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Gasolina mais cara faz pessoas trocarem carro por ônibus, prova estudo

Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agência Brasil

Pesquisa confirma essa relação com base na realidade de Curitiba


Pub­li­ca­do em 04/06/2022 — 07:55 Por Léo Rodrigues – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

É razoáv­el imag­i­nar que, com o aumen­to do preço dos com­bustíveis, muitas pes­soas deix­em de se deslo­car de car­ro e recor­ram ao trans­porte públi­co. Pesquisadores da Pon­tif­í­cia Uni­ver­si­dade Católi­ca do Paraná (PUC-PR) e da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Paraná (UFPR) resolver­am inves­ti­gar a questão de for­ma mais apro­fun­da­da e cri­aram mod­e­los matemáti­cos que per­mi­ti­ram provar essa relação com base na real­i­dade de Curiti­ba.

Segun­do os cál­cu­los dos pesquisadores, os ônibus de trân­si­to rápi­do (BRT) da cap­i­tal paranaense lidam com um aumen­to de 5 mil pas­sageiros men­sais cada vez que o litro da gasoli­na sobe R$ 0,10.

As con­clusões foram pub­li­ca­dos na revista Sus­tain­abil­i­ty, refer­ên­cia inter­na­cional em pesquisas inter­dis­ci­pli­nares sobre sus­tentabil­i­dade ambi­en­tal, cul­tur­al, econômi­ca e social. O estu­do reuniu infor­mações rel­a­ti­vas a um inter­va­lo de dez anos. Dois mod­e­los matemáti­cos foram cri­a­dos e apli­ca­dos para anal­is­ar as vari­ações no preço dos com­bustíveis, nas tar­i­fas do trans­porte públi­co, no número de pas­sageiros e no vol­ume de veícu­los nas ruas entre janeiro de 2010 e dezem­bro de 2019.

Segun­do o pesquisador Luis André Wer­necke Fuma­gal­li, do Grupo de Pesquisas em Cidade Dig­i­tal Estratég­i­ca da PUC-PR e um dos autores do estu­do, as pes­soas lev­am em con­ta diver­sos fatores quan­do definem como vão se deslo­car. Entre os fatores, estão a duração da viagem, a segu­rança e o con­for­to. O cus­to tam­bém exerce influên­cia deter­mi­nante. “Se os preços do com­bustív­el e da tar­i­fa do trans­porte públi­co ficarem estáveis, a tendên­cia é que as pes­soas man­ten­ham sua opção.”

As vari­ações no número de pas­sageiros foram apu­radas a par­tir do históri­co das seis lin­has do BRT de Curiti­ba, que cruzam e conec­tam a cap­i­tal paranaense em várias direções e rep­re­sen­tam quase 30% do total de usuários trans­porta­dos diari­a­mente na cidade.

O estu­do rev­ela que cada car­ro na rua rep­re­sen­ta, em média, 25 pas­sagens a menos ven­di­das no trans­porte públi­co da cap­i­tal paranaense. Fuma­gal­li obser­va que muitas pes­soas fazem sua escol­ha con­forme a situ­ação de momen­to. “O pro­pri­etário não vende o car­ro e começa a andar de ônibus. Ele deixa na garagem. E aí, quan­do ele vol­ta a achar que vale mais a pena usar o car­ro, ele para de se loco­mover por trans­porte públi­co.”

Esse cenário, no entan­to, geral­mente não ocorre com o moto­ci­clista. De acor­do com Fuma­gal­li, aque­les que adquirem uma moto­ci­cle­ta ten­dem a não voltar a usar o trans­porte públi­co. Diante desse movi­men­to, o vol­ume de moto­ci­cle­tas nas ruas vem aumen­tan­do con­sid­er­av­el­mente.

“Em Curiti­ba, isso se obser­va no dia a dia o tem­po inteiro”, afir­ma Fuma­gal­li.

Gestão estratégica

Obter con­clusões que con­tribuam para pen­sar uma gestão estratég­i­ca da cidade foi uma das prin­ci­pais pre­ocu­pações dos pesquisadores. Para Fuma­gal­li, a par­tir dos dados lev­an­ta­dos, é pos­sív­el dis­cu­tir mel­hores práti­cas para a admin­is­tração públi­ca, envol­ven­do, por exem­p­lo, a alo­cação de recur­sos.

“O municí­pio pre­cisa inve­stir no trans­porte públi­co, na estru­tu­ra viária, na gestão do trân­si­to para aco­modar, por exem­p­lo, as moto­ci­cle­tas. Com maior número de moto­ci­cle­tas nas ruas, nor­mal­mente, ocor­rem mais aci­dentes. No caso do trans­porte públi­co, o número de pas­sageiros é cada vez menor. E o serviço pre­cisa ser viáv­el eco­nomi­ca­mente”, obser­va o pesquisador.

Ele ressalta que não se pode imag­i­nar que tirar pes­soas dos ônibus é bom. “Com menos pas­sageiros, a pas­sagem vai pre­cis­ar ser mais cara para man­ter o fun­ciona­men­to [do trans­porte públi­co. E car­ro demais tam­bém é prob­le­ma, porque pas­sa a ter muito engar­rafa­men­to.”

Um dos desafios dos municí­pios é avaliar como o aumen­to do preço dos com­bustíveis impacta na sus­tentabil­i­dade do trans­porte públi­co. Isso porque o serviço pas­sa a ter simul­tane­a­mente mais despe­sas, para abaste­cer os veícu­los, e maior arrecadação, com o aumen­to do número de pas­sageiros que pas­sam a deixar o car­ro na garagem. Para os pesquisadores, não é pos­sív­el faz­er gen­er­al­iza­ções, já que cada cidade lida de for­ma difer­ente com o sis­tema de trans­porte públi­co. Ain­da que a oper­ação seja real­iza­da por con­ces­sionárias pri­vadas na maio­r­ia das grandes cidades, muitas vezes, elas recebem sub­sí­dios munic­i­pais.

“Em Curiti­ba, quan­do o preço do com­bustív­el sobe, há uma com­pen­sação fei­ta pela prefeitu­ra. Even­tual­mente, alguns aumen­tos acabam sendo repas­sa­dos para o usuário nos rea­justes da tar­i­fa, mas não é algo lin­ear”, pon­tua Fuma­gal­li. Segun­do o pesquisador, a série históri­ca das tar­i­fas rev­ela que estas não acom­pan­ham a fre­quên­cia de aumen­tos do preço dos com­bustíveis.

Por saúde e economia, brasilienses têm trocado o carro pela bicicleta
Repro­dução: Próx­i­ma  eta­pa do estu­do  de  pesquisadores  paranaens­es  avaliará  uso  de  bici­cle­tas nas cidades — Arquivo/Agência Brasil

Para per­mi­tir o apro­fun­da­men­to das anális­es, o estu­do terá con­tinuidade. A próx­i­ma eta­pa pre­tende incluir as bici­cle­tas na equação.

De acor­do com Fuma­gal­li, a bici­cle­ta é uma solução ecológ­i­ca e sus­ten­táv­el do pon­to de vista ambi­en­tal, mas a ampli­ação das ciclovias pode acabar geran­do impactos soci­ais e econômi­cos, se resul­tar, por exem­p­lo, na sub­tração de pas­sageiros de ônibus. “O desafio de geren­ci­a­men­to é encon­trar uma união óti­ma entre o ônibus, o car­ro, a bici­cle­ta, que se com­ple­men­tam”, con­clui.

Edição: Nádia Fran­co

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