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Futebol: gramado nos estádios vira tema de debate no Brasil e no mundo

Repro­dução: © Vítor Silva/Botafogo/Direitos reser­va­dos

Durante onda de calor, campos sintéticos chegaram a 70º Celsius no Rio


Pub­li­ca­do em 24/11/2023 — 07:00 Por Ser­gio du Bocage — Repórter da TV Brasil — Rio de Janeiro

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Três notí­cias chama­ram a atenção nos últi­mos dias. A primeira foi a decisão da Eridi­visie CV, enti­dade que coman­da o fute­bol nos País­es Baixos, de banir do Campe­ona­to Holandês os gra­ma­dos sin­téti­cos a par­tir de 2025. A segun­da surgiu em Belo Hor­i­zonte: o gra­ma­do da nova are­na do Atléti­co-MG, pos­sivel­mente, será sin­téti­co. E a ter­ceira veio embal­a­da pela onda de calor no Rio de Janeiro: o Fla­men­go mediu a tem­per­atu­ra em qua­tro cam­pos de fute­bol no seu Cen­tro de Treina­men­to (CT) — o Nin­ho do Urubu, em Vargem Grande, na zona oeste. Os ter­mômet­ros nos dois cam­pos de gra­ma sin­téti­ca chegaram a mar­car 70 graus Cel­sius. 

campos de grama sintética do CT do Flamengo - onda de calor - 70 graus Celsius - em 17/11/2023
Repro­dução: O Fla­men­go mediu a tem­per­atu­ra no CT do NIn­ho do Urubu na últi­ma sex­ta (17). Enquan­to nos cam­pos de gra­ma nat­ur­al (2 e 3) a tem­per­atu­ra não pas­sou dos 45 graus, nos demais os ter­mômet­ros chegaram a 70 graus — Pedro Queiroz/Flamengo/Direitos Reser­va­dos

Não é de hoje que o fute­bol brasileiro se envolve nes­sa dis­cussão. E tudo começou em 2016, quan­do o Ath­leti­co Paranaense ado­tou o gra­ma­do sin­téti­co na Are­na da Baix­a­da, Naque­le ano, com mais de 80% de aproveita­men­to nos jogos dis­puta­dos em casa, o Furacão garan­tiu vaga na Copa Lib­er­ta­dores do ano seguinte.

O desem­pen­ho inco­mod­ou e, então, teve iní­cio um movi­men­to entre os clubes, lid­er­a­dos pelo então pres­i­dente do Vas­co Euri­co Miran­da, para que todos os gra­ma­dos da Série A fos­sem nat­u­rais. No entan­to, na reunião do Con­sel­ho Téc­ni­co de Clubes, em fevereiro de 2018, o clube paranaense con­seguiu a adesão de out­ros times par­tic­i­pantes do Brasileirão e garan­tiu votos sufi­cientes para que a gra­ma sin­téti­ca fos­se acei­ta.

Atual­mente, há mais dois gra­ma­dos sin­téti­cos no país e, curiosa­mente, difer­entes entre si. No Allianz Par­que o Palmeiras mudou o piso em 2020 e, na primeira tem­po­ra­da, teve aproveita­men­to supe­ri­or a 70% em casa, fat­u­ran­do os títu­los estad­ual e o da Copa Lib­er­ta­dores. Este ano, a mudança acon­te­ceu no está­dio Níl­ton San­tos, casa do Botafo­go. O Alvine­gro car­i­o­ca venceu todos os adver­sários em casa, no primeiro turno do Brasileirão, o que lhe deu, então, uma van­tagem inédi­ta na lid­er­ança do campe­ona­to.

Ligga Arena, Athletico-PR, grama sintética, gramado - estádio

Repro­dução: O Ath­leti­co-PR foi o primeiro clube do país a tro­car a gra­ma nat­ur­al pela sin­téti­ca na Are­na da Baix­a­da, em 2016 — José Tra­mon­lin/Ath­leti­co-PR/Di­re­itos Reser­va­dos

Mas além da dis­pari­dade de desem­pen­ho em casa dos times que ado­taram o gra­ma­do sin­téti­co, duas out­ras questões são debati­das: o jogador fica mais suscetív­el à lesão? E por que as prin­ci­pais lig­as europeias não per­mitem o gra­ma­do sin­téti­co em seus jogos? Além dis­so, vale ressaltar que a Fifa, enti­dade que reg­u­la o fute­bol no mun­do, até autor­iza jogos em gra­ma arti­fi­cial, mas nas com­petições por ela orga­ni­zadas, o gra­ma­do pre­cisa ser, no mín­i­mo, 90% nat­ur­al.

Segun­do o fisi­a­tra Rob­son de Bem, espe­cial­ista em Med­i­c­i­na do Exer­cí­cio e do Esporte, nen­hum estu­do europeu ou amer­i­cano mostra difer­enças sig­ni­fica­ti­vas entre os dois tipos de gra­ma­dos. Mas ele ressalta que, nos dois últi­mos anos, nos três gra­ma­dos sin­téti­cos na Série A, hou­ve sete jogadores com lesões graves, enquan­to nos out­ros 17 (gra­ma­dos nat­u­rais ou híbri­dos) foram 16.

“É sabido que na gra­ma sin­téti­ca o impacto nas artic­u­lações é maior, a bola corre mais rápi­do e isso exige mais do atle­ta, nos aspec­tos metabóli­co e físi­co. Por con­ta dis­so, a recu­per­ação no pós-jogo deman­da mais tem­po”, ressalta o médi­co.

Já o fisioter­apeu­ta Anto­nio Ricar­do, que tra­bal­hou na Copa da Ale­man­ha (2006) com a seleção do Japão, faz uma aler­ta.

“O atle­ta pre­cisa ade­quar o treina­men­to ao piso, para se adap­tar ao máx­i­mo ao con­t­role da bola e à veloci­dade da par­ti­da. Com isso, ele min­i­miza a pos­si­bil­i­dade da lesão”.

O jor­nal­ista Tim Vick­ey, da BBC de Lon­dres, lem­bra que, quan­do jovem, viu muitos jogos da Pre­mier League, o Campe­ona­to inglês, serem dis­puta­dos em “lama total”.

“Era las­timáv­el, prin­ci­pal­mente no perío­do de novem­bro a março”, recor­da Vick­ey.

Mes­mo assim, os ingle­ses não bus­caram a solução na adoção da gra­ma sin­téti­ca, mas sim na profis­sion­al­iza­ção do cuida­do com os gra­ma­dos.

“Bas­tou con­tratarem profis­sion­ais, ado­tar tec­nolo­gia, e os cam­pos viraram tapetes. Se lá foi pos­sív­el, porque não aqui, com condições climáti­cas bem mais favoráveis? Bas­ta que se adote o bom esta­do do gra­ma­do como uma pri­or­i­dade para o espetácu­lo”, defende o jor­nal­ista britâni­co.

Luis Suárez - RS - FUTEBOL/CAMPEONATO BRASILEIRO 2023/GREMIO X BAHIA - em 04/11/2023
Repro­dução: O ata­cante Luis Suárez rev­el­ou em entre­vista que “não entra em cam­po quan­do o gra­ma­do é sin­téti­co”. Lucas Uebel/Grêmio/Direitos Reser­va­dos

E o jogador não pre­cisa estar lesion­a­do para deixar de jog­ar na Série A. Uma das prin­ci­pais con­tratações do fute­bol brasileiro na atu­al tem­po­ra­da, o uruguaio Luis Suárez, do Grêmio, não entra em cam­po quan­do o gra­ma­do é sin­téti­co. Em cole­ti­va, ele mes­mo con­fes­sou evi­tar esse encon­tro.

“Todos sabem do prob­le­ma que ten­ho no joel­ho e jog­ar no cam­po sin­téti­co, para mim, é muito difí­cil, eu sofre­ria muito e, por isso, procuro sem­pre evi­tar”, ata­cante uruguaio, deixan­do bem claro que jamais pediu qual­quer priv­ilé­gio no clube, nem trata­men­to difer­en­ci­a­do.

A tec­nolo­gia tem sido a arma mais uti­liza­da pelos clubes para faz­er de seus está­dios are­nas multi­u­so sem pre­juí­zo ao cam­po de fute­bol. O Schalke 04 (Ale­man­ha) foi o primeiro a ino­var, apre­sen­tan­do um gra­ma­do que desliza para fora do está­dio, que é cober­to, para rece­ber a luz do sol. A novi­dade foi ado­ta­da pelo Saporo Dome (Japão). Na Inglater­ra, o Tot­ten­ham guar­da o gra­ma­do no sub­so­lo e, com isso, con­segue rece­ber jogos da NFL (liga de fute­bol amer­i­cano) em um piso sin­téti­co. O novo está­dio do Real Madrid (Espan­ha)  tam­bém res­guar­da a gra­ma nat­ur­al para realizar show no San­ti­a­go Bern­abéu.

Maracanã - estádio - novo gramado
Repro­dução: Em tese, o cam­po do Mara­canã pos­sui 90% de gra­ma­do nat­ur­al e 10% de fibras sin­téti­cas, mas esse per­centu­al varia de acor­do com o cresci­men­to da gra­ma —  CBF/Divulgação/Maracanã

O Mara­canã ado­ta a gra­ma híbri­da. Em tese, o cam­po pos­sui 90% de gra­ma­do nat­ur­al e 10% de fibras sin­téti­cas, mas esse per­centu­al varia de acor­do com o cresci­men­to da gra­ma. No proces­so de mudança do piso, foram colo­ca­dos 30 cen­tímet­ros de areia e  neles foram plan­ta­dos os estolões (tipo de caule) de gra­ma nat­ur­al, da var­iedade Bermu­da Cel­e­bra­tion (espé­cie com tol­erân­cia a ser pisotea­da e ráp­i­da regen­er­ação), já cul­ti­va­da em fazen­das na Região dos Lagos, no esta­do do Rio.  Após 50 dias de adubação, irri­gação e corte, com o cam­po já todo verde, uma máquina holan­desa foi adquiri­da para “cos­tu­rar” o gra­ma­do. As 180 agul­has inje­taram a fibra sin­téti­ca, a cada dois cen­tímet­ros de exten­são e a 18cm de pro­fun­di­dade, o que garante mais resistên­cia ao cam­po.

O orto­pe­dista José Luiz Run­co, campeão do mun­do com a seleção no Mundi­al do Japão e da Cor­eia do Sul (2002), acred­i­ta que o gra­ma­do híbri­do é mel­hor alter­na­ti­va.

“Para mim, o gra­ma­do híbri­do será a grande solução para o fute­bol, pois ele per­mite um fute­bol de qual­i­dade, com menos exposição do atle­ta às lesões”.

Insat­is­feito com o atu­al cenário, o goleiro Romero, do Boca Juniors ( Argenti­na), não vê a hora de uma solução defin­i­ti­va ..

“É lamen­táv­el que a essa altura da vida eu ten­ha de me pre­ocu­par em jog­ar em gra­ma­do sin­téti­co. A Con­mebol e a Fifa dev­e­ri­am definir : ou se joga em gra­ma­do nat­ur­al ou em híbri­do. Gra­ma­do sin­téti­co é para hóquei”, sin­te­ti­za.

Edição: Cláu­dia Soares Rodrigues

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