...
sexta-feira ,24 janeiro 2025
Home / Educação / Formados no exterior, brasileiros apostam em recomeço do Mais Médicos

Formados no exterior, brasileiros apostam em recomeço do Mais Médicos

Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

“Estou confiante. Acredito que vou ser bem recebida”, diz Mikaelle


Pub­li­ca­do em 19/08/2023 — 08:07 Por Paula Labois­sière – Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

ouvir:

Ana Car­o­line Feitosa tem 24 anos e se for­mou em med­i­c­i­na no Paraguai. Chegou ao país viz­in­ho em 2017, quan­do ain­da não pen­sa­va em atu­ar na saúde. Em 2022, já com o diplo­ma em mãos, retornou ao Brasil. Nasci­da em São Luís, a jovem viveu com a família durante muitos anos em Bar­reir­in­has (MA), onde pôde obser­var as difi­cul­dades para se con­seguir atendi­men­to médi­co. Atual­mente, Ana Car­o­line inte­gra um grupo de 1.041 profis­sion­ais, for­ma­dos em med­i­c­i­na no exte­ri­or, e que pas­sam por um módu­lo de acol­hi­men­to e for­mação para poderem atu­ar no pro­gra­ma Mais Médi­cos.

“No Paraguai, me iden­ti­fiquei muito com a parte da saúde e deci­di: quero ser médi­ca, quero cuidar, quero aju­dar a comu­nidade. Sou do Nordeste e, lá, a gente vê a comu­nidade, vê que ela pre­cisa de um cuida­do, de um olhar mais amp­lo. A gente pre­cisa ver o paciente, o que ele pre­cisa. Lá, fal­ta­va não só médi­co, mas equipe. Temos bas­tante pos­tos de saúde, mas há carên­cia de profis­sion­ais. Fal­ta médi­co, enfer­meira. Temos um agente de saúde, mas sobre­car­rega­do, com muitas famílias.”

Brasília (DF), 17/08/2023 - A médica Ana Caroline Feitosa, que participa do 28° ciclo do Programa Mais Médicos. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: Médi­ca Ana Car­o­line Feitosa par­tic­i­pa do 28° ciclo do Pro­gra­ma Mais Médi­cos- Foto: Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Em cer­ca de duas sem­anas, Ana Car­o­line e os demais médi­cos con­cluem o perío­do de for­mação e serão encam­in­hados para 379 municí­pios brasileiros. Mais da metade deles vai atu­ar na região da Amazô­nia Legal. Dos profis­sion­ais que pas­sam pelo acol­hi­men­to, 98% são brasileiros for­ma­dos em med­i­c­i­na no exte­ri­or. Dess­es, 48% são for­ma­dos na Bolívia; 41% no Paraguai; 3,8% na Argenti­na; 2,8% na Venezuela; e 1,6% na Rús­sia. Os demais divi­dem-se entre país­es como Cuba, Peru, Uruguai, Repúbli­ca Domini­cana, Nicarágua, Equador e Colôm­bia. Eles atu­arão com o Reg­istro do Min­istério da Saúde (RMS).

Ana Car­o­line será alo­ca­da em God­ofre­do Viana (MA), uma viagem de nove horas de ônibus até o municí­pio onde estão os pais e o namora­do. Sobre o futuro, ela con­ta que pre­tende encar­ar o Exame Nacional de Reval­i­dação de Diplo­mas Médi­cos Expe­di­dos por Insti­tu­ição de Edu­cação Supe­ri­or Estrangeira (Reval­i­da) para, um dia, tra­bal­har com med­i­c­i­na do tra­bal­ho.

“Pelo Mais Médi­cos, vamos aten­der na atenção bási­ca. Temos essa chance de faz­er espe­cial­i­dade em med­i­c­i­na da comu­nidade. Tam­bém estou fazen­do uma pós-grad­u­ação em saúde públi­ca. Gos­to muito de med­i­c­i­na do tra­bal­ho, mas, pra isso, estou no proces­so de reval­i­dação do meu diplo­ma, pra poder entrar na residên­cia”, con­tou. “No começo, terei muitos desafios. Mas estou aber­ta pra con­hecer a comu­nidade, saber da neces­si­dade dos pacientes. Estar lá mes­mo pra tudo o que pre­cis­arem”.

Mikaelle Cruz, 35 anos de idade, tam­bém inte­gra o grupo de médi­cos que pas­sa pelo módu­lo de acol­hi­men­to e for­mação do pro­gra­ma. For­ma­da em med­i­c­i­na na Bolívia, em 2022, a jovem, do inte­ri­or da Bahia, foi sele­ciona­da para o municí­pio de Águia Bran­ca (ES). “Con­heço o esta­do do Espíri­to San­to, mas a cidade em si não. Vis­itei a grande Vitória, Colati­na. Fui a pas­seio, nun­ca a tra­bal­ho. As expec­ta­ti­vas são muito fortes, além de mui­ta ansiedade. Quero saber logo como é o local, a equipe, a pop­u­lação e poder atu­ar no Brasil”, disse.

Sobre a cidade para onde será envi­a­da, Mikaelle fez o dev­er de casa e pesquisou cada detal­he.

“Tem quase 10 mil habi­tantes e era bem o que eu pen­sa­va. Que­ria morar no inte­ri­or. Pre­firo o inte­ri­or à cidade grande. É aconchegante, você con­segue con­hecer todo mun­do, ter con­ta­to com todo mun­do e dar mais atenção ao seu paciente”, disse.

“Estou muito con­fi­ante. Acred­i­to que vou ser bem rece­bi­da e que vou ter uma equipe mar­avil­hosa. Esta­mos todos no mes­mo bar­co, todo mun­do acol­hen­do todo mun­do. Todos bus­can­do novas exper­iên­cias, com o mes­mo obje­ti­vo e, com isso, todo mun­do se aju­dan­do”.

O médi­co Allyson Nunes Choma, 31 anos, é nat­ur­al de Gua­jará-Mir­im (RO) e tam­bém se for­mou na Bolívia, em 2021. Ele foi alo­ca­do para tra­bal­har em San­ta Isabel do Rio Negro (AM). A cidade tem cer­ca de 28 mil habi­tantes e está inau­gu­ran­do sua ter­ceira unidade de saúde, mas con­ta com ape­nas um médi­co, que tra­bal­ha no hos­pi­tal munic­i­pal.

Repro­dução: Brasília (DF), 17/08/2023 — O médi­co Allyson Nunes Choma, que par­tic­i­pa do 28° ciclo do Pro­gra­ma Mais Médi­cos. Foto: Marce­lo Camargo/Agência Brasil

“Somos nove médi­cos indo pra lá. Acred­i­to que a gente vai mudar sig­ni­fica­ti­va­mente a questão da saúde no municí­pio”, disse.

“As enfer­meiras, acred­i­to, estavam fazen­do esse tra­bal­ho de imu­niza­ção, pre­ven­tivos, pré-natal. Mas elas pre­cisam de uma assistên­cia, até pela sobre­car­ga de serviço que elas têm. Então, acred­i­to que a gente con­si­ga mudar sig­ni­fica­ti­va­mente e mel­ho­rar bas­tante a saúde, tan­to da pop­u­lação de lá como das comu­nidades em vol­ta.”

“Ven­ho de uma cidade do inte­ri­or. A saúde lá é precária. Não chegam os recur­sos ade­qua­dos. E, quan­do vêm, os médi­cos da cap­i­tal geral­mente não querem ficar no inte­ri­or. Ficam um, dois, três meses e acabam sain­do e deixan­do a saúde e a pop­u­lação desas­sis­ti­da. Estou sain­do de um inte­ri­or e indo para out­ro. Sei mais ou menos como fun­ciona. Foi uma escol­ha min­ha porque havia uma deman­da maior para a Amazô­nia. Mil vagas. Que­ria me desafi­ar a con­hecer out­ro esta­do e ten­tar imple­men­tar uma coisa boa”, disse Allysson.

Entenda

Ao todo, 1.041 profis­sion­ais do Mais Médi­cos pas­sam por um módu­lo de acol­hi­men­to e for­mação em Brasília. Os profis­sion­ais, sele­ciona­dos no primeiro edi­tal após a retoma­da do pro­gra­ma, têm habil­i­tação para exer­cí­cio da med­i­c­i­na no exte­ri­or e devem pas­sar pelo cur­so antes de ini­ciar a atu­ação em unidades bási­cas de saúde. Após esse perío­do de três sem­anas, os médi­cos serão encam­in­hados para 379 municí­pios brasileiros. Ao todo, o Min­istério da Saúde ofer­tou mil vagas para a Amazô­nia Legal que, his­tori­ca­mente, sofre com a fal­ta de profis­sion­ais e a difi­cul­dade de fix­ação de médi­cos.

Cri­a­do no gov­er­no Dil­ma Rouss­eff, o Mais Médi­cos foi desmon­ta­do no gov­er­no de Jair Bol­sonaro. Quan­do lança­do, em 2013, o pro­gra­ma sofreu diver­sas críti­cas de enti­dades profis­sion­ais por causa da con­tratação de médi­cos estrangeiros ou com diplo­mas no exte­ri­or. Alguns dess­es médi­cos foram vaia­dos e hos­tiliza­dos ao chegarem ao Brasil. Anos depois, mes­mo con­tribuin­do para mel­ho­rar os indi­cadores de saúde, os profis­sion­ais de saúde cubanos acabaram expul­sos por Bol­sonaro.

Acolhimento

O primeiro Ciclo For­ma­ti­vo do Módu­lo de Acol­hi­men­to tem o obje­ti­vo de aprox­i­mar o médi­co par­tic­i­pante do Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) e da real­i­dade enfrenta­da pela pop­u­lação em regiões onde há fal­ta de médi­cos. O con­teú­do é volta­do para a leg­is­lação do SUS, o fun­ciona­men­to e as atribuições da rede de saúde, os pro­to­co­los clíni­cos de atendi­men­tos definidos pelo Min­istério da Saúde e o códi­go de éti­ca médi­ca. O acol­hi­men­to con­siste no primeiro momen­to for­ma­ti­vo do profis­sion­al inter­cam­bista, for­ma­do no exte­ri­or, no Mais Médi­cos. A eta­pa é obri­gatória.

Brasília (DF), 17/08/2023 - Brasília sedia o curso de acolhimento e avaliação dos profissionais do 28° ciclo do Programa Mais Médicos, com mais de 1 mil profissionais. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: Médi­cos par­tic­i­pam do cur­so de acol­hi­men­to e avali­ação dos profis­sion­ais do 28° ciclo do Pro­gra­ma Mais Médi­cos — Foto: Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Avaliação

A car­ga horária mín­i­ma da for­mação é de 160 horas, divi­di­da em 140 horas de respon­s­abil­i­dade dos min­istérios da Saúde e da Edu­cação, e 20 horas voltadas para os municí­pios, que devem recep­cionar os profis­sion­ais no momen­to de chega­da aos pos­tos de atu­ação. Ao final do cur­so, os médi­cos são avali­a­dos sobre os con­teú­dos estu­da­dos e, logo após, são encam­in­hados aos municí­pios em que atu­arão, for­t­ale­cen­do o atendi­men­to à pop­u­lação nas regiões de maior vul­ner­a­bil­i­dade do país.

Atuação

Além dess­es profis­sion­ais, out­ros 4.096 médi­cos sele­ciona­dos no edi­tal do 28º ciclo – que ofer­tou 5.968 novas vagas pelo pro­gra­ma – já começaram a atu­ar em pos­tos de saúde. Nesse caso, eles não pre­cis­aram pas­sar pelo treina­men­to porque têm reg­istro profis­sion­al no Brasil. A pre­visão do gov­er­no é que a retoma­da do Mais Médi­cos garan­ta aces­so à saúde para mais de 96 mil­hões de brasileiros por meio da par­tic­i­pação, até o fim de 2023, de 28 mil profis­sion­ais, sobre­tu­do em regiões de maior vul­ner­a­bil­i­dade social.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

TCU suspende R$ 6 bilhões do Pé de Meia; MEC nega irregularidades

Programa atende cerca de 3,9 milhões de estudantes de ensino médio Pedro Rafael Vilela — …