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Ginástica vive novo momento com pódio formado apenas por negras

Repro­dução: © Reuters/Yves Herman/Direitos Reser­va­dos

Rebeca Andrade afirma que feito inspira novas gerações de atletas


Pub­li­ca­do em 02/11/2023 — 07:00 Por * Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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O esporte ofer­ece a seus amantes difer­entes ima­gens para guardar na memória. Uma delas foi reg­istra­da na últi­ma edição do Mundi­al de Ginás­ti­ca Artís­ti­ca, dis­puta­do no iní­cio de out­ubro na Antuér­pia (Bél­gi­ca): um pódio for­ma­do ape­nas por mul­heres negras na dis­pu­ta do indi­vid­ual ger­al, aque­la que coroa as atle­tas mais com­ple­tas da modal­i­dade.

A imagem da norte-amer­i­cana Simone Biles (que ficou com o ouro), da brasileira Rebe­ca Andrade (pra­ta) e da atle­ta, dos Esta­dos Unidos, Shilese Jones (bronze) cel­e­bran­do a con­quista foi um sinal claro de que a modal­i­dade vive um momen­to difer­ente, no qual mul­heres negras não se desta­cam ape­nas por suas façan­has esporti­vas, mas pas­sam a ser vis­tas como refer­ên­cias.

“É muito impor­tante [um pódio for­ma­do ape­nas por mul­heres negras] porque sei o quan­to rep­re­sen­ta­mos para tan­tas cri­anças, ado­les­centes, mul­heres e home­ns pre­tos. Como já falei, a Dai [ex-ginas­ta brasileira Daiane dos San­tos] foi muito impor­tante para mim, pois era uma das úni­cas pes­soas com as quais eu me iden­ti­fi­ca­va ali, ape­sar de admi­rar todas as meni­nas, e hoje cada dia mais estão chegan­do mais e mais pes­soas para con­tin­uar inspi­ran­do e entran­do nesse lugar de refer­ên­cia. Então um pódio desse sig­nifi­ca demais para mim. E ten­ho certeza de que sig­nifi­ca muito para as meni­nas tam­bém e ficamos muito felizes de dividir aque­le pódio. Foi sen­sa­cional”, declar­ou a jovem brasileira de 24 anos.

Na opinião do cien­tista social Thales Vieira, que é co-dire­tor-exec­u­ti­vo do Obser­vatório da Bran­qui­tude, a imagem deste pódio “diz muito sobre a resil­iên­cia dessas estre­las do esporte, que, ape­sar do racis­mo, bril­ham e con­duzem suas car­reiras no mais alto nív­el […]. Rebe­ca já é a maior ginas­ta brasileira e Biles a maior de todos os tem­pos”. Segun­do o pesquisador, ima­gens como a deste pódio “que­bram o ideário falsea­do do méri­to bran­co e provam que, ao menor sinal de opor­tu­nidade, pes­soas negras bus­carão e terão excelên­cia no que se pro­puserem a faz­er, seja nos esportes ou qual­quer out­ra área”.

Quan­do se con­sid­er­am ape­nas as con­quis­tas olímpi­cas, Simone Biles (que é a ginas­ta com mais medal­has na história de mundi­ais) é a nona atle­ta da história da ginás­ti­ca olímpi­ca mais lau­rea­da até o momen­to (com 4 ouros, 1 pra­ta e 2 bronzes em duas edições dos Jogos). Já a brasileira (que tem duas medal­has) não aparece entre as 10 primeiras colo­cadas de um rank­ing for­ma­do quase exclu­si­va­mente por atle­tas rela­cionadas à anti­ga União Soviéti­ca (como a rus­sa Lar­isa Latyn­i­na, que lid­era a clas­si­fi­cação com 9 ouros, 5 pratas e 4 bronzes con­quis­tadas em 3 Olimpíadas).

Com ao menos mais uma edição de Jogos Olímpi­cos pela frente, Simone Biles e Rebe­ca Andrade ain­da podem pas­sar a ocu­par uma posição de maior destaque entre as ginas­tas com mais medal­has con­quis­tadas no even­to. Mas uma coisa é cer­ta, as duas são rep­re­sen­tantes de uma nova ger­ação de atle­tas negras que influ­en­ci­am as próx­i­mas ger­ações pelo sim­ples fato de se orgul­harem de quem são.

“Sou uma mul­her pre­ta e ten­ho muito orgul­ho. Eu amo min­ha cor de pele e sou lin­da, sou mar­avil­hosa. Min­ha mãe me ensi­nou sem­pre a me amar, e me acha mar­avil­hosa tam­bém. Eu nun­ca tive nen­hum prob­le­ma com isso, comi­go mes­ma ou com out­ras pes­soas dizen­do ou falan­do algu­ma coisa sobre isso. Então sem­pre fui muito firme e muito con­fi­ante comi­go mes­ma e isso é muito bom”, afir­mou Rebe­ca após con­quis­tar qua­tro medal­has nos Jogos Pan-Amer­i­canos, que estão sendo dis­puta­dos em San­ti­a­go (Chile).

Ape­sar do maior vol­ume que vozes como a de Rebe­ca podem alcançar em grandes even­tos esportivos como o Pan, o cien­tista social Thales Vieira afir­ma que ain­da é necessário ser feito mais, é necessário “um com­pro­mis­so ver­dadeiro” de con­fed­er­ações, orga­ni­za­ções inter­na­cionais, atle­tas bran­cos e não bran­cos, juízes, impren­sa e públi­co. “Sem esse com­pro­mis­so o que vemos é um fes­ti­val de fras­es prontas e acor­dos com­er­ci­ais que se sobrepõem ao ver­dadeiro espíri­to esporti­vo”, con­clui.

* Colab­o­ração de Ana Modesto (estag­iária) sob super­visão de Paulo Gar­ri­tano.

Edição: Fábio Lis­boa

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