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Geração eólica no mar pode acelerar transição energética no Brasil

Repro­dução: © REUTERS/Phil Noble

Fonte renovável ampliará capacidade do país em 3,6 vezes, estima CNI


Pub­li­ca­do em 12/09/2023 — 08:02 Por Bruno de Fre­itas Moura — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Em algu­mas regiões do país, mais notada­mente nas dunas do Nordeste, grandes turbinas eóli­cas fazem parte da pais­agem. Essas espé­cies de ven­ti­ladores gigantes são ger­ado­ras de ener­gia elétri­ca a par­tir da força dos ven­tos. Se depen­der do que apon­ta uma pesquisa da Con­fed­er­ação Nacional da Indús­tria (CNI), essas estru­turas vão ser mais comuns tam­bém na pais­agem marí­ti­ma, com usi­nas eóli­cas off­shore (fora de ter­ra firme), com a van­tagem de explo­rar ven­tos mais con­stantes e com maiores veloci­dades.

Essa nova fron­teira de ger­ação de ener­gia limpa pode faz­er o Brasil aumen­tar em 3,6 vezes a capaci­dade total de pro­dução de ener­gia elétri­ca e poten­cializar a tran­sição para um mun­do com cada vez mais com­bustíveis ren­ováveis.

O cenário é traça­do pelo estu­do Opor­tu­nidades e Desafios para Ger­ação Eóli­ca Off­shore no Brasil e a Pro­dução de Hidrogênio de Baixo Car­bono, elab­o­ra­do pela Con­fed­er­ação Nacional da Indús­tria (CNI), lança­do nes­ta terça-feira (12), em Brasília, no even­to Diál­o­go Pré-COP 28: O Papel da Indús­tria na Agen­da de Cli­ma.

O encon­tro tem a par­tic­i­pação de rep­re­sen­tantes do setor pro­du­ti­vo, gov­er­no e sociedade civ­il para debater assun­tos da Con­fer­ên­cia da ONU sobre Mudanças Climáti­ca (COP), que será real­iza­da em Dubai, Emi­ra­dos Árabes Unidos, entre 30 de novem­bro e 12 de dezem­bro.

Potencial de geração

De acor­do com o estu­do, em 2021, o mun­do tin­ha capaci­dade insta­l­a­da para a ger­ação de 55,9 gigawatt (GW) por meio de usi­nas eóli­cas off­shore, basi­ca­mente na Chi­na e na Europa. A esti­ma­ti­va é que o par­que eóli­co off­shore glob­al alcance o pata­mar de 260 GW em 2030 e 316 GW dez anos depois. Para isso, estão pre­vis­tos inves­ti­men­tos de até US$ 1 tril­hão.

O lev­an­ta­men­to da CNI apon­ta que o Brasil tem grande poten­cial ain­da inex­ploráv­el com capaci­dade de chegar a 700 GW, ou seja, 3,6 vezes a capaci­dade total de ener­gia elétri­ca já insta­l­a­da e conec­ta­da ao Sis­tema Interli­ga­do Nacional (194 GW). Porém, o estu­do não indi­ca quan­do o Brasil alcançará esse pata­mar. Até 30 de agos­to, havia no Insti­tu­to Brasileiro do Meio Ambi­ente e dos Recur­sos Nat­u­rais Ren­ováveis (Iba­ma) 78 pedi­dos de licen­ci­a­men­to para usi­nas eóli­cas no mar, soman­do poten­cial de ger­ação de 189 GW.

Mapa do potencial teórico de geração de energia elétrica com fonte eólica offshore no Brasil. Geração eólica no mar pode acelerar transição energética no Brasil. Fonte: CNI
Repro­dução: Mapa do poten­cial teóri­co de ger­ação de ener­gia elétri­ca com fonte eóli­ca off­shore no Brasil — Fonte: CNI

Transição energética

A inclusão dessa ener­gia limpa na matriz energéti­ca brasileira é vista como pon­to pri­mor­dial para o Brasil perseguir o Acor­do de Paris — trata­do sobre mudanças climáti­cas assi­na­do por 195 país­es e ado­ta­do em 2015. Nele, o Brasil se com­pro­m­e­teu a reduzir as emis­sões de gas­es de efeito est­u­fa em 37% até 2025 e em 50% até 2030, ten­do como base as emis­sões de 2005. Além dis­so, no ano pas­sa­do, o país assum­iu o com­pro­mis­so de alcançar emis­sões líquidas neu­tras até 2050, ou seja, não con­tribuir para o efeito est­u­fa, tan­to dimin­uin­do as emis­sões, quan­to cap­turan­do car­bono da atmos­fera.

“A eóli­ca off­shore vem para somar rumo a essa expan­são de ren­ováveis e com o obje­ti­vo de man­ter a matriz energéti­ca elétri­ca do Brasil cada vez mais limpa e sus­ten­táv­el”, avalia o ger­ente exec­u­ti­vo de Meio Ambi­ente e Sus­tentabil­i­dade da CNI, Davi Bomtem­po.

O lev­an­ta­men­to iden­ti­fi­cou que as regiões do litoral brasileiro com maior poten­cial para a ger­ação estão na cos­ta nordes­ti­na, entre Piauí, Ceará e no Rio Grande do Norte; entre os esta­dos do Rio de Janeiro e do Espíri­to San­to, no Sud­este; e na Lagoa dos Patos, litoral do Rio Grande do Sul.

Hidrogênio verde

Se o Brasil via­bi­lizar a ger­ação de todo o poten­cial apon­ta­do no estu­do da CNI, o país terá exces­so de ener­gia. Além de deixar a matriz energéti­ca mais limpa e sus­ten­táv­el, haverá a chance de vender o superávit para out­ros país­es, assim como avançar na chama­da econo­mia do hidrogênio de baixo car­bono.

O hidrogênio verde, como tam­bém é con­heci­do, é pro­duzi­do a par­tir das fontes ren­ováveis de ener­gia, como a eóli­ca, e pode ser uti­liza­do como com­bustív­el em setores inten­sivos de con­sumo energéti­co, como o petro­quími­co, siderúr­gi­co e de cimen­to. Out­ra uti­liza­ção do hidrogênio verde é na fab­ri­cação de fer­til­izantes, pro­du­to muito impor­ta­do pelo Brasil.

Como o hidrogênio tem grande desem­pen­ho com­para­do às bate­rias con­ven­cionais uti­lizadas na indús­tria de veícu­los elétri­cos, pode gan­har cada vez mais escala na nova indús­tria auto­mo­ti­va.

Out­ra car­ac­terís­ti­ca do hidrogênio é a capaci­dade de poder armazenar ener­gia. Isso per­mi­tiria ao sis­tema de ger­ação e trans­mis­são de ener­gia elétri­ca do país mane­jar mais ade­quada­mente a ofer­ta de acor­do com a deman­da. De acor­do com a CNI, isso reforça a ideia de que a econo­mia do hidrogênio de baixo car­bono é poten­cial con­sum­i­do­ra do com­bustív­el limpo ger­a­do pelas eóli­cas.

Competidor global

O fato de o Brasil ser vis­to pela CNI como forte com­peti­dor no mer­ca­do glob­al de ener­gia eóli­ca off­shore fez com que a con­fed­er­ação tratasse o tema como pri­or­i­dade no plano de retoma­da da indús­tria, apre­sen­ta­do ao gov­er­no fed­er­al neste ano.

“A con­sol­i­dação dessa cadeia de val­or no Brasil pode impul­sion­ar a econo­mia e facil­i­tar a retoma­da da indus­tri­al­iza­ção. Além de ofer­e­cer uma fonte de ener­gia limpa e ren­ováv­el,  o setor deve ger­ar empre­gos, estim­u­lar o desen­volvi­men­to tec­nológi­co e cien­tí­fi­co, reduzir a dependên­cia de fontes não ren­ováveis e colab­o­rar para a segu­rança energéti­ca do país”, diz o pres­i­dente da CNI, Rob­son Bra­ga de Andrade.

A pos­si­bil­i­dade de expor­tar o hidrogênio verde para out­ros país­es, espe­cial­mente do Hem­is­fério Norte, é um dos fatores que favore­cem a insta­lação de eóli­cas off­shore na cos­ta norte nordes­ti­na, pela prox­im­i­dade de por­tos que fari­am esse comér­cio.

“A vocação prin­ci­pal da região Nordeste para pro­dução de hidrogênio de baixo car­bono e seus deriva­dos seria para expor­tação para o con­ti­nente europeu. A dis­tân­cia entre o Por­to do Pecém (São Gonça­lo do Ama­rante-CE) e o Por­to de Rot­ter­dam, na Holan­daé cer­ca de 7,5 mil quilômet­ros ou de nove dias por trans­porte marí­ti­mo”, cita o doc­u­men­to.

Licenciamento

Quan­do o assun­to é licen­ci­a­men­to ambi­en­tal, são lev­adas em con­ta questões como proces­sos migratórios de aves e espé­cies mar­in­has. A CNI acres­cen­ta pre­ocu­pações com os múlti­p­los usos do espaço oceâni­co, como pesca, nave­g­ação, tur­is­mo e a extração de óleo e gás. O doc­u­men­to expli­ca que a com­plex­i­dade logís­ti­ca e os cus­tos asso­ci­a­dos à insta­lação e à manutenção de par­ques eóli­cos off­shore requerem aportes sig­ni­fica­tivos e um ambi­ente reg­u­latório favoráv­el.

O Decre­to 10.946, de janeiro de 2022, reg­u­la­men­ta a cessão de uso de espaços físi­cos e o aproveita­men­to dos recur­sos nat­u­rais em águas da União para o desen­volvi­men­to da ener­gia elétri­ca a par­tir de empreendi­men­to off­shore. Mas, segun­do a CNI, não é sufi­ciente para traz­er segu­rança jurídi­ca aos investi­dores. A con­fed­er­ação lem­bra que trami­ta no Con­gres­so Nacional um pro­je­to de lei que reg­u­la­men­ta o mod­e­lo de cessão de áreas, a cobrança de out­or­gas e os critérios para a real­iza­ção dos leilões, como fun­ciona na indús­tria do petróleo.

Davi Bomtem­po defende a cri­ação de um mar­co reg­u­latório das eóli­cas off­shore. “É impor­tante para ori­en­tar todo o desen­volvi­men­to dessa ativi­dade.”

Experiência no offshore

A CNI obser­va que a tendên­cia é que os pro­je­tos de ger­ação eóli­ca off­shore sejam imple­men­ta­dos em locais cada vez mais dis­tantes da cos­ta, o que rep­re­sen­ta desafios e opor­tu­nidades para empre­sas que atu­am no mer­ca­do de óleo e gás no Brasil, “dev­i­do a sua exper­tise em oper­ações real­izadas em águas pro­fun­das”.

A Petro­bras indi­ca ter inter­esse nesse desafio. Em março, a estatal fir­mou uma parce­ria com a multi­na­cional noruegue­sa Equinor para avaliar sete pro­je­tos de eóli­ca off­shore no Brasil, com poten­cial para ger­ar até 14,5 GW.

“Esse acor­do vai abrir cam­in­hos para uma nova fron­teira de ener­gia limpa e ren­ováv­el no Brasil, aprovei­tan­do o expres­si­vo poten­cial eóli­co off­shore do nos­so país e impul­sio­n­an­do nos­sa tra­jetória em direção à tran­sição energéti­ca”, disse à época o pres­i­dente da Petro­bras, Jean Paul Prates.

Edição: Juliana Andrade

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