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Guerra: notícias falsas e conteúdos sensíveis são nocivos à sociedade

Repro­dução: © Reuters

Pesquisadores dizem que violências reais causam perplexidade


Pub­li­ca­do em 18/10/2023 — 07:32 Por Luiz Cláu­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Ima­gens de con­fli­tos ante­ri­ores, infor­mações impre­cisas, dis­cur­sos que nun­ca ocor­reram, vídeos fal­si­fi­ca­dos, guer­ras de ver­sões. Além das bom­bas, tiros e out­ras vio­lên­cias reais que deix­am o mun­do atôni­to diante da guer­ra no Ori­ente Médio neste momen­to, a difusão acel­er­a­da de desin­for­mação e notí­cias fal­sas, prin­ci­pal­mente pelas redes soci­ais na inter­net, tem car­ac­terís­ti­cas béli­cas e muito perigosas para a sociedade.  Con­teú­dos sen­síveis de dor e vio­lên­cia têm sido mais usa­dos, dizem pesquisadores do tema.

Pro­fes­sor de relações inter­na­cionais e pesquisador de assun­tos lig­a­dos ao Ori­ente Médio, José Anto­nio Lima indi­ca que ess­es con­teú­dos desin­for­ma­tivos são muito nocivos para quem vive próx­i­mo e tam­bém para as pes­soas dis­tantes dos cenários de guer­ra. Além de pro­fes­sor, Lima inte­gra o pro­je­to Com­pro­va, que reúne jor­nal­is­tas de veícu­los brasileiros para inves­ti­gar infor­mações sus­peitas sobre políti­cas públi­cas com­par­til­hadas em redes soci­ais ou aplica­tivos de men­sagens.

Ele expli­ca que os con­teú­dos fal­sos aproveitam-se do que é trans­mi­ti­do no noti­ciário nor­mal e que, por mais que a impren­sa tome os cuida­dos para lidar, por exem­p­lo, com ima­gens ou relatos de vio­lên­cia, é pos­sív­el obser­var que nas redes soci­ais o fil­tro prati­ca­mente não existe. “Esse é um fator agra­vante no cenário atu­al porque a gente entende que essas emoções fortes acabam por difi­cul­tar para as pes­soas o proces­so de iden­ti­ficar o que é ou não real”.

Para o his­to­ri­ador e jor­nal­ista Raphael Kapa, que é coor­de­nador de pro­du­tos da Agên­cia Lupa, o momen­to de comoção diante da tragé­dia é uti­liza­do por pes­soas ou insti­tu­ições que querem propa­gar desin­for­mação. “Neste momen­to de vul­ner­a­bil­i­dade, isso faz com que muitas vezes uma desin­for­mação chegue a uma pes­soa que aca­ba cain­do nela porque está num momen­to sen­sív­el”, pon­dera.

Ele expli­ca que têm sido comuns divul­gações envol­ven­do sofri­men­to de cri­anças e muti­lação de cor­pos. “Na hora de checar essas infor­mações e, além de diz­er se ela é ver­dadeira ou fal­sa, avisamos que aque­le con­teú­do pode ser sen­sív­el. Pode ger­ar dor nas pes­soas”.

Mais mentiras disponíveis

O pesquisador José Anto­nio Lima entende que a guer­ra é um momen­to em que as pes­soas devem estar mais aler­tas para o rece­bi­men­to de desin­for­mação. “A gama de mate­ri­ais que está disponív­el para quem quer desin­for­mar é grande. Por exem­p­lo, há ima­gens anti­gas de bom­bardeios na Síria que são divul­gadas como se fos­sem atu­ais”.

Raphael Kapa, da Lupa, afir­ma que ain­da não há como men­su­rar a quan­ti­dade de desin­for­mação que se acu­mu­la nas redes, mas é pos­sív­el já ter uma primeira impressão  sobre o teor. “Já con­seguimos ver um cer­to padrão no uso de ima­gens de guer­ras ante­ri­ores, do uso de vídeos de extrema dor e vio­lên­cia, mas sendo descon­tex­tu­al­iza­dos para este momen­to”.

Compartilhamentos sem responsabilidade

José Lima, do pro­je­to Com­pro­va, chama a atenção para o fato que a vio­lên­cia da desin­for­mação nem sem­pre tem car­ac­terís­ti­ca dolosa. “Às vezes, são pes­soas que não têm aque­la infor­mação e acabam pas­san­do infor­mação adi­ante sem saber se aqui­lo é ver­dade, o que é um com­por­ta­men­to extrema­mente danoso”. Ele entende que há car­ac­terís­ti­cas em comum entre as infor­mações fal­sas trans­mi­ti­das durante o perío­do da pan­demia e ago­ra na guer­ra.

Para Lima, o caso brasileiro ilus­tra que há uma ten­ta­ti­va de usar os even­tos que estão ocor­ren­do no Ori­ente Médio para provo­car desas­tre em adver­sários políti­cos. “Eu não ten­ho dúvi­da nen­hu­ma de que as redes de desin­for­mação exis­tentes no Brasil têm conexões com a classe políti­ca. Isso é um prob­le­ma grave”, afir­ma.

Kapa, da Agên­cia Lupa, define que o olhar e até o com­par­til­hamen­to das posta­gens obe­de­cem a um “viés de con­fir­mação”, que há pes­soas com uma lóg­i­ca de quer­er ler ou ouvir infor­mações que seguem as próprias prefer­ên­cias políti­cas e ide­ológ­i­cas. “Trans­for­ma-se em fato aqui­lo que pode ser mera­mente out­ra crença. Então, a gente está pen­san­do muito nis­so, uma movi­men­tação de uma indús­tria de descon­tex­tu­al­iza­ção mex­en­do com as posições políti­cas e ide­ológ­i­cas que estão envolvi­das em um con­tex­to de guer­ra”.

Uma das inves­ti­gações feitas pela equipe do Com­pro­va e que foi ao ar no dia 13 de out­ubro apon­ta­va que o Brasil teria doa­do US$ 25 mil­hões para o Hamas. “Na ver­dade, a doação foi fei­ta à Autori­dade Palesti­na”. Ele expli­ca que há um con­tex­to de pre­ocu­pação no Brasil em vista de um ambi­ente polar­iza­do. Essa questão de Israel-Palesti­na é, mes­mo antes desse con­fli­to, um dos fatores que colo­ca água nesse moin­ho da polar­iza­ção no Brasil”.

Os profis­sion­ais defen­d­em que é necessário estar aten­to para não com­par­til­har con­teú­dos dos quais não se con­heça a pro­cedên­cia. “Como uma cena vio­len­ta, por exem­p­lo, que tem só o vídeo com ou sem infor­mação de tex­to. Se você não sabe quem fil­mou, qual foi o con­tex­to, ou quan­do ocor­reu, não com­par­til­he. Há chance muito grande de ter um teor enganoso”, afir­ma Lima.

Out­ro aler­ta feito por ele é sobre o cuida­do com men­sagens que têm tom de urgên­cia, letras maiús­cu­las, emo­jis, sinais de sirene e pon­tos de excla­mação. É pre­ciso descon­fi­ar ain­da de con­teú­dos com teor con­spir­atório. “Bas­ta a pes­soa faz­er uma bus­ca, seja na impren­sa brasileira ou inter­na­cional porque há reporta­gens plu­rais. O tom con­spir­atório sem­pre é um indica­ti­vo de desin­for­mação”, acres­cen­ta.

Desconhecimento

A aridez e o descon­hec­i­men­to do tema (que envolve história e relações inter­na­cionais) acabam sendo condi­cio­nantes que acel­er­am a desin­for­mação, segun­do os pesquisadores. “A difi­cul­dade que é, para muitas pes­soas, ter infor­mação de qual­i­dade a respeito de um deter­mi­na­do assun­to aca­ba tam­bém abrindo as por­tas para a desin­for­mação”, diz Lima.

Out­ro con­tex­to é que as redes soci­ais são efe­ti­va­mente esse cenário de desin­for­mação pela natureza delas e dos algo­rit­mos que fun­cionam. “As redes soci­ais com­bi­nadas com os aplica­tivos de men­sagem acabam for­man­do um ecos­sis­tema que é propen­so à desin­for­mação. E isso é extrema­mente pre­ocu­pante”.

“Plataformas devem ter responsabilidade”

Os pesquisadores avaliam que as redes soci­ais con­tro­ladas por grandes empre­sas de tec­nolo­gia devem ter respon­s­abil­i­dade sobre o que é divul­ga­do. “A gente vê alguns aler­tas, mas está muito aquém do necessário para este momen­to. As platafor­mas devem ter uma respon­s­abil­i­dade grande nesse momen­to com a veic­u­lação de vídeos e de fotos”, diz Raphael Kapa, da Lupa.

O pro­fes­sor de relações inter­na­cionais José Lima con­sid­era que as redes enfrentam difi­cul­dades de equi­li­brar liber­dade de expressão com com­bate à desin­for­mação. “Mas acred­i­to que, como em out­ras situ­ações, elas pode­ri­am faz­er muito mais nes­sa seara para tornar o ambi­ente de dis­cussão mais saudáv­el”.

Edição: Graça Adju­to

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