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Fotógrafo da Agência Brasil recebe Prêmio Vladimir Herzog

Solenidade será realizada na noite de hoje em São Paulo

Elaine Patri­cia Cruz – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 29/10/2024 — 18:59
São Paulo
São Paulo (SP), 18/01/2023 - Manifestação no centro da cidade contra o aumento das tarifas do metrô,passe livre, CPTM e EMTU e contra as privatizações do governo Tarcísio. Policiais no Metro Republicas detém um cidadão. Foto: Paulo Pinto/Agencia Brasil
Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

Em janeiro deste ano, o Movi­men­to Passe Livre (MPL) fez uma man­i­fes­tação em São Paulo con­tra o aumen­to do preço da pas­sagem de trens e metrôs. Antes mes­mo do ato ter iní­cio, poli­ci­ais realizaram diver­sas prisões den­tro da estação Repúbli­ca do Metrô, na cap­i­tal paulista. Um dos jovens deti­dos teve o pescoço aper­ta­do con­tra o chão pelos agentes do Batal­hão de Ações Espe­ci­ais de Polí­cia (Baep) – que uti­lizavam bal­a­cla­va, o que impos­si­bili­ta a iden­ti­fi­cação de seus ros­tos.

A reportagem da Agên­cia Brasil esta­va na rua neste dia acom­pan­han­do a man­i­fes­tação com o repórter Bruno Boc­chi­ni e o fotó­grafo Paulo Pin­to. E foi jus­ta­mente essa imagem do jovem ren­di­do e oprim­i­do, cer­ca­do por sete poli­ci­ais mil­itares e com seu pescoço sendo pres­sion­a­do ao chão, que está sendo pre­mi­a­da na noite de hoje (29) pelo 46º Prêmio Jor­nalís­ti­co Vladimir Her­zog de Anis­tia e Dire­itos Humanos, real­iza­do no Tucare­na.

“Sem­pre que tem uma man­i­fes­tação públi­ca, o apara­to poli­cial é grande. Nes­sas man­i­fes­tações sem­pre tem poten­cial grande de ocor­rer um abu­so maior por parte dos agentes do Esta­do, por isso a nos­sa atenção tem que ser redo­bra­da. Os anos de exper­iên­cia nos leva a não nos pre­cip­i­tar­mos e saber o momen­to cer­to em que um dire­ito está sendo vio­la­do”, con­tou o fotó­grafo Paulo Pin­to, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Naque­le instante em que sua câmera dis­parou, ele sabia que dire­itos estavam sendo desre­speita­dos e que os agentes estavam agin­do com exces­so. “O sen­ti­men­to que mostramos é que aque­les que são pagos para pro­te­ger o cidadão nem sem­pre cumprem com essa função — e quan­do cumprem geral­mente exager­am na dose”, afir­mou o fotó­grafo.

Uma história

Paulo Pin­to começou a fotogra­far em seus tem­pos de ado­lescên­cia, quan­do vivia em sua cidade natal: San­tana do Livra­men­to (RS). “Eu já gosta­va de fotogra­far e fil­mar em Super 8. Um irmão que já fotografa­va para um jor­nal local, chama­do A Platéia, foi mais um incen­ti­vo para ini­ciar na profis­são”, con­tou.

E foi assim que o foto­jor­nal­is­mo assum­iu um grande papel em sua vida. “Fui acom­pan­han­do [meu irmão] e cobrindo vários even­tos para o jor­nal, des­de aniver­sários, casa­men­tos, even­tos políti­cos e esportivos. Meu pai era jogador fute­bol e ído­lo do 14 de Jul­ho, o ter­ceiro clube mais anti­go do Brasil e o primeiro rubro-negro. E foi se tor­nan­do uma coisa nat­ur­al o gos­to de fotogra­far esportes, ape­sar de que o foto­jor­nal­is­mo em si já era muito dinâmi­co e grat­i­f­i­cante”, nar­rou o fotó­grafo.

Com sua curiosi­dade, olhar sem­pre aten­to e facil­i­dade em ini­ciar con­ver­sas, Paulo Pin­to foi tam­bém receben­do a ori­en­tação de grandes profis­sion­ais que pas­saram pela redação daque­le jor­nal. E assim se trans­for­mou num dos grandes nomes do foto­jor­nal­is­mo brasileiro, com diver­sos tra­bal­hos pre­mi­a­dos e tam­bém repro­duzi­dos pelo mun­do. “A conexão com o prêmio Vladimir Her­zog começou no ano de 1993, quan­do rece­bi menção hon­rosa com uma foto sobre a pri­va­ti­za­ção da Com­pan­hia Siderúr­gia Paulista (Cosi­pa) na Bol­sa de Val­ores de São Paulo. Em 2018 rece­bi uma segun­da menção hon­rosa com a foto do pres­i­dente Lula sendo car­rega­do pela mul­ti­dão, antes de ser pre­so, no Sindi­ca­to dos Met­alúr­gi­cos do ABC em São Bernar­do do Cam­po. E ago­ra veio o prêmio máx­i­mo com a foto da man­i­fes­tação do Passe Livre”.

“O Prêmio Vladimir Her­zog hoje é a maior pre­mi­ação do jor­nal­is­mo brasileiro, é grat­i­f­i­cante estar mais uma vez entre os pre­mi­a­dos. É um recon­hec­i­men­to por tudo aqui­lo que faze­mos como profis­sion­ais da infor­mação. E sendo um prêmio que tra­ta de Dire­itos Humanos, a nos­sa respon­s­abil­i­dade aumen­ta, porque temos que ser os olhos daque­les que não estão viven­cian­do o nos­so dia a dia. Com nos­so tra­bal­ho de foto­jor­nal­ista temos de ser fiéis aqui­lo que está a nos­sa frente, retratar a ver­dade sem maquiagem. Mostrar e denun­ciar os abu­sos con­tra quem bus­ca por dire­itos iguais, esse é o nos­so dev­er e uma obri­gação profis­sion­al”, reforçou o profis­sion­al.

Caminhos da Reportagem

Além do prêmio de mel­hor fotografia, a EBC tam­bém ficou em primeiro lugar na cat­e­go­ria vídeo, com a reportagem espe­cial Inocentes na prisão, exibi­da no pro­gra­ma Cam­in­hos da Reportagem, fei­ta pela equipe for­ma­da por Ana Pas­sos, Gabriel Penchel, Adaroan Bar­ros, Caio Araújo, Car­los Junior, Alex Saka­ta e Car­o­line Ramos.

reportagem pre­mi­a­da denun­cia as injus­tas prisões, prin­ci­pal­mente de jovens negros, acu­sa­dos de crimes que não come­ter­am. Todos apon­ta­dos como sus­peitos por con­ta do racis­mo estru­tur­al da sociedade brasileira.

Em entre­vista à Rádio Nacional, a jor­nal­ista da TV Brasil Ana Pas­sos, con­sid­era que esse episó­dio do pro­gra­ma Cam­in­hos da Reportagem lev­ou o prêmio pela “força de sua história e pelo absur­do das prisões injus­tas no Brasil”. Para ela, todo o tra­bal­ho jor­nalís­ti­co do pro­gra­ma, que ouviu víti­mas, espe­cial­is­tas e apon­tou dados sobre essas prisões, “deixou o con­teú­do bem con­sis­tente”.

“Rece­ber o prêmio Her­zog é uma grande hon­ra. Fico com o coração pulan­do aqui de ter esse recon­hec­i­men­to do pon­to de vista pes­soal e tam­bém cole­ti­vo, se pen­sar­mos que essa é uma con­quista de todos os cole­gas da EBC que são tão com­pro­meti­dos com a infor­mação e com os dire­itos humanos”, disse. “Essa é a nos­sa causa. Que a gente con­tin­ue bus­can­do histórias impac­tantes e rel­e­vantes não só pelo recon­hec­i­men­to mas para cumprir nos­so papel de comu­ni­cado­ras e comu­ni­cadores”, acres­cen­tou a jor­nal­ista.

O prêmio

Des­de a sua primeira edição, con­ce­di­da em 1979, o prêmio cel­e­bra a vida e obra do jor­nal­ista Vladimir Her­zog, tor­tu­ra­do e assas­si­na­do pela ditadu­ra civ­il-mil­i­tar no dia 25 de out­ubro de 1975 nas dependên­cias do DOI-CODI (Desta­ca­men­to de Oper­ações de Infor­mações do Cen­tro de Oper­ações de Defe­sa Inter­na), em São Paulo.

Neste ano em que o golpe mil­i­tar de 1964 com­ple­ta 60 anos, a comis­são orga­ni­zado­ra vai hom­e­nagear três grandes per­son­al­i­dades: Mar­gari­da Genevois, Ziral­do (in memo­ri­am) e Luiz Eduar­do Mer­li­no (in memo­ri­am).

De acor­do com o prêmio, Mar­gari­da Genevois rep­re­sen­ta a sociedade civ­il que luta em defe­sa dos dire­itos humanos e da democ­ra­cia. Já Ziral­do rep­re­sen­ta a impren­sa alter­na­ti­va como uma das frentes de resistên­cia à cen­sura e à perseguição de jor­nal­is­tas e artis­tas que lutavam por Ver­dade e Justiça. Mer­li­no assas­si­na­do durante a ditadu­ra mil­i­tar, rep­re­sen­ta os jor­nal­is­tas e mil­i­tantes que foram persegui­dos, pre­sos, tor­tu­ra­dos, desa­pare­ci­dos e assas­si­na­dos durante a ditadu­ra e cujos famil­iares ain­da lutam pelo dire­ito à Memória, Ver­dade e Justiça.

Ontem, o fotográ­fo Paulo Pin­to foi hom­e­nagea­do com mais um prêmio no con­cur­so de Fotografia do Museu do Fute­bol 2024.

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