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Gabriel García Márquez: a força generosa da criatividade

Repro­dução: © Divul­gação Prêmio Nobel

Neste domingo, escritor faria 95 anos de idade


Pub­li­ca­do em 06/03/2022 — 07:33 Por Luiz Clau­dio Fer­reira, repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

Tratar do que o cer­ca e, ao mes­mo tem­po, expandir os hor­i­zontes para o mun­do. Lem­brar da infân­cia e, jun­to, provo­car o des­per­tar diante do estran­hamen­to às lóg­i­cas dos adul­tos. Ser real­ista e denun­ci­ador, mas com ele­men­tos do mis­tério, do inusi­ta­do e do tran­scen­den­tal. Reunir detal­h­es com tão evi­dentes tex­turas, em ficção, que pare­ci­am até ver­dade. O escritor colom­biano Gabriel Gar­cía Márquez (1927 — 2014), Nobel de Lit­er­atu­ra de 1982, e que faria 95 anos neste domin­go (6), encan­ta leitores mun­do afo­ra com romances con­sagra­dos, e seu “real­is­mo fan­tás­ti­co”, com uma escri­ta col­ori­da pelos con­trastes. Den­tre os admi­radores de sua obra, o cineas­ta inglês Justin Web­ster mer­gul­hou no mun­do do escritor para realizar o doc­u­men­tário Gabo: a cri­ação de Gabriel Gar­cía Márquez (disponív­el na platafor­ma Net­flix des­de o ano pas­sa­do e com qua­tro prêmios inter­na­cionais no cur­rícu­lo).

Assista ao trailer oficial do filme Gabo

“O tra­bal­ho de Gar­cía Márquez é uma expressão tremen­da­mente lati­no-amer­i­cana, e tam­bém uni­ver­sal, da força gen­erosa da cria­tivi­dade”, afir­mou o dire­tor em entre­vista à Agên­cia Brasil. A admi­ração pela obra do colom­biano fez com que o inglês se detivesse a inves­ti­gar e per­cor­rer o pen­sa­men­to e as inspi­rações dele para enten­der as ori­gens da cria­tivi­dade que ger­ou ao menos 30 obras como Cem Anos de Solidão (1967), O Amor nos Tem­pos do Cólera (1985), Crôni­ca de uma Morte Anun­ci­a­da (1981) e Notí­cia de um seque­stro (1996). Neste livro, por exem­p­lo, Gabo mis­tu­ra real­i­dade e ficção. O escritor fez car­reira no jor­nal­is­mo antes de se tornar um dos prin­ci­pais romancis­tas do sécu­lo 20.

Chu­va de flo­res e uma pra­ga de insô­nia, em Cem Anos de Solidão, ou um papa­gaio poliglota, em O Amor nos Tem­pos do Cólera, ou humanos que viram ani­mais, em De Amor e Out­ros Demônios (1994) são exem­p­los das vas­tos recur­sos do real­is­mo mági­co uti­liza­dos pelo autor colom­biano, que usa ess­es ele­men­tos extra­ordinários como fig­uras de lin­guagem para mex­er com a imag­i­nação do leitor.

“Como muitos, fora da Améri­ca Lati­na, desco­bri os livros de Gabo na déca­da de 1980, na Inglater­ra. E foi amor à primeira vista. Vivo em Barcelona há 30 anos, primeiro como jor­nal­ista e escritor de não-ficção, depois como doc­u­men­tarista, e des­de o iní­cio tive muito con­ta­to com escritores lati­no-amer­i­canos”, afir­mou o cineas­ta inglês. Entre os doc­u­men­tários de Justin Web­ster, out­ro tra­bal­ho que está disponív­el na Net­flix é Nis­man: o pro­mo­tor, a pres­i­dente e o espião (2019). Ele assi­na a direção de out­ros tra­bal­hos de não-ficção como Morte em León (2018), O Fim do ETA (2013), Serei Assas­si­na­do (2013).

Web­ster expli­ca que, durante todo esse perío­do, Gar­cía Márquez foi a prin­ci­pal refer­ên­cia de Améri­ca Lati­na para ele e era necessário bus­car rari­dades para desco­brir mais sobre o escritor. Uma das prin­ci­pais refer­ên­cias no doc­u­men­tário é a influên­cia da infân­cia na peque­na cidade de Ara­cat­a­ca, jun­to com os avós, para enten­der o pen­sa­men­to do fic­cionista.

O olhar para Ara­cat­a­ca desven­da o mun­do do escritor, incon­for­ma­do com a pobreza e desigual­dades na Améri­ca Lati­na. “Pesqui­sei que a sua infân­cia muito par­tic­u­lar, na casa dos avós, foi deci­si­va, como tan­tas vezes expres­sou”. Para o dire­tor, solidão e saudade são mar­cas da nar­ra­ti­va fic­cional. Out­ro ele­men­to muito impor­tante ref­ere-se às expec­ta­ti­vas e às esper­anças deposi­tadas nele por sua família. A lig­ação com o povo da cidade era impor­tante em sua visão políti­ca de mun­do”.

Busca pelos rastros

O filme reúne rari­dades de depoi­men­tos de famil­iares, ami­gos, críti­cos e do próprio Gabo sobre como ele pen­sa­va. “A ver­dade é que faz­er um doc­u­men­tário sobre ele não é o mais óbvio: há pou­cas entre­vis­tas com ele diante das câmeras. Então o primeiro pas­so foi ras­treá-los, um a um, e con­tin­uar procu­ran­do por muito tem­po todas as pis­tas sobre Gabo”.

Entre as descober­tas, Web­ster detal­ha que o cer­co às pegadas e aos ras­tros de Gabo rev­el­ou-se um painel de memórias afe­ti­vas e reflex­i­vas sobre a própria existên­cia. “Há muitas influên­cias para decifrar as ideias colo­cadas no papel pelo autor. Algu­mas dessas descober­tas foram novi­dades para mim e que nos fez enten­der muito mel­hor como o escritor pen­sa­va. Sua ati­tude em relação à morte, por exem­p­lo, que ele define no final do doc­u­men­tário, foi um poderoso motor cria­ti­vo”.

No filme, Gabriel Gar­cía Márquez rev­el­ou seu incon­formis­mo com a fini­tude da vida e entende que escr­ev­er faz parte da bus­ca por sobre­viv­er além do seu tem­po. “Enten­do que, como muitos grandes cri­adores, sua arte era uma for­ma de ter­apia, e que ele con­seguia resolver seus próprios prob­le­mas exis­ten­ci­ais, ou mes­mo famil­iares, por meio da escri­ta”.

Todas são histórias de amor

O doc­u­men­tário traz pen­sa­men­tos do escritor colom­biano que sur­preen­dem aque­les leitores que veem o colom­biano ape­nas como um autor ativista ou enga­ja­do em denun­ciar as maze­las soci­ais. Gabo diz que, emb­o­ra tente dis­farçar, todos os seus romances são “de amor”. “O amor que ele tra­ta deve ser enten­di­do em um sen­ti­do amp­lo, um amor à vida e às pes­soas”, afir­ma Web­ster. O livro favorito do inglês é o Crôni­ca de uma Morte Anun­ci­a­da, que com­ple­tou 40 anos em 2021, um livro de mis­tério nar­ra­do em esti­lo jor­nalís­ti­co.

Aliás, ele entende que Gabo deixou lega­do de luta para essa ativi­dade profis­sion­al. “Ele elevou a dig­nidade do ofí­cio, como diz Jon Lee Ander­son (jor­nal­ista que foi cor­re­spon­dente de guer­ra e hoje escreve para a revista New York­er) no doc­u­men­tário. Ele defendia o jor­nal­is­mo e ama­va o que há de mais essen­cial na profis­são, a reportagem”.

Web­ster espera que a exposição do filme na platafor­ma de stream­ing Net­flix ajude a difundir as ideias de Gabriel Gar­cía Márquez e que mais pes­soas ten­ham inter­esse em abrir um livro do céle­bre escritor. “Gabo já con­seguiu se conec­tar com pes­soas comuns. Mais de 50 mil­hões de seus livros foram ven­di­dos. Eu espero que o filme sir­va para desco­brir mais de suas obras-pri­mas”.

Confira outras publicações na EBC sobre Gabriel García Márquez:

- Mia Couto diz que obra de Gabo vai durar para sem­pre

- Pro­gra­ma Cla­que­te desta­ca tril­ha para adap­tação de O Amor nos Tem­pos do Cólera

Assista à hom­e­nagem fei­ta pela TV Brasil ao escritor colom­biano:

Edição: Alessan­dra Esteves

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