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Homens ocupam seis em cada dez cargos gerenciais, aponta IBGE

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Mulheres só são maioria em cargos relacionados a cuidados


Publicado em 08/03/2024 — 10:01 Por Vitor Abdala e Cristina Indio do Brasil — Repórteres da Agência Brasil — Rio de Janeiro

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As mul­heres são maio­r­ia entre os estu­dantes que estão em vias de con­cluir o ensi­no supe­ri­or, no entan­to são mino­ria em relação a posições de poder. Dados divul­ga­dos nes­ta sex­ta-feira (8) pelo Insti­tu­to Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­ca (IBGE) mostram, por exem­p­lo, que ape­nas 39,3% dos car­gos geren­ci­ais no país são ocu­pa­dos por mul­heres.

As mul­heres só são maio­r­ia nas gerên­cias e coor­de­nações das áreas de edu­cação (69,4%) e saúde humana e serviços soci­ais (70%).

“As mul­heres ocu­pam mais posições de gerên­cia jus­ta­mente onde elas estão tam­bém mais colo­cadas de uma for­ma ger­al, que é na área de edu­cação, na área de saúde e serviços soci­ais, ou seja, áreas rela­cionadas a cuida­dos”, con­sta­ta a pesquisado­ra Bár­bara Cobo.

A menor par­tic­i­pação fem­i­ni­na é perce­bi­da no setor de agri­cul­tura, pecuária, engen­haria flo­re­stal, aqui­cul­tura e pesca (15,8%).

A dis­pari­dade é obser­va­da não ape­nas no per­centu­al dos car­gos como tam­bém na remu­ner­ação. O rendi­men­to das exec­u­ti­vas fem­i­ni­nas é ape­nas 78,8% dos pagos para os home­ns.

Em ape­nas três áreas, o rendi­men­to fem­i­ni­no supera o mas­culi­no: agri­cul­tura, pecuária, engen­haria flo­re­stal, aqui­cul­tura e pesca (128,6%), água, esgo­to e ativi­dades de resí­du­os (109,4%) e ativi­dades admin­is­tra­ti­vas e serviços com­ple­mentares (107,5%).

São curiosa­mente ativi­dades em que os home­ns pre­dom­i­nam. “A gente imag­i­na que isso este­ja asso­ci­a­do a elas estarem entran­do ness­es setores car­ac­ter­is­ti­ca­mente ocu­pa­dos por home­ns com uma espe­cial­iza­ção profis­sion­al maior, que leve a esse rendi­men­to maior”, expli­ca Bár­bara.

As maiores desigual­dades estão nos setores de trans­porte, armazenagem e cor­reio e de saúde humana e serviços soci­ais. Ness­es setores, os rendi­men­tos das mul­heres cor­re­spon­dem a 51,2% e 60,9% dos home­ns, respec­ti­va­mente.

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Outros cargos

As mul­heres são mino­ria tam­bém em car­gos de poder no serviço públi­co, tan­to na políti­ca como na Justiça, mostra a pesquisa. Em relação ao par­la­men­to, por exem­p­lo, ape­nas 17,9% dos dep­uta­dos fed­erais eram mul­heres em novem­bro de 2023.

Ape­sar de apre­sen­tar um avanço em relação a setem­bro de 2020, quan­do as dep­utadas fed­erais rep­re­sen­tavam 14,8% do total, o Brasil ain­da está na 133ª posição entre 186 país­es, no que se ref­ere à par­tic­i­pação par­la­men­tar das mul­heres.

Em 2020, somente 12,1% dos municí­pios elegeram prefeitas — das quais dois terços eram bran­cas. Do total de par­la­mentares munic­i­pais eleitos naque­le ano, 16,1% eram vereado­ras.

Em relação aos min­istérios, ape­nas nove dos 38 car­gos com sta­tus min­is­te­r­i­al eram ocu­pa­dos por mul­heres em novem­bro de 2023.

Dados do Con­sel­ho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que hou­ve um avanço na parcela de mag­istradas no país de 1988 (24,6%) para 2022 (40%), mas as mul­heres ain­da são mino­ria. Na Justiça estad­ual, as mul­heres são 38%, enquan­to no Supe­ri­or Tri­bunal de Justiça (STJ) são 23%.

Educação

Se, no mer­ca­do de tra­bal­ho for­mal, os home­ns lev­am van­tagem, na edu­cação são as mul­heres que mais se desta­cam.

Entre os estu­dantes que estão no últi­mo ano da fac­ul­dade, 60,3% são mul­heres. A maior parte delas está con­cen­tra­da nos cur­sos de grad­u­ação rela­ciona­dos à área de bem-estar (91% são mul­heres).

“Elas con­cluem o ensi­no supe­ri­or numa pro­porção maior do que os home­ns, então suposta­mente dev­e­ri­am ter uma média salar­i­al maior, mas quan­do você olha as áreas em que elas têm par­tic­i­pação maior, são as áreas menos val­orizadas”, ressalta a pesquisado­ra Beti­na Fresne­da.

Nos cur­sos de ciên­cia e tec­nolo­gia, que incluem as áreas de ciên­cia, tec­nolo­gia da infor­mação, matemáti­ca, estatís­ti­ca e engen­haria, as mul­heres são ape­nas 22% dos con­cluintes.

“Ape­sar de elas estarem em ampla van­tagem no aces­so ao ensi­no supe­ri­or, e isso não mudou muito em 10 anos, elas ain­da enfrentam bar­reiras para ingres­sar em deter­mi­nadas áreas do con­hec­i­men­to, espe­cial­mente naque­las lig­adas a ciên­cias exatas e à esfera da pro­dução”, desta­ca Beti­na.

Segun­do a pesquisa, entre as mul­heres com 25 anos de idade ou mais, 21,3% tin­ham com­ple­ta­do o ensi­no supe­ri­or, con­tra 16,8% dos home­ns. Percebe-se, no entan­to, desigual­dade maior quan­do se com­para as mul­heres bran­cas (29%) com as pre­tas ou par­das (14,7%). A dis­pari­dade de cor ou raça pode ser obser­va­da tam­bém no que­si­to fre­quên­cia esco­lar: 39,7% das mul­heres bran­cas de 18 a 24 anos estu­davam, con­tra ape­nas 27,9% das mul­heres pre­tas ou par­das.

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CEO

Milena Palumbo primeira mulher CEO da GL events Brasil - IBGE Seis em dez cargos gerenciais são ocupados por homens. Foto: GL events Brasil/Divulgação
Repro­dução: Mile­na Palum­bo, primeira mul­her CEO da GL events Brasil — Foto: GL events Brasil/Divulgação

O son­ho de ado­les­cente era ser jogado­ra de vôlei. Pas­sa­do algum tem­po, pen­sou em faz­er fac­ul­dade de med­i­c­i­na. Enquan­to não chega­va esse momen­to, o rumo mudou e foi em um cur­so de tur­is­mo na Fac­ul­dade Fed­er­al do Paraná que Mile­na Palum­bo encon­trou o cam­in­ho na área de plane­ja­men­to, que a lev­ou atual­mente a ser a primeira mul­her a ocu­par o car­go de CEO da GL events Brasil, uma das unidades do grupo espal­ha­do em mais de 20 país­es de cin­co con­ti­nentes com a matriz na França.

O grupo, no qual está há 17 anos, é líder mundi­al do mer­ca­do de even­tos cul­tur­ais, esportivos, insti­tu­cionais, cor­po­ra­tivos ou políti­cos e con­gres­sos e con­venções, além de feiras de negó­cios e exposições. “O cam­in­ho fem­i­ni­no é muito mais com­plexo. Tem mais obstácu­los, alguns sprints maiores. Tem que estar mais bem prepara­da, tem que estar com preparo físi­co muito mel­hor. A mul­her para chegar em funções ela pre­cisa entre­gar mais e ser mais prepara­da do que os home­ns”, avalia em entre­vista à Agên­cia Brasil.

A descober­ta da área de plane­ja­men­to foi fun­da­men­tal para a car­reira de Mile­na. A med­i­c­i­na perdeu uma médi­ca e o mer­ca­do gan­hou uma admin­istrado­ra. Mile­na recon­heceu que nem sem­pre out­ras mul­heres con­seguem o apoio que rece­beu tan­to dos pais, ao resolver o seu des­ti­no profis­sion­al, quan­to, depois, do mari­do, quan­do pre­cisou se trans­ferir de Curiti­ba, no Paraná, para assumir um car­go em uma unidade da empre­sa no Rio de Janeiro. Naque­le momen­to esta­va casa­da há 3 anos e chegou a ficar inse­gu­ra, até pen­san­do em não aceitar a trans­fer­ên­cia.

“No mun­do mas­culi­no seria uma coisa pos­i­ti­va, porque a mul­her acom­pan­ha, não tem tan­tos dra­mas, não pas­sa por um dile­ma como eu pas­sei. Emb­o­ra a pau­ta seja fem­i­ni­na, um dos meus maiores suportes é o meu lado mas­culi­no em casa, porque ele foi a pes­soa que mais me deu força e disse ‘vai’”, disse, acres­cen­tan­do que em nen­hum momen­to hou­ve a sen­sação de ficar deven­do ao mari­do. “Nun­ca fui deve­do­ra desse movi­men­to profis­sion­al, e esse movi­men­to foi onde min­ha car­reira ala­van­cou”.

A refer­ên­cia dos pais que são ortodon­tis­tas, e sem­pre tiver­am jun­tos uma vida profis­sion­al, aju­dou na sua evolução profis­sion­al. Após a chega­da ao Rio de Janeiro, foi um lon­go apren­diza­do em áreas onde não tin­ha exer­ci­do qual­quer função e o con­hec­i­men­to ain­da não era com­ple­to.

Preconceitos

Con­forme foi evoluin­do e alcançan­do car­gos, foram surgin­do tam­bém as difer­enças. Em uma viagem acom­pan­han­do um pres­i­dente de uma empre­sa, foi per­gun­ta­da se era secretária dele, mas, na ver­dade, era dire­to­ra da empre­sa. Em out­ro momen­to, um dire­tor com o qual tra­bal­ha­va pre­cisou diz­er a um exec­u­ti­vo estrangeiro que se dirigisse a ela, porque era a dire­to­ra do pro­je­to. “O cara con­tin­u­ou falan­do com ele. Esse é o dire­to, é um choque, mas aí estou falan­do de cul­tura”, disse, defend­en­do que não se pode nor­malizar situ­ações deste tipo.

Mile­na apon­tou ain­da a questão dos elo­gios à aparên­cia, como mais um fator cul­tur­al. Nesse caso, é como se as mul­heres pre­cisas­sem ser agrade­ci­das. “Eu não saio de um almoço de tra­bal­ho e falo ‘nos­sa como você está boni­to’ [se dirigin­do a um homem]. ‘Nos­sa essa roupa te cai muito bem’. As mul­heres não fazem isso. Você acei­ta um elo­gio se está em uma situ­ação social difer­ente. Não em ambi­ente profis­sion­al”.

A CEO tem duas fil­has, uma de 11 e a out­ra de 8 anos de idade. “Tive momen­tos difí­ceis. Na primeira gravidez, eu esta­va no meio da Rio+20, um even­to super com­plexo, extrema­mente estres­sante. Eu já era dire­to­ra e a gente entre­gou tudo para a Rio+20. Foram 156 país­es rep­re­sen­tantes em um even­to com mais de 20 mil pes­soas, que exigiu 6 meses. O even­to acabou, dei à luz 3 sem­anas depois. É pos­sív­el, mas você é exigi­da. Na segun­da fil­ha, eu esta­va de licença e pre­ci­sei voltar porque a gente ia entrar em con­cor­rên­cia de um mega pro­je­to para o grupo no Brasil”.

Para as fil­has, Mile­na quer que façam boas escol­has na vida. “A primeira coisa do fun­do do meu coração é que elas façam boas escol­has. Em relação à vida profis­sion­al, que seja em algu­ma coisa que ten­ham muito praz­er. Vai ser difí­cil, mas que elas saibam que 70% do tem­po vão ser de coisas que não gostam e 30% que gostam em qual­quer decisão profis­sion­al que ten­ham”, dese­jou, lem­bran­do de como é a real­i­dade.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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