­ta­do de infra­es­tru­tu­ra, inves­ti­men­to e pla­ne­ja­men­to, des­de o kar­tis­mo, do lon­go pra­zo”, opi­na Di Gras­si, da Fór­mu­la E.

A men­ção ao kart não é por aca­so. Tra­ta-se da por­ta de entra­da do jovem no mun­do auto­mo­bi­lís­ti­co. Em outu­bro, o Bra­sil sedi­a­rá o Mun­di­al da cate­go­ria no Spe­ed­park, em Biri­gui (SP), con­si­de­ra­do o prin­ci­pal kar­tó­dro­mo da Amé­ri­ca Lati­na. A dis­pu­ta esta­va pre­vis­ta já para 2020, mas foi adi­a­da devi­do à pan­de­mia do novo coro­na­ví­rus (covid-19). A edi­ção do ano pas­sa­do aca­bou acon­te­cen­do em Por­ti­mão (Por­tu­gal), com par­ti­ci­pa­ção de dez bra­si­lei­ros, sen­do cin­co na clas­se prin­ci­pal.

roberto_faria_formula_3_britanica

 kar­tis­ta bai­a­no Dio­go Mos­ca­to, de 16 anos, cam­peão esta­du­al da cate­go­ria em 2019. — Cris Reis/Direitos reser­va­dos (Repro­du­ção)

A ofer­ta de pis­tas no país, no entan­to, con­cen­tra-se basi­ca­men­te no Sul e no Sudes­te. Segun­do a rela­ção dis­po­ní­vel no site da CBA, Rio Gran­de do Sul (11), Para­ná (dez) e São Pau­lo (seis) são os esta­dos com mais kar­tó­dro­mos. Um desa­fio a mais para quem sonha seguir car­rei­ra no auto­mo­bi­lis­mo e não vive nes­tas regiões. Nor­des­te, Nor­te e Cen­tro-Oes­te, jun­tos, pos­su­em nove cir­cui­tos.

“Meu iní­cio em Sal­va­dor, é cla­ro, foi bem com­pli­ca­do. A pis­ta de kart mais pró­xi­ma tinha 500, 600 metros. Em com­pa­ra­ção, as naci­o­nais, como Inter­la­gos [na capi­tal pau­lis­ta] ou Beto Car­rei­ro [em Penha, no inte­ri­or de San­ta Cata­ri­na], têm um quilô­me­tro, um quilô­me­tro e meio. Não é pos­sí­vel trei­nar de car­ro na Bahia, pela fal­ta de autó­dro­mo. Então, a deci­são de cor­rer em São Pau­lo foi para bus­car mais opor­tu­ni­da­des”, expli­ca o kar­tis­ta bai­a­no Dio­go Mos­ca­to, de 16 anos.

“Temos no Bra­sil kar­tó­dro­mos públi­cos e pri­va­dos. Eles são cons­truí­dos de acor­do com a von­ta­de polí­ti­ca e/ou recur­sos finan­cei­ros dis­po­ní­veis de cada local. O que pre­ci­sa­mos, mes­mo, é pre­ser­var o que já temos e refor­mar o que não está em con­di­ções boas. Pos­so asse­gu­rar que há pilo­tos em todos os can­tos do país. O que fal­ta é impul­si­o­nar cam­pe­o­na­tos em cada região para os pilo­tos locais terem opor­tu­ni­da­de de com­pe­tir e se desen­vol­ver. Uma das pri­mei­ras ações de nos­sa ges­tão foi cri­ar o Cam­pe­o­na­to Nor­des­te de Kart”, argu­men­ta Guer­ra, citan­do o even­to que será dis­pu­ta­do pela pri­mei­ra vez em 2021 e teve a eta­pa de aber­tu­ra, em Ara­ca­ju, adi­a­da de abril para julho, devi­do à pan­de­mia.

Transição

Outro desa­fio é a tran­si­ção do kart para outras cate­go­ri­as. Há cam­pe­o­na­tos como a Fór­mu­la Vee ou a Super Fór­mu­la, rea­li­za­dos pela Fede­ra­ção Pau­lis­ta de Auto­mo­bi­lis­mo. Atu­al­men­te, porém, não exis­te uma com­pe­ti­ção do gêne­ro homo­lo­ga­da pela CBA. A enti­da­de tem um pro­je­to para via­bi­li­zar um even­to naci­o­nal de mono­pos­tos, por meio de par­ce­ri­as.

“A CBA não é orga­ni­za­do­ra, não é pro­mo­to­ra, não é dona de pis­ta de cor­ri­da, não cons­trói cir­cui­tos e nem é patro­ci­na­do­ra. Nos­sa fun­ção é fomen­tar, nor­ma­ti­zar e super­vi­si­o­nar o cum­pri­men­to dos regu­la­men­tos. Além dis­so, fir­ma­mos con­tra­tos com pro­mo­to­res pri­va­dos para que atu­em nas cate­go­ri­as sob nos­sa alça­da. A CBA só atua como pro­mo­to­ra, em con­jun­to com as fede­ra­ções, quan­do não há a figu­ra do pro­mo­tor pri­va­do, como no Bra­si­lei­ro de Kart”, expli­ca o pre­si­den­te da con­fe­de­ra­ção.

roberto_faria_f3_britanica

 O pilo­to cari­o­ca Rober­to Faria dis­pu­ta­rá este ano a segun­da tem­po­ra­da dele na Fór­mu­la 3 Bri­tâ­ni­ca — Jakob Ebrey/Direitos reser­va­dos (Repro­du­ção)

O últi­mo cam­pe­o­na­to de nível naci­o­nal foi a Fór­mu­la 3 Bra­sil, dis­pu­ta­da até 2017 e que teve Chris­ti­an Fit­ti­pal­di, Ricar­do Zon­ta e Cris­ti­a­no da Mat­ta (todos com pas­sa­gem pela Fór­mu­la 1) entre os cam­peões. O últi­mo ven­ce­dor foi Gui­lher­me Samaia, hoje na F2.

“Eu podia ter con­ti­nu­a­do no Bra­sil, no kart ou até mes­mo algu­ma cate­go­ria de base [para mono­pos­tos], mas a gen­te colo­cou na balan­ça e viu que era mui­ta a dife­ren­ça na qua­li­da­de do equi­pa­men­to, pis­tas e infra­es­tru­tu­ra. Quan­do fui para a Fór­mu­la 4 [ingle­sa], ain­da não tinha uma Fór­mu­la 4 no Bra­sil, por isso esco­lhi ir”, con­ta o cari­o­ca Rober­to Faria, que dis­pu­ta­rá a segun­da tem­po­ra­da dele na Fór­mu­la 3 Bri­tâ­ni­ca.

Entre os dias 16 e 18 abril terá iní­cio à pri­mei­ra tem­po­ra­da da Fór­mu­la 4 Argen­ti­na. Estão pre­vis­tas oito eta­pas, sen­do uma no Uru­guai e três no Bra­sil — nos autó­dro­mos de Goi­â­nia, Nova San­ta Rita (RS) e Pinhais (PR), ain­da sem datas mar­ca­das, em razão da pan­de­mia. O even­to segue padrões téc­ni­cos e de segu­ran­ça exi­gi­dos pela FIA e con­ta pon­tos para obten­ção da super­li­cen­ça, docu­men­to neces­sá­rio para, no futu­ro, o pilo­to ser auto­ri­za­do a dis­pu­tar a Fór­mu­la 1. No cur­to pra­zo, a com­pe­ti­ção sul-ame­ri­ca­na des­pon­ta como o cami­nho mais cur­to às novas gera­ções no sonho de uma car­rei­ra inter­na­ci­o­nal.

Edi­ção: Cláu­dia Soa­res Rodri­gues

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Fluminense conquista título da Recopa Sul-Americana sobre a LDU

Repro­du­ção: © Mar­ce­lo Goncalves/Fluminense F. C./Direitos Reser­va­dos Jhon Arias marcou duas vezes para garantir o …