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Guerra: 36% dos estrangeiros autorizados a deixar Gaza são dos EUA

Repro­dução: © REUTERS/Fadi Wha­di

Segunda nacionalidade mais beneficiada é alemã


Pub­li­ca­do em 08/11/2023 — 17:58 Por Lucas Pordeus León — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Dos 3.463 estrangeiros autor­iza­dos a sair da Faixa de Gaza até esta quar­ta-feira (8), 1.253 têm pas­s­aporte dos Esta­dos Unidos, o que rep­re­sen­ta 36,1% do total. O prin­ci­pal ali­a­do de Israel na guer­ra que o país declar­ou con­tra o Hamas lid­era a lista de nacional­i­dades até ago­ra autor­izadas a deixar o enclave palesti­no. 

Além dos Esta­dos Unidos, out­ros oito país­es tiver­am mais de 100 nacionais autor­iza­dos a sair da região. Essas nove nações somam 86% do total de estrangeiros autor­iza­dos a deixar Gaza. A segun­da nacional­i­dade mais ben­e­fi­ci­a­da foi a Ale­man­ha, com 335 pes­soas, o que rep­re­sen­ta 9,6% do total.

Em ter­ceiro lugar está a Ucrâ­nia com 329 pes­soas (9,5%) e, em quar­to, a Jordâ­nia, com 289 pes­soas autor­izadas a sair de Gaza (8,3%). Em segui­da, estão o Reino Unido com 241 pes­soas nas lis­tas (6,9%), Romê­nia com 154 (4,4%), Fil­ip­inas com 153 (4,4%), Canadá com 120 (3,4%) e França com 111 (3,2%).

A Agên­cia Brasil teve aces­so às lis­tas por meio de brasileiros na Faixa de Gaza. Ess­es doc­u­men­tos trazem os mes­mos números divul­ga­dos pelo Escritório de Rep­re­sen­tação do Brasil em Ramala, na Cisjordâ­nia ocu­pa­da.

Out­ras 22 nacional­i­dades foram con­tem­pladas nas lis­tas, além de fun­cionários de orga­ni­za­ções human­itárias que atu­am em Gaza. Dos país­es lati­no-amer­i­canos, ape­nas o Méx­i­co teve qua­tro nacionais autor­iza­dos a sair do enclave palesti­no. Até o momen­to, nen­hum dos 34 brasileiros que se encon­tram em Gaza pud­er­am deixar o ter­ritório palesti­no.

Segun­do o Ita­ma­raty, a lista é fei­ta pelas autori­dades locais, israe­lens­es e egíp­cias. Porém, a Embaix­a­da de Israel no Brasil infor­mou, por meio da asses­so­ria, que as lis­tas são preparadas por “enti­dades e organ­is­mos inter­na­cionais”, mas não infor­mou quais enti­dades seri­am essas. Já a Embaix­a­da do Egi­to no Brasil não respon­deu aos ques­tion­a­men­tos envi­a­dos pela Agên­cia Brasil.

Critérios geopolíticos

Como os critérios para seleção dos estrangeiros não têm sido divul­ga­dos, três espe­cial­is­tas ouvi­dos pela Agên­cia Brasil avaliaram que isso lev­an­ta sus­peitas de que Israel pos­sa estar priv­i­le­gian­do ali­a­dos geopolíti­cos em detri­men­to de país­es que criticaram ou se opõem a ação do país na Faixa de Gaza.

O cien­tista políti­co e pro­fes­sor de Relações Inter­na­cionais Mau­rí­cio San­toro, que é colab­o­rador do Cen­tro de Estu­dos Políti­co-Estratégi­cos da Mar­in­ha, sus­pei­ta que haja manip­u­lação políti­ca do que dev­e­ria ser uma decisão human­itária.

“É uma lista que se expli­ca em razão da prox­im­i­dade políti­ca ou econômi­ca de vários dess­es país­es com Israel. Tem o grupo dos país­es do G7 (grupo das sete maiores econo­mias do mun­do), os país­es do sud­este asiáti­co que têm muitos imi­grantes em Israel e país­es que têm uma cer­ta prox­im­i­dade políti­ca cul­tur­al, como no caso da Ucrâ­nia ou da Jordâ­nia”, expli­cou.

Sobre Fil­ip­inas e Ucrâ­nia, San­toro desta­cou que ambos têm laços cul­tur­ais e forte pre­sença imi­gratória em Israel. Em relação a Jordâ­nia, ape­sar de a nação árabe ter feito duras críti­cas a Israel des­de o iní­cio da guer­ra, inclu­sive reti­ran­do o embaix­ador de Tel Aviv, o anal­ista apon­tou que esse é um dos país­es árabes mais próx­i­mos de Israel.

“A Jordâ­nia teve que rea­gir porque o país reg­istrou protestos muito grandes con­tra os bom­bardeios em Gaza. Por mais que ten­ha uma retóri­ca e alguns gestos diplomáti­cos que sejam duros con­tra Israel, não é nem de longe a mes­ma ani­mosi­dade que a gente vê, por exem­p­lo, no Líbano e na Síria”, con­cluiu.

Para o pesquisador Bruno Alcebi­no Fab­rí­cio da Sil­va, do Obser­vatório de Políti­ca Exter­na e Inserção Inter­na­cional do Brasil (Opeb), a con­cen­tração de estrangeiros em poucos país­es “sus­ci­ta pre­ocu­pações legí­ti­mas sobre a dis­tribuição e o critério de seleção para a saí­da da região”.

“A per­cepção de um priv­ilé­gio para os ali­a­dos de Israel não pode ser igno­ra­da. Os Esta­dos Unidos, por exem­p­lo, estão notavel­mente bem rep­re­sen­ta­dos na lista, o que pode ser atribuí­do à influên­cia políti­ca sig­ni­fica­ti­va desse país em Israel. Fica claro que país­es ali­a­dos ao Oci­dente ou próx­i­mos diplomáti­ca ou politi­ca­mente aos EUA são ben­e­fi­ci­a­dos”, desta­cou.

Em relação à Jordâ­nia, o espe­cial­ista desta­cou que out­ros critérios, para além do alin­hamen­to políti­co em relação à guer­ra, podem ter sido con­sid­er­a­dos. “Muitos palesti­nos na Faixa de Gaza têm laços de par­entesco com jor­da­ni­anos dev­i­do à história do con­fli­to na região. Ess­es laços podem ter influ­en­ci­a­do a decisão de pri­orizar a saí­da de cidadãos jor­da­ni­anos em uma situ­ação de crise, dev­i­do ao temor de Israel do envolvi­men­to dos demais país­es árabes no con­fli­to”, afir­mou.

Brasil

A ausên­cia dos 34 brasileiros nas seis lis­tas até ago­ra divul­gadas tam­bém têm intri­ga­do espe­cial­is­tas. O pro­fes­sor de história con­tem­porânea da Uni­ver­si­dade Fed­er­al Flu­mi­nense (UFF) Bernar­do Kocher desta­cou que, como não há expli­cação dos critérios para saí­da de estrangeiros, a impressão é que existe a intenção de des­gas­tar o gov­er­no brasileiro.

“Se hou­ver algum óbito (de brasileiro), o des­gaste vai ser da políti­ca exter­na brasileira. Talvez seja isso que eles querem: des­gas­tar a posição brasileira em relação à situ­ação em Gaza uma vez que o Brasil não se alin­hou 100% com as ações de Israel”, ressaltou.

Para o cien­tista políti­co Mau­rí­cio San­toro, a recusa do Brasil em clas­si­ficar o Hamas como grupo ter­ror­ista e o dis­cur­so do pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va, que disse que as ações de Israel em Gaza se con­stituem em  “genocí­dio”, podem ter relação com a demo­ra para saí­da dos brasileiros.

Brasil não clas­si­fi­ca o Hamas como grupo ter­ror­ista porque segue as decisões do Con­sel­ho de Segu­rança da ONU sobre o tema. A maio­r­ia dos país­es-mem­bros da ONU, incluin­do país­es europeus como Norue­ga e Suíça, além de Chi­na, Rús­sia, nações lati­no-amer­i­canas, como o próprio Brasil, Méx­i­co, Colôm­bia, seguem a definição atu­al da ONU que não clas­si­fi­ca o Hamas como grupo ter­ror­ista.

Out­ro fator cita­do por San­toro é mudança nas relações do Brasil com Israel depois da saí­da do ex-pres­i­dente Jair Bol­sonaro, que tin­ha fortes lig­ações políti­cas com Ben­jamim Netanyahu.

“Me parece tam­bém que há um pouco esse cál­cu­lo políti­co, quer diz­er, uma insat­is­fação por parte do gov­er­no Netanyahu de como Israel tem sido trata­do pelo atu­al gov­er­no brasileiro em con­traste com os vários bene­fí­cios que rece­beu durante o gov­er­no Bol­sonaro”, con­cluiu.

Israel

Em comu­ni­ca­do divul­ga­do à impren­sa nes­ta quar­ta-feira (8), o embaix­ador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zon­shine, negou que haja qual­quer inter­esse em atrasar a saí­da dos brasileiros ou de qual­quer out­ra nacional­i­dade. Segun­do ele, “a cota para sair da Faixa de Gaza é deter­mi­na­da pelo Egi­to e de acor­do com ela, algu­mas cen­te­nas de estrangeiros recebem per­mis­são para sair a cada dia”.

Zon­shine argu­men­tou ain­da que o Hamas tem atrasa­do a saí­da dos estrangeiros. “O Esta­do de Israel está empre­gan­do esforços para evac­uar todos os estrangeiros de 20 país­es difer­entes e para aumen­tar a cota de for­ma a com­pen­sar o atra­so cau­sa­do pelo Hamas”, infor­mou.

Antes dos estrangeiros começarem a sair pela fron­teira de Rafah, o por­ta-voz do Min­istério das Relações Exte­ri­ores do Egi­to egíp­cio, o embaix­ador Ahmed Abu Zeid, negou que a obstrução para saí­da de estrangeiros seja cul­pa do Egi­to.

Edição: Maria Clau­dia

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