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G20: saiba mais sobre a atuação de Brasil, Argentina e México no grupo

“Nunca houve agenda latino-americana no G20”, diz especialista

Mar­i­ana Tokar­nia — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 12/11/2024 — 07:32
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ) 23/07/2024 - Símbolo do evento G20 Brasil 2024, no Galpão Ação da Cidadania, onde acontecem os encontros da Reunião Ministerial de Desenvolvimento. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Brasil, Méx­i­co e Argenti­na: os úni­cos país­es lati­no-amer­i­canos que fazem parte do G20, têm mais divergên­cias do que con­vergên­cias, o que impede a defe­sa de uma agen­da lati­na úni­ca. Espe­cial­is­tas entre­vis­ta­dos pela Agên­cia Brasil expli­cam que mes­mo fazen­do parte da mes­ma região e con­vergin­do em alguns aspec­tos, os três país­es têm políti­cas econômi­cas ou posi­ciona­men­tos políti­cos dis­tin­tos, o que faz com que se aprox­imem mais de out­ras nações que inte­gram o grupo do que entre si. 

Brasília (DF), 08/11/2024 - Professora Marianna Albuquerque. Foto: Policy Center for the New South/Divulgação
Repro­dução: Mar­i­an­na Albu­querque ressalta que nun­ca hou­ve uma agen­da lati­no-amer­i­cana no G20 — Pol­i­cy Cen­ter for the New South/Divulgação

“Nun­ca hou­ve uma agen­da lati­no-amer­i­cana no G20”, defende a pro­fes­so­ra do Insti­tu­to de Relações Inter­na­cionais e Defe­sa da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (IRID-UFRJ), coor­de­nado­ra do Obser­vatório Políti­co Sul-Amer­i­cano, Mar­i­an­na Albu­querque. “Isso vem de questões nacionais que difer­em ess­es país­es. Dado que o G20 é um blo­co econômi­co e finan­ceiro pri­mor­dial­mente, são três país­es que têm per­cepções difer­entes sobre o nív­el de com­pro­me­ti­men­to e de pro­fun­di­dade que com­pro­mis­sos mul­ti­lat­erais nes­sa área devem ter”.

O Méx­i­co faz parte, jun­to aos Esta­dos Unidos e Canadá, do Acor­do Esta­dos Unidos-Méx­i­co-Canadá (USMCA), de livre comér­cio na região. Já a Argenti­na segue plane­ja­men­tos macro­econômi­cos inter­nos difer­entes do Brasil, segun­do Albu­querque. Ess­es fatores, de acor­do com a pro­fes­so­ra, dire­cionam as tomadas de decisão dess­es país­es no cenário inter­na­cional e con­tribuem para que não haja uma agen­da unifi­ca­da.

Soma­do ao con­tex­to econômi­co, há o con­tex­to políti­co. Sob o coman­do de Javier Milei, a Argenti­na se dis­tan­cia ain­da mais do Brasil. “No caso brasileiro, o gov­er­no está empen­han­do em avançar e lid­er­ar dis­cussões sobre desen­volvi­men­to sus­ten­táv­el, com­bate à pobreza e à fome e redução das desigual­dades. Já a Argenti­na, sob a lid­er­ança de Milei, defende ideias per­ten­centes ao cam­po da dire­i­ta do espec­tro políti­co e, nesse sen­ti­do, é críti­ca às ideias defen­di­das pelo Brasil no âmbito do grupo, como a trib­u­tação dos super ricos e de avanços nas dis­cussões sobre as mudanças climáti­cas”, diz a pro­fes­so­ra de relações inter­na­cionais da Uni­ver­si­dade do Esta­do do Rio de Janeiro (Uerj) Fer­nan­da Nan­ci, que é coor­de­nado­ra do Núcleo de Estu­dos de Atores e Agen­das de Políti­ca Exter­na.

Já o Méx­i­co, sob a lid­er­ança de Clau­dia Shein­baum, com um posi­ciona­men­to de cen­tro-esquer­da, tem mais afinidade, sobre­tu­do nas pau­tas soci­ais, com o Brasil. Para o pro­fes­sor asso­ci­a­do de relações inter­na­cionais no Insti­tu­to de Estu­dos Estratégi­cos da Uni­ver­si­dade Fed­er­al Flu­mi­nense (UFF) Már­cio José Melo Mal­ta, a cúpu­la do G20 é uma opor­tu­nidade do Brasil estre­itar laços com o país. “Temos a pres­i­dente recém empos­sa­da que con­fir­mou recen­te­mente a par­tic­i­pação no G20. Temos essa par­tic­i­pação e temos uma con­vergên­cia maior [dela] em ter­mos políti­cos e de inter­ess­es ide­ológi­cos com o Brasil. Nes­sa per­spec­ti­va, é opor­tuno reforçar o elo Améri­ca Lati­na”. diz.

Brasília (DF), 08/11/2024 - Professor Márcio Malta. Foto: Márcio Malta/Arquivo Pessoal
Repro­dução: Pro­fes­sor Már­cio Mal­ta ressalta que for­t­alec­i­men­to da Améri­ca Lati­na é pri­or­i­dade do Brasil — Már­cio Malta/Arquivo Pes­soal

Mes­mo não ten­do uma agen­da com­ple­ta­mente unifi­ca­da, Már­cio Mal­ta acred­i­ta que prin­ci­pal­mente Méx­i­co e Brasil têm con­vergên­cias e ele ressalta que o for­t­alec­i­men­to da Améri­ca Lati­na é uma pri­or­i­dade do pres­i­dente do Brasil, Luiz Iná­cio Lula da Sil­va, que sem­pre bus­ca isso nas agen­das inter­na­cionais.

“Brasil e Méx­i­co têm ten­ta­do de fato tra­bal­har em sin­to­nia. A Argenti­na é his­tori­ca­mente uma parce­ria pri­mor­dial fun­da­men­tal do Brasil, mas sob a gestão de Milei não tem sido essa a tôni­ca. O Pres­i­dente Lula, des­de os seus dois primeiros mandatos ini­ci­ais, ten­ta traz­er uma per­spec­ti­va Sul Sul. Sua políti­ca exter­na é bem con­heci­da nesse âmbito. E den­tro dess­es mar­cos, a região da Améri­ca Lati­na sem­pre foi uma região de pro­fun­do inter­esse para que se desen­volvessem perce­rias, com uma per­spec­ti­va um papel de lid­er­ança”, diz.

América Latina no G20

O Grupo dos Vinte (G20) é o prin­ci­pal fórum de coop­er­ação econômi­ca inter­na­cional. É com­pos­to por Argenti­na, Aus­trália, Brasil, Canadá, Chi­na, França, Ale­man­ha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, Repúbli­ca da Cor­eia, Méx­i­co, Rús­sia, Arábia Sau­di­ta, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Esta­dos Unidos, além da União Europeia.

Des­de 2008, os país­es revezam-se na presidên­cia. Esta é a primeira vez que o Brasil pre­side o G20 no atu­al for­ma­to. O país definiu as seguintes pri­or­i­dades: inclusão social e com­bate à fome e à pobreza; pro­moção do desen­volvi­men­to sus­ten­táv­el em suas dimen­sões econômi­ca, social e ambi­en­tal e tran­sições energéti­cas; e refor­ma das insti­tu­ições de gov­er­nança glob­al, incluin­do as Nações Unidas e os ban­cos mul­ti­lat­erais de desen­volvi­men­to.

A agen­da do G20 é exten­sa. Foram feitas reuniões de gru­pos de tra­bal­ho, reuniões min­is­te­ri­ais e diver­sas reuniões bilat­erais ao lon­go de todo o ano. O encon­tro ter­mi­na com a reunião de cúpu­la que reúne os chefes de Esta­do, nos dias 18 e 19, no Rio de Janeiro.

Em relação às reuniões já real­izadas, Mar­i­an­na Albu­querque anal­isa: “a Argenti­na teve um posi­ciona­men­to muito erráti­co durante o G20 desse ano, prin­ci­pal­mente porque se colo­cou de for­ma muito refratária e defen­si­va a um dos pilares que o Brasil sug­eriu que era o pilar de refor­ma das insti­tu­ições mul­ti­lat­erais”, diz e acres­cen­ta: “a Argenti­na era tipo um blo­queador nat­ur­al. Qual­quer coisa que era colo­ca­do para ser nego­ci­a­da sobre aque­le tema a Argenti­na já par­tia de uma neg­a­ti­va”.

A tendên­cia do Méx­i­co foi, segun­do a pro­fes­so­ra, de estar mais próx­i­ma dos Esta­dos Unidos e do Canadá. “Em algu­mas agen­das o Méx­i­co aparece de for­ma con­jun­ta com o Brasil, mas em todos os out­ros debates que tratam sobre refor­ma da arquite­tu­ra finan­ceira inter­na­cional ou políti­ca de sub­sí­dios, o Méx­i­co nego­cia com os Esta­dos Unidos e com o Canadá, por con­ta do USMCA. A gente só tem uma asso­ci­ação entre a posição do Méx­i­co e a do Brasil quan­do é um tema que inter­es­sa tam­bém aos Esta­dos Unidos e ao Canadá”, diz Albu­querque.

Brasília (DF), 08/11/2024 - Professora Fernanda Nanci. Foto: Go Global Consultoria e Treinamento/Divulgação
Repro­dução: Pro­fes­so­ra Fer­nan­da Nan­ci desta­ca con­vergên­cias entre Brasil e Méx­i­co no G20– Go Glob­al Con­sul­to­ria e Treinamento/Divulgação

Fer­nan­da Nan­ci ressalta as con­vergên­cias entre Brasil e Méx­i­co:  “O Méx­i­co tem um históri­co de par­tic­i­pação ati­va no G20, nas dis­cussões e na defe­sa de com­bate às desigual­dades. Assim como o Brasil, defende — enquan­to país em desen­volvi­men­to — finan­cia­men­to para que país­es do Sul con­sigam imple­men­tar a Agen­da 2030 e com­bat­er os efeitos das mudanças climáti­cas, ações para reduzir a pobreza e desigual­dade econômi­ca e inclu­sive defende out­ros temas muito asso­ci­a­dos à real­i­dade mex­i­cana, como a migração reg­u­lar e segu­ra”, diz.

A Argenti­na, assim como o Méx­i­co e Brasil, de acor­do com Nan­ci, já usou, his­tori­ca­mente, o espaço do G20 para bus­car avanços nas pau­tas soci­ais, mas sob a presidên­cia de Milei o cenário mudou. Mes­mo assim, na reunião de cúpu­la, o país deve man­ter a diplo­ma­cia com o Brasil, que é um impor­tante par­ceiro econômi­co: “A pre­sença da Argenti­na no encon­tro será uma for­ma do pres­i­dente Milei estar mais inte­gra­do às dis­cussões inter­na­cionais e par­tic­i­par de um impor­tante even­to, ten­do em vista que ele não pri­or­i­zou par­tic­i­par de even­tos mul­ti­lat­erais impor­tantes ante­ri­or­mente, como a Cúpu­la Mer­co­sul neste ano. Além dis­so, é uma for­ma de mel­ho­rar as relações com o Brasil,  vis­to as con­stantes críti­cas que o pres­i­dente tece ao man­datário brasileiro. Mas, não se pode perder de vista que o Brasil é o prin­ci­pal des­ti­no das expor­tações argenti­nas”.

Brasil no G20

Sobre a atu­ação do Brasil na presidên­cia do grupo, para Mar­i­an­na Albu­querque o sal­do “é muito pos­i­ti­vo”. Ela desta­ca o enga­ja­men­to da sociedade civ­il como um dos prin­ci­pais acer­tos brasileiros e algo inédi­to nas reuniões do grupo.

“Foi um golaço do Brasil traz­er a sociedade civ­il para den­tro de um sis­tema mul­ti­lat­er­al”, diz.

Albu­querque desta­ca tam­bém os avanços em relação à bioe­cono­mia, um con­ceito que envolve ino­vações fun­da­men­tadas em recur­sos biológi­cos, que resul­tam no desen­volvi­men­to de pro­du­tos, proces­sos e serviços mais sus­ten­táveis. Uma das prin­ci­pais dis­cussões asso­ci­adas ao tema é a sub­sti­tu­ição de matérias-pri­mas de origem fós­sil por out­ras menos polu­entes. “Bioe­cono­mia até então era um tópi­co que o G20 não tra­bal­ha­va e que é muito impor­tante para o Brasil con­tro­lar a nar­ra­ti­va, porque a gente está falan­do de patrimônio genéti­co e repar­tição de aces­so e o Brasil, tan­to pelas flo­restas, quan­to pelo oceano, pre­cisa se res­guardar em relação a isso”.

Out­ro avanço impor­tante, segun­do Albu­querque, foi colo­car a agen­da climáti­ca como pri­or­i­dade tam­bém econômi­ca. “Acho que a gente con­seguiu final­mente con­sci­en­ti­zar o Min­istério da Fazen­da de que cli­ma é uma pau­ta econômi­ca eu acho que nesse G20 teve a vira­da de chave. Não adi­anta só o Min­istério do Meio Ambi­ente estar enga­ja­do na agen­da de cli­ma, a gente pre­cisa de um plano de trans­for­mação ecológ­i­ca”, ressalta.

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