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Formação de professores é desafio no ensino fundamental, diz pesquisa

Repro­dução: Tânia Rêgo/Arquivo/Agência Brasil

Saúde mental de alunos e docentes também aparece entre problemas


Pub­li­ca­do em 09/08/2023 — 07:30 Por Mar­i­ana Tokar­nia – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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For­mação dos pro­fes­sores, saúde men­tal de alunos e docentes e fal­ta de envolvi­men­to das famílias são os prin­ci­pais desafios enfrenta­dos nas esco­las públi­cas nos anos finais do ensi­no fun­da­men­tal, eta­pa que vai do 6º ao 9º anos. As infor­mações são de pesquisa inédi­ta, divul­ga­da nes­ta quar­ta-feira (9), que con­tou com a par­tic­i­pação de mais de 3,3 mil diri­gentes de edu­cação de municí­pios de todo o país.

A pesquisa Per­cepções e Desafios dos Anos Finais do Ensi­no Fun­da­men­tal nas redes munic­i­pais de ensi­no foi fei­ta em parce­ria entre o Itaú Social e a União dos Diri­gentes Munic­i­pais de Edu­cação (Undime) para iden­ti­ficar os prin­ci­pais gar­ga­los na ofer­ta e na gestão nes­ta eta­pa esco­lar.

Os resul­ta­dos mostram que a maio­r­ia dos gestores, 75,2%, con­sid­era desafio a saúde men­tal dos estu­dantes e pro­fes­sores. Aprox­i­mada­mente a mes­ma por­cent­agem, 74,1%, apon­ta como desafios a fal­ta de envolvi­men­to das famílias e 69,9%, a for­mação de pro­fes­sores a respeito de aspec­tos especí­fi­cos da eta­pa. Além dis­so, 64,6% con­sid­er­am desafi­ado­ra a tran­sição do 5º para o 6º ano e 57,2% apon­tam a questão da infraestru­tu­ra das esco­las para atendi­men­to da deman­da.

Para o pres­i­dente da Undime, Luiz Miguel Gar­cia, os dados do estu­do mostram a neces­si­dade de mais atenção para esta eta­pa do ensi­no. “Chama a atenção para a edu­cação na sua inte­gral­i­dade. A gente pre­cisa aten­der às questões socioe­mo­cionais, pre­cisa com­preen­der e aju­dar as cri­anças, os jovens e os ado­les­centes a se situ­arem. Defin­i­ti­va­mente, não dá para faz­er uma edu­cação com­par­ti­men­ta­da, com visão con­teud­ista.”

De acor­do com a ger­ente de Desen­volvi­men­to e Soluções do Itaú Social, Sônia Dias, os anos finais do ensi­no fun­da­men­tal são uma eta­pa de muitas mudanças na vida do estu­dante. Os alunos deix­am de ter aula ape­nas com um pro­fes­sor e pas­sam a ter aulas com pro­fes­sores de áreas especí­fi­cas. Além dis­so, é a tran­sição da infân­cia para a juven­tude, eta­pa geral­mente cur­sa­da entre os 11 e 14 anos de idade. Segun­do Sônia, todas essas mudanças e tran­sições impactam no proces­so de ensi­no e apren­diza­gem.

“É muito comum que a gente veja nes­sa faixa etária cri­anças que não estão pre­stando atenção, ou que têm muito sono, mas porque o cére­bro está em desen­volvi­men­to e muitas vezes ela pre­cisa dessa ener­gia para ela mes­ma. Muitas vezes, o ado­les­cente que está nes­sa faixa etária tem momen­tos de grande ques­tion­a­men­to, muitas vezes, de solidão, de medo em relação a mudanças físi­cas – a voz muda, o cor­po muda, é uma fase de grandes inse­gu­ranças”, diz Sônia Dias.

Diante desse cenário, são necessárias ações especí­fi­cas. A pesquisa mostra que 54,1% das redes de ensi­no que par­tic­i­param do lev­an­ta­men­to declar­am que não têm uma equipe ded­i­ca­da à adap­tação dos estu­dantes, na tran­sição do 5º para o 6º ano, e que 27,8% não ofer­e­cem espaços e gru­pos de acol­hi­men­to aos alunos. Sobre o envolvi­men­to das famílias, a pesquisa rev­ela que 21% das redes de ensi­no não imple­men­tam, ou imple­men­tam com mui­ta difi­cul­dade, estraté­gias de enga­ja­men­to dos famil­iares; 57% imple­men­tam com algu­ma difi­cul­dade e 22% imple­men­tam sem difi­cul­dade.

Formação profissional

A pesquisa mostrou a neces­si­dade de for­mação con­tin­u­a­da mais alin­ha­da aos desafios desse perío­do esco­lar. A for­mação con­tin­u­a­da é aque­la que o profis­sion­al faz ao lon­go da car­reira para desen­volver deter­mi­na­dos saberes e se man­ter atu­al­iza­do.

Con­forme a pesquisa, quase metade das redes, 49,2%, ofer­ta aos pro­fes­sores for­mações uma vez a cada dois meses para docentes; 26,1%, uma vez a cada seis meses; e 6,8%, uma vez ao ano. As pro­porções são semel­hantes na ofer­ta de for­mação para out­ros profis­sion­ais, como dire­tores esco­lares e coor­de­nadores pedagógi­cos e pes­soal das sec­re­tarias.

As temáti­cas mais ofer­tadas são for­mas lúdi­cas, críti­cas e par­tic­i­pa­ti­vas de apren­diza­gem (30,4%), usos de metodolo­gias que pro­movam a apren­diza­gem autôno­ma e par­tic­i­pa­ti­va (26,9%) e con­teú­dos especí­fi­cos das áreas e com­po­nentes cur­ric­u­lares (28,4%). Já aque­las menos ofer­tadas são con­teú­dos sobre as mudanças e o desen­volvi­men­to da ado­lescên­cia nos estu­dantes (19,4%); a imple­men­tação de con­teú­dos de ensi­no de história e cul­tura africana e afro-brasileira (19,8%) e abor­da­gens especí­fi­cas para cor­reção da dis­torção idade-série e da tra­jetória esco­lar (14,4%).

“A for­mação ini­cial deixa muitas lacu­nas e, por isso, a importân­cia maior ain­da que a for­mação con­tin­u­a­da exista. É claro que todo profis­sion­al pre­cisa se man­ter atu­al­iza­do, mas cada vez mais a gente tem vis­to esse papel indu­tor e fun­da­men­tal da for­mação con­tin­u­a­da para os pro­fes­sores”, diz a ger­ente do Itaú Social. Para ela, a for­mação que existe na maio­r­ia das redes pode ser con­sid­er­a­da frágil, dada a baixa fre­quên­cia com que ocorre.

Segun­do os dados cole­ta­dos, as redes apon­tam como difi­cul­dade a fal­ta de mate­ri­ais pedagógi­cos para aplicar os con­teú­dos das for­mações em sala de aula (47,7%); a fre­quên­cia de profis­sion­ais nas for­mações con­tin­u­adas (51,7%) e mes­mo a adesão dos profis­sion­ais às for­mações con­tin­u­adas (55,1%).

Para Luiz Miguel Gar­cia, da Undime, a for­mação ini­cial dos pro­fes­sores, nas grad­u­ações, tam­bém pre­cisa ser revista, para se aprox­i­mar mais da real­i­dade das esco­las e faz­er com que os novos profis­sion­ais cheguem mais prepara­dos. “A gente vive uma grande crise porque a for­mação ini­cial dos pro­fes­sores não traz instru­men­tos de caráter pedagógi­co de for­mação ade­qua­da, que aprox­imem os futur­os pro­fes­sores da real­i­dade que vão encon­trar no dia a dia”, diz Gar­cia,

Ele afir­ma que a for­mação ini­cial dos pro­fes­sores no Brasil pre­cisa ser repen­sa­da para que se con­si­ga sair do mod­e­lo con­teud­ista e chegar a proces­sos mais reflex­ivos. Gar­cia desta­ca ain­da que a maior parte dos alunos de licen­ciat­uras opta pela modal­i­dade a dis­tân­cia o que, se não hou­ver uma exper­iên­cia nas esco­las pre­vista no cur­rícu­lo, os dis­tan­cia ain­da mais da real­i­dade das salas de aula.

Educação integral

A ofer­ta de edu­cação inte­gral tam­bém está entre os desafios das redes munic­i­pais. Em ger­al, no Brasil, 57,5% das redes respon­dentes declar­am ter ações para expan­são ou implan­tação da edu­cação inte­gral nos anos finais.

Entre as estraté­gias de ampli­ação da edu­cação inte­gral, a mais avança­da é a ofer­ta de dis­ci­plinas ele­ti­vas ou ativi­dades extras. Con­forme o estu­do, 42,8% das redes já implan­taram, mas out­ras 18,5% ain­da não têm planos para imple­men­tação. Out­ra ini­cia­ti­va apon­ta­da é o aumen­to do quadro de pro­fes­sores, con­cretiza­do por 39,9%.

O estu­do mostra, no entan­to, que seis em cada dez redes que imple­men­tam algu­ma estraté­gia de edu­cação inte­gral têm mui­ta difi­cul­dade com questões finan­ceiras e de infraestru­tu­ra.

A edu­cação em tem­po inte­gral tornou-se, recen­te­mente, políti­ca públi­ca nacional com a sanção da Lei 14.640/2023, que insti­tui o Pro­gra­ma Esco­la em Tem­po Inte­gral. O gov­er­no fed­er­al vai inve­stir R$ 4 bil­hões para ampli­ar em 1 mil­hão o número de matrícu­las de tem­po inte­gral nas esco­las de edu­cação bási­ca em 2023. A meta é alcançar, até 2026, cer­ca de 3,2 mil­hões de matrícu­las.

Soluções

Iden­ti­ficar as frag­ili­dades nas redes, segun­do Dias, é impor­tante para a bus­ca de soluções. “Ape­sar de a gente ter essas lacu­nas e frag­ili­dades, entende que tem mui­ta opor­tu­nidade. Os estu­dantes pas­sam por essas esco­las só uma vez. Então, a gente tem a opor­tu­nidade de tornar essa exper­iên­cia edu­ca­cional para eles a mel­hor pos­sív­el, uma exper­iên­cia que apoie o seu desen­volvi­men­to”, diz.

De acor­do com Gar­cia, são necessárias políti­cas públi­cas voltadas especi­fi­ca­mente para os anos finais do ensi­no fun­da­men­tal e que sejam con­jun­tas. “Os anos finais do ensi­no fun­da­men­tal ficaram esque­ci­dos. Isso que esta­mos fazen­do, esta­mos pau­tan­do ações que dis­cu­tam essa prob­lemáti­ca, e dis­cu­tir o que podemos faz­er jun­tos, essa con­strução pre­cisa ser con­jun­ta da União, de esta­dos e municí­pios.”

A pesquisa foi fei­ta entre 18 de maio e 26 de jun­ho deste ano. Ao todo, 3.329 diri­gentes munic­i­pais de ensi­no de todo o país respon­der­am a um ques­tionário vir­tu­al. Jun­tas as redes de ensi­no respon­dentes con­cen­tram 3,4 mil­hões de estu­dantes dos anos finais do ensi­no fun­da­men­tal, o que equiv­ale a 64% do total de 5,3 mil­hões de alunos dessa eta­pa na rede públi­ca em todo o país.

 

Edição: Nádia Fran­co

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